Outra boa notícia para quem se preocupa com o coeficiente literário do país (a semana está pródiga): a edição brasileira da “Granta” conseguiu manter sua promessa de semestralidade, feito digno de festa num mercado em que, quanto menor e mais sofisticado o público, mais tudo tende a virar devezenquandário – quando não a sumir de vez.
Franquia da revista trimestral britânica que acaba de chegar ao número 101 e tem a reputação de ser uma das principais publicações literárias do mundo, a “Granta” brasileira, editada pela Alfaguara/Objetiva, estreou em novembro do ano passado com um número inteiramente traduzido do inglês, dedicado a escritores americanos com menos de 35 anos.
O número 2 chega às prateleiras com o “preço sugerido” de R$ 36,90 – o que é mais uma boa notícia: o número de estréia era onze reais mais caro – e é o primeiro em que a revista põe em prática seu compromisso de misturar conteúdo traduzido (60%) e nacional (40%). Traz como tema as viagens, sob o título “Longe daqui”.
Os primeiros brasileiros a saírem na “Granta” são os cineastas Cacá Diegues e Arnaldo Jabor, com relatos memorialísticos; os ficcionistas Ignácio de Loyola Brandão e Ricardo Lísias, com contos; e o quadrinista e ficcionista Lourenço Mutarelli, com um capítulo do romance sem nome que está escrevendo para a coleção Amores Expressos – quem se lembra dela?
Entre os estrangeiros, garimpados em edições antigas da revista, estão Paul Theroux, Edmund White e Ismail Kadaré.
12 Comentários
Ai meu pai! Continua carinha a “revista”, hein?
Provavelmente baixaram o preço porque quase ninguém deve ter comprado – bom, pelo menos as pessoas que conheço que gostam de literatura, nenhuma comprou…
Nem eu, aliás. Too much expensive para o meu gosto (e bolso).
Mas até que gosto da idéia de uma “revista de contos”.
Caro Sérgio, por acaso vc já comentou algo sobre a revista “Arte & Letra: Estórias”? Diz lá no release: “”A Arte e Letra: Estórias é uma revista literária trimestral formada por textos de ficção e não-ficção, escritos por brasileiros ou estrangeiros, inéditos ou fora de circulação há algum tempo…”
Vi que o primeiro número está disponível para leitura em http://arteeletra.com.br/estorias e vou logo avisando que não conheço quem a publica e nada ganho com isso (risos!).
Cacá Diegues e Arnaldo Jabor me causam uma certa estranheza, mas fiquei curiosa por esse segundo número, sobre viagens. Uma dúvida, Sérgio: a Granta britânica não é mais afeita a obras inéditas, ou a autores iniciantes? Se ainda for assim, Paul Theroux e Edmund White causam a mesma estranheza que os cineastas e o Brandão, não? Abraço,
Isabel: não, a Granta não privilegia inéditos ou iniciantes. Nem mesmo ficção. Tem consagrados e textos de “jornalismo literário” em grande número. Sua impressão talvez se deva aos números dedicados a “melhores jovens” britânicos e americanos que ela faz, mas estes, embora ganhem sempre grande divulgação, são apenas um a cada década.
Ricardo, ouvi falar da Arte & Letra, sim. Ainda não li. Obrigado pela lembrança.
Abraços.
Só para esclarecer, Isabel: textos inéditos, sim, claro. Autores inéditos, não.
É isso aí, Sérgio, eu tinha visto um exemplar dedicado a novos autores na Livraria Cultura. Já deu tempo de ir à Fnac e garantir meu exemplar dessa Granta, que só pelo ensaio de fotos em Cidade Ocian, um bairro da Praia Grande, no litoral paulista, já valeu a compra. Achei curiosos os anúncios de livrarias entre um texto e outro; vc sabe se são anúncios comme il faut ou agradinho da Objetiva/Alfaguara? Último comentário antes de começar a leitura: eu sei que é coisa de gente chata e bitolada, mas senti falta de uma informação óbvia na apresentação dos textos – a data em que foram escritos. Alguns estão identificados no expediente, mas de resto… Bom fim de semana.
Sai coisas dos Amores Expressos na Folha vez em quando.
Teve todo o auê e pararam de falar no assunto e L. rouanet e literatura. E nínguem fala do Petrobras Cultural que usa a lei. Os que ganharam tão aqui:
http://www2.petrobras.com.br/cultura/ppc/edicao/resultados/resultados_literatura.asp
Até autores que ja foram publicados pedindo dinheiro para a publicação? Acho desperdicio. E olha os títulos….
comprei a 1º edição a achei muito boa. com essa diminuição do preço (na net é possível achar por menos de 30) ela se ajusta ao mercado nacional e pode se estabelecer.
E a capa dessa tá bem mais bonita que a outra.
Arnaldo Jabor…
Sobre a Granta, eu comprei o primeiro número e valeu muito a pena. Gostei da maioria dos contos e fui atrás de dois autores depois que conheci-os pela revista.
Sobre o Amores Expressos, um pequena propaganda: tenho publicado semanalmente entrevistas com os participantes do projeto lá no site.
Não vou mentir, eu até gostaria de adquirir essa revista, adoro literatura, aliás eu leio de tudo que me cai nas mãos mas, por esse preço, dá não…
Lei Rouanet e literatura dá em coisas como:
“Simone Campos, 25 anos, é outra que está aproveitando a independência financeira. Autora dos romances No shopping (2000) e A feia noite (2005), conseguiu enfim o sossego para terminar o livro de contos Amostragem complexa (7Letras).
– Aproveito o dinheiro para comprar livros em sebos e um laptop para poder escrever aonde quiser. – conta. – O patrocínio ajuda o escritor a se livrar da pressa cotidiana. Auxilia também a fazer algumas atividades inspiradoras. Comecei a ter aulas de dança do ventre e isso me serviu de inspiração para um conto.”
http://www.brasilquele.com.br/texto_ler.php?id=2940&page=6