Faz alguns anos que pesquisas no mundo anglófono vêm denunciando a insignificância do papel masculino entre os leitores de ficção: os homens respondem por cerca de 20% do mercado. Só. Não foi à toa que o inglês Ian McEwan, um dos maiores escritores vivos, declarou ano passado: “Quando as mulheres pararem de ler, o romance estará morto”.
É sempre arriscado tirar conclusões muito ambiciosas em cima de estatísticas como essa. Faltam dados a respeito do sexo dos leitores de ficção em outros países – e em outras épocas, como quando Ernest Hemingway era rei com seus livros cheios de testosterona.
Mesmo sendo difícil pôr em perspectiva números tão curiosos, já se começa a murmurar por aí que a dramática perda de prestígio cultural dos romancistas, ocorrida do último quarto do século XX para cá, está relacionada ao fato de os homens, os detentores do poder, estarem interessados mesmo é em livros de não-ficção. Obras sérias, sabe como? (Atenção: isso é uma ironia. O Todoprosa só se interessa por não-ficção quando ela fala de ficção.)
O ótimo tema da feminilidade da leitura é discutido com graça em suas diversas implicações – políticas, culturais, filosóficas – num artigo (em inglês) publicado pela jornalista Lakshmi Chaudhry na revista In These Times:
Não olhe agora, mas podemos estar voltando ao século XIX, quando o romance era considerado um passatempo de senhoras, frívolo e sem prestígio social, inadequado a homens de verdade.
Puxa. Mas se nós, os homens que lemos ficção, somos mesmo tão poucos, que tal ver a coisa pelo lado bom? Cantadas literárias bem sacadas tendem a valer ouro num mercado tão desabastecido.
45 Comentários
Parece que as mulheres ficam lendo enquanto os homens assistem aos comentários sobre o campeonato brasileiro, o VT do campeonato espanhol e os melhores momentos da terceira divisão do campeonato indiano.
Caramba, que dizer que sou minoria DE NOVO?!?!?!
fazer o que né?
… alguem tem que trabalhar.
Isso me faz lembrar dos tempos em que era o único homem a participar das aulas de literatura na escola.
Talvez porque nós mulheres, oprimidas numa sociedade que se faz de liberal, só encontramos o escapismo nos livros. Não fomos educadas para esportes grupais ou outra forma de disfarçar nossa própria mediocridade.
Não é só na literatura não. Outro dia li um artigo (ótimo) do José Hamilton Ribeiro na Rivista IMPRENSA sobre a superioridade numérica das mulheres nas principais redações dos jornais e revistas do país.
Enfim, macho que não lê vai para escanteio. É por essa e por outras que continuo alimentando minha humilde biblioteca.
Bem, a ficção é o lado “inútil” da literatura, e é perceptível que, entre as pessoas que lêem “inutilidades”, nos livros ou fora deles, as mulheres têm presença marcante (e por favor, não vejam crítica ou machismo aqui; estou apenas tentando aplicar o conceito de Oscar Wilde, sobre a inutilidade da arte).
Mas eu tenho curiosidade em saber como é a proporção homens/mulheres entre os outros leitores que não os da ficção. Pode ser que as mulheres simplesmente leiam mais em todos os “ramos”. De qualquer maneira, a conclusão do penúltimo parágrafo da nota não me parece correta; afinal, as mulheres hoje em dia têm muito mais prestígio social do que no século XIX, e a sua presença atual não autoriza chamar de frivolidade algum hábito que seja majoritariamente delas.
Essa discussão bizantina me fez lembrar de Disraeli que dizia haver três níveis de mentiras: ” as mentiras, as malditas mentiras e as estatísticas”
nao eh novidade nenhuma que as mulheres vivem sempre no mundo dos sonhos, da fantasia e da ficcao…basta ver a comocao que um vestido branco de casamento causa em boa parte delas…
as mulheres movem os mercados mais inuteis que existem…o dos filmes melosos e de ficcao estapafurdia e o da moda…esse ultimo dispensa apresentacoes, eh a expressao maxima da futilidade e do vazio existencial…
de tudo o que se possa pensar a respeito, ainda fico com a possibilidade das preciosas “cantadas literárias”.
é de tudo o menos incômodo; mas como lembrou alguém mais acima, estatísticas estão entre as piores formas de mentira. há esperança.
o que será que as pesquisas vão dizer de mim, que sou mulher e leio mais não-ficção do ficção?
claro que eh verdade…basta meia linha da psicologia mais barata, aquela de butequim mesmo, pra esclarecer essa duvida…
as mulheres adoram que sua mentes flutuem no mais absoluto mundo do faz-de-conta…ao que me parece, tem dificuldades de encarar a realidade, dai a fuga para filmes e livros de ficcao, aonde praticamente nada eh real…
romances entao eh o supra-sumo pra elas, eh o atalho ideal pra fuga do mundo real…ali elas se iludem e se deixam levar por romances baratos ainde principes que chegam de maneira arrebatedora em cima de cavalos brancos irao tira-las dessa vida cinzenta e cruel, que eh a vida real…
Sem querer entrar no mérito da questão, mas seria necessário verificar que tipo de ficção é essa, não é mesmo???
Muito provável que seja do tipo sidney sheldon e anne rice….
nesse caso certamente não estarei eu a engrossar estas fileiras…
Estou tendo que lidar com esse assunto desde o ano passado. Tenho um filho “geninho” de 15 anos que sempre leu muita ficção, tipo foi sempre o que leu muito mais da série. Mas desde o ano passado, ele tem lido muito mais não ficção, como “O Mundo assombrado pelos demônios” de Carl Sagan, livros do Marcelo Gleiser, e até “Como mover o Monte Fuji”, que ele pegou na biblioteca! Não sei se é falta de livro para essa faixa etária ou o quê. Já minha filha, pouco mais velha tem lido mais ficção. De qualquer forma os tempos são outros, e essa era do virtual e do instantâneo parece deixar as pessoas com menos tempo para a leitura e para um pouco da introspecção que uma boa leitura pede.
As mulheres tem que ler mais mesmo, tem QI mais baixo, tem que exercitar a mente…………………..tô brincando!
Viva as mulheres! Há muito tempo que tenho mais mulheres entre os meus 1.000 leitores/compradores dos meus livros.
Deus salve a Mulher!!
E olha que valem mesmo. Se bem que as mal sacadas também valem, do jeito que as coisas andam…
Parece que a notinha atraiu uma porção de gente que nunca entrou nessa seção do site antes…
Poxa, por que tem sempre alguém falando mal da Anne Rice? Ela não é tão ruim assim, não – tudo bem: concordo que seus últimos livros são uma bosta; mas isso não invalida livros maravilhosos como “A rainha dos condenados”. Será que se tem de ser sempre Virginia Woolf pra se ser levado a sério?
Bem, Anne Rice é mais ou menos como Stephen King ou Agatha Christie: subliteratura de altíssima qualidade.
Essa conversa está muito parecida com aquelas ‘famosas’ conversas entre machos.
qquer que seja a ficção que as mulheres leiam, ok. o que pasma é a quantidade de livros de (auto) ajuda lidos por homens; e é fácil atrair os ditos basta uma foto de natureza “indômita”, um referência no nome a empresas, executivos, chefia, liderança…. rereré. (todo mundo sonhando,moçada!)
Quando estive pesquisando a vida de Teresa D’Ávila, uma das coisas que me chamou a atenção foi o grupo de mulheres leitoras do séc XVI. Elas existiam. Liam as obras autorizadas (todas religiosas) em público e as proibidas (os romances de cavalaria) na alcova. Teresa, na infância, foi viciada neles. Em tempo, o também pouco numeroso grupo de leitores masculinos lia obras pias ou não-ficção. Não é do sec. XIX, portanto, essa visão.
É bem curioso que o fenômeno seja tão antigo.
Em tempo, adorei os comentários de André Pessoa.
em uma peça, que não lembro o nome, lá pelas tantas uma personagem dizia assim:
hoje existem muito mais mulheres interessantes do que homens para satisfazê-las…
concordo, e o fato delas estarem lendo mais reforça a tese…
mas não vamos esquecer que muitas vezes o grande Machado de Assim, se dirigia as “leitoras” em seus livros….
Ou seja, meu comentário sobre a Anne Rice foi preconceituoso mesmo..
desculpem, gurias…
amo vocês, hahahaha
BCK
eu vou aonde a noticia esta…se for interessante, meto o bedelho…por isso dificilmente aporto na coluna do Pedro Doria…assunto interessante por la eh dificil, so mesmo ladainha intelectualoide…
Nunca ví tantas mulheres escrevendo romances, juntas. Inglesas e americanas então… Não tive sorte até hoje de ler uma que realmente me fizesse a cabeça. Uma autora inglesa, parei logo nas primeiras páginas, assim que a mocinha “enrubesceu por trás dos resposteiros” e logos depois foi fazer um “refrescante passeio pelas charnecas” Charneca. Parece até palavrão tipo assim: ah eu até que não queria não, mas me deixei levar pela charneca, ou, hoje minha charneca está incrível. Outra, consegui ler até lá pelo meio, mas o romance era tão açucarado, mas tão açucarado que tive de parar porquê já estava juntando formiga na cama. Então estou mais ou menos parado com autoras, mas como sou associado a uma loja de multileitura onde a gente aluga livros, ainda há esperança.
Sei não…mas esta nota ficou meio gay! rsrs.
Pô, João Paulo. Você é associado a uma loja de multileitura, tem medo de charneca e eu é que escrevo uma nota gay?
acho que ele quis dizer isso mesmo, a nota dele . rereré.
deixa fluir, joão paulo, “charneca em flor” pra vc, e um planeta novinho em folha, a xena.
Ô Sérgio Rodrigues, eu é que errei e chamei meu comentário de nota. E a crítica foi para o meu comentário mesmo. Desculpa, rapaz. Era apenas eu suicidando o que escrevi, falou? Rsrs.
Sabia que esta merda de comentário ia pegar mal, sabia…rs.
PÉRSIA: Você por acaso é uma lima?
Credo! Definitivamente, essa conversa está estranha…
Tá esquisita mesmo, cara. Quáquáquá. Snif snif snif!
Tá certo, caro João Paulo. Aceite um aperto de mão viril para pôr fim ao mal-entendido. E uma dica: se você está procurando escritoras que não soem como donzelas, existem muitas, muitas, mas talvez devesse começar tentando Patricia Highsmith.
ih , joão paulo, explique aí sua pergunta.
lima e resinas do oriente, sente o cheiro?
(risos)
Está certo. Aceito a aperto de mão e vou tentar a Patrícia Highsmith então. Ah, e vou retirar o processo também.
Pérsia: Bão sinto cheiro nenhum borquê acordei um bouco resfriado. Bica bra bróxima, bá?
Meninos, podem mandar ver nas cantadas funcionam maravilhosamente, e dos dois lados, se o sujeito nao for uma besta quadrada.
Digo, funciona pras mulheres tambem.
ops, joão paulo, foi só uma brincadeira com bodê, pra te responder sobre lima. (e no caso, limões)
Claro Pérsia. Eu tb estava brincando. rsrs. Abração.
Pra quem disse que mulher vive no mundo da fantasia o que dizer dos homens que compram Playboy e acham que aquela mulher é daquele jeito mesmo sem imperfeições…
10 anos depois…