O Todoprosa estará na Flip, é claro. Não tendo mais idade para acampar ou dormir no carro, reservou pousada há um mês – no escuro, como sempre. A programação oficial só foi divulgada semana passada e não fez disparar o coração de ninguém, mas sem dúvida é sensata, consistente. Não antecipo nenhuma revelação-com-trombetas do tipo que me emplastrou numa cadeira da Tenda dos Autores ano passado, ouvindo Coetzee ler trechos de Diary of a bad year – sim, fui uma das cinco pessoas que gostaram, e na época expliquei por quê.
Mesmo assim, quero ver e ouvir Roberto Schwarz, Humberto Werneck, Martín Kohan, Nathan Englander, Neil Gaiman, Richard Price, Cees Nooteboom e Tom Stoppard. E mais alguma coisa que calhar. (Adendo às 12h23: o cancelamento da participação do historiador inglês Tony Judt tem peso considerável, mas, como se vê, não afeta meus planos.) E só vou perder o bate-bola entre José Miguel Wisnik e Roberto da Matta sobre futebol porque ele foi escalado para os 44 do segundo tempo, digo, 17h de domingo, quando Parati já terá sido desertada por quase todo mundo que trabalha para ganhar a vida e correrá sobre as ruas de pés-de-moleque, arrastando filipetas de festinhas extintas e péssimos poemas xerocados, um vento idiota que este ano eu prefiro perder.
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Juro que não tinha reparado. Acho que ligo cada vez menos para esse tipo de coisa. Mas o diálogo (real) de dois escritores cariocas me fez pensar por meio minuto nesse aspecto, digamos, geopolítico da festa:
– Vem cá: é impressão minha ou o Rio entra na Flip só com Parati?
O outro pensou, pensou.
– Bom, tem o Roberto da Matta…
– O Roberto da Matta não é carioca – a indignação do primeiro cresceu –, é de Niterói. É fluminense!
– Bom… Parati também.
Pano rápido.
(Deve-se observar, por uma questão de justiça, que os dois escritores cariocas se esqueceram do bossa-novista Carlinhos Lyra, o pilatos-no-credo da Flip este ano, e da crítica Flora Sussekind. Mas é verdade que a idéia geral não se altera muito.)
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Tudo isso e eu quase ia me esquecendo de lembrar aos leitores que a venda de ingressos começa – e, a julgar por outros anos, termina – amanhã.
19 Comentários
De carioca, só o Machado.
Vou ficar de botuca nos seus comentários.
Queria ir ver o Gaiman. Mas o Fantasticon em São Paulo é muito mais importante para mim nesse momento.
Uma pena esse cancelamento do Tony Jud. Estou aqui com o “Pós-Guerra” e está até agora muito bom. E embora bem específico, o “Passado Imperfeito”, lançamento anterior dele aqui, é impressionante, ainda mais numa época como agora em que o debate direita/esquerda parece ter virado uma guerra de xingamentos.
Também queria ver o Gaiman, mas bem que podiam pensar no Grant Morrison ou no Mark Millar do Planetary…
Gaiman é muito bom, mas parece que depois de sandman ele perdeu o pique… e o mercado tende a valorizar demais qualquer coisa que ele faça só porque foi ele que fez Sandman…
Acho que Morrison manteve seu rítimo ao longo do tempo, enquanto o Gaiman deixou uns baixos bem baixos em sua carreira.
Sou veterana de Flip e um dos principais problemas – além do ingresso, que já me fez perder um ano só de raiva – é mesmo o hotel. Esse ano eu adoraria ir (e meu principal motivo seria a Inês Pedrosa, veja só que modesta perto dos seus eleitos), mas teria que pagar pacote inflacionado, de cinco dias, em qualquer pousada… Mesmo que seja pra ir só no fim de semana. Chatice.
Mr. WRITER, o Mark Millar não escreve(u) Planetary – o autor desta série é outro britânico: Warren Ellis.
Sobre o Gaiman: em termos de quadrinhos, ele realmente não fez nada que preste há muito tempo. Quadrinhos… em prosa, ele vai muito bem, na minha opinião.
Stardust, Coraline, Deuses Americanos, Filhos de Anansi… e o novo livro promete!
Agora, se o Morrison pisasse na FLIP ou em qualquer outro evento aqui no Brasil, eu já estava lá. ;D
Pablo Casado,
Valeu a correção amigo, troquei as bolas mesmo… Sempre confundo os dois… e nem sei porque… gosto dos 4: Millar, Ellis, Gaiman e Morrison… e também acho que de prosa o Gaiman vai bem, mas ele deveria parar urgentemente de fazer histórias caça-níquel pra marvel e pra dc…
Abraços, valeu a correção.
P.S.: A propósito, os Invisíveis foi relançado em edição encadernada… vale conferir pra quem não conhece e vale reler pra quem já conhece…
Disponha.
E concordo quanto aos caça-níqueis do Gaiman, hehehe.
Invisíveis eu li boa parte do primeiro volume e o Infernos Unidos da América, que lançaram aqui totalmente fora do contexto.
Devo comprar esse novo encadernado da Pixel. Espero que eles concluam a série. Senão, o jeito é correr pros tps importados mesmo.
Sérgio,
Acho curioso que você queira ver e ouvir o Neil Gaiman quando, ao menos que eu saiba, você nunca tenha feito nenhuma referência ao gênero Fantasia (atenção aos desavisados: não confundir com Fantástico) no Todo Prosa…
As obras do Gaiman são Fantasia, assim como as de Anne Rice, Stephen King, J. K. Rowling ou J. R. R Tolkien. Pessoas que minha pobre e cada vez menos poderosa memória não consegue recordar tenham sido citadas por você. Verdade seja dita: nem elogiosa, nem depreciativamente.
A Companhia das Letras tem um romance de Fantasia que, creio, não desagradaria nem mesmo a você. Chama-se Jonathan Strange & Mr. Norrell, da inglesa (publicada pela Liz Calder) Susanna Clarke. Se me fosse permitido uma comparação, eu diria que o romance de Clarke é uma mistura de Dickens e Jane Austen com J. K. Rowling. Se você quiser, lhe empresto (sem data de devolução) o meu exemplar…
Saint-Clair Stockler,
Quanto aos demais, também não me arrisco, mas lembro-me bem que uma vez o Sérgio ia sair de férias na época do Nomínimo e disse que queria um tempo pra fazer um monte de coisas, entre elas ler toda a coleção de Sandman, ou algo do tipo, mas que envolvia ler Sandman.
Não lembro se o contexto era mesmo essa das férias, mas ele disse que queria ler Sandman… disso eu lembro. Também lembro uma vez que o Sérgio disse que gostava de Hqs…
Eu to certo Sérgio?
Abraços.
Saint-Clair Stockler,
Se o Sérgio não quiser, você me empresta?
😀
Saint-Clair, não sabia que você era fiscal de gêneros e gostos alheios, senão é claro que lhe teria submetido previamente minhas escolhas. Espero que não seja tarde para dizer que, sim, gosto de Gaiman faz tempo, li muito Sandman. Você saberia disso se tivesse lido “As sementes de Flowerville” – a epígrafe fala de sonhos, um elemento importante em meu romance, e foi tirada de lá. Se isso ainda não lhe parecer suficiente, bom, também tive casos tórridos, entre os que você cita, com Anne Rice e Tolkien (caramba, espero que você possa ter lido o “Lord of the Rings” integral no original, como eu, porque não tem com-pa-ra-ção, entende?). Agora, realmente não sou um fantasy freak, não. Nem freak de qualquer outro gênero. “Sandman” me interessa mais por ser um belo exercício de quadrinhos, que para mim foram uma febre ali na virada dos anos 80/90, o que acabou deixando seqüelas. Mas confesso que ficaria mais feliz de ver na Flip o Alan Moore. Será que isso atende suas expectativas ou devo desistir do ingresso enquanto é tempo?
Mr Writer, passou perto. O post a que você se refere era uma recomendação aos leitores, não uma lista para as minhas férias. Na verdade, eu desejava a todo mundo tempo, tempo para ler, e listava um monte de obras grandes. A recomendação continua valendo. Um abraço.
A única coisa que fiscalizo, Sérgio, é o meu namorado. E ainda assim, sou adepto de criar namorado solto, ciscando no quintal (mas só comendo minhocas e insetinhos; nada de coisas mais substanciosas), porque o gosto da, digamos, “carne”, fica mais saboroso. Namorado caipira é melhor do que namorado industrializado… rsrsrs. A carne é mais dura. O sabor é mais intenso. O aroma é mais penetrante…
Não fique chateado, je vous en prie!, mas já comentei com amigos há tempos que fico meio incomodado com o seu hábito de privilegiar a literatura mainstream em detrimento da literatura de gênero. Sei que isso lhe assegura muitos pontos com determinados grupos opiniáticos (leia-se os pentelhos que só curtem ler Joyce e Faulkner e Dostoievski), mas é meio decepcionante, sabe? Pelo menos pra mim que gosto tanto de ler Virgínia Woolf quanto Stephen King.
Tenho de exclamar: touché pra você! A sua sutil (ma non troppo) lembrança de que sou um analfabeto na língua de Shakespeare surtiu efeito, mas só por 10 segundos. Quase perco o sono (ainda mais porque bebi litro e meio de Coca-Cola há pouco, o que sempre me faz perder o sono sem precisar de nada mais), mas aí me lembrei de que sou uma das 10 ou 12 – pra dizer a verdade, uma das 5 ou 6 – pessoas no Brasil capazes de traduzir Proust BEM (qualquer berdamerda recém-saído de uma faculdade de Letras é capaz de traduzir Proust – mas bem somos poucos), daí relaxei… Uma coisa à outra se equivale.
Sérgio, preciso ser franco com você: apesar de saber falar francês, sou pobre como uma ratazana de centro espírita. Atualmente só compro livros que aparecem a R$9,90 nas Lojas Americanas (foi assim que comprei, entre outros, o Vida breve e o Fado Alexandrino). Seu livro, infelizmente, ainda não apareceu naquelas prateleitras com esse precinho. Por isso não me dei ao trabalho de ter lido o seu “Seeds” (veja como sou babaca: tive de ir ao Longman pra descobrir que semente é “seed”), oh a invejinha branca daqueles que conseguiram ter dinheiro pra pagar o IBEU na adolescência! Me penitencio, mas lembro a você que li O homem que matou o escritor, e gostei! Seja como for, se porventura você tiver aí um Flowerville sobrando, um exemplar que não vá lhe fazer falta, será que, por caridade, você me daria ele? Essa semana a Maria Helena Bandeira, herdeira do Bandeira, prometeu me arranjar alguns exemplares da obra do tio-avô. Seria uma honra botar Sérgio Rodrigues à côté de Manuel Bandeira na minha pobre estante cujas prateleiras estão empenando… Ser-lhe-ei eternamente grato. Em português mesmo, que gratidão soa melhor na língua em que a gente nasceu, né?
Eu iria a Flip assistir o Grant Morrison. Ler aos 10-12 anos Homem Animal e Patrulha Destino mudou minha vida. E continuo relendo de vez em quando e cada vez descubro mais camadas e é mais divertido. Ele é um dos mais interessantes narradores do mundo hoje, seus roteiros de HQ são fantásticos. Atualmente acompanho ansioso seu trabalho no All-Star Superman (arte de Frank Quitely) e Batman (arte de Andy Kubert, JH Williams III e Tony Daniel) e fico muito impressionado com a qualidade e vibração narrativa dessas estórias. Batman R.I.P. é um dos arcos mais brilhantes de quadrinhos que já li. Quem tiver oportunidade, leia… É de cair o queixo… E o número 663 do Batman, um volume em prosa, um conto noir, uma jóia de 22 páginas… Autores ‘sérios’ ingleses incensados deveriam se ruborizar diante de uma prosa tão vivaz, matizada, criativa… Fico pensando que Morrison, Millar, Ellis, Busiek, Moore, Gaiman, Whedon, Brubaker seriam escritores fantásticos mas simplesmente escolheram roteiros de HQ por constatarem, como é fácil constatar, que a literatura se tornou um espaço quase exclusivamente de gente chata escrevendo livros chatos, onde ser narrador e contar uma boa estória é um demérito diante de leitores tão ávidos de dificuldades, ‘sofisticação’, coisas ‘profundas’, etc…
Saint-Clair, obrigado pelo interesse. Infelizmente, meus exemplares de divulgação se esgotaram faz tempo. Talvez a Estante Virtual seja uma opção em conta.
Sérgio,
Prefiro esperar as Lojas Americanas, então. Minha alergia não se dá muito bem com livros velhos.
Abraços!
Apesar de no site oficial a informação ainda não constar, Flora cancelou sua participação na FLIP. Ao menos foi substituída por outra carioca. Ana Maria Machado.