Google é uma daquelas marcas registradas que, de tão integradas à vida cotidiana, acabam fatalmente perdendo a inicial maiúscula e caindo na linguagem comum. Os substantivos gilete, chiclete e xerox são bons exemplos dessa transformação. Em inglês, o verbo to google – procurar uma informação por meio de um mecanismo de busca na rede mundial de computadores – teve ascensão vertiginosa nos primeiros anos do século 21, espelhando a da própria empresa. Em 2006, ganhou a bênção do dicionário Oxford.
Imaginar que os donos de uma marca adotada pela linguagem comum encarem o fenômeno como uma espécie de consagração pode ser prova de ingenuidade. Por meio de seu departamento jurídico e em campanhas junto aos usuários, o Google tem se esforçado para que o verbo to google só seja usado se a ferramenta de busca for mesmo… o Google. Perda de tempo, claro. Desde sua fundação, em 1998, a empresa que agora lança seu próprio navegador tornou-se uma superpotência da economia digital, mas seu poder certamente não se estende à língua.
O novo verbo tem sido lento em sua penetração no português, provavelmente devido ao exotismo de grafia e pronúncia. Embora não seja rara, a forma googlar – ou mesmo guglar – ainda parece longe da consagração. “Dar um Google” é uma solução que também encontra adeptos.
O nome da empresa se inspira abertamente, com uma ligeira mudança de grafia, em googol, termo com o qual o matemático americano Edward Kasner batizou nos anos 1930 o descomunal número 10100, que também pode ser representado pelo algarismo 1 seguido de cem zeros. Consta que a palavra foi cunhada por um sobrinho de 9 anos do matemático. No site do Google, diz-se que o uso do termo “reflete a missão da companhia de organizar o imenso, aparentemente infinito montante de informação disponível na rede”.
Publicado na “Revista da Semana”.
5 Comentários
A etimologia importa nenhum pouco. Poderia chamar-se “Searcher” , “Seeker”, “Tracker” ou simplesmente “Buscador”.
O melhor de tudo é que se tornou imprescindível à pesquisa de forma geral. Sem ser perfeito, é algo sensacional; rápido, e muitas vezes preciso.
Sérgio, desculpe a intrusão no tema alheio, mas faltou hoje a lembrança da morte do Fausto Wolff, por “À mão esquerda” o maior escritor brasileiro vivo (para quem gosta de literatura realmente ambiciosa).
O Chrome – navegador acima-mencionado do Google – é fabuloso! Estou há dois dias usando-o (inclusive neste exato momento), e não quero outra vida.
Sim, pois é: fiquei triste com a morte do Fausto Wolff… 🙁
Será que, hoje em dia, a gente consegue viver sem o Google?
Algo do tipo “ele não queria mais viver, por isso desligou o google” 🙂