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Flip, um balanço (e alguns solavancos)

09/08/2010

Os rumores sobre a substituição do diretor de programação da Flip dominaram as últimas horas do domingo em Parati, aquelas em que a cidade esvaziada ganha um ar meio deprimente de quarta-feira de cinzas, mas deixaram no ar uma falsa questão. Flávio Moura, com três edições no currículo, já é o mais longevo dos quatro curadores da Flip. Permanecendo ou não no cargo – e ontem à noite o diretor geral do evento, Mauro Munhoz, afirmou que ele permanece –, já ficou claro que uma correção de rumo será necessária.

O problema mais grave é o evidente esgotamento da linha de trazer estrelas midiáticas internacionais como carro-chefe da programação. O mundo literário é vasto, mas os astros que aceitam convites do gênero – universo que não inclui Philip Roth e um monte de gente – estão acabando. Uma prova disso é a volta de Salman Rushdie, que ainda assim foi um dos pontos altos de 2010. Se tiver que vir de novo em 2013, porém…

Por outro lado, a ideia de afrouxar os critérios propriamente literários para abarcar astros de outros céus, testada este ano com Lou Reed e Robert Crumb, deu no que deu. Reed nem veio e Crumb, arrependido de não ter feito o mesmo, foi o entediado personagem principal de uma das mesas mais tolas em oito anos de Flip. É irrelevante decidir se a culpa é dele ou de quem desavisadamente convidou um sujeito alérgico a aparições públicas. O fato é que a noite de sábado, filé mignon do evento, micou.

Ocorre que a Flip pretende ser uma “festa”, como diz seu nome. Se a ênfase se deslocar do burburinho que envolve os grandes astros – e que talvez seja vazio, mas é sem dúvida animado – para as mesas acadêmicas mais ou menos sisudas, como as que homenagearam Gilberto Freyre este ano, será melhor trocar de nome.

Outra pedra (do tipo paratiense, talhada para torcer pés) no caminho do evento é o tamanho. A organização jura que ficou satisfeita com a queda no público este ano e garante que quer vê-la se acentuar, a ponto de estar sendo estudada uma nova data, provavelmente no fim de junho, para fugir das férias escolares. (Normalmente realizada em julho, a Flip deste ano foi empurrada para agosto pela Copa do Mundo.) Munhoz afirmou que seu público ideal é de “no máximo 15 mil pessoas”.

A ideia geral é que, se a cidade ficar menos abarrotada, o público terá uma experiência mais prazerosa e os autores voltarão a se sentir seguros para circular livremente pelas ruas, como na mitológica Flip inaugural de 2003. Imagina-se que esse bucolismo restaurado possa até, quem sabe, atrair novas estrelas a Parati. O problema é que estrelas atraem público. Sinuca de bico?

5 Comentários

  • Eduardo 09/08/2010em21:56

    “É irrelevante decidir se a culpa é dele ou de quem desavisadamente convidou um sujeito alérgico a aparições públicas.”
    A culpa é de quem escolheu um sujeito que não entende nada de quadrinhos para mediar uma conversa com quadrinhistas lendários. Apesar das perguntas tolas do Sérgio Dávila, Crumb e Shelton fizeram o possível para tornar o evento interessante.

  • Clelio T. Jr 10/08/2010em18:40

    É Sérgio, os quadrinistas estão chegando, estão chegando os quadrinistas…Quando tudo vira literatura,tudo é permitido…

  • Mr. WRITER 13/08/2010em00:50

    Verdade, colocar para falar de quadrinhos quem entende lhufas do ofício ao lado de feras aí complica.

  • Foguete de Luz 11/09/2010em18:08

    Sendo bem básica, o que a gente sabe aqui é que a FLIP tem o objetivo de despertar leitores e conhecer os escritores. Em março as escolas já recebem algo sobre a FLIP para prepararem, com antecedência, o que demonstrar no dia, após várias possibilidades de leituras de acordo com o autor e tema. Tudo bem que isto está mais ligado a Flipinha, o que abarrota de gente pelas ruas empedradas. Portanto, o que se fala e combina em bastidores entre os GRANDES,nem sempre bate com a realidade- “Flip, Para ti”, que se for muito desencaminhada, será FLIP para todos menos Paraty. Penso que os escritores brasileiros deveveriam estar bem evidência, pois o povo quer saber mais dos nossos escritores. É isso que a professorada reclama. Nada contra estrangeiros, mas se não conhecemos o paladar de casa como vamos comparar o sabor com os de fora?