O homem que ganhava 4 mil dólares por artigo do Saturday Evening Post em 1930 agora recebia da Esquire apenas 150 por história. Os direitos autorais de seus livros totalizaram em 1936 cerca de 80 dólares. Logo ele estaria em Hollywood como roteirista fracassado, completando sua queda.
A terrível decadência movida a álcool de F. Scott Fitzgerald é comentada (em inglês) por Jimmy So no “Daily Beast”, a propósito de uma recém-lançada coletânea de escritos do “cronista da Era do Jazz” chamada On booze, algo como “Sobre a birita”.
Está para o borbulhante “Meia-noite em Paris”, de Woody Allen, como a ressaca para a euforia etílica.
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Trata-se, como se vê, de uma antologia problemática e bastante desigual, para dizer o mínimo. Mas o problema principal que se manifesta em ‘Geração Zero Zero’ nem é esse. É que mesmo a leitura dos melhores contos dos melhores autores deixa na boca um gosto de anos 70, de repetição de procedimentos característicos daquela época, mal transplantados para um contexto social, cultural e político totalmente diferente – contexto este que pede novas respostas (e novas perguntas) dos escritores.
Luciano Trigo escreve sobre “Geração Zero Zero”, a nova antologia de Nelson de Oliveira.
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Em curioso post no blog do “Guardian”, John Self fala (em inglês) de autores que, na sua opinião, são mais conhecidos pelos livros “errados”. Cita, entre outros, Gustave Flaubert (famoso por “Madame Bovary” e autor da obra-prima “A educação sentimental”), Salman Rushdie (idem por “Filhos da meia-noite”, mas que tal “Haroun e o mar de histórias”?) e Kurt Vonnegut (indissociável de “Matadouro 5”, mas autor de “Cama-de-gato”). Tudo muito subjetivo e discutível, claro. A graça é essa.
Deixando de lado o fato de que a brincadeira lembra um manjado truque de esnobes literários (“ei, vocês aí no piscinão público, minha banheirinha é muito melhor!”), podemos descobrir coisas interessantes com ela. Sempre gostei bem mais de “A coleira do cão” do que de “Feliz ano novo”, por exemplo.
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Frase de Paulo Mendes Campos que o escritor curitibano Luís Henrique Pellanda tuitou dia desses: “As grandes épocas literárias inventaram as formas; as medíocres discutiram a Forma”. E as épocas que reinventaram a roda e a chamaram de pós-roda, que adjetivo merecem?
4 Comentários
Estou com o John Self. Acho, por exemplo, que o melhor romance de Machado de Assis é Quincas Borba.
Idem, Rodrigo.
Sou ignorante demais para entrar nesse palpitório. Só sei que gostei muito de “Suave é a Noite” e alguns contos que estou tentando ler em inglês nos e-books, com algum esforço.
“a coleira do cão” é o melhor RF mesmo.