Autores que admiramos nunca devem ser tratados com intimidade excessiva – um risco sempre presente em nossa era de superinformação. Que Virginia Woolf, uma escritora e tanto, era também uma intelectual londrina enfarada e esnobe (com perdão da múltipla redundância) eu já sabia. Mas acho que preferia não ter ouvido isso corporificado em sua voz.
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Sabe Sérgio, certa vez, eu e Patrícia, minha esposa, conversávamos com Lygia Bojunga, exatamente sobre isso: o autor deveria ou não ter esse contato excessivamente íntimo com o leitor? Nesse contato, o autor não estaria, de certa forma, sendo “vampirizado”? Paulo Coelho, certamente, teria uma opinião bem diferente. Mas, cada caso é de fato um caso diferente.
Atendo-me ao tema do post, penso que a voz de Cortázar, por exemplo, tem “a cara” de Cortázar, ou seja, a entonação do escritor. Borges tem a voz de Borges. Manuel Bandeira também tem a voz de Bandeira. Nabokov e Onetti também (aliás, penso que as entrevistas de Joaquin Soler Serrano foram um grande serviço prestado a posteridade).
Porém, um caso que ainda não concluí (para mim é um mistério) é se Finnegans Wake não seria explicado pela leitura (e voz) de seu autor, James Joyce, que você e nossos amigos leitores do TP poderão conferir aqui: http://www.salon.com/audio/2000/10/05/joyce1/
E o que poderíamos dizer então do grande e injustiçado Rudyard Kipling? http://www.poetryarchive.org/poetryarchive/singlePoet.do?poetId=1690#
E eu aqui sem áudio… 🙁
O seu blog vale a pena. Escritores bons não deveriam falar, é uma espécie de equivoco na evolução, como os papagaios que falam pra danar. Assim os chimpanzés que deveriam falar e ter até um emprego de atendente. Isso vai acontecer. Escritores tem vozes inadequadas, aprendem a falar pelos dedos com naturalidade, e a voz parece fingida ou estranha, á medidad que fogem do mundo externo. Pois é.
Oh meu deus, oh meu deus! Cadê, gente? Fui lá no link e não vi nada sobre a voz da Woolf.
ALGUÉM ME SOCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRE!!!!!!
Saint-Clair, é preciso encarar o podcast do Guardian em bloco e passar por outras notícias antes de chegar lá.
OFF-TOPIC – Sérgio, o Cony (hoje, na Folha) afirma que, em Frankfurt, “editores de todo o mundo perceberam o ocaso do livro impresso, guttemberguiano, substituído pelos livros eletrônicos que começam a tomar conta do mercado cultural”. Eu li que 5% dos expositores em Frankfurt incluíram livros eletrônicos em seus catálogos. E li também que os principais editores brasileiros presentes disseram não ter o menor interesse nisso. O Brasil tá por fora ou o Cony (não gosto dele) viajou? Abração
Sindico, concordo.
Pra que? Saber demais sobre um escritor – como qualquer outra pessoa – sempre decepciona, pois certificamo-nos, que ao revirar suas intimidades, eles se tornam tao pequenos quanto outros escritores que so sabem fritar ovos.
Por isso, se voce quiser saber sobre a biografia de um escritor, entreviste a diarista…
Mrs Woolf and the Servants: An Intimate History of Domestic Life in Bloomsbury
By Alison Light
http://www.economist.com/books/displaystory.cfm?story_id=12295148
Sobre livros eletrônicos:
Acho que é inevitável que passaremos – se não totalmente, em grande parte – a ler livros eletrônicos, os “e-books”. Isso ainda não aconteceu por uma simples razão: a tela do computador NÃO é o melhor lugar para se ler um livro eletrônico. Quando os leitores de e-book começarem a ficar realmente baratos, vocês vão ver a revolução que será. Eu mesmo estou aguardando ansiosamente que o leitor da Sony caia de preço, pra comprar um. Não vejo muita diferença entre ler um livro de papel e ler um livro num leitor de e-book pequeno, leve, e que simula o formato de um livro (o da Sony me parece, até o momento, o melhor que já vi; melhor ainda que o tal de Kindle da Amazon)..
E há outras razões: até bem pouco tempo eu tinha 700 livros em formato e-book no meu computador. Ocupando um espaço muito, muitíssimo pequeno. Imaginem esses 700 livros aqui no meu quarto!?! Com um leitor de e-books leve, pequeno, eu posso andar com uma BIBLIOTECA na mochila!!! Quer coisa melhor?
Nota: já consegui – com supremo esforço – ler dois romances inteiros na tela do computador. Juro a vocês: não desejo isso pro meu pior inimigo.
Até porque há uma demanda corporativa por isso.
A tecnologia de base está avançando para ajudar funcionários móveis a ter acesso a informações em qualquer lugar e isso terá reflexo no entretenimento literário. Abs!
Isabel e Saint: livros, tenho repetido com alguma frequência, devem ser considerados como serviços e não (como tradicionalmente o foram) produtos.
Livros são agregadores sociais. Quando se diz que e-books não emplacam por que causa da difícil legibilidade em telas, pergunto: difícil para quem? Só se for para nós, os acima de 20 e poucos anos.
Meus filhos, adolescentes, costumam ler, com bastante fluência, em dispositivos baseados em telas. Não reclamam. A questão é que, como bem lembrou o professor Steven Johnson, a respeito da pesquisa “To read od not to read”, estamos esquecendo dos “digital natives”. Eles, como nós, lêem e, até me arriscaria a dizer, lêem muito mais do que nós, da geração “gutenberguiana”.
Em Frankfurt, 30% dos produtos vendidos eram digitais. Isso não é pouca coisa. Se vamos ou não ler on-line, não creio ser mais questão de discussão. É inevitável. Penso sim é de que forma leremos.
É também inevitável que nosso processo de leitura (e escrita) mudará em ambiente on-line. Isso sim me interessa. De que forma leremos e absorveremos essa informação.
Não penso que devamos ficar tão alarmados com a mudança como me pareceu ficar o Nicholas Karr, autor daquele artigo “Is google making us stupid?”, publicado recentemente na The Atlantic.
Acho que isso representa sim uma evolução. O livro entra em sua terceira geração. Não morre, mas transforma-se. Assim como o leitor, o próximo leitor. Somos apenas leitores em transição, mas sempre leitores.
Aproveito, com a permissão do Sérgio, nosso host (reforçando o convite já feito para que venha se juntar à discussão), para avisar que o Pontolit (www.pontolit.com.br), meu antigo blog, volta em 28 de outubro, agora como uma revista on-line, discutindo o impacto da tecnologia sobre os processos de escrita e leitura.
Um forte abraço!
Saint-Clair – Talvez você tenha impresso alguns desses livros (como eu já fiz com ebooks), mas se nós considerarmos que não – só por amor à retórica – você leu 2 livros de 700, enão você leu + ou – 0,29% de sua biblioteca pessoal. Certo?
Agora, Quantos livros você tem na sua estante? Uns 500, quem sabe? Mil, se você for um verdadeiro devorador consumista? Vamos fazer uma base de uns 700 livros, para igualar? Então a fatia de mercado a ser conquistada, sem acesso aos ebook-readers é de menos de 0,5%.
Dificilmente uma editora hoje, com nossa economia duvidosa (eu não acredito nessa coisa de “em nunca antes nesse país”) investirá seus ducados para uma parcela de mercado que representará tão pouco, já que não temos acesso a este equipamento.
A minha pergunta é, afinal, qual deve ser o preço de um desses equipamentos para realmente existir custo benefício para o leitor? Uma vez que além do leitor teremos que comprar alguns ebooks mais interessantes na internet? Será que se a economia for só depois de comprarmos uns 200 ou 300 ebooks e não livros de papel, não vale mais a pena comprar 200 ou 300 livros de papel?
E outra, quantos livros você lê de uma só vez? Você realmente precisa de uma biblioteca na mochila? Em uma viagem longa, você leva quantos livros? Uns três?
Talvez seja ceticismo meu, ou simples aversão ideológica aos arroubos de consumismo tecnológico,
Muito embora eu não descarte a utilidade do brinquedo para quem lida com pesquisa, ou necessita constantemente de uma quantidade elevada de livros.
Fernando, eu lhe respondo: o preço dos eReaders tenderão a zero. Isso mesmo zero!, como os celulares. Esqueça o preço do livro por unidade (td bem, eles até existirão), pagaremos uma assinatura que nos permitirá acessar um banco de dados de onde leremos, “folhearemos”, consultaremos, pesquisaremos os livros que quisermos. Mais, poderemos buscar referências de um livro em outros, de forma rápida e direta. Mais: faremos anotações e sublinharemos todos esses livros digitalmente. É mais ou menos por aí.
Cláudio. uma coisa eu aprendi sobre previsões sobre o futuro tecnológico. Todas elas falham. A gente sempre acha que vai acontecer um treco e acontece outro.
Fernando, vc certamente não viu o novo comercial da TIM. 🙂 Há alguns anos, em Paris, os celulares já eram vendidos a 1 franco. Veja o exemplo do iTunes. Chris Anderson (o mesmo da “cauda longa”) diz que mais cedo ou mais tarde tudo na internet será de graça. Não diria de graça, mas teremos que buscar nesses produtos digitais características que nos incentive a pagar por eles (o Rodrigo Velloso, do Google Books Brasil, trará um artigo interessante sobre esse tema na reestréia do Pontolit). Aí, sim, o hardware que “rodará” esse conteúdo, poderá ser grátis.
Fernando:
Já cheguei a ter uns 4500 livros de papel em casa. Hoje, tenho menos de 1000. Acontece que comprei a maior parte dos livros de papel (uns 99% deles) enquanto que os e-books eram todos “grátis”. Digamos com todas as letras: eram LIVROS PIRATAS. Tinha desde de Todorov a Stephen King (passando por Virgínia Woolf, Caio Fernando Abreu e Machado de Assis, entre outros). Não me sinto culpado, vou logo adiantando (afinal, a questão aqui no momento não é ética, mas tecnológica).
É claro que a “facilidade” de ter uma biblioteca na mochila é de utilidade duvidosa, como você mesmo apontou. Mas acontece que sou um leitor indisciplinado, que salta de um livro a outro às vezes sem ter concluído nenhum, e um leitor de e-book é uma mão na roda pra gente como eu. Não nos esqueçamos de que um e-book reader serve, talvez principalmente, para se fazer consultas. Imaginemos que eu esteja fazendo um trabalho sobre Platão. Três ou quatros livros de papel de ou sobre ele já pesariam demais na mochila, enquanto que eu poderia carregar toda uma biblioteca específica sobre o assunto num aparelhinho desses, o que me facilitaria demais a vida!
Estou com o C.S. Soares: não se trata mais de uma questão de “se” os e-books vão se tornar objetos de uso comum, mas de quando e sobretudo como. Eu tenho 35 (quase 36, ai!) e me sinto como os filhos do Claudio: muito à vontade com o ambiente virtual e essas tralhas tecnológicas. Meu celular, por exemplo, é uma musicoteca. A única coisa que me falta é um dispositivo portátil e de fácil manuseio para facilitar ainda mais uma da atividades que mais gosto, que é a leitura. No meu caso particular, considerarei a relação custo/benefício equilibrada quando um leitor de e-books estiver custando abaixo de 300 reais. Aí, com certeza, comprarei um pra mim, e farei uma limpa nas minhas estantes: vou querer ficar com menos de 100 livros pegando poeira, amarelando e envelhecendo por lá.
*******************DICA**********************
Pra quem gosta de e-books, este site é o Paraíso:
http://www.portaldetonando.com.br/
Divirtam-se!