Em 2010, quando organizei aqui um concurso de micronarrativas em formato Twitter, com 140 toques no máximo, aberto a todos os leitores, prometi uma segunda edição da brincadeira. Chegou a hora de cumprir a promessa.
Terá amadurecido nesses quase dois anos o potencial literário do Twitter? A primeira iniciativa atraiu mais de 600 inscritos e teve os seguintes vencedores:
A caixa de emails da mulher aberta diante de si. Dali mesmo gritou perguntando se demoraria no banho. Acabei de entrar, ela respondeu. (Denival Fernandes Moreira)
Todos estão mais felizes desde que você se foi, mas todos te amam, papai. (Dilson L.D.)
Caiu-lhe no quintal densa lasca de estrela de bilhões de anos; recado de oito ou nove planetas explodidos. Um deles, azul, albergara amores. (José Aurélio M. Luz)
Como principal inovação do regulamento, o limite caiu de dez para três microcontos por autor. Isso provavelmente vai reduzir o número de textos inscritos, mas ao mesmo tempo – esta é a aposta – elevar a qualidade média. Eis as regras:
1. O microconto deve delinear uma narrativa (história) em 140 toques no máximo.
2. Cada leitor pode inscrever até três microcontos, desde que submeta um por vez.
3. Os contos devem ser inscritos diretamente na caixa de comentários abaixo, identificados pelo nome do autor e com email para contato (este não aparecerá para o público).
4. As inscrições se encerram no dia 13 de julho às 13h.
5. Os três melhores microcontos serão publicados neste blog em forma de post e o resultado, divulgado no Twitter e no Facebook.
6. A comissão julgadora é composta de um homem só, eu mesmo, e suas decisões são soberanas.
O prazo começa a correr agora. Desejo boa sorte a todos os micronarradores.
615 Comentários
Descoberta a traição, não se suicidou. Só bebeu um pouco a mais.. Chegou atrasada e levou uma bronca. Terminará o vinho e o noivado.
As pessoas da fila eram jogadas no abismo por soldados. Bia não iria morrer assim. Escapou dos algozes. Correu e se matou com um salto olímpico. Iniciou a revolução.
Sua vida virtual seguia célere e agitada. Tinha amigos e contatos, que curtiam suas ideias. Na vida off-line, no entanto, vivia solitário.
Achavas graça da brincadeira do cachorro em esconder os ossos. Agora é tu quem cavas para esconder os dele.
Vão-se os últimos trocados nos cafés e maço de cigarros, que a solidão, ganhou em promoção
Ao provar do fruto o jardineiro e sua esposa haviam deixado de amar o velho sobre todas as coisas
Muitas lápides de hoje deveriam conter o seguinte epitáfio: Aqui jaz Grotesco, que em vida foi desonesto, egoísta, bajulador e manipulador.
Estamos aí. Estou inscrito então. Como faço daqui pra frente? Espero um email seu ou tomo a iniciativa?
É só publicar o texto aqui na caixa de comentários.
Nasceu calada. Na vida, nunca a viram chorar. Mas tinha banhos tristes. Lágrimas misturavam-se com as águas do chuveiro. Bia, até quando chorava, parecia não chorar.
Nem equações matemáticas, nem cálculos econométricos, nem modelos estatísticos: são as cartomantes quem tem as melhores informações sobre o futuro.
Foram 14 horas de ansiedade, dor, superação, choro, emoção… e orgulho, MUITO orgulho por ter conseguido ter um parto normal após cesárea!
Buscava em vão a felicidade palpável, que apenas podia ser comprada, sem saber que poderia ser muito feliz com coisas simples e imateriais.
Chega dessas conversas terrivelmente sérias, sobre assuntos mortalmente desinteressantes.
À Monterroso
Quando ele entrou na caverna, o desenho do dinossauro ainda estava lá.
Kafka revisitado
Naquela manhã, Gregor Samsa viu-se transformado numa gigantesca Joaninha.
Sem rumo
Estava mais perdido do que Sísifo no labirinto.
O quê? Vocês não acreditam em Papai Noel?
Nada ñ cara, aprendo a conviver. Quando ela diz que ñ a ouço, me contenta pensar q o leão marinho tem 50 esposas e escuta isso de todas elas
Quanto mais velho, mais iludido fico.
Quero morrer numa miragem.
Caminha e pensa:
_ Que são as horas?…
Passa-lhe outro e pergunta que horas são.
Caixa pronta, acondicionada, sobre a mesa… Saiu para fazer umas coisas… foi atropelado! A caixa ficou, pronta e fechada, sobre a mesa.
Sentou-se para tentar um miniconto, só podiam ser cento e quarenta toques! Muito pouco, pensou rapidamente, e parou de escrever.
Pintou o cabelo de verde e apresentou-se às autoridades locais na ténue esperança de um recâmbio ao seu planeta de origem.
Ela fingiu ser a mais bem resolvida e feliz das chorosas, assim como todas as que sofrem de amor o fazem.
Ele pegou a caída embalagem de um colírio. Ele perguntou se poderiam sair. Ela afirmou. Afinal, o que os olhos não veem o coração, sente.
Após voltar do trabalho pensou a bela jovem: Quem é capaz de afirmar que sou mulher de vida fácil? E que ela é realmente fácil?
Elisa saltava poças e pedras, fugia na noite de Paraty; centenas de candeeiros iluminavam vielas, portas e janelas que escondiam o seu medo.
De repente a nuvem cobriu o céu e escureceu o coração de quem esperava um alento. O tempo se foi e com ele o pouco da felicidade restante.
Não houve desespero na sua saída. O silêncio imperou resoluto. Alguns passos e desfez-se o mau entendido. Acabou da mesma forma que começou.
Sorriu com os olhos e ela soube a verdade. Uma palavra escrita na retina da alma. Um só instante. A soma do infinito de improbabilidades.
Seríamos cegos se evitássemos aquela cena.Era horrenda.O jovem persistia em seu sono fingido,e a pobre senhora era sacolejada no corredor do ônibus.
Mirou o seu reflexo. Assustou-se com as olheiras. Silêncio.Do único fio de cabelo, floreou um laço. O espelho real era o espaço.
Digitara sofregamente seus últimos artigos.Passos céleres subiam os degraus e ouvia-se apenas o ruído bruto das armas e a sentença:”Morte à jornalistinha!”
De súbito, abocanhou o queijo. Saíu furtuítamente como um rato, sem saber que a câmara o havia falgrado.
De súbito foi flagado e não falgrado.
Com o dedico, pegou a poeirinha do chão e a levou à boca. Namorou a mamãe. Olhinhos sorrindo. Ah, mamãe! Sem falar sentia, sem saber amava.
Saíu fortuítamente.
Nasceu. Voou. Casou. Iniciou uma revolução.E, voltou a dormir.
Morra! Morra! O golpe veio com ódio pela solidão, pelo ex-marido, por ser adulta. E a barata deslizou morta ao ralo, culpada por existir.
Sou cicloturista.Ontem, percorri um caminho em que o final não chegava. Se o objetivo é pedalar, o fim era a própria estrada. Mais nada.
Sua cabeça fervia e seus lábios embebiam-se de sangue e morte.No asfalto quente,sonhava estar em casa.E estava…para sempre.
para onde enviar os microcontos?
Para cá mesmo: esta caixa de comentários.
Ele contou uma piada para ela. Ela sorriu, esperando que fosse embora. Ele continuou, mas foi interrompido por uma língua estranha na boca.
Ia escrever. Mas vi aqui tanta coisa boa em pedacinhos que nem sei mais. Resolvi apenas me juntar a tantos e inteiros fragmentos.
Um beijo, Sérgio, adoro sua coluna
Ele sai da escola e entra no carro. Senta-se e pergunta pelo pai. Ele não veio hoje, diz a mãe, abraçando o filho com a mão suja de sangue.
O desespero aumentava, ela já não aguentava mais, gritou: porque não respondem minha mensagem. Descontrolada espatifou o celular no chão.
Água clara lava a alma leva embora a alma velha.
Não conseguir lembrar a quantos anos está fora de casa, mas nunca esquecer que deixou naquele terno lugar uma mãe solitária e sofredora e a lembrança de seus lençóis macios iguais …
quem era um dia foi
quem foi um dia ficou
e quem ficou, talvez
mereceu,
mas quem foi,
um dia também era
e fim.
choro,
e as lágrimas são pesadas
doem,
e sinto muito
Era um homem e tanto. Tratava as decepções com indiferença, e consumia as desilusões ao som de alguma boa música.
Valéria mereceu a traição. Afinal, o que poderia ela esperar da dedicação a alguém sem caráter?!
Parou de se dedicar ao perceber que não haveria retorno.
“Seu” Belarmino disse com veemência: Minha mulher não deixa.
Imaginei um debate entre esse moderno senhor e aquele antigo coronel, que entre arrotos e flatulências, falava para a esposa: Vá se aprontar que hoje quero lhe usar.
O rapaz namorava a moça no sofá recostado na parede, quando chegou o pai da moça, pediu pra trazer o seu 38 e o jovem já assustou-se, quando chega um amigo e grita coronel, o rapaz sai, todo naquela situação vexatória.
Ele estava sujo de graxa e as pessoas de preconceito. Eu sorri, ele me olhou e sorriu. Era de pouca coisa que ele precisava para ser feliz.
Ela disse que não poderia mais viver comigo. Só. Na mesa de novo o pó. E o ruído da porta que fechou e o silêncio da saudade que ficou. SÓ!
O fogo, o raio o causou. Aprendeu a criá-lo, e através dele matou. Por fim, como um projétil se lançou: o homem, do fogo à Lua!
Amava o marido mas não sentia mais desejo. Naquela noite um email revelado mudou tudo: ele guardava um segredo dela.
O amor traz segurança. A segurança trai o desejo. O desejo é companheiro da dúvida, do não saber, do querer o que não se tem.
Descobriu que o amor é parceiro da felicidade, mas o desejo é o fogo do maçarico que flamba a vida.
“Bateu na porta dele por quatro vezes, mas ele não a deixou sair”
Cada vez que sua mulher retorna da visita semanal ao dentista, o marido nota que o sorriso dela está mais radiante.
Aquilo era estranho. A cadeira vazia de tudo e cheia de nada..ela somente carregava a história daquele amor..noites de aconchego e dor..o adeus.
Em vão, o lapidador busca nos diamantes o brilho dos olhos da mulher que deixou de amá-lo.
Comprou felicidade a prazo e está apavorado com os juros de seis parcelas atrasadas.
Ela o abandonou por um trabalho. Desroteou algumas emoções. Afetuosamente etiquetou-o: concluído.
a tv ligada,o tel. tocando,alguém batendo na porta,pés descalços no grande corredor, cheiro forte de adiantado estado de decomposição …
seu terninho já estava pronto . todo impecável. os dentes brilhavam, o topete era o de sempre,ela pisava forte no chão mostrando nervosismo,a cortina se abrindo, era mais um dia daqueles, sem hora p/ acabar.
Continuava desesperado a caminhar, sem direção, até que avistou uma sinaleira com a seguinte indicação: RETORNO.
Após 15 anos de namoro, via sua mãe em sua namorada. Certo dia, ao invés de pedir sua mão em casamento, pediu a benção e lhe deu um abraço.
Após alimentar os leões naquele dia, distraído, tropeçou no portão de saída do zoológico e morreu tragicamente pisoteado pelos visitantes.
Em julho: para ele, pai, Fliper; para ty, moderninho, Flip.
Foi ontem. Procuraram por mim. Atendi “Sim, sou eu. O que foi?”, Respondeu que voltava depois. Engraçado… Sempre estive aqui.
Por vezes sentia-se como se estivesse embriagado. O olhar perdido no horizonte, o andar cambaleante. Tivesse ficado parado na esquina, menos um morto atropelado.
Dobrou uma esquina e avistou a placa. Nada entendeu daquilo que mais parecia a indicação do caminho inverso. Pensou: Estou perdido.
O vento foi o primeiro a levantar a saia da moça, seguido pela imaginação do rapaz, que só podia sonhar, por um momento, tornar-se vento.
A maior sepultura é o presente; nele jaz todo o passado.
Da boca, nada de aproveitável. Na cabeça, nada respeitável. No coração, nada apreciável. Porque era ela que tinha mais amigas?
Ao pular na garganta do penhasco, ele sonhou.
Sentou-se na varanda, de manhã. Levantou para almoçar. À noite, antes de dormir, resumiu o dia. Pensou: com certeza, preciso viajar!
De súbito, abocanhou o queijo. Saíu furtívamente como um rato, sem saber que a câmera o havia flagado.
No Natal, encomendou uma cesta de trufas ao vendedor disléxico. Passou a ceia comendo frutas.
Do ninho, a serpente vê a coruja. A ave deita um olho na víbora. Ela dá o bote. É tarde. As garras já algemam sua cabeça. Uma cobra a menos.
Por que essa pressa? Se tens certeza que nada fizeste, te aquieta rapaz. O sol vai brilhar, as estrelas continuam no céu, então volta pra casa.
Ora bolas, porque não pensei nisso antes! Bastaría seguir em frente, ao invés de me distrair, no caminho, que eu chegaria em tempo.
Cada vez q penso em vc,p/mais perto de mim te trago.E quanto mais perto vc fica, mais descubro q na verdade,vc nunca esteve em outro lugar!
DISTRAÍDO
? E Jesus?
? No Monte das Oliveiras – respondeu Pedro, ainda sonolento.
E Judas, agradecendo, fez sinal aos centuriões.
Na porta, uma placa com o aviso: Procura-se razão insólita para existir. Apertei a campainha e, não obtendo resposta, voltei. Resignadamente.
O goleiro prometeu percorrer 250 km a pé após vencer o título. Tal qual Prometeu, ao fim já não se lembrava porque caminhava.
O velho dinossauro trabalhava como fóssil no museu. Achava muito enfadonho não poder se mexer, mas eram os ossos do ofício!
Os semícaros eram um povo unialado, cada qual com uma única asa. Para voar, tinham que escolher alguém e se abraçar.
O casal de viajantes brigou feio. Separaram-se. Ela foi para antes de ele nascer; ele para depois de ela morrer.
O grito saiu-lhe do peito como um tiro. No quintal, bem-te-vis emaranhados riram de sua dor mais uma vez.
Pensei concupiscentemente naquele francês, o pão. Sua casca craquelada, a manteiga derretendo por dentro. Som lascivo, o estalido ao morder.
Séria, linda, bem vestida, aquele olhar penetrante. Jeito de mulher fatal. Ele a desejava. O que ele não sabia: ela era uma “serial killer”.
“Chegue freguesia, para oiá não paga nada, só paga se levá, e só leva se gostá” dizia o vendedor de frutas. Maliciosamente ele pensou em mulheres frutas.
Recebo uma correspondência e sento-me para lê-la. Vou ao chão, a cadeira desparafusada. Dentro do envelope, quatro parafusos.
Perdido em uma noite vazia, sinto o celular vibrar no bolso. Reconheço o número de casa. Espanto. Há muito tempo moro sozinho.
Um homem segue uma mulher em uma rua de pedras gastas. Sinto a tensão nos gestos que antecedem o encontro. Será amor ou assalto?
Madrugada.
Acordei todo prosa…
Venci o concurso
onde o premio era nada!
Ela chamou seu marido e mostrou-lhe dois esmaltes: – Qual? Ele apontou para o verde. – Ok, ela respondeu, vou usar o vermelho…
Os dedos do velho tremem em cima da seda.
Última lembrança dela.
A velha observa a quantia que entra na caixa das ofertas.
Terminada a novena, maneja a faquinha com destreza.
Só leva notas graúdas.
Peguei no bebedor com florezinhas de plástico. Água com açúcar, ele veio. Bobinho. Asas brilhando na réstia de sol. Botei pinga na água. Prendi na gaiolinha.
Frente ao papel em branco mantinha-se inerte, mas não indiferente. Eram muitas possibilidades! O papel persistiu em branco e a vida passou. O texto não veio.
Às 16:17 tuitou que encerraria os 16 e não chegaria aos 17.
Depois de jejuar por 3 dias, recebeu do velho da Montanha a Mensagem da Pedra.
C/ela, uma promessa: repassá-la adiante, à gerações futuras!
A Mensagem?A mesma,sempre e em todo lugar:compartilhar Sua alegria c/todas as criaturas.
Agora,depois da Eternidade.
Aqui,além da distância…
No meio do experimento que traria a cura para todas as doenças, espirrou.
de concurso em concurso era coerente em desdenhar… e ceder.
estranho! ao contrário do que a mãe dizia, depois dela havia vida!
sintética assim, essa coisa de duas histórias já não funciona mais, Ricardo!
“Ao subir da alva bandeira, os tiros tornaram-se silenciosos.”
Literatura em 140 caracteres | Pra Ler |
Ele fingia que tocava violão; ela, que ouvia. Ela gostava de fazer drinks; ele, de bebê-los. Ela fala inglês; ele, doesn’t.
O menino olhou o avó, que diziam ser poeta, e sem vergonha, perguntou o que era “epifania”. “Epifania”, respondeu, é só uma gafe poética.
Olhou-a. O cabelo preto feito carvão, boca que chamava beijos, ainda que só no pensamento. E pensou: jamais seria marido de mulher bonita.
– Meu bem, vou dormir. – Beijos e conversas, doces gozos para seu sonhar. – Bom dia, como está vc? – Em definitivo, paro aqui, adeus. – …
Abriu a geladeira e sentou pra comer pão com geleia. De repente, fogo! Era a de pimenta pra comer com brie. Todos riram muito quando contou.
A TV nova não funcionou mais. Teve de ligar pro 0800 e pra assistência. Resignou-se a ficar sem TV por dias. Quem sabe agora leria Foucault.
“Foi a empregada. Ela sabia onde estavam as jóias e os dólares”. Pai convencido, filho rico.
Na rua sem saída, sabia que devia seguir em frente.
“Sou bonita?” “És linda”. “E estas rugas?” “Mal parecem”. “E meu corpo?” “Estoneante”. Satisfeita, largou a frente do espelho.Deitou-se.
“Diga que me ama, na frente dele”, pedi. Eu te amo, respondeu, trêmula. Dei-lhe um tiro na cabeça, e ouvi o outro gritar. “Aproveite-a”.
Da vizinha eu só escuto os saltos – quando ela sai, pela manhã – e os seus gemidos à noite, antes d’eu dormir. Nunca vi seu rosto.
Garoto exemplar que surtou. Espancou um mendigo, se diz anarquista e tem um bafomet tatuado no peito. Hoje, nas páginas policiais
Agora que o velho respirava por aparelhos, conseguia dizer-lhe as palavras que nunca aprendera.
A moça robusta de faces rosadas sorri para todos no coletivo. Encanta por alguns segundos. Chora sozinha por ser só sorriso.
O cientista apresentava seu trabalho, dizendo que desenhos animados criam pessoas violentas. Alguém discordou e jogou uma bigorna ACME nele.
Ele foi jantar com a menina da padaria, que era um sonho. No final das contas, ele levou um bolo. Ah, são todas farinha do mesmo saco mesmo.
Gotas traçam um tortuoso caminho de morte, são cuidadosamente evitadas por pés semi-mortos que insistem em pisar o chão como ainda em vida.
Um ventre perfurado a quatro mãos, no infortúnio de apenas um coração.
E minha raiva do amor que não era meu e se foi, é na verdade medo de um dia o amor ser meu e se ir.
E minha raiva, do amor que não era meu e se foi, é na verdade medo, de um dia o amor ser meu e se ir.
Para transformar-se num monstro, o médico não precisava de fórmulas ou magias: apenas algumas horas de plantão num hospital do SUS.
Já ao final da primeira noite de autógrafos percebeu, não sem uma ponta de amargura, que fora barato o preço que vendera sua alma.
Por pouco não era amor o que ela sentia por ele. Era humor. Tomou a rosa, colocou-a no vaso e, entre risos, apertou a descarga.
Quando o excêntrico primata fez o fogo, os outros animais nem imaginavam: aquele pontinho de carne, comemorando o feito, iria se alastrar.
Participava da marcha pela maconha e, como era um ambientalista, assinou o manifesto contra a indústria do tabaco,
Ela explicou tudo, cada detalhe, escolhendo meticulosamente cada palavra de modo que ele não entendesse rigorosamente nada. Um encanto.
Eu poderia tê-los advertido. Mas eles estavam tão orgulhosos de suas possibilidades, e tão prontos para o abate, que tive pena.
Todos diziam que Van Gogh era uma gênio. Daltônico. Mas quando troquei as cores e pintei a bandeira de vermelho parei na polícia.
Eu gosto quando. Se bem que eu nunca. Exceto naquela noite em que. (Uma noite muito.) E até hoje ela me. Mas agora é. E eu quero mais é que.
Derradeiro aceno da amada na escadinha do avião. Enquanto durou foi bom.
Sai Maria na sexta ao final da tarde. Volta na quarta de cinzas. Prenha.
Termina no pronto-socorro a alegria azul do velhinho. Que susto o da moça.
– Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring. Ring.
Três andares abaixo, ele desistia.
“Pediu a mão da moça.O pai a enviou por correio,numa bela caixa”
“Pelo filho natimorto,os seios floresceram em copos de leite”
“Do canto da página do livro, o número vigiava as letras”
BLOQUEIO
Quando acordou, a folha em branco ainda estava lá. Monterroso levantou-se e fez um café. “Merda!”, exclamava.
Amanheceram – o dia e as vontades. Passaram 24 horas, e somente o dia anoiteceu.
Amanheceram – o dia e as vontades. Contas a pagar, ofícios a cumprir, burocracias para vencer. Dessa vez, a vontade anoiteceu primeiro.
Na noite de lua bela o poeta canta a linda donzela e espera por ela,risonho,deseja-lhe um beijo e bons sonhos
Fui à padaria comprar um sonho.Disseram que havia acabado, pois os padeiros desistiram de sonhar.
escuta! o som da tua mente atravessa o infinito…
Casal briga. Mulher fecha porta. Peça que gira sobre gonzo, entrada. Ponto onde se passa para tocar outro mais distante. Aberta é gozo. Paz.
Tal lobo que sente o odor da presa e a saboreia, antes de tê-la em sua boca, o cavalo anseia à luta. Não sabe que lança tem alma de caçador.
Mudara de ideia antes do segundo disparo: ficaria melhor sozinho.
Penitência
Cansado de tantos vícios – e corretivos sem efeito, fez um novo testamento; e deserdou a humanidade.
Crime eleitoral
Considerando a insuficiência de faculdades e o notável estado de inconsciência, decidiram que a população não tinha culpa.
Costumava dizer que estava apenas experimentando, abrindo portas.
Algum tempo depois, entre tantas frestas, já não sabia mais por qual sair
Sente a formação de placas de água na região dos lábios. Prefere voltar, ainda que a imagem não o deixe em paz.
ameaçou tirar lasca. titubeou. hesitante, botou o pé prá fora. é de graça mesmo…o mundão de portas arrebentadas. agora é só correria!
Faca no peito. Ainda viu a causa, distraída, dobrar a esquina. A consequência chegou tardia. Confusa sirene e cegas luzes.
Trocou o peso das pernas, coçou a cabeça.Já fazia alguns minutos que o anjo examinava sua ficha,começou então a relembrar seus pecados.
Folhas caídas olhavam enternecidas para a menina e sua solidão. Mas não desconfiavam o quanto inconsequentes as estações eram dentro dela.
O rato roeu o coração do homem que não morava mais em Roma e depois cuspiu os pedacinhos tão amargos. Só o doce apetecia ao seu paladar. ?
Bem me quer. Mal me quer. Enquanto a rosa fica despedaçada poderia buscar o cravo que tanto quer. A tulipa enquanto isso fez florescer.
PEQUENO CONTO DE ANO NOVO
Telefone toca.
– Alô?
– Alô, quanto tempo! Como estás?
– Estou te esperando. E tu?
– Estou indo praí.
(tu tu tu tu tu)
Onze horas. Doze anos. Treze facadas…
Na decolagem ela lembrou que o fim é inexorável, não da vida ou da terra, mas do universo que se recolherá dentro de si e, então, chorou.
Ele sentiu no estômago a injustiça de ser julgado por apenas um homem, sem direito de defesa. Forçou a mente tentando espremer o talento.
Calçou os sapatos velhos e saiu para o trabalho. Neste ano, ia pedir demissão. Estava de saco cheio de ser Papai Noel.
“Sueda!”, disse mamãe ao sair. Eu tentei me concentrar na TV – mas como fingir que não havia entendido a palavra dita assim ao contrário?
Todo mundo tem um lado devassa, mas a Sandy tem dois.
Você torce pela Roma? Não, respondi, torço pela Flamengo.
– O Universo nasceu de uma explosão.
– Pois é, já não se fazem explosões como antigamente.
O juiz apita o fim do jogo. Ataliba abraça dr. Sócrates. Foi absolvido.
Era um messias de nove dedos. Tudo de bom para a nossa terra e povo ele sabia. Tudo de ruim, desconhecia. Fez-se espetáculo de crescimento.
Moça quer namorar, gato o rato pegar
A velha põe a panela a brilhar e o feijão para cozinhar
O moço no facebook a teclar a dama deixa rolar.
Fui à feira, sem eira nem beira.
Rolei de ri de tanta besteira.
Botei o pijama, pisei na grama.
O celular tocou e a coruja o pescoço girou.
O aspirante a escritor deseja um leitor.
No sofá ao lado de um bom licor.
Cheio de ideias sua obra passa a criar
E sonhando poder publicar.
e sua vida foi tão miserável e previsível que sua alegria era ter seus posts curtidos e sua biografia foi um twitte onde sobrou caracteres
“Vais viver muito”, disse a quiromante “tua linha da vida é longa e alegre”. Só pra contrariar o destino, entristecido, pulou do 18º andar
Teve certeza entao que nao iria morrer.Aquele nao podia ser o ultimo rosto que veria .Isto bastou -lhe.
Na padaria, no balcão. Na ponta um senhor semi-calvo de pólo listrada emula um irmão metralha. No meio recuado com bancos altos o ciclista busca, com o irmão, medalha.
Na sala, a mãe assistindo tv, o pai com o notebook, o filho com um tablet e a filha com o celular. Vida em família.
Quase quieto o silvo passa pela orelha com brincos de prata. A fala se perde com o fôlego enquanto o sangue no pescoço pulsa rente à faca. Maldita Rua Sabre.
O pão quente que comera ainda fazia seu caminho até o estomago quando a morte de súbito lhe arremata. Para trás ficava uma vida que nunca nada prometera.
Era Franca uma ova medieval. Cabelos em cachos cobreados faziam dobradinha com tornozelos torneados, ocultos em provocação sob as longas saias godet.
Arnot cintava as notas com papel de seda. Era um tique estranho. Ele não se importava.Muito.
SINUCA DE BICO. Na volta. Trem lotado. Por várias vezes a moça roça os lábios em seu pescoço. Gola suja de batom. A esposa acreditaria?
DÚVIDA. À porta do bar, o guri pede comida. Alguém aponta o cartaz: ‘Não dê esmola. Dê cidadania’. Ele indaga: – Que comida é essa?
GARI. Varria as ruas da cidade, com orgulho e piaçava, enquanto pensava: – Como é grande a minha casa!
Ulrich armava para Arnot uma forma estúpida de amar. Amarrava-lhe os dedos com fio dental enquanto usava o avental de churrasco para levantar os seios perto do queixo.
Lucas vai ao banheiro novamente e novamente se masturba, vai ao quarto e com as mãos sujas de porra, levanta mão para pedir perdão por mais um pecado gostoso. E o esperma escorrega pelos seus braços chegando a em seus olhos fechados cheios de fé.
Matou o filho, a mulher, logo em seguida caiu nos braços da morte, se suicidará com um tiro no ouvido. Chegando ao inferno o anjo das trevas o recepciona: “burro, eu não comi ela não!”.
FARPAS
Pulou a cerca. Não conseguiu evitar os arames farpados.
REGRESSÃO
No seio dela, parecia um bebê.
REVÉS
Jogou tudo pro alto. Tomou na cabeça.
Ciúme, eu? HÁ, HÁ. A pergunta como um machado destroçava seu sono, enquanto ela roncava, roncava…
Do vestido? Inocência gostou não. Gostou foi depois. Do lençol desarranjado na cama.
Não! Talvez. Dor de cabeça. Cuidado, não tropece nos. Cresceram, gosma e metal. Acre. Maldita luz intermitente soando cada vez mais pesada.
Não era por causa do gato doente que ele estava triste. Porque ele sequer conhecia esse gato. E o gato ainda não parecia muito doente.
Igor achou um site que dava a estimativa de mortes ocorridas no mundo desde o instante do acesso, deixou a contagem rodando e foi trabalhar.
Amei muito minha cachorrinha, mas agora ela está muito velha e não desiste da ideia de morrer em minhas mãos.
Tempere a mulher com sal e pimenta a gosto e reserve. Aqueça frigideira com óleo e coloque a carne. Preparo e forno 60 min. Rende 2 porções.
Sem Ponto, Nem Vírgula
De tanto fazer discursos, morreu falando com as paredes.
Amo milho cozido! Dou uma super chupada, sinto o caldinho e cravo os dentes! Eu avisei, odeio sexo oral! Por que foi dizer: imagine uma bela espiga de milho cozida?
A paixão, a igreja, o sim, o bebê, o braço, o olho roxo, a coluna quebrada , a faca e teus olhos agonizantes! Agora nova vida, novos amigos, nova cama…E essa cela!
-Você é meu amorzinho, luz da minha vida, razão do meu viver, minha alegria, só minha, só minha… Balbuciava enquanto jogava a última porção de terra na cova do quintal.
E de repente caiu…o avião caiu, disse ele, momentos após a partida de sua sogra.
Abandonada…anos depois,troca de olhares na Av.São João.Espanto.Mamãe!Sussurrou ela.
O REI DAS MULHERES
Henrique Otávio tinha duas mulheres e seis amantes. Um dia decidiu que iria sustentar todas elas. Perdeu a cabeça.
A OUTRA
— O que ela tem que eu não tenho?
— Vinte anos.
MAIS QUE PERFEITO
Acabara de tornar-se imortal, quando fora tomado de assalto, quedara ali.
Então coronel Gutierrez : o que faço?
– Quem não sabe o que fazer deve morrer, para honra e glória do nosso rei.
Vico, Dante, Lampedusa, todos ali, circunspectos, altivos, impassíveis. Ela ignorou tudo isso, optou por Rosa.
Carpintaria não era seu forte, apesar da oficina do pai. Um dia, criou coragem e saiu do armário.
Escreveu um bilhete de amor e deixou sobre a mesa de Ana. Ao ler, ela sorriu docemente e perguntou: – O que está escrito? (- Maldita letra!)
Às 15h15, ela colocou a arroba do namorado e um coração. Ao clicar no user dele, se lia: “Sorry, that page doesn’t exist!”.
Livre da coleira, espiou da casinha o vasto e terrífico quintal, se encolheu e foi dormir. De olhos fechados, a liberdade assustava menos.
Os passarinhos cantam lá fora, enquanto ela, cansada, dorme em seus braços.
Estava criando seu discurso pro baile de debutante, inventando uma história. Deu asas à imaginação, a janela estava aberta e ela foi embora.
Ela quis dançar com seu bonito namorado; afinal, era o seu baile de 15 anos. Procurou por tudo. Viu-o beijando sua melhor amiga. E dançou…
Alice olhou no espelho da sala correndo antes de ir ao baile. Ali se viu linda. Na pressa, a debutante já não sabia mais de que lado estava.
Entrada secreta
– Como você entrou aqui? – perguntou-me o diabo.
– O cabo do elevador se rompeu!
Gude
O neto tem bolinhas variadas. Agora apareceu com uma tal de caolhinha. Fez sucesso até a mãe descobrir que era o olho de vidro do avô.
Aprendendo… dendo… endo
Fazia eco na sala enquanto o professor explicava. Aprendi várias vezes.
Levantaram no dia seguinte, e ao olhar para Amanda que voltaria para as ruas, disse: “A orgia vence o preconceito.”
Não sei se foi sorte ou alguma força misteriosa. Mas no momento em que ele abriu a porta de sua casa, eu senti que estava entregue.
Antes de partir tirei do jarro uma rosa e a beijei, deixando ao lado do homem que fez nascer em mim um doce sentimento. Voltei para casa, voltei para o subúrbio, voltei para minha vida.
Aos que não podiam ouvir a música, as garotas dançando, em seu passo soberano, poderia parecer um tanto quanto insano.
Sábado
Sábado à noite, a angústia. Sem ter certeza se amava homens ou mulheres, saiu para a vida! Nunca mais se viu, triste.
Cegueira
Em meio ao desespero, no meio da multidão. Ajoelhou, fechou os olhos e orou. O ato não trouxe a paz. Somente a escuridão.
Passo apressado, vento gélido. O dia parecia não findar, tudo lhe atrasara. À porta, sons estranhos vindos da casa… “FELIZ ANIVERSÁRIO!”
A Voz
A ela a vez de escrever, a luz escrita, a bebida dos cegos não cegos, eu quero e disse com voz de Sede. Ela aceitou a Voz.
A vida inunda. Com ondas que expulsam ou acolhem. O humor do vento é rei. Raivoso, faz voltar sem saudades. E delicado, se perder sob o sol.
O menino mente. Intencionalmente. O nariz cresce. Desenfreadamente. Chega o lenhador. Serra o nariz, no tronco! A floresta, para de chorar.
Gravador ligado. Respostas sinceras. De manhã, capa. “Escrevo para superar o passado, compartilhar o presente e sonhar o futuro”.
Vou contar uma história genial, dessas de mestre da literatura. Desculpa: preciso de mais caracteres.
Entrou num dilema: queria conversar com quem esqueceu das palavras.
Numa caixinha de fósforos, com uma mortalha por cima, me entregou o amor e saiu.
O Psicopata segurava duas cabeças em suas mãos: uma de alho, a outra de cebola.
Nos amávamos feito loucos e, obviamente, não ficamos juntos.
Um cão passou: a vida passa nos olhos de um cachorro. Minha mulher não me amou: a vida cabe em 140 caracteres.
Orestes era um homem bom, se preocupava com os outros. A plataforma estava cheia de gente. Queria se jogar mas tinha pena das pessoas que teriam que limpar aquela bagunca. Desistiu.
AUTOESTIMA
Decidiu ter um caso de amor consigo mesmo…
E se foram os medos das traições.
BAIXA AUTOESTIMA
Procurando ser vista por todos, escondia-se em si mesma.
PURA ARTE
Daquele velho baú, mamãe arrancava mil histórias em branco e preto… E sonhos coloridos laureavam meu sono.
Exausto do trabalho, olhou as contas atrasadas, fez o sinal da cruz e rezou pelo fim do: “não tenho dinheiro mas boto seu nome nos créditos”
Gritou ao marido que tinha um caso, ávida uma cena passional. Ele sentindo-se aliviado pensou: não teria mais aquela cruz somente para si.
Sentado em sua cadeira giratória, sorriu sagaz e lançou um duelo sangrento disfarçado de um concurso de microcontos.
Não havia meio termo, olharam-se nos olhos e entenderam que à partir dali seriam para sempre um. Só não tinham certeza se era bom ou ruim.
CIDADÃO PELA METADE
Que sabor tem essa casca! E Adão se perdeu por uma maçã?! Minha casca é de banana-maçã. Nossa! Até no pecado, sou um cidadão pela metade.
O OLHAR
Fitou-me com o olhar enevoado, senti que era o adeus. Não me esqueci da força daquele olhar, mesmo quando só me olha da lápide. Sob seu olhar, sinto-me protegida.
SEVERINA
Quando mainha nasceu, caiu granizo queimando tudo. Quando nasci, a seca retalhava o chão. Somos frutos da caatinga e duma severa sina. Batizou-me Severina.
Entra no ônibus, deposita a mala no chão e afrouxa o nó da gravata. Ninguém imagina o quanto suou para fazer o corpo caber ali dentro.
O carregador de sacos de cimento e a mãe com seu bebê. Os dois se cruzam, cada qual com seu carrinho. Quem carrega o fardo mais pesado?
Quando escrevo, uso uma máscara. Só para me sentir num casulo. Mas a máscara começou a crescer: se fechou na minha nuca. Agora sou só in.
MOÇA COM ROSA VERMELHA TATUADA
Da moça que se foi, tão pouco se soube, apenas que tinha rosa vermelha no peito tatuada, bem ao lado dos dizeres: bem-me-quer, mal-me-quer.
Todos os fins de semana, a mulher do capitão comanda os soldados nas tarefas de cuidar do seu jardim, fazer limpeza e ensacar o lixo da sua casa.
Todos os dias, José passeia com a bíblia e o terço na mão e o celular no bolso. Faz o sinal da cruz, beija a medalha e liga para a amante.
Quando eu for apenas uma lembrança tênue, sorria. Terei realizado quase todos os meus desejos e concluído quase todos os meus projetos.
Sentiu o líquido quente ser despejado em sua boca e cuspiu antes de engolir. Eis a dura rotina de um degustador de café.
Mas filhos, ao contrario, dão uma alegria, um valor a vida indescritível. O que quero dizer é que dar trabalho, mas vale a pena cada esforço
Dadinho foi enganado, perdeu o carro no Pôquer. Um infeliz encontro entre Dados Viciados.
Sou um moribundo, vivo a relembrar uma vida que já passou. Não tenho presente e nem futuro, estou preso ao passado, estou preso ao seu amor.
Continuo a correr, a rua completamente deserta, prescinto o vulto a minha cola, cada vez mais perto. Fujo, cada vez mais ofegante, perdido.
no leilão, a tela mais cara, como o próprio autor profetizou em seu diário, tinha um furo na parte superior direita e manchas de sangue.
O receio me fez outro.Amanhã escreverei uma história sublime.
-Não foi nada,assopra que passa-disse-lhe a mãe.
Ela, vitrine. Ele, reflexo. Ela se vira. Ele se vai. Ela o olha. Ele segue. Ela entra na loja. Ele se vira. Mas ela se foi. E ele não sabe.
No restaurante, o arrastão levou-lhe a bolsa e o direito de ir e vir. Só disque-pizza agora.
Estava Ana parada na Estação de ônibus. Ali percebera, o quanto esperou na vida. Para passar o tempo contava os cabelos brancos: 10001, 10002…
Chega João, chega João, ai, ai… João todo gozado dar um tranco, ela sai ao pinote vendo a marca da freada rumo ao banheiro!
Olhava a mulher como se fosse um PF. Só a devora quando a fome cega e seca apertava. Ela não estimula mais seu bulbo olfativo, nem afetivo.
psiu resfolham as portas e as janelas e as placas dos corredores vazios após as vinte e duas horas se à noite os livros falam mais alto
Moro em Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch, País de Gales. Ninguém aqui consegue usar o Twitter.
O sacerdote toma-se de mistério, resplandece sua prédica em nome do cordeiro, a assistência se levanta boquiaberta, range e o compartilha.
Ela balbuciava, antes de perecer: “Ali, naquela esquina… Quem sabe esse não seja um bom lugar para estacionar e, aprender mais um pouco”.
” aquele homem cheio de si e de coisas, queria subistituir com estátuas a falta que as pessoas lhe faziam “
Com as mãos trêmulas, escreveu-lhe um bilhete de amor e perdão. Passado o susto, rasgou-o na porta do hospital.
Diante das súplicas e lágrimas, não teve como resistir. Mais uma vez, retirou a queixa.
Perdeu um filho. Ganhou uma filha.
Das infinitas noites na varanda, ele enrolando os dedos no meu cabelo, eu admirando sua beleza, nada sobrou. Ele se foi e fiz uma chapinha.
Numa noite sem lua e sem vigia, ele corre para o desespero. Sobe num alto prédio, e após olhar para o asfalto lá embaixo, fecha os olhos.
Após sangrar na batalha e dormir a noite inteira, quando acordei, percebi que o dragão havia voltado.
Liguei a torneira,lavei um prato,uma colher e…desceu pelo ralo minha criatividade tão imunda que não serve nem para escrever um conto!
Um passarinho azul me contou que 2012 talvez seja o fim do mundo,ou talvez da imprensa,ou talvez seja apenas o fim do limite dos caracter…
Ele, carne. Ela, frutas. Separaram-se. Com saudade, ele foi comer no vegetariano.
O que espantava não era o número de formigas em casa. Era o modo como se perfilavam à minha frente para formar o desenho de um petit gateau.
Da janela viu a nuvem na forma exata do mapa de um país. Foi checar no atlas. Quando voltava à janela com o nome na boca, começou a chover.
Amava-o, mas não conseguia parar de espetá-lo com um alfinete sempre que ele dormia. Espetava-o com amor, para que não se ferisse.
Britton passa papel e lápis a Borges. O escritor ergue a cabeça e faz o desenho: – Era isso que você esperava de um auto-retrato de um cego?
O enfermeiro entrou, deu-lhe o pote, ligou a TV. Pornô interracial. “Quando acabar, pôe o pote no frigobar”. Tirou a calça e pensou em Rita.
O furacão chegava, de novo. Pegou o champanhe, as velas, o colchonete e fechou-se no closet. Abrigo coletivo é deprimente, disse à mulher.
Roubava livros quando ia à casa dos amigos. Uma vez pegou um que tinha uma dedicatória de sua mulher. Separou-se e nunca mais roubou nada.
Tocavam Bach, e ele teve um acesso de riso. O maestro parou, olhou-o. Só o riso e o silêncio. “É isso que se espera de um primeiro-violino?”
Meu amor quis um Fiat 147 de 700 reais. Depois teve Fusca, Brasília e um Dodginho. Empurrei todos.
O menino com as calças na mão, pulou o muro, tropeçou, caiu no chão e passou a duvidar do amor.
O repórter observava com espanto. No caos da guerra, uma senhora limpava os móveis. Foi ali que ele percebeu nosso bem mais caro: a rotina.
Ele esbravejou contra o que considerava uma indecência. Quando as câmeras foram desligadas, eles apertaram as mãos.
Encontraram-se à porta do elevador. A avó voltava da igreja, onde pedira o perdão dos pecados. A neta ia para o bar, arranjar mais pecados.
Entre um tiroteio e outro, o policial Brandão e o traficante FM trocavam olhares, que, diferente de suas balas, não erravam o alvo.
Pegou avião; entrou num barco; chegou a uma ilha; se hospedou com nome falso na única pousada; e no quarto, finalmente, enfiou o dedo no cu.
Escreveu tantos poemas para ela que daria um livro, e ainda escreveria… Se estivesse vivo.
Meus pais me amam.
Sempre pensaram haver tempo para revelarem o quanto.
Acabaram o dizendo aqui, nesta lápide.
Meio segundo foi suficiente. Entre risos e sarcasmos, um olhar constrangido, e todos souberam: ele mente, mais um corrupto trollando na CPI.
Ele olhava o caderno para escrever, mas nada sabia. Ele abaixava a musica, e a chuva ouvia. Ele lembrava dela, e saudade sentia.
A maquiagem que me enfeita não é o bastante para a superfície do espelho.
O mendigo, após ganhar na loteria, gasta o dinheiro no cassino esperando enriquecer.
Depois de dirigir, de passear um pouco, é tempo de limpar os pombos mortos no pára-brisas.
Quando levou o primeiro tapa, ficou transtornada, imediatamente meteu a mão dentro da bolsa e apalpou os seus breus.
A fila, quilométrica. Lembrou da formatura com láureas.
A entrevista, um sucesso. Resultado: A pele escura das mãos secou a decepção!
No lugar do coração, um balão murcho. Haviam esvaziado os sonhos.
Belos poemas a chuva londrina me trás, entre 100 mil o que me acerta em cheio é a poesia concreta, das ruas, das calçadas, da vida de hoje.
Achava cinema 4D uma enorme estupidez, se quisesse respirar fumaça, sentir o vento e sacudir numa poltrona, iria para a rua andar de carro.
Deitada, eu vi um cabelo branco sobre o meu rosto. Quando puxei, veio um duende junto. Que alívio! Deve ter caído do sonho.
Adultescente – aquela mulher nunca quisera
tomar conhecimento dos seus mais de 50 anos.
— Mãe, o que vou ser quando crescer?
A mãe desconversa. Ele já estava vendido; ela, comprada.
Já não a usava por inteiro.
Então metade dela coube numa mala.
Palestra
– Diante de uma plateia tão seleta, só posso dizer…
– … obrigado, muito obrigado!
Clap, clap, clap…
A alma foi apresentada ao corpo. Logo, o corpo se autodefiniu: sou vibrante! E a alma lhe sorriu: sou errante!! E a vida começou…
O som dos passos o deixava de cabelo em pé. E os tiros? E o sangue! Era tanto sangue… Desligou o videogame, mas o som continuou.
Alisa o barrigão e sente a vida da sua vida.
O sangue escorre os seus sonhos.
Dores, correria
E o bercinho eterno, branco, coberto de flores
Com o pé na cova, olhou para dentro de si: viu trevas e luz; paz e tumulto; lua e sol. Fora um moço como outro qualquer, variante e bipolar.
Sobrevoando Brasília os turistas se abismaram: num lado a minúcia de Niemayer, noutro, cuecas nos ares recheadas de dinheiro. O povo mudo.
Sentiu que o fim estava próximo. Parou. Olhou para os lados. Mas só viu um cometa passar.
Nasceu. Cresceu. Morreu. E ficou conhecido.
Feita a partilha dos DVDs, a união instável resolveu-se com um caminhão de mudanças, a primeira delas, de endereço.
Tinha a boca tão pintada. Toda hora retocada de cor. Que quando limpava, não tinha mais boca, não era mais nada.
Tempero Hindu – Procurou o banheiro do templo, o banheiro estava fechado. Por Deus! Precisava purificar o corpo pra saltear o pecado.
Tomava cachaça,fora desenganado:cirrose hepática.Jogou na MEGA,
1 cartão,ganhou 50 milhões,sozinho.Comprou um fígado,0. Hoje bebe
wisky importado, 12anos…
O menino deu linha na pipa;Morreu como um passarinho…foi eletrocutado
pelo fio de alta tensão
INFELIZ DETALHE –
Sempre dizia que velharias não serviam para nada… Até o dia em que viu o filho rasgando suas Telesenas antigas.
Ela se achava o último biscoito do pacote.Acabaram tal qual:Ele,o pacote,no lixo;Ela faz ponto rodando bolsa na boca…
Nada
Sem pensar, abriu a boca e esvaziou-se de pensamentos.
Ensaiou a primeira linha, certo de não ter mais pré-conceitos,
estancou vazio.
Não sabia quem mais dormiria ali. Imaginei que não seria ele, pois a decoração não parecia combinar com aquele jovem rapaz ruivo.
A cama de mogno não combinava com o cômodo branco. Era certo que ela estava ali há pouco tempo, deslocada, assim como eu.
Percebi que não iria ficar sozinho, uma vez que o enorme quarto tinha duas camas, postas entre as grandes janelas e as portas.
O sangue jorrou na tábua de bambu. Cortou quatro dedos da própria mão, distraído. Fatiava sashimis há 37 anos.
Ela cantou: Somos sós em essência o que criamos é a falsa necessidade de sermos dois;o melhor a dizer sobre o amor é em silêncio.Ele calou.
Janela é fora e dentro; pedra é fora; cortina é dentro; bola é fora; vaso é dentro; vida fica onde? Diz a menina ao espelho todas as manhãs.
Para ela a função da cebola é poder chorar disfarçadamente culpando o ácido por todas as tristezas, assim não precisa cortar os pulsos.
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Pelo buraco da fechadura o menino entendeu discretamente que nú dos outros é ré fresco.
Ela adorava chorar na chuva, porque o sal se confunde com o céu e ninguém repara que ela também está caindo.
Você que de tão ausente mora em mim, eu que de tão sozinho fujo de casa.
Meu Adão não seria covarde. A serpente? Comeria a própria.
Sei que ela não quer nada do que é meu,porém mandei com o bilhete um cheque, ela me traiu, mas mesmo assim não quero vê-lá morrer de fome.
A rua,as arvores,as pessoas,o sol.Tudo era novo e formidável,mesmo sem rumo a liberdade se torna fantástica,depois de 15 anos em uma prisão.
Ela estava com fome, e também ansiosa, já passava do meio dia e nada dele chegar,porém para quem esperou 8 anos nada custava alguns minutos.
Não estava esperando o Correio.. Tampouco esperava o que chegou ali. Nenhuma caligrafia bonita, um papel meio amassado… Toda a verdade.
Ele lia ficção científica e ela Fernando Pessoa. Enquanto um sonhava com o espaço, o outro sonhava com o um.
Passa gente, carriola de catador, passa musico de rua, carro, carro. Viu na faixa um amor de anos atrás, que talvez nem era mais amor. Passa
Foi tudo por causa de um susto. Um susto emendado num café, emendado em dois poemas e emendando num porre inevitável.
Quase disse, mas calou. Quase fugiu, mas ficou. Aceitou a dor cotidiana, diluída, o coração murcho. Medo de perder o que não tinha.
As madeleines do Proust, o vestido da Adélia…Já eu, eu não preciso de nada pra me lembrar de você.
Corre, corre criancinha; pula, brinca e gira. Acha caixa lá no canto. Corre, corre cheretar; xinga, cospe e cala. Corre, corre criancinha.
Puxou-lhe a mão, os lábios tão próximos. Olhos refletidos em desejos e paixões. Encontraram-se no súbito extase dos eternos.
Oi, tudo bem?- ah, tá sempre tudo mais ou menos e isso é horrível, então tá sempre tudo horrível, mas tudo bem e você?
Não sem constrangimento, ela reconhecia: ‘Meus filhos em primeiro lugar, Deus em segundo, meu marido em terceiro e, no quarto, o amante’
.
O passado desfilava no pincel de sol que a varava. O corpo formigava em brasa, estalando feito criança. Foi assim que se descobriu mulher.
Segunda-feira melancólica e eis que ele declara tudo o que sente por ela. A resposta veio na manhã seguinte: “Você é tão imaturo.”
Imagine a cena: Ayrton Senna, do carro pontudo, acena feliz.
Só iria se tornar homem quando o pai morresse. Sem recursos para matá-lo (na fantasia), comprou um revólver. Suicidou-se, sem carta.
Acordou e sorriu. Agradeceu aos céus, fitou-a com imenso amor e chorou… A dúvida mortal tomou-lhe o espírito: o cosmo é mesmo misterioso.
Primeiro se conhecem, depois se apaixonam, lado a lado, juntos envelhecem e nem na morte, final de tudo, se abandonam.
“Como quem anuncia um óbito disse solenemente: – Hoje é a sua vez.”
“Abriu as janelas, sentou-se confortavelmente e aguardou a chegada do inevitável fim; leu o último capítulo.”
“Achava que dominava a passarela. Até o dia em que ouviu “Tainted Love” e caiu do salto.”
Sintetize disse o professor. Cortou-lhe então braços e pernas, agora ele tinha um personagem.
Desde menina queria viajar, conhecer os EUA… Madeineusa, sempre a sonhar.
Vazou um olho para viver em terra de sego… Não tinha entendido a piada.
Hesitou ante o sinal amarelo. A parada repentina evitou a morte do anjo que salvaria sua vida no ano seguinte.
O armário vazio e hesitou entre a rua ou a mesa de bar. No balcão, achou o bilhete anônimo da futura mãe do seu filho.
Um bilhete ou um telefonema. Decidiu apenas partir. Ela acharia o dinheiro, já era o bastante. Ele nunca se imaginou como pai mesmo.
Uma lápide em branco: a editora lhe devoleu os originais, sem uma carta,uma nota sequer.
De repente, saudade dura crua suada. Vento passa e deixa poeira, atrapalha a vista, suja o rosto. A falta que ela faz está na cara do moço.
Quente e decidido, mas breve. Porque o senso quase religioso de manutenção da ordem não nos abandonou. A sua mão, a linha da minha cintura.
Enquanto uma falava, a outra olhava para um ponto no armário de pratos atrás dos cabelos da uma, esperando o circo acabar.
Paleontólogo, ele era mestre em espanar pedras. Foi espanar os móveis de casa num domingo. Achou vestígios de um novo homem.
No Bordel
Maria foi uma puta decepção.
Morte Gramatical
“Era um bom sujeito…”, na oração dizia, em prantos, o amigo predicado.
Casa Nova
Comprou um apartamento na planta: o caramujo.
Férias: areia quente, manhã gloriosa.A tarde chegou com o vizinho trazendo o funk. Dormiu quase homicida, amaldiçoando o dia.
Marias e Madalenas debruçadas nos balcões. Amor, três vezes negado, se esgueira na solidão.
Construiu mais de dez pontes. Agora escolhe em baixo de qual vai morar.
Marcos Fidalgo
Cortou o cabelo da cliente. Depois o pescoço.
Marcos Fidalgo
Ficou com uma garota de programa. Gostou tanto que virou uma.
Marcos Fidalgo
Pegou o barco. Saiu, pescou, chorou. Todos os peixes voltaram para casa. Pegou o barco. Saiu, pescou, sorriu. Levou todos os peixes para casa.
“ja grisalho, alto, magro, olhos miudos e negros”. assim começava o conto que permeou toda a minha infancia, adolescencia e me define ate hoje.
Miojo no fogo. Nojo do mundo. Mija no vazo. No vazio vai fundo. Foge do jogo. Desiste de tudo. Abdica de todos. Miolos no sofá. Calibre 38.
a tv nao ta no jornal hoje? não. mesmo nao estando na sala, ela fazia questao. eu não.
Ana não exigia fidelidade. Apenas que Léo usasse a droga duma camisinha com a puta. Mas Inês, a puta, quis uma prova de amor. Ana agora HIV.
Por um segundo pensei que poderia…Pude.
Saco o iPhone para a última tuitada: “Me sigam, hahahaha.” Quem pode imaginar que essa é uma gargalhada de desespero? Pulo.
pastel de carne. pastel de carne. pastel de carne. ja escolheu. sei la…um espetinho!
Pé de valsa dos gramados perdeu gol feito e a copa. Dançou: banco e dali para o patíbulo. Baila ainda: como parceiro o ostracismo.
Um inútil, o Deleutério: nada fazia sem a ajuda da mulher, sequer tentava. Até no par de cornos dependeu dela.
Querendo resolver briga antiga, enfiou o dedo na campainha encostando a boca escancarada no olho mágico para receber o tiro nos dentes.
Girou a chave para a esquerda. Na mão direita a carta sem volta. Lá fora duas caixas, um padrão e o corredor imenso o aguardavam.
A história, tal vírus, transformada em amnésia contagiosa, beija a pátria desalmada.
Mãos ao alto. Sua última prece.
Contava com a sorte. Pulou do décimo-terceiro andar.
Quando a guerra dos meus pais começava, eu começava a minha: ia para o quarto brincar com meus bonecos.
A estrela brilhou no céu e virou sonho. O sonho foi pro papel e virou rascunho. E entre a estrela e o rascunho, a vida sorriu mais bela.
Os outros soldados mexiam os lábios, formavam palavras, mas eu não ouvia nada. Até que todos sumiram, e me vi sozinho no deserto.
Surgiu como uma nebulosa púrpura, iluminada, em seu apartamento. Uma voz andrógina disse: Já fui assim como você, tão frágil.
OSSOS DO OFÍCIO
Dizem que Aurélio morreu sobre o dicionário. Virou verbete…
– Diga teu nome Maria.
– João…
Eu tinha quinze anos quando cortei minha primeira garganta.
Tomaste todo tempo, trabalhaste tanto, tantos títulos tiveste. Tonto, tudo termina, tal triste terra.
Mal viam que passava da meia noite, muito menos percebiam a noite fria. Os beijos eram quentes, e abraçados, não queriam despedir-se.
O menino era pequeno, mal alcançava os pés no chão. Mas a nova bicicleta era linda e brilhosa, até virar a esquina!
Sem ti. Senti.
Vivia ela caminhando entre os trilhos, um dia o trem passou, e levou-a, nunca mais foi vista!
Tal pai, tal filho. Entendeu o recado. Ao fim do madrugada, entregava os cadáveres para o chefe: Tá o pai, tá o filho.
Um grito apenas. O suficiente para que, de alguma forma, a sua vida não passasse como estrela morta, e pelo menos uma vez tivesse sentido.
Ailton São Paulo
No pescoço branco, o colar púrpura feito com as marcas dos meus dedos. Devo chorar, devo fugir? Não tenho Iago a quem culpar. Réu confesso.
Seria desejo se fosse sentido, mas era palavra e o verbo não sente. Amou como quem vai embora, porque se ficasse morreria. Escolheu: o fim.
Levantou a cabeça, olhou para o horizonte e refletiu “qual o sentido de tudo aquilo?”
Depois, resignado, mirou o chão e voltou a pastar.
Receita Da Morte: Traia sua esposa com uma prostituta, leve pra casa e chame de minha mulher. Depois troque-a por uma colega de profissão.
Malditos não-ditos, que ecoarão com sua voz inaudível por toda eternidade em meu travesseiro.
Clara abriu a gaveta de calcinhas. Era a decisão mais importante de seu dia
Ela estava estonteante, ele já estava bêbado. Ela não queria briga, ele queria dirigir. Sofreram acidente, ela morreu e ele ficou só.
Ele a conheceu em um comentário dela em um blog e a seguiu pela internet, cada vez mais apaixonado. Viu pessoalmente e perdeu o encanto.
Me perdoe, jamais teria lhe dito aquela mentira se não necessitasse de modo urgente que ela fosse verdade.Tente entender.
A menina desceu da bicicleta ofegante – como quem corre para encontrar a vida, abraçou a mãe e entendeu o porquê. De tudo.
Ele foi até a estrada mais próxima e se perdeu. Mas ninguém garante que se andasse um pouco mais achasse o caminho.
Pela fresta, via parte de um canteiro florido. Quis mais. Escancarou a janela. Ao redor, a praça suja, um pedinte no chão. Voltou à fresta.
Traía o marido todo sábado à noite religiosamente. Comungava na missa todo domingo de manhã descaradamente.
Num belo dia meu amor encontrei. Apressei-me a tocá-lo e senti dor extrema. Assustado percebi que quebrara o espelho.
Apaixonada pelo Sol, a Lua se exibia: cheia e radiante, esbelta e sedutora, nova e misteriosa. Ele só pensava na estrela de outra galáxia.
O calor estava insuportável. Os segundos de sombra, o maior prazer de toda a existência da formiguinha. O homem continuo a caminhada.
O calor estava insuportável. Os segundos de sombra, o maior prazer de toda a existência da formiguinha. O homem continuou a caminhada.
Formiga laboriosa, chegou teu inverno. Tudo que é preciso e ninguém que te encante.
Sozinha na sala de espera há cinco horas e doze minutos. Sem fé, lágrima ou pílula de cianureto. A porta do Centro Cirúrgico se abre e o médico vem em minha direção
Depois de trinta e sete mil palavras de amor sussuradas em seu ouvido ela se confessou completamente surda. E entediada.
– Cúmplices. Não precisaram de palavras para confidenciar isso um ao outro. Os olhos eram suficientes.
– Começou no momento em que ele segurou a porta do elevador para ela. Dali para sempre, altos e baixos, sufocantes. Contraditórios amantes.
“A poesia é um presente que cabe apenas ao leitor tirar da caixa”, disse o escritor. “O papel do poeta é papel de embrulho.”
Elton Silva
Seu sonho de criança: medicina veterinária. Hoje é açougueiro no mercado da cidade.
Elton Silva
Seu sonho era ser um grande confeiteiro. Como não conseguiu ficou com o sonho da padaria.
Elton Silva
Verão em Havana, daiquiri em punho. Tentava misturar-se. A camiseta estampada com Che, porém denunciava: era gringo e nada revolucionário.
A campainha toca. Era o amor para aporrinhar mais uma vez a razão, que tentava se esconder em vão. Pobrezinha…
Ganhava a vida como dublê de cinema, nas cenas mais perigosas. Num belo dia de primavera não foi trabalhar. Morreu de verdade.
Quando chegou tarde da noite, encontrou as portas trancadas, fechaduras trocadas. Ninguém atendeu a campainha. Voltou para a casa do amante.
Suicidou-se com dois tiros no peito. Ninguém ficou sabendo o que pensou no espaço de tempo entre um tiro e outro.
Depois de vasculhar a casa toda, Luca encontrou uma carta cruel, morta no chão de vinil: “Não estou mais por aqui, meu amor.”
As pegadas me levaram até onde o Pé Grande conseguiu me enganar. Morri na entrada de uma caverninha sem charme.
“Se quiser manter o emprego, vai precisar de mais OUSADIA!” – gritou Nicolai, dono do circo, para a equilibrista.
Ela se trancava no quarto, colocava o fone de ouvido e fingia dormir sempre que o pai trazia um homem diferente para casa.
Quando todos saíam, Otávio experimentava os vestidos da irmã e dançava em frente ao espelho ao som de Lady Gaga.
Mãe, o almoço já tá pronto? – Perguntou o menino. – Já filho, vem almoçar!
Após duas horas de espera. “Nossa,meu bem,você está linda!” “É pra você.”
Calculou a distância e viu que daria pra pular. Se tinha razão ou se aquilo era só um arroubo de confiança, descobriria depois.
“Eu esperei por você, mas não pude esperar por mim.” Assim ele confessou seu novo amor.
“Alô?” “Quem é?” “Com quem quer falar?” “Com o Dirceu.” “Não tem ninguém com este nome aqui.” “Desculpe.” E uma tarde inteira pela frente.
Com o veleiro fomos ao mar, vento de proa, velejada boa. Quando o vento exigiu que orçássemos, foi aí que tudo começou.
Abriu os olhos, tentou se levantar. Não conseguiu. Estava tonta, enjoada. Sentiu o gosto amargo na boca e se lembrou. Muita tristeza. Fechou os olhos e esperou.
Não escreveu um romance porque lhe faltavam palavras. Decidiu enveredar para o microconto, e também se deu mal no ramo: dessa vez, sobravam.
Édipa, a órfã, visitou aflita o túmulo do pai. Cometera resoluta o parricídio, mas se arrependeu depois de sentir falta do amante que era.
40 anos para morrer. 15000 livros para ler. Adeus, amigos escritores. Nem dos clássicos darei conta.
Eu flutuava nua em uma concha levada pelo vento. A onda danada lambeu, estremeceu meu corpo e me deitou na marola do mar. Embeveci.
Era o Vavá que tinha fobia da letra V, que era vendedor, que casou com a Viviane e que torcia para o Vasco.
Estava sentado naquela cafeteria havia horas. “Deseja mais alguma coisa”. Suspirou. “Amor próprio!”.
Mãos dadas pelas ruas. Ele conduzido por ela. Coração apertado pela separação: primeiro dia de aula.
Retornou do mercado com a compra do mês: ração para os cães e gatos e cinquenta pacotinhos de miojo.
Cíntia vira naquela foto o fim de um amor. Publicou-a e seu marido prefeito beijando outro se transformou no fim de uma carreira política.
O vento de outono passou e levou a folha que contava em verso o amor de verão.
Big bang. Seu olhar se espalhou pela escuridão do quarto e atingiu meu coração com a velocidade da luz. Não deu tempo. Fez-se o universo.
Estou morto!… Mãe!… Corri em sua direção e ficamos abraçados por um longo tempo. Agradeci a Deus por nunca ter abandonado aquele que o esqueceu por quase toda vida. Lembro-me agora, da ultima oração, tinha dez anos. Uma noite anterior à morte de minha mãe, rezávamos o PAI NOSSO.
Em uma densa e calorosa noite de amor… sob os olhos da doce Lua… Ela comeu um Bis Branco…
Antes do fim
Fotografou a rosa antes da tosa. Na tela, pareceu mais bela. Voltou ao jardim e, antes do fim, despediu-se dela.
Reclamação
Queixou-se a Deus:
– Você aí, não faz nada para melhorar este mundo horroroso?!
– Fiz! Fiz você!
Ele era o homem mais invejado daquele lugar. Às escondidas, namorava com as irmãs, sem mãe: três mulheres, zero sogra! Final Feliz.
Romântica
– Como é que pode, amor? Esta lua ser a mesma que nasceu sobre o mar, em Cabo Frio?…
Injustiça!… Uma flecha atinge o alvo;é a palavra lançada da escuridão do ódio. Transpassando, dilacerando as entranhas do injustiçado como um raio. Angustiado, condenado, amedrontado, encapuzado colocado no cadafalso.Gritos da multidão! O carrasco! O cheiro do horror, um ser é vitima do falso.
Comida insossa, preço alto, chopp quente. Entretanto, é o melhor lugar para se comer…com os olhos: lindas garçonetes.
Eram cinco e meia da tarde, sua melhor hora, quando ela passou pela frente dele, levando a vida dos dois para o quinto dos infernos.
O dia não terminou, a vida ficou pela metade. Tudo por causa de uma decisão não tomada. E o pior era a dúvida.
Chegou ao céu e conclui que aquilo não era o paraíso. Pobre nerd, ficou sem seu sagrado wi-fi.
Queria esquecer, em alguns segundos, quem realmente era, para poder descansar da vida lá fora. Mas tinha uma memória. E foi assim até o fim.
A fim de algo diferente alugou um filme pornô. Desistiu de masturbar-se quando viu a esposa no filme. Pediu o dinheiro de volta.
Desconectou-se da vida. Não se sabe por que, mas cometeu o facebookcídio. Abriu a porta e viu o sol e viveu.
Como desaparecer completamente
Era um jovem diferente dos demais,
mas que um dia não suportou as cobranças da maioria
e acabou se tornando mais um entre os iguais.
Antinarciso
Miniconto
Viu que o espelho era o outro ao se olhar e assustar-se com o reflexo de um estranho diante de si.
O sol se escondeu, o tempo fechou, a tempestade caiu impiedosa. E do cenário alagado, dias depois, nasceu o primeiro broto de esperança.
Favela: fome, madeiras apodrecidas, lama e ratos. Virou-se e vislumbrou as mansões do Morumbi: a desigualdade sempre esteve ao seu lado.
Vende-se: um par de luvas. Grátis as mãos.
Correu sobre os campos, escalou montanhas e dançou sobre o Pico do Jaraguá. Quando acordou ainda estava na prisão.
No ônibus, ele, lindo, olhava-me nos olhos e descia até os seios. Estava nervosa. Será meu príncipe? Ao descer, ele falou: guarde o crachá.
Caipira fez curso no rio. — De Janeiro? — De rir! — Que curso é esse? — O do rio… E riu uma canoa.
Quinta-feira, 12 de julho de 2012. De quinta, diria. O texto, não tudo. Ou tudo tentando. E o texto. Que texto?
Caída sobre a cama,imagens dançavam em sua mente,desconexas,perdidas em algum lugar,lábios cerrados,pensamentos agitados,no ar um cheiro proibido,tentou engoli o choro , mas o gosto era amargo.Silêncio sua alma pedia silêncio.
Mil amigos nas redes sociais; na vida real, nenhum. Feliz, foi viver no seu mundo virtual. Nem se deu conta que a bateria está acabando.
Entendia os animais, dialogava com o vento, conversava com as plantas… Até descobrir que não era louco, apenas poeta. Respirou aliviado.
O rei, solteiro, não tinha coroa. Sempre deu preferência às ninfetas. Até que, um dia, a coroa nasceu.
Tudo estava preparado, os utensilios, os arranjos, as guarnições,a refeição, várias pessoas em volta. Em alguns notava-se tanta comoção, lágrimas, aperto no peito, desejo de que aquela reunião fosse cancelada, mas já estava marcada a hora, o momento era aquele…
Famintos eles esperavam , esperavam…
Imagens dançavam em sua mente,lábios cerrados, no ar um cheiro proibido.Engoliu o choro, o gosto era amargo.Silêncio, sua alma pedia silêncio.
Só quando voltou, anos depois, ele se deu conta de que no verão o metal da fechadura se dilatava, e por isso não era possível abrir a porta.
Os arranjos preparados em volta da refeição.Em alguns rostos a comoção.Poderia -se cancelar tal reunião.Os vermes teriam sua refeição.
Ausência
A cama amanheceu vazia. Na casa, ainda sentia-se o silêncio e o cheiro das flores.
Regina queria apenas uma carona, contudo, quando o gordo lhe ofereceu cento e dez reais, descobriu a profissão.
No churrasco na laje, pediu-a em casamento mostrando o belo anel. O sorriso dela compensou o trabalho de cortar o dedo da vítima no assalto.
Incrédulo, o empresário Fernando olhava o bilhete de despedida deixado pela noiva. Fugira com o circo. Paloma apaixonou pelo palhaço.
Desaparecido
Levantou-se e saiu. Nunca mais voltou. Os seus ainda o aguardam; a árvore sob a qual sempre lia romances, também. Antes, lia “O aventureiro”.
Nunca falhara, com sua técnica perfeita: mirar entre os olhos e puxar o gatilho. Até que o contrataram para matar o ciclope.
-Obrigada pela carona. Voce quer subir?
-O teu filho já não está dormindo?
-Está na casa do pai.
Irajá. Hospital Reviver. Asilo Feliz. Casa dos Filhos. INSS. Lar na Penha. LWA Ltda. UNIG. Colégio Educar. Creche Baú. Casa dos pais. Berço. Útero. Concepção.
Que se escreva sobre a lápide fria que cobrirá seu corpo são, um dia: “NUNCA VIVEU”. Mas, que ironia!, também morreu.
Pois é papai, acho que o problema dela era tentar ser sempre inesquecível.
Ideologia
Dr. Rui era um homem tão de direita, mais tão de direita, que mandou amputar a mão esquerda.
Junia e Cléo
Junia e Cléo andavam nas ruas de mãos dadas. Uma buscando apoio no ombro da outra.
O BEIJO
Saudosa do tempo em que, o beijo na boca era trocado por casais apaixonados, Luiza refez o curativo no herpes labial.
Seu maior defeito: era um escritor de frases feitas. Algumas, fazia na hora. Outras, fazia de conta que eram suas.
Pobre sapo que virou príncipe. Não consegue jamais disfarçar seu indefectível ar brejeiro.
Os livros de Franz Kaspa costumam provocar uma metamorfose em minha cabeça. E também muita coceira.
– Já viste o pôr-da-lua? – Nunquinha… existe mesmo? – Sim, e é belo que nem a paz. – Mostra? – Na hora do amor, a gente mira o céu.
No Instagr.am da _nagi_ todos veem o Sol mais lindo do mundo: é nágico! Aí a Lua com inveja resolveu surgir em todas as cores…
Cansada, mudou a vida: virou fotógrafa. O marido pelejava pra contar algo em 140 toques. – Amor, vem ver que linda a pipa na frente do Sol!
“Mãe, eu vou pro Céu um dia?”
“Só se você escovar os dentes todos os dias.”
Alucinado por Molly Viterbo, montado Bucéfalo do grego Cervantes, Ulisses, sóbrio, lia Dom Quixote, de Joyce – inconfundível Funes.
Alucinado por Molly Viterbo, montando Bucéfalo do grego Cervantes,Ulisses, sóbrio, lia Dom Quixote, de Joyce – inconfundível Funes.
Olho pro relógio e depois pra parede, me sento e espero. Ligo a televisão, olho pro relógio. Suspiro, me acalmo. Cê não vem. De novo.
Ela carregava dentro de si o peso dos sentimentos. O mais pesado era o amor.
Sentada ela se conforma, até porque é burrice insistir no erro, só que não sabe ela, que o erro nem é errado.
Ela beijou a testa dele e correu porta afora. Através de seu copo de suco, ele enxergava o vulto dela e do outro como se previsse o futuro.
“Deves saber que encontrei o amor de minha vida. Peço que me perdoe. Sua irmã e eu devolveremos o dinheiro um dia. Obrigado por tudo. Eu.”
Encarava o céu com mudez aflita. Comprimiu os lábios. Sua mão trêmula protegia a cabeça medrosamente erguida frente à iminência da tal vida.
Crianças corriam com sentimento órfão pelas ruas desertas da madrugada; cercados por hostil independência; envoltas na escuridão austera.
A vaca acordou ignorante de que estavam a encaminhando à morte. Enquanto remoía o capim último, pensou na beleza daquele dia tão alegre.
O telefone que você está chamando está desligado ou fora da área de serviço ou não lhe querem atender.
Eu te odeio, seu filho da puta. Essas foram as últimas palavras dela, antes de abraçá-lo para nunca mais soltar.
Acabou de pisar em campo delicado, machucou as flores, as canelas, os cravos. Campo minado é pros mirim.
Um de cada lado, cosiam os rasgos. À medida dos pontos, os furos dançavam um tango. Bailaram em tiras. Berenice convidou: rende uma boneca?
É um presente do Senhor do Bonfim, dá três nós e o sonho acontece! mas ele nem percebeu, quando a pulseira arrebentou.
“Onde te levam esses lábios laranjas, Maria?” “À festa que não acabou, José. Recuso as cascas, fico com os gomos”
Vejo com espanto! Sereia e seu canto. Seduzido, mergulho em busca do seu encanto. Netuno com seu tridente! Abençoando o encontro. O mar com seus seres e seus recantos. Enlaçado nos braços da sereia; morro afogado no seu encanto.
Arrancou da máquina, amassou e jogou longe o papel. Fechou o computador. Amanhã continuo.
Acreditou no amor absoluto. Pegou nas armas e abortou a juventude.
“Entrou-me pela pele, consumindo-me por dentro.”
Descreveu como paixão o que o senso comum reconhece como lazarentice pura e simples.
Já era um homem de cabelos grisalhos. Fez terapia freudiana por muitos anos, entrou em casa nu, sua mãe lhe vestiu o pijama, e ele dormiu.
Sentidos
Cultivava o duvidoso hábito de guspir no prato em que comia. Mas era só da boca pra fora.
Depois o amor deitou-se entre nós e – criança, adormeceu.
Se amaram por um só dia e se despediram para sempre. Já velhos, o facebook os aproximou. A história de cada um não lhes permitiu sonhar.
A escrita cuneiforme teve início com as garras das bestas-feras nas peles trogloditas. Cada confronto deixava gravado: “aperfeiçoe-se”
Nonsense
Não tinham nada a dizer-se, mas não suportavam o silêncio. Falavam nada com nada.
Na casa há muito abandonada, som e TV ligados. Ninguém ouviu/viu nada – a não ser ecos. Nunca se soube se vivia antes de ser morto.
Estava tão apaixonada que lhe doou a obra completa de Fernando Pessoa, e ele nem gostava de poesia. O amor acabou e os livros sumiram.
Eu sou o tempo, um espelho do medo que não tem coragem. Uma dádiva das corres, a própria irrealização dos desejos que nunca existiram.
Vitor Emmanuell
Uma dos 472 clones que desceram da nave mãe em uma noite fria. Por 25 anos se reuniram em BH pra recontagem. Hoje, clone 26 usou Skype.
A porta ainda estava aberta, quando Ana revirou os olhos, observou a maçaneta e percebeu que a chave de sua felicidade estava em seu coração
Vitor Emmanuell
Os protestos iniciaram-se, as válvulas, animadas por um termo indefinido foram controladas como gelo, fria, amarga e insensata.
Era uma vez duas pedras renais: Petra e Lita.
Ai que me doíam! Uma tão esperta, outra tão bonita.
Debaixo de sua cama vivia um monstro que não lhe deixava dormir. Decidiu matá-lo e tornou-se solitário.
Há encanto em cada palavra que dizemos, a esperança de nos unirmos, a angústia pela distância, mas a certeza de nos reencontrarmos em Aldebarã.
“Se vire”, bradou o pai. Mesma expressão usada quando apanhava. Só que agora tinha 30. O traseiro, antes escondido, foi obrigado a mexer.
No interior de São Paulo, um médico indignado com a falta de medicamentos, vociferou pela janela da enfermaria. – Acabou o soro em Sorocaba!
Conto 150. Mas assim o conto não vale, diz: valor é isso menos 10. Peço o troco. Ele devolve 20. E assim é que se faz um desconto.
Diante do abismo, o velho espiou no binóculo. A criança sorria, inocente ainda. Parecia um anjo. Parecia bicho.
Eis o microconto, anãozinho horizontal, preso na caixa de comentários pra sempre. Se debate. Faço furinhos na caixa para ele respirar . . .
– Eu não sei explicar, não sei o porquê, só ouço uma voz que me sussurra e eu percebo que há de vir algo muito maior do que você espera.
Parou no meio da rua, tirou o chapéu e gritou, “ESTOU LEVE!”. Todo mundo olhou e se assustou, não com o grito, bateu um vento e o levou.
Ela caminha em plena Av. Paulista na garoa da madrugada. Anonima, prédios a observam sem serem observados. É uma miragem que o dia rejeitou.
TRAIÇÃO
Abraçou-me e nem tive como rejeitar. Quando decidi apertá-lo mais forte, senti-lo, ele sumiu, apressado. Ele, o tempo.
REALEZA
Xícara de ouro, mas a avó preferiu tomar no gargalo. O neto não riu: era rei e abdicava assim sua própria vida. Mas a coroa ficou.
VESTIDO DE NOIVO
A roupa no armário, presa. Não é efêmero, é desejo de eternidade que paira num instante único. Eles querem se casar. Eles.
Conscientes de que haviam chegado ao cerne da alma humana, ergueram triunfantes seus copos em um brinde, cada um com três pílulas dentro.
Metade de mim acreditava na inocência daquela senhora. Mas, eu não sei, algo em seus olhos me fazia tremer. Algo me dizia para ter cuidado.
Diante do álbum de casamento, ela colhe os próprios escombros. A campainha, um sobressalto! Enxuga os olhos com pressa. Outra vez pode ser a polícia.
– Olá, minha querida! – disse ele da forma mais charmosa que conhecia. Seu sorriso era sarcástico e egocêntrico. Revirei os olhos e sorri.
Estava deitada com toda sua pequenez. Olhos fechados, lábios mortos… Ainda não sabia o seu nome, mas derramei uma lágrima. Pobre menina!
Legado: Pousa com carinho a pequena mão sobre meu rosto, sorrindo me fala: Que vontade de acordar primavera e tomar banho de chuva mãe;
Alguma simplicidade fez-se encanto, ou colocarei flores de cerejeiras entre o livro e beberei café com creme de avelãs. Sempre será doce.
Um sente falta do sorriso e o outro da mão. Um está longe demais do outro e o outro ainda assim sente o seu perfume..
Trim! Trim! Trim!
_ Mamãe, o telefone está tocando!
Sim, ouvira o toque do telefone e o palpitar do coração, porém não queria atendê-los.
O que o intrigou, contudo, foi o acabamento desleixado do cimento que juntava as urnas funerárias, inúmeras.
Quantas palavras pensou em dizer até encontrar as que julgava corretas. No momento oportuno, falou. Depois, se arrependeu. Porém, passou.
Se livrou do assalto correndo. Ouviu os tiros. Seguiu por várias ruas até parar e perceber algo estranho: sua sombra não refletia no chão.
Estavam dispostos a um relacionamento sério. Prometeram só dizer a verdade um ao outro, mesmo que esta machucasse. Não durou um dia.
O pulsar do seu coração era comedido. Seu corpo não mais era acalentado pelo calor dos lençóis. Sua respiração fora destituída de vigor…
Desencontro linguístico-sentimental:
– Love you. Do you?
– Non plus!
sair, ver o morro, minhas flores e meus matos. sol.saciada de felicidade
Quando voltou, soube que não mais voaria nem derrubaria paredes com as mãos. Sua imaginação morrera. Jamais deveria ter acordado do coma.
choveu,lama no sapato. ceu cinza com nuvens pesadas mas caminhada gostosa como um doce
A arma está engatilhada. O inimigo se aproxima, para virar sua 130º vítima. Um bom presente de aniversário. Parabéns pelos sete anos.
O que lhe restou: chorar. O som do canto lá fora o deixou arrepiado. A luz das velas que carregavam, emocionado. E sentiu o coração parar.
“Queria deixá-las para sempre na condição de anjinhos”, declarou o assassino confesso de crianças capturado ontem pela polícia.
Quando vi, desejei. Fui falar e gaguejei. Ela me olhava, mas não falava. Quando perguntei, se entregou: te procurei. “Eu te amo” imaginei…
Nasceu. Comeu. Cagou. Cresceu. Aprendeu. Conheceu. Transou. Amou. Conquistou. Transou. Decepcionou. Foi. Voltou. Cantou. Envelheceu. Morreu.
Treinava correndo atrás do Sol. Todo o dia. Todos os dias. Ambicionava ser campeão. Conseguiu. Um pedaço de Sol, que ostentou sobre o peito.
Vida redonda
Nasceu em 60, formou-se em 80, casou-se em 90, divorciou-se em 2000,
viveu a 1000 mas morreu em 2010, aos 50. 100 comentários.
Epitáfio
Januário Jaera, o melhor poeta e escritor do brasil, um grande talento que ninguém descobriu. Quem sabe na próxima reencarnação?
Marias
do Carmo é nervosa, do Socorro não é solidária, Dolores é saudável, do rosário é ateia, da Penha mora na Lapa. Vai entendê-las.
Sob a mesa, levou a boca ao pé da mulher: “Cadê meu bebê!?“. Achou esquisita a palavra fetiche, anos depois, ao ouvi-la pela primeira vez.
Anchieta Rocha
Quanto jorro, o romance, rio imenso. Conto, lago, densa água, pouco vaza. E este mini, tanto curto, conta gotas.
Estava feito. Agora, o tempo. Após o crime, o desejo do criminoso esvai-se e a prescrição passa a ser o seu desejo. O tempo, enfim. Passará?
Foi ele o gêmeo sobrevivente; o marido que enterrou a esposa; o espectador da morte do filho. Aprendeu a vida faceando a morte.
Palavras, fotos e declarações de amor, tudo nas nuvens. Ao primeiro apagão do servidor, ficaram sem memória.
Ele é do tipo que vende até a mãe, e pouco importa que esta seja alheia.
Minha vizinha era uma jovem escritora. A mãe dela reclamava que ela vivia apressadamente. Sua vida não durou nem 140 caracteres…
Rua sem gente. Uma voz. Olho para trás. Foi Deus ou o diabo quem chamou meu nome? Melhor apressar os passos.
José era um homem prático – resolvia logo suas dúvidas. Como não sabia se iria para o céu ou inferno, o suicídio foi sua melhor certeza.
Quis saber a cor dos sonhos. Fechou os olhos, encontrou-os na escuridão. Descobriu-os em tons de cinza – vultos, sombras, fantasmas. Dormiu.
Seu corpo logo fez-se taça, digna do deleite de quem prova um bom vinho. Digno era quem se deleitava em seu leito, em seu peito, a seu lado.
Ela poderia envolver o mundo com os braços, e queria. Queria enlaçar o céu e sentir seu azul lhe escapar entre os dedos.
INSCRIÇÕES ENCERRADAS.
Não vai ter prorrogação do prazo?
Receio que não, Luiz.
Uma observação adjetiva. Tenho para mim, muito para mim, que a frase da epígrafe, na parte superior desta página, nada tem de original, pois foi tirada por Ian McEwan da célebre afirmativa de Isaac Newton: “Se tenho enxergado mais longe é por estar de pé sobre ombros de gigantes.” Consta da carta que Newton enviou a Robert Hooke em 15 de fevereiro de 1676, quando os dois cientistas disputavam a glória que lhes cabia na descoberta da gravidade. A frase era no fundo uma provocação de Newton, pois Hooke era um anão deformado.
Caro Remo, a ideia dos “ombros de gigantes” é realmente um lugar-comum. Não duvido que Newton tenha ido buscá-la em outro autor ainda mais remoto. O que a frase de McEwan tem de possivelmente original – ou, no mínimo, de menos banal – é a aplicação desse lugar-comum ao ofício do romancista, que tantos questionam hoje em dia, afirmando sua força justamente pela atualização de um potencial historicamente construído. Um abraço.
olá Sergio. desculpe, mas pode me dizer quando sai o resultado? grata
Está no ar desde ontem, Sueli.