httpv://www.youtube.com/watch?v=h1DDndY0FLI
Mmh, yes. Inspirada pelo famoso monólogo de Molly Bloom que encerra “Ulisses”, o romance de James Joyce, essa bela e hipnótica canção de Kate Bush (faixa-título do álbum The sensual world, de 1989) é forte candidata ao posto de realização mais alta da fusão de pop e literatura que é a razão de ser desta seção.
Referências literárias nunca faltaram na obra personalíssima da cantora e compositora inglesa, que conheceu seu primeiro sucesso em 1978 com Wuthering Heights (“O morro dos ventos uivantes”). Mas aqui temos uma espécie de culminância.
“…e aí ele me perguntou se eu sim diria sim minha flor da montanha e primeiro eu passei os braços em volta dele sim e puxei ele pra baixo pra perto de mim pra ele poder sentir os meus peitos só perfume sim…”, diz Molly (na tradução de Caetano Galindo).
A versão de Kate: “Ele disse que eu era uma flor da montanha, sim/ Mas agora eu tenho poderes sobre um corpo de mulher, sim/ Saindo da página para dentro do mundo sensual”. E mais à frente: “Eu disse, hmmm, sim”. O gemido antes do sim marca a passagem da letra para a sensação.
Aprimorar Joyce é difícil, mas acho que Kate Bush conseguiu.
Um comentário
Henry James em ‘Infant Kiss’.
KB toca em temas como pedofilia e incesto como mestres da literatura o fazem, sem infâmias, sem compromisso com o escândalo.
Ela não deu certo nos EUA por um motivo meio bizarro: o timbre raro da voz dela lembra o de Minnie Mouse, algo tão entranhado na cultura pop americana que quando os americanos ouvem KB, a primeira reação é gargalhar.