Conforme prometido ano passado aos leitores, declaro aberto neste momento o terceiro – e último! – concurso de micronarrativas em formato Twitter promovido pelo Todoprosa. As inscrições ficam abertas até o último dia deste mês, às 18h. O regulamento é simples:
1. O microconto deve delinear uma narrativa (história) em 140 toques no máximo.
2. Cada leitor pode inscrever até três microcontos, desde que submeta um por vez.
3. Os contos devem ser inscritos diretamente na caixa de comentários abaixo, identificados pelo nome do autor e com email para contato (este não aparecerá para o público).
4. As inscrições se encerram no dia 30 de abril às 18h.
5. Os três melhores microcontos serão publicados neste blog em forma de post e o resultado, divulgado no Twitter e no Facebook.
6. A comissão julgadora é composta de um homem só, eu mesmo, e suas decisões são soberanas.
A primeira edição foi realizada em 2010 e a segunda, ano passado – leia aqui e aqui as micronarrativas vencedoras. Cada uma delas teve pouco mais de 600 microcontos inscritos. Esta agora fecha um ciclo e é a última oportunidade para quem ainda não entrou na brincadeira.
É razoável supor que, desde aquele primeiro concurso, o formato ultracompacto tenha se tornado familiar para um número bem maior de pessoas. Desde então, entre outras iniciativas, o blog vizinho Veja Meus Livros organizou um concurso temático (sobre “As mil e uma noites”) e o próprio Twitter promoveu, no fim do ano passado, um concorrido festival internacional de twitteratura – do qual eu participei com, entre outras, a seguinte historieta:
Nasceu, cresceu, amou um pouquinho, envelheceu, e logo antes de morrer se deu conta, desolado, que sua vida cabia num tuíte.
Meus votos de boa sorte a todos os participantes.
231 Comentários
Uma mulher, em Orleans, viaja para Buenos Aires com o marido, conhece um músico argentino, passa a viajar pela América do Sul, se suicida
Um corretor de seguros, em Orleans, vai para Laguna, conhece uma rapaz que lhe oferece a namorada, transa com essa moça, o rapaz se suicida.
O ar/nos pulmões/é expelido/espalha o vapor emanado por uma colher com sopa/o alimento se torna comestível/a pessoa que o comeria se mata.
Enfarte
Um sopro no coração apagou a velhinha.
Sexo
Na cama do casal o celular vibrava e o marido nem sinal.
Conta Corrente
O daltônico não sabe o que é estar no vermelho.
Sentado na areia, como se dele nascessem as ondas, o homem mais triste do mundo não estava mais triste. O homem mais triste do mundo sonhava.
Chegou sem avisar. Viajou pelo meu corpo. Caminhou nos meus sonhos. Partiu com meus desejos.
Aceitei seu amor. Aceitei nossa felicidade. Aceitei o encontro do nosso desejo. Aceitei a finitude. Sobrevivemos.
O menino de olhos abertos para um último resto de céu, últimos segundos antes da bala perdida, do estampido que mal ouviu.
Era eu, era você. Fomos nós. Queria pausar a vida no encontro, mas só houve desencontro.
Mal escutou a sirene. Mas ainda viu a ciranda de luzes do carro da polícia rodando na parede suja. E a vela acesa no centro do silêncio.
Um dia, ao acordar pela manhã, você abre um olho e vê imagens que escorreram para uma paisagem fragmentada num canto da memória.
No antiquário viu uma tela, o retrato da avó ainda jovem – Ela precisava da grana, disse o dono.
Eu pensava que te conhecia quando apenas te amava.
Dormi. Acordei. Monotonia. DIARIAMENTE. Um sorriso. Quente. O monótono vira agitado. Dormi. Acordei. Monotonia? Foi embora. Para sempre.
Quando nasceu, um anjo baldio desses que fingem brincar de Deus disse: “Vai, menino, ser feliz na vida!”. E ele foi.
Noutra esquina donde vinha, Elisa se foi duma vez, como uma vogal atônita(ca) dalgum adágio mineiro.
Aquele pássaro cantava com alma de tenor. A pedra sem alma.
Densa névoa invade a retina do leitor incauto; míope, endossa ideias aguadas. Peste, esse coaxar fátuo.
Nasceu sorrindo, viveu sorrindo sem saber o porquê, se descobriu não sei, mas morreu chorando
Cruzou, fecundou, botou, descascou.Vai pia,pia,pia logo vira as correntes marinhas.O que seria? Oh! tartaruga da Bahia.
O pai conta uma historinha e ela adormece com um sorriso.
Para o III Concurso de Microcontos, lá vai minha primeira participação:
Minhas patas se debatem, sei do meu fim. Vingo-me sujando com a baba branca espremida de meu corpo a sola do chinelo de Giselle Bündchen.
Espancado por intenção de roubo. Bem em questão: seu próprio carro. Razão do engano: era preto e desdentado.
Depois das roupas, jóias e carros, quis comprar a própria alma. Chegou tarde.
Decidiu ser palhaço porque não tinha mais nenhuma lágrima.
Para o III Concurso de Microcontos, aí vai minha segunda e última participação (substitui a primeira, caso esta apresente problema jurídico):
Minhas patas se debatem, sei do meu fim. Vingo-me sujando com a baba branca espremida de meu corpo a sola do chinelo de Franz Kafka.
A terra batia na madeira. – Já foi tarde.
Chegou de viagem do exterior e seu pai perguntou sobre as diferenças. Conhece os Flinstons e os Jetsons? Pois é, nós somos os Flinstons…
Sentou. Pediu cana. Bebeu. Pensou no passado. Bebeu mais. Sentiu o presente. Futuro encanado. A conta. E o noivo saiu para casar, incerto.
Saíram juntos, poesia, luz de velas, petit gateau. Foram à casa dele, música, penumbra, vinho Bordeaux. Cama, sussurros, arte, e ela gozou.
PARA QUANDO EU CHEGAR AOS SETENTA
Os anos sessentas corriam soltos e como dia e noite havia neles, sem maniqueísmo algum e religiosamente maniqueu, o lado bom e o lado mau.
Do lado mau, não vamos nos lembrar de nada. Queremos recordar aquelas músicas, que tinham o poder de nos tornar os maiores sonhadores desde os poetas de todas as épocas pretéritas. E , eternamente , nas paredes de nossa memória, andando de bicicleta, usando minissaia, estão aquelas garotas.
Súcubos, ninfas, ninfetas e deusas, como Elisabeth Taylor, povoavam nossos sonhos. Vivíamos, como se todos nós fôssemos os protagonistas de histórias de amores eternos, embalados por uma juventude eterna com a qual o pobre do Ponce de Léon havia sonhado, mas somente a nós os deuses haviam revelado.
Mas os deuses precisavam cumprir o que estava escrito. Agora, em vez de dividirem o próprio ser humano, como no relato “O Banquete”, de Platão, dividiram nossas mulheres.
No lado claro da vida permaneceram delas, como Madonna, Lady Gaga e as FEMEM e também as de magnífico caráter e honestidade, como Daniela Mercury e sua digníssima esposa e tantas outras.
Do lado escuro da vida ficaram, não diríamos todas as religiosas, não somos religiosos para ficar, por aí, demonizando a torto e a direito, não. Mas, a bem da verdade, que o segmento religioso forneceu mesmo o maior contingente, para o lado escuro da força, forneceu sim. São aquelas que abandonaram Jesus, glorificam homens, “torcem”, em vez de ter FE, não se importam se suas lideranças engordam contas bancárias, enquanto muitos dizimistas fingem que recebem tratamento, nesse sistema de saúde brasileiro, pior, nunca leram o “livro” que dizem ser “A Palavra de Deus”, livro que não passa por um exame mais acurado de quem domina o latim, o grego e o hebraico. Nós que já tivemos a paciência de lê-lo, entendemos que nele só se salvam O Sermão da Montanha e as parábolas de Cristo e que dele devemos salvar o judaísmo, que não é religião, e Jesus, que não era religioso.
Alan, obrigado, mas o limite é de 140 toques.
A missão é bipt convocar uma plenária vg comprar uns deputados vg ganhar as eleições et perpetuar-se no poder PT SDS
Comportamento agressivo? oh não é a Apneia que promete um show de “estrelas decadentes”.
João extirpou 3 costelas. Delas nasceram Isaura; Carolina e Maria Ângela. Conheceu-as carnalmente e teve 20 filhas e 86 netos.
Era pobre, mas viu aquilo e teve a idéia. Criou empresa, enriqueceu. Na crise, faliu: perdeu idéia, empresa e dinheiro. Voltou ao normal.
Estava até alegre, mas veio a notícia: câncer. Tratamento, luta, derrotas. E o veredito aflorou: tinha vencido. Voltou a alegria!
Se olharam na livraria. Cama, cama e mais cama. Ao altar, com pompa. Mas ele era doente: em outra livraria, buscou qualquer olhar.
Anacoretas discutem solipsismo entre quatro paredes; prescindem de cilícios: salvar-se-ão juntos.
Roupas que dançavam no varal ao som do vento,agora choram por perderem seu perfume!
Minha mente, desbaratinada, bebe tua sede de me pensar.
Chegou em casa em frangalhos. Cansada de dar pena. Dormiu sem dar um pio,mas acordou com um galo. Botou um ovo para ferver e saiu pra lida.
No zoológico, não se falava de outra coisa. “Deu zebra,deu zebra”, gritava o papai listrado, todo orgulhoso.
“Defenestremo-nos!” bradou do sexto andar o líder kamikase.
Um estampido, corpo ao chão. Quem vai contar para a mãe?
Jerry estava para perguntar o que realmente se passava com Tom quando encontrou a caixa de Clozapine e entendeu tudo.
Chegou devagar, esmagou meu peito, deu um nó na minha garganta, queimou meus olhos. Passou correndo pelo meu rosto, caiu e foi embora.
O equívoco disse: “tem dias em que a gente pena pelo que não vale a pena”. Gravei! Foi preciso!
Põe a mão aqui. Isso. Aperta bem. Mais força no mindinho. Quase estrangulando. Assim. Viu? Como é grande o meu amor por você?
Em volta dele fadas, dragões, elfos… “Isso não existe!”. Sumiram. O adulto nasce, a criança morre. (Edson Rossatto)
Peixes e aquário. Separaram-se pelo signo. Anos depois, tristes, deixaram de acreditar em horóscopo. (Edson Rossatto)
Conseguiu comprar uma casa na Paulista. Foi a sexta vez desde que começou a jogar Banco Imobiliário. (Edson Rossatto)
Os tubarões de Boa Viagem aprenderam a fazer vôos rasantes pela areia. Hoje levei minha família pra passar o dia na praia…
Os crisantêmos, comprados na última hora, foram deixados lá, sobre o granito frio, mercê de si mesmos. Pensou em juntar-se a ela.
Poesia é uma partícula do meu ser, que empreguinou-se em minhas entranhas, meu corpo, m’alma, por fim, o espírito. Ela estará por toda parte, em mim habituou-se a morar.
Souberam de tal existência, quizeram-na roubar de mim. Mas ardiloso nada declamei.
Ao matá-la ele descobriu: quanto mais se é forte mais se está só, ao olhar para trás, a fraqueza ( e não a lei) o alcançou.
Quando o primeiro raio de sol brilhou na poça d’água, ele lembrou do cavalo no toco, e partiu pra lida.
Conheço a esposa na sua despedida de solteiro.
Conheceu a esposa na sua despedida de solteiro.*
Pra sorte do gato, o (cachorro) está preso nos parênteses.
Brigou com marido. Passou no posto pra abastecer. “Completa, senhora?” – perguntou o frentista. “Vazia, moço, vazia” – respondeu sem pensar.
Perdera-se. Suspirou. Encheu-se de coragem, abriu os olhos e disse: A vida não cabe em 140 caracteres. Encontrou-se.
Em plena tarde de verão, o homem gelado não derretia: o amor foi assassinado com uma chave inglesa na sala de estar pelo encanador. E a ex.
Amei e escrevi um poema. Ele recebeu e leu o poema na frente de todos os nossos amigos, na sala de aula. Mudei de escola.
Amava e desamava como quem trocava de roupa, até conhecê-lo, amá-lo e ser trocada por uma versão mais nova. Manteve-se nua.
Tupinambá tem sua receita de carne branca ao molho de maracujá elogiada por todos. Ai ai tadinhos dos prisioneiros portugas!
O silêncio precedia a catástrofe. Com a explosão, a família toda morreu. Menos o bebê que continuou dormindo. É o diabo, dizem os vizinhos.
Partiu para a maior aventura de sua vida e, no início da jornada, descobriu que esquecera o cachecol e levara juízo em excesso. Voltou.
Ajudava o pai na funerária. Apaixonou-se por alguém que não lhe quis. Ela morreu num acidente. “Seja breve”, disse o pai, trancando os dois.
Cai na minha rede para que eu, timbale, soe vivas à chegada. Dito isso, desligou o computador e em segundos, já roncava.
Tito conheceu o Twitter. Com tuíte conciso e reply monossilábico, seguia com sua vida na rede. Por fim, não morreu,apenas virou um pássaro azul.
Fundou o clube dos suicidas, depois depois que todos, cada um levando parte da sua tristeza, se mataram, saiu feliz e curado.
CIBERMAN
Hoje, acordei e baixei minha nova versão: 3.0. Um slide de três décadas se passou. Em 3D vi o futuro se aproximando…
LEI SECA
Todos vinham dirigindo sóbrios. Mas eu vinho na contramão.
Tantas vezes o jarro vai a fonte que devagar se vai ao longe. E ainda sobram cântaros.
Ele procurava por algo novo na vida. Abriu o pacote,cheirou o pó e encontrou a morte.Ali estava algo novo.
MITO DO FOGO
Vieram, Vênus e Cupido; levaram Pyros a Prometeu… faíscas de Vulcão.
Ora (direis) contar as letras! Certo Perdeste a conta!” E eu vos direi, no entanto, Que, para não excede-las, muita vez desespero
O Barão e a Baronesa transavam quando ele sofreu um infarto. Ela recorreu ao vibrador.O Barão morreu e ela conquistou mais um orgasmo.
A princesinha entrou na casa da bruxa só para espionar. Ao ser descoberta, teve o mesmo destino da velha.
Já estava deitado em sua cama quando ouviu bem de longe o som das sirenes. Poderia dormir tranquilamente, pois cumpriu sua vingança.
Certo dia num passado não muito distante, todos os filhos da puta reunidos resolveram criar os impostos em cascata.
Aquele anjinho em forma de menina alegrava a todos da pracinha com suas brincadeiras, até que um dia ela foi brincar no céu.
Levou as mãos à direção do infinito céu. Emocionado, pediu por chuva, gritava, – manda-me toda chuva que puderes. E a chuva obediente veio. Arrependido ficou. Inundou, perdeu a colheita.
Os pensamentos viajam dispersos, lembranças que cabem na palma de uma mão. Um novo começo de uma história sem final.
A propagação perene padece principalmente pelos principios puramente plantados por pessoas pequenas e provincianas.
Ririas: serias como um sólido!
Dormiu olhando o guarda-roupa.
O entardecer é tirano em seu auge.
Se abriu a porta da arca?
Só lhe resta agora saudade.
-Mamãe, hoje eu aprendi a contar.
-Que baum meu fio. Entaum ocê já pode ler o jornau pra mim?
Como sinto sua falta! Seu calor me faria tão bem; comentou a mulher que esquecera seu casaco no carro, em pleno inverno londrino.
Verbo pagar e o ciclo da vida: Pagam quando nasço, pagam enquanto cresço, pago pra comer alguém, pago o reino dos céus (dízimo)e pagam meu funeral, e ainda dizem que dinheiro não traz felicidade…
Morria de medo do mar. Leu um livro de auto-ajuda para superar os medos, vendeu o video-game e viajou à Fortaleza. Morreu afogado.
Um homem jogou uma moeda na fonte, desejando algo. Outro homem mergulhou e apanhou a moeda.
— E a pergunta que vale um milhão: como se pronuncia Nietzsche?
Morreu pobre.
Pungido pelo poema, partiu para Pasárgada.
Porém, passada a primavera, prostrado pela paixão, preferiu Pindamonhangaba.
Almoço
À mesa, entre eles, o silêncio e o saleiro de vidro.
Cem dias de suor e lágrimas. Era quase o meio do caminho, quando o peregrino parou. Estava ali pelo meio e não pelo fim. Então, voltou.
Li o jornal, sem perder letra ou linha. Até esqueci o destino que me aguarda, envolto na cortina retinta de tristeza. Afinal, peixes não dormem.
Despertou ensanguentada, quebrada, roupa em desalinho, dor, ressaca. Apressada, saiu comprar um corpo que lhe servisse em tamanho e modelo.
Ada, aqui, tudo bem. Chegada conturbada, ninguém à espera. Tentei voltar, impossível. De camisolão, agora toco harpa. A nuvem é até confortável.
TATOO: Tenho a pele tatuada, num trabalho árduo da vida, que me imprime suas imagens com a tinta invisível e indelével dos meus dias.
Cara Thaty, este post, o quarto, será desconsiderado. Obrigado por inscrever os outros três.
Sentado, afrodescendente explica as três idades à neta: Quando criança me chamavam de neguin; crescido, virei negão. Hoje, dizem nêgo véi!
Veio ao mundo para cantar. E cantou a vida inteira. Cantou até morrer, não sem antes descobrir, em pleno canto, que a vida cabe num pio.
Desculpe, esqueci que eram até 3… rs
Sonhou com a extinção de sua espécie. Quando acordou, o asteroide ainda estava lá.
O mais belo trabalho do ghost-writer era uma carta de suicídio. Recebeu uma ligação: ela não se mataria mais. Foi seu primeiro assassinato.
Uma vida em 140 pios? Oi? Ah! Eram 140. Oh, Deus, o que é que eu faço agora? Oi? 60? Daqui a pouco a vida está por um pio. É agora.
O pai saía com mulheres. A mãe apenas olhava o filho com olhos tristes e mudos. Pensava: ele me vinga.
A professora, vestido curto, dava aula de educação sexual. A turma assistia ansiosa para chegar em casa e praticar.
A vergonha foi tanta que a faixa branca aproveitou a distração das cores, soltou-se da haste e fugiu. Fez-se breu. Era ela quem emitia luz!
Enxugou o suor da testa com a camisa e inspirou o cheiro da terra virada pelo arado. Precisava comprar sementes.
Cedo de manhã, é ela quem abre a porta da varanda, as janelas da sala, e a luz entra.
O sol semiclareia o quarto pelas frestas da janela.
Sem tempo nem espaço, o apaixonado, desesperado, refém dos dissabores do destino, oferece à amada as reticências, que alimenta sua alma…
Tragédia pessoal: ontem, solteiro; amanhã, viúvo.
Seguia, sem olhar para trás. Lágrimas lhe brotavam aos olhos, na cabeça, a lembrança “não te amo mais!” No coração, muita pena de si mesmo.
Quando despertou, o dinossauro já o devorava.
Sabes nadar? – perguntou-me um irritado Caronte.
Fim de jogo: e o crack venceu o craque.
“Assim começa e termina, pouco me lixo para o miolo.” “Pode haver uma barata no miolo.” “Não me preocupo mesmo assim.”
Estava no quarto 212 cercado pelo fogo de um hospital em chamas. Aquele calor iria me devorar. De repente, acordei! Acordei num hospital.
Uma vida em 140 pios? Oi? Ah! Não mais 140. E agora, Deus, o que é que eu faço? Não! 60? Não demora e a vida estará por um pio. Agora vai.
(Nova versão para microconto já inscrito).
Abre-se o brete.
“Oito segundos para a fama”, pensa o peão.
Em oito segundos já era manchete na TV:
“Peão morre pisoteado pelo touro”.
Atropelado pelo trem, o homem perdeu a perna esquerda.
Sim, o restante foi todo encontrado.
Afinou o violão e deu um acorde em MI, mas o vento soprava em FA, enquanto a chuva caía em SI. O SOL não saiu. Oh, DÓ…
Assassinou o protagonista do livro fazendo-o comer página por página de sua autobiografia. (Felipe Carriço – @Carrico)
O romance da mulher barbada com o engolidor de espadas despedaçou-se, quando ela se depilou em particular e ele se engasgou em público
Menina, nem te conto, ela disse. Em seguida se desdisse, contou. Não dá pra se contar com esse tipo de gente.
Venta demais. A saboneteira caiu da janela do banheiro do quinto andar. Ela olha para baixo. Mesmo sem espuma, opta pelo banho.
Senhoras e senhores, tenho dito. Finalmente um discurso honestamente vazio. Governantes se inquietaram, censores odiaram. O povo aplaudiu de pé, mesmo sem entender.
Na hora da aposentadoria toda sua vida funcional cabe em uma pasta.Um basta funcional numa pasta sem vida,sem histórias,sem passado…
aqui há um cão que ladra. um cão que morde. esse cão sou eu.
No escritório, a faca transpassou o peito do advogado. Sinos ao longe, estertores, a insatisfação numa voz irada: SÓ A MORTE É INSOFISMÁVEL!
Se vivo Quintana fosse, sobre as citações apócrifas a ele atribuídas, irritado, tuitaria “Deixa em paz os passarinhos, deixa em paz a mim”
Ela pensou em sair por aí e viver com tanta intensidade a ponto de não poder mais encontrar o vazio de seu coração.
E o amor surgiu assim tão de repente e da mesma forma ia embora sem deixar vestígios. Ele tinha uma alma sensível, liberta e nua.
Ele era um sonhador e a lua a sua companheira fiel de todas as noites. Mas quando ela desaparecia, ele chorava gotas de saudades.
Tocou uma fuga e adormeceu sobre as teclas do piano; as ideias, sustenidas, os desejos, bemóis.
ELEVADOR
Terceiro andar.
– Desce?
– Desce, mas estou com o lixo!
– Não tem problema: às vezes tem gente pior!
ATRASADINHA
Papo entre a hora e o relógio:
– Queria acertar os ponteiros com você!
– Tarde demais. A fila andou. Agora sou outro, sou digital!
FRUTINHA
Na hora da sede, eles sempre caem de boca em mim. Sou frutinha, mesmo! Sim, sou gay, Gatorade Uva! E Feliciano não me representa.
Ela chão, ele divã. Ela terra, ele ar. Ela dança, ele pensa. Ela sente, ele mente. Ela curva, ele reta. Ela energia, ele nem pensar.
Ela antítese, ele tese. Ela belo, ele sublime. Ela estética, ele ética. Ela canta, ele desencantamento. Ela Buda, ele nem pensar.
Ela mora em Santa. Ele, em Ipanema. Ela, jovem. Ele, passou dos 50. Ela, noturna. Ele, diurno. Ela, psicanálise lacaniana, ele nem pensar.
Hoje me fiz uma promessa: não esquecer de lembrar para depois não deixar cair tudo no esquecimento.
Em casa. É fim de inverno. Lá fora há um grande silêncio e a árvore em frente ao prédio cheira a jasmim.
Pra ele eu não soube e não sei explicar que gosto é desse lusco-fusco, desse estar entre, desse desassossego, dessa coisa incompleta por completar-se.
Soube que o amor acabara, pois, ao beijá-la, sentiu nojo do gosto de tabaco.
Do hospital, o fim de seu tuíte emocionado era: “meu segundo filho nasceu”. Recebeu os parabéns. A palavra que não coube no limite: morto.
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P.S.: sei que este não poderá concorrer, posto que já postei outros três. Mas é que esse negócio vicia, rs.
Ele, na sede dela, cede a tentação. “Quero morrer entre teus seios!”. Ela, na sede dele, cede um mergulho, que o afoga de tesão.
Quando o pai embriagado levou a primeira queda, o filho não teve tempo de rir. Recolhia no chão os cacos do ídolo.
Só retornaria ao passado se continuasse a avançar, não conseguia abrir mão de explorar seu caminho, só o cachorro o retardava
Ele era um libertino. Ela, amante da literatura. Conheceram-se. Não passou disso. Mal sabiam que eram almas gêmeas. Ah, o preconceito!
O sorriso de prazer que dava ao encostar a lâmina na própria carne escondia um filete de rubro desespero.
Sentado no meio fio, cansado. A mulher perguntou-lhe, Daniel o que faz aqui? Esperando à Celeste. Amor, nossa filha está morta, quando vai aceitar isso?
Achou a tampa de sua panela. Mas, se arrependeu ao perceber que ela a fazia chorar em tempos de ebulição.
Em uma passeata pela libertação sexual fizeram uma homenagem a ménage à trois em um papel A3.
Tinham que ir sempre ao mesmo cinema: O Sine Qua Non.
Há camadas de vida entre o velho e o que ele observa. Como nas ilustrações da Terra partida ao meio, o magma é sua alma. Olhos de erupção.
Ela nunca twitou. Ironicamente morreu pelo twitter. Descance em paz em 140 toques. Tudo foi sempre pouco pra ela; “Aqui jaz um twitti.”
E na manhã seguinte ela acorda. Bate a porta. E o que deixa? Inspiração para uma vida inteira.
Tenso e quieto estava o corpo na janela, enquanto a alma distraída e solta dava voltas no salão.
Para provar a sua coragem, Ivan jogou roleta-russa e apertou o gatilho duas vezes, sem perceber que havia morrido na primeira.
Jonas apertou o último parafuso e ligou a máquina do tempo. Erro. Jonas apertou o último parafuso e ligou a máquina do tempo. Erro. Jonas…
Era uma vez.
Não houve mais.
Fim.
O pato era feio, bico torto, mancava duma pata. Sofria bullying na lagoa. Malhou, fez plástica, virou cisne. Afogou-se no próprio reflexo.
Começou com adoleta. Le peti petecolá. Les café com chocolá.
Então cresceu. A vida é ligeira, não é brincadeira. Depois morreu.
Enquanto isso, no Twitter, ELA “cento-e-oitentamente” teclava: “OBRIGADO”. Ele, irritado, respondia também erradamente: “OBRIGADA você”.
A telefonista, errando o nome de Gerônimo, disse: “Sr. Gerúndio, eu vou tá tentando tá ligando pro meu gerente pra tá resolvendo o seu problema.”
Quando o pai voltou de viagem, o filho correu a abraçá-lo. Em casa, a mulher sentindo saudade do marido que não voltou, e do filho se foi.
Era uma vergonha diferente. Calada mas muito chocada, era uma vergonha do outro, uma vergonha do próximo… vergonha alheia.
No cérebro de um megalomaníaco, o clímax do ego foi alcançado quando Tico(a) e Teco(a), acasalando, alcançaram o orgasmo juntos(as).
E passou a vida a lamentar. Lamentou o céu, o mar, o doce, o fel das palavras, o sal dos corpos em êxtase e sua vida se foi. Lamentavelmente
Mara mirava a mora dos mares e dos marinheiros. Mirou um muro, morou na maravilha de um mero maracá murmurante.
Foi arrancada do caule com brutalidade. Vingou-se ao sentenciar para as mãos apaixonadas que a despetalavam: “mal-me-quer”.
Ele perguntou como ela estava. Ela respondeu “tudo azul”. Desmentiam-na os olhos vermelhos e o sorriso amarelo.
aperta o sapato aperta o passo aperta a angústia aperta o laço
não há perto um botão
O tempo passa
Varre amores e inimizades
Cozinha a saudade em fogo brando
Com calma, lava até a alma
Mas, não se iluda: não é seu empregado
Esse chão que piso não estava aqui bilênios atrás. Há um trilhão de motivos para acreditar nisso. Só um é preciso: também não estarei mais.
O PT do mensalão foi 110 milhoes agora o PT do X já ta em 10 bilhões. 100 vezes mais. E ninguém vai preso? Esse é o Brasil hoje.
Só seremos bem sucedidos se tivermos quatro características: trabalho, produtividade, aperfeiçoamento, e … vai filho, descobre logo qual é a outra e nos tire desse aperto.
E seu espírito rebelde impedia-o, foi o tempo mau de sua existência, de aceitar e crer nO Ressuscitado.
Depois de comer um bom virado, eu fui dormir e tive um sonho lindo: sonhei que tava acordado, levatei pra ver e tava dormindo!
Ao abrir os olhos saltaram de si uma lágrima e algumas palavras-Chuva, gosto quando desliza sobre a pele o seu grito de poesia.
O tempo nos ensina os sinais da vida: exclama-se, interroga-ti e ponto final.
Olhou para o céu e disse: – No calor da noite até as estrelas se tornam líquidas dentro de mim.
CONTO DE PENÉLOPE – Às sextas, descia a Augusta, linda, montada, tecendo sonhos. Aos sábados, subia a desmanchar ilusões.
CONTO DO TIETÊ – Vinda do sertão, desceu na plataforma certa, carregando sonhos. Só viu que estava na cidade errada anos depois.
Matou o 1º por defesa. O 2º, por dever. O 3º, por vingança. O 4º, por prazer. E, só, numa manhã destas, matou-se: era o 5º, pra parar de matar.
ps minha persona (?) no twitter é @contosurbanos visite-o.
Para o concurso de contos:
Parou, o coração aos saltos. Era. Não era. O carro passou muito depressa.
No princípio era.
Como todos os outros, só queria sexo. Como nenhum outro, foi inesquecível.
Após a receber o prêmio, olhou para o teatro. O lado de fora trazia lembranças da infância. Acabou fazendo uma rápida careta.
Acordou assustado, correu para o pasto e se deparou com as vacas. Anoréxicas.
Toda prosa é um toque, mas será que todo toque é uma prosa? Espero que antes que eu me desespere terminem esses malditos 140 caracteres!
Para deixar meu legado na terra, será que vale plantar bonsai, deixar meu sémen congelado e dar uma deliciosa tuitada?
Conto um, conto dois, conto três. Até que chegue ao conto cento e quarenta, quantas contas farei?
Você deve refletir muito, não há duvidas.
As palavras que escreverá devem…
precisam ser as que… precisam de…
Não! Não lembre-se que não há mais nada a dizer!
Ela passou por ele. Ele se encantou. Ela nem percebeu. Ele correu para uma floricultura. Rápido, flores, por favor.
Maior decisão de todos os tempos. 35 da segunda etapa. Aquece logo! Em dois minutos estava lá. Aos 42, pênalti. Uma vida escorre pelo rosto.
Pra onde, senhor? Siga aquele carro. Giraram pela cidade. Para, para, para! Que isso na sua mão? Fica com o troco. O resto, cê não viu nada.
Da varanda, ele assistia a tarde descolorir, dividido entre o fim e o recomeço.
– Marta, se agente cair do sétimo andar, agente vive?
– Acho que não Pedrinho
– Ah… Se vivesse, eu caia.
Levou um fora no tuíter, desabafou no face, apagou os bons momentos no instagram, se inscreveu no badoo. Constatou que sofria à moda antiga.
Traiu e tinha medo. “Vestirei branco se puder salvá-lo”. No dia seguinte, branco. Para honra da mãe, infla o peito. No alto, a guilhotina.
Nos braçosdo amanhecer vestido de algodão,penas de ganso,e tímida perfumaria,o travesseiro sonhava que era galã e sorria.
Estava ficando cego. Já não conseguia mais ver o tigre que o aguardava detrás do espelho. Disse – Jorge, este é teu labirinto.
Escreve o que pensa, sente e imagina. Agrada-se com gírias ou com palavras polidas. Tem a si mesmo como leitor e julgador, e isso já basta.
Olhe as estrelas, capture seu pequeno brilho. Caso passe uma estrela cadente, faça um desejo e reze para que este se realize.
Imagina uma cena, pega o lápis. Com alguns poucos rabiscos o desenho toma forma, com olhos brilhantes e orgulhosos o autor observa sua obra.
Acordou terrivelmente feliz. Nunca mais escreveu um livro. Tornou-se campeão mundial de surfe. Casou-se com Kefera. Vive em Bali.
Depois de conhecer o mundo todo, o velho mochileiro leu a Divina Comédia e se suicidou. Foi bater perna em outro lugar.
Bronquite, sinusite, gastrite e algum amor. Se morrer e Deus existir, cobrarei dele boas explicações. Se viver, comerei uma torta de amora.
Nem equações matemáticas, nem cálculos econométricos, nem modelos estatísticos: as cartomantes tem as melhores informações sobre o futuro.
Chega dessas conversas terrivelmente sérias sobre assuntos mortalmente desinteressantes.
O quê? Vocês não acreditam em Papai Noel?
Sempre que a madrugada se levanta nas faces das janelas e o galo canta quebrando o sono em pedacinhos, as mulheres rolam nas camas sonhando com o Salvador Dali.
em caracteres contados ele disse que sim; depois que não!jamais: foi engano de @
Morrer… Morrer sem ti…
E depois nascer em teus braços.
Passei a vida dobrando as esquinas dos segredos
Para encontrar a rua dos teus amores.
A banda não passou, mas sim o bando, e deixando um rastro de destruição ao invés de alegria.
De tanto fumar, a alma se une a fumaça. Foi num sopro que a fumaça se foi e a alma pegou carona.
O que você é em mim,
Não existe sensação igual.
Bichos lambem louças na pia. Num canto da cozinha, a menina. Faz dias. Lave a louça que a mãe já vem! Ela não lavou. Será que foi por isso?
A formiga passeia na pele da árvore, diz o menino de um ano e meio. E continua, ano após ano, a imprimir espantos na alma de sua mãe.
A vida tece o fio que envolverá a presa – mosquito hipopótamo homo sapiens – em fina tessitura de cortes. No fim: a morte sem alarido.
– Traga ela pra mim em um dia.
– Lamento e me alegro. Aqui diz que você veio para mim.
– Enganou-se. Por que eu?
– Não. Por que ela?
No parto, o piso tremeu: eram os sonhos balançando as pilastras. A vida correu igual a rio barrento, desses que desaguam na palma da mão.
No parto, a vida correu igual a rio barrento, desses que desaguam na palma da mão. Encharcou tudo, até a solidão.
Inscrições encerradas. Obrigado a todos os que participaram.