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Heroína do multiculturalismo em apuros

06/06/2006

Poucos nomes da literatura inglesa foram mais festejados nos últimos anos do que Monica Ali, 39 anos, bengalesa radicada na Inglaterra – ou seria mais apropriado chamá-la de inglesa nascida em Bangladesh (na época, ainda parte do Paquistão)? Seu romance de estréia, “Um lugar chamado Brick Lane” (Rocco, tradução de Léa Viveiros de Castro, 472 páginas, 52 reais), lançado no Brasil no início do ano passado, trata de um tema que Monica conhece bem: a vida de imigrantes como ela na terra do Príncipe Charles. Foi o bastante para que passasse a ocupar, ao lado de Zadie Smith, o centro do palco mais iluminado da literatura inglesa atual: o de um multiculturalismo que, no ex-Império Britânico, é uma espécie de religião penitente. Não basta ter talento, ajuda a lot ter nascido numa ex-colônia ou ser de uma família vinda de lá.

Assim, louve-se a coragem de Monica Ali, que justamente no momento crítico do segundo livro lança um romance que ninguém esperava dela. Chama-se Alentejo blue e é ambientado, como o nome indica, em Portugal. Seus personagens são portugueses e ingleses. O risco que Monica corre ao fugir do estereótipo é duplo: o de trair os que a admiram mais por seus temas “autênticos” e “coloridos” – sim, a onda multiculturalista faz fronteira com a macumba para turista – do que propriamente por seus dotes literários; e o de, sem o auxílio do “material vivido”, expor fragilidades.

E fragilidades expõe aos montes, segundo as críticas que começaram a ser publicadas no último fim de semana. Como esta de Lucy Daniel no “Financial Times”:

Cada personagem ganha um capítulo, e passa-se para o seguinte. Os capítulos são vinhetas, sem qualquer tensão ou a menor interação entre os personagens, mas tampouco são substanciais o bastante para serem auto-suficientes. A cena final, um festival de bebedeira, reúne os personagens – mas aí é tarde demais.

6 Comentários

  • Leticia Braun 06/06/2006em18:59

    “A onda multiculturalista faz fronteira com a macumba para turista”. Adorei!

  • Sirio Possenti 07/06/2006em09:46

    Parece q

  • Sirio Possenti 07/06/2006em09:50

    Mas que belo comentário meu saiu aí acima!
    Completo(?), ficaria assim: parece que ninguém leva mesmo a sério a idéia da morte do autor. Antes pelo contrário: hoje, o que mais interessa na “literatura” é saber o que é o escritor na vida real: se é gordo ou magro, paraplégico ou atleta, quem namorou do mundo fashion, que programa de TV apresenta etc. Escrever? Ora, ora… (estou praticamente plagiando Roberto Gomes, que ainda vou apresentar ao Sérgio).

  • Voltairine 07/06/2006em11:12

    Multiculturalismo Eh macumba pra turista

  • Sérgio Rodrigues 07/06/2006em11:16

    Sírio, concordo inteiramente. Mas acho que em plena cultura da celebridade o mesmo pode ser dito sobre música, cinema, teatro, dança, artes plásticas e o diabo, não? Até no esporte se vê isso, embora aí exista um limite claro para a mistificação – o desempenho – que no mundo das artes sempre foi mais fluido, ou então vem se perdendo. Um abraço.

  • Sirio Possenti 07/06/2006em14:19

    Claro, Sérgio.