Nenhuma surpresa. Na entrega do prolixo prêmio Jabuti aos vencedores (divulgados mês passado) de suas 19 categorias, ontem à noite, em São Paulo, foram anunciados os dois livros do ano: na ficção, “Cinzas do Norte”, de Milton Hatoum; na não-ficção, “Carmen, uma biografia”, de Ruy Castro. Cada um deles leva um prêmio de R$ 30 mil.
9 Comentários
Milton Hatoum, de quem apenas li “Dois Irmãos”, é um bom escritor, sua linguagem é rica e fluente, os personagens bem construídos, o enredo envolvente. No entanto, não é nenhum gênio da literatura. Ele não é senão um bom escritor, que domina a técnica de seu ofício, mas não excede nem surpreende. O fato de esse seu livro ter sido declarado, não me lembro por quem, a melhor obra literária escrita no Brasil nos últimos vinte anos e o fato de ser ele, Milton Hatoum, sempre premiado com o Jabuti toda vez que se aventura a escrever um romance são indícios seguros de que a literatura brasileira está numa fase tão gloriosa e fecunda quanto rica e profunda é a qualidade do debate eleitoral atual.
De Ruy Castro não digo senão que é um narrador convencional que redige biografias de personagens nacionais manjadíssimos, como Garrincha e Carmen Miranda. Quem leu “Life of Johnson” sabe que o gênero biográfico pode produzir obras que se ombreiam aos grandes romances. No Brasil, houve quem escrevesse um monumento chamado “Um Estadista do Império”. Hoje, ó tempos áridos, enxerga-se em Ruy Castro o brilho do gênio, ele que não passa de escrevinhador de obras de ocasião.
Em ambos os casos, Jabuti foi merecido, sem dúvida alguma. Efemérides efêmeras, se me é permitida a redundância.
Toda redundância é permitida a quem não leu o que o critica. Aliás, toda redundância e permitida a qualquer um… que não tenha ganho um Jabuti… eu suponho.
Creio que o jabuti acrescenta menos ao livro do que ao autor. Julgo ser uma pena Hatoum ser um manaura. Isso o deixa mais próximo do antropismo da borracha do que do antropismo dos anos 70 e 80 que afetou menos Manaus do que outros lugares.
O maior escritor amazônida contenporâneo se distanciou (talvez) do maior assunto contemporâneo da Amazônia.
Daqui de onde olho continua sendo melhor ler sobre Amazônia do que sobre a Mongólia, apesar do Jabuti ou do jabuti.
Milton Hatoum é uma unanimidade. Simpático, rosto manso, qualificadíssimo, PHD e tudo. Professor de literatura não só no Brasil, mas na América. Convenientemente modesto, não se diz um Grande escritor, apenas bom. Tudo de bom, pensei. Vou curtir.
Eu sempre me pergunto porque diabos a literatura brasileira, com raras exceções, não faz sucesso global. Vocês já viram romance brasileiro na lista de best-sellers do New York Times? Nem eu. Costumo culpar o marketing, o preconceito com terceiro mundo. Babo com as notícias de adiantamentos milionários pagos pela indústria editorial americana a autores estreantes, tipo a Nicole, o Safran. No mercado de lá 100.000 vendidos sai no cuspe, já por aqui… Com tudo isso não me senti nem um pouco constrangida de baixar o malho na Nicole, mas no Milton, sofro.
Agora vem cá. Alguém aí já leu esse romance? Pois é pesado, arrastado feito um jabuti. Não flui. Apesar da aparente preocupação com a gramática tem erros de concordância, pontuação, mas peraí. Devo ser ignorante, pensei, pois o cara é professor e eu, apenas metida. Insisti. Mais uns dois ou três capítulos e a coisa continua na mesma. Sou arrogante ou ingênua mesmo? Posso até não saber escrever, mas ler sei muito bem, anos de praia, então afinal: o rei está nu? Ou vestido de um tecido tão maravilhoso, tão soberbo, tão tecnologicamente evoluído (hoje em dia a gente sabe, é possível) QUE DÁ A ILUSÃO PERFEITA DO INVISÍVEL? Desculpem as maiúsculas, hum. Foi sem querer mas deu certo, enfaticamente bem postas.
Gente, chega de blablablá. Pode ser que o cara seja bom, um mestre em literatura e tudo. Melhor dizendo, doutor. Mas a pura, sincera e inconveniente verdade é que detestei este romance.
Que tal um prêmio de críticos e outro de leitores de No Mínimo para os melhores livros do ano? Com a opção de “Eu li e..” “Eu na verdade não li, mas..”
abrs,
Li os três livros do Hatoum. Dos três, o que menos gostei foi “Cinzas do Norte”. Mas o livro é bom, embora não seja nenhuma obra-prima. O projeto literário do Hatoum, para mim, é um dos mais interessantes da atual literatura brasileira. Embora seus romances se ambientem no Norte do Brasil, em todos eles há um apontamento para a questão das identidades nesse nosso mundo chamado pós-moderno, questão essa que não se limita ao cidadão do Norte do Brasil. Escreve dum modo que aparenta simplicidade, mas mostra ao leitor pontos complexos, como nas relações entre os dois irmãos de seu segundo romance. Enfim, um autor que promete grandes livros. Agora essa coisa de mais vendidos do New York Times e que literatura de hoje é ruim parece uma visão monocromática da atualidade. Paulo Coelho está entre os mais vendidos do New York Times (e do mundo) e nem por isso a literatura brasileira ganhou algum reconhecimento lá fora. Acho incrível como ainda existem ingênuos que acreditam que no dia em que o grande livro da literatura brasileira aparecer vai vender no mundo inteiro e terá um reconhecimento imediato.
Vou dar um jeito de ler “Carmen, uma biografia” pra ver se eu consigo me interessar por Carmen Miranda.
Sobre Paulo Coelho no New York Times:
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Gosto e cor não se discute ja dizia um ditado latino. Não cito no original pra não parecer pernóstico. Mas é permitido opinar mesmo sem ser autoridade em literatura. Basta ser bom leitor.
Antes de mais nada, parabéns aos ganhadores. Ficaria feliz com uma distinção dessas. Porém, reconheço ser merecedor de quelônios menos nobres.
Lí os dois e, cada um no seu gênero, merecem respeito. Um vive de inspiração e outro de personagem.
No fundo, o que manda é o marketing conjugado com a cultura, a curiosidade intelectual e o poder aquisitivo do leitor.
Há uma infinidade de best-sellers estangeiros que não dá pra encarar. Pra não ficarmos complexados, temos Paulo Coelho. Não recomendo. Em ultima instância, se distraia com outro leporídeo, o Coelho Neto.
Agora vou deixar gente indignada: se voltar a inquisição, lanço na fogueira icones como Guimarães Rosa (especìficamente, Sagarana) e José Americo de Almeida (Bagaceira).
Gosto é gosto. Não precisa brigar.
Erros de pontuação e concordância???
Haja prentensão…