Escritor admite que seu livro de memórias, um sucesso comercial, tinha partes inventadas. Sentindo-se logrados, leitores aos montes entram na Justiça para ter seu dinheiro de volta e a editora, diante da derrota certa, propõe um acordo que vai lhe custar nada menos que 2,35 milhões de dólares.
Ficção? Não. O autor é o americano James Frey. O livro, “A million little pieces” (Um milhão de pedacinhos). A editora, a gigante Random House. A notícia (em inglês, mediante cadastro gratuito) está aqui.
O mercado não consegue disfarçar o nervosismo. E se a moda pega?
11 Comentários
Ficção é mentira? Verdade?, o que é a verdade se não a projeção da mente…, que mente?
josé apare cido fiori
aplausos! eh obvio que os leitores tem direito a ressarcimento.compraram uma mentira, uma fraude…ao adquirirem o livro estavam atras da historia da vida do sujeito, de fatos reais e nao de momentos inventados…
a moda deveria pegar sim…
Acho que a única coisa que vai mudar é um disclaimer na contracapa (“essas memórias podem não corresponder plenamente aos fatos”)
Acho esse processo tão bobo quanto aquele clássico do café quente que não tinha um alerta na tampinha…
E quem é que compra um livro de fofocas interessado na verdade? Esta, provavelmente, não teria graça nenhuma.
Quem consome este tipo de produto quer mais é ler histórias mirabolantes, sejam estas verdadeiras ou não.
A pergunta é: a editora Objetiva também vai indenizar os leitores brasileiros?
A história desta fraude é bem interessante. O livro tinha tudo para cair no obscurantismo. Mas Oprah Winfrey o incluiu em seu Oprah Book Club. Em questão de semanas, o livro virou um mega best-seller. Em seu programa, Oprah encorajava os compradores dizendo que o livro era uma lição de vida ou coisa assim.
Depois que a mentira foi revelada pelo autor, Oprah o chamou em seu programa e passou uma lavada nele. Em cadeia nacional, sim senhor! Disse que se sentia traída e que as pessoas deviam devolver o livro. Na cara do autor. Que tal lhe parece?
Daí surgiu o processo coletivo.
Ua curiosidade: a editora deste livro é ninguém menos do que a mulher de Gay Talese.
abs
well….agora quem se meter a escrever “autobiografia” já sabe.Tem que colocar aquele aviso:
“Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência”.
Ouvi dizer que a próxima moda das biografias será colocar títulos evasivos e relativistas como “Assim é se lhe parece” ou “Uma vida de histórias”…
Qualquer dessemelhança com fatos reais não terá sido mera coincidência.
se a Objetiva publicar o meu, garanto: a história é verdade pura. os personagens principais usam o próprio nome e os detalhes picantes aconteceram mesmo, um por um. enquanto a Objetiva não vem, está online pra quem se interessar no link aí do comentário. é amor e sexo de verdade pra ninguém botar defeito, e sem disclaimer.
O problema de Frey é que ele esquece que a propria memoria, em si,~é uma (reinvencao da Historia) pois o modo em ocorre o `armazenamento`dos fatos é uma construcao (versao nova) do mesmo. Os Psiquiatras assim afirmam. Entao estes leitores sao tolos. E mais tolos por admitir e mover processo por isso.
Meu sogro dizia que não acreditava em nada pelo simples fato de estar escrito. A única coisa que era verdade é que o texto estava escrito.
Lembrei-me de Dinah Silveira de Queiroz, em “A Muralha” (cito de memória), quando dom Brás fala sobre seu livro de assentamentos da família:
“Tudo o que acontece eu ponho neste livro, e se não aconteceu, mesmo estando no livro, é como se tivesse acontecido.”
Se houver erros, por favor, corrijam.