Clique para visitar a página do escritor.

Kundera e a cilada do Machado anônimo

06/03/2007

Uma das armadilhas favoritas do antiintelectualismo – doença crônica da nossa cultura; a outra é o intelectualismo – foi reeditada pela “Folha de S. Paulo” alguns anos atrás, ao submeter anonimamente às principais editoras do país um conto de Machado de Assis como se fosse de um autor inédito em busca de publicação. Tempos depois o repórter recebeu, previsivelmente, algumas cartas de recusa e – oba, escândalo! – uma coleção de silêncios glaciais.

Ahá. Quer dizer que nosso sistema de avaliação de mérito literário está montado sobre pressupostos hipócritas? Então o grande Machado de Assis, despido de seu nomão, vale tanto quanto um pobre coitado qualquer? Tinham razão os Titãs quando cantavam que “ninguém sabe nada”? Blá, blá, blá.

Bem, os Titãs sempre têm alguma razão. Que uma dose de hipocrisia entra nesse jogo, não dá para negar. O problema é que o truque que supostamente a denunciaria não denunciava nada. Graça jornalística à parte, a armadilha usada pela “Folha” era desonesta, mais afeita à mistificação do que à desmistificação que fingia abraçar, como uma seqüência de dribles para o lado no meio-de-campo. Por quê? Simples: porque qualquer autor que escrevesse hoje, vírgula por vírgula, como Machado de Assis – a menos que fosse um gênio do pastiche pós-moderno – mereceria não apenas o ostracismo literário, mas uma camisa-de-força. É de uma ingenuidade atroz supor que a literatura paire, vaporosa, acima da história. Nada paira, certo, Karl?

Há pouco mais de um ano, o “Sunday Times” desengavetou o mesmíssimo truque, com resultado idêntico mas, a meu ver, interesse um pouco maior – isso porque escalou um autor vivo, o nobelizado V.S. Naipaul, no papel de rejeitado. Claro: quanto mais perto da contemporaneidade estiver a obra em questão, melhor o “teste” servirá para detectar hipocrisia, miopia, descaso e outras deficiências de avaliação no mercado editorial.

Como sei que esse sentido histórico não é óbvio para todo mundo, fiquei contente ao ler neste fim de semana o trecho de um ensaio sobre estética do romancista tcheco Milan Kundera no “New York Times” – em inglês, mediante cadastro gratuito, aqui. (Quem preferir pode consultar, em português, o livro de onde saiu o excerto, lançado ano passado pela Companhia das Letras com o título “A cortina”.) Está ali uma boa justificativa teórica para o mal-estar instintivo que a cilada do “Machado anônimo” sempre me causou.

Kundera imagina uma sonata de Beethoven composta hoje e a rejeita sem dó, alegando que “a consciência histórica é tão completamente inerente à nossa percepção da arte que esse anacronismo (uma obra de Beethoven composta hoje) seria espontaneamente (isto é, sem a menor hipocrisia) percebido como ridículo, falso, incongruente, até mesmo monstruoso. Nosso sentido de continuidade é tão forte que permeia a percepção de qualquer trabalho artístico”. É isso aí.

72 Comentários

  • Marcelo Moutinho 06/03/2007em11:22

    O Machado oculto não foi recusado por falta de qualidade. Nem sequer foi lido, Sérgio. Raramente esses manuscritos são analisados. Quase sempre vão para o triturador de papel mesmo.

  • Saint-Clair Stockler 06/03/2007em11:33

    Sérgio, você tem razão: o que a Folha talvez devesse ter feito era selecionar o trecho de um autor contemporâneo – mas, ainda assim, o método estaria sujeito às falhas.

    Editoras são movidas por pessoas, e pessoas têm gostos e pontos-de-vista diferentes. Talvez um bom livro seja aceito, digamos, na Objetiva e recusado na Cia. das Letras. Significa que esta está errada e aquela certa? A coisa é um pouquinho mais complicada, como espero já ter evidenciado.

    A obra-prima de um escritor meu conhecido (obra-prima até agora; ele é ainda relativamente jovem, tem muitos livros a escrever) foi recusada pela Cia. das Letras, embora os seus outros livros tenham sido publicados por esta editora. Mas aí uma outra editora resolveu publicar a obra. É normal isso, faz parte do jogo editorial. Nem tudo que é recusado é ruim (só a maior parte, hahaha).

  • Cláudio Soares 06/03/2007em11:38

    Gosto dos livros do Machado. Sem dúvida alguma ele foi o maior escritor brasileiro do séc XIX. Repito: séc XIX. O que me preocupa, sinceramente, é que sempre que se precisa parametrizar algo em relação à Literatura Brasileira é sempre o Machado o escolhido. Nada mais (de qualidade) foi criado de lá para cá? Ou quem apresenta esses parâmetros está mal informado? Ou ainda é um arraigado comodismo pusilânime? O resultado é sempre o pior: no continente americano temos prêmios Nobel (sim é importante reconhecimento mundial para que nossa literatura saia desse marasmo) no Chile, Colômbia, Trinidad, México, EUA. E no Brasil? O país de dimensões continentais, de uma riqueza cultural ímpar? Hein? Nada vezes nada. O nosso escritor mais reconhecido atualmente no exterior é insistentemente criticado (pela ala dos intelectualistas intelectualóides) no seu próprio país. Comparativamente, era de se esperar então, que tivessemos muito mais exemplos de bons escritores que não os que resgatamos do séc XIX. Pode não se perceber, mas esse “tudo bem” (parece até aquele comercial do ford fiesta) é um grande mal que fazemos ao desenvolvimento de nossa Literatura. É isso.

  • Tibor Moricz 06/03/2007em11:38

    Soube desse “truque” da Folha quando foi feito. E embora na ocasião eu tivesse ficado surpreso em ver um Machado de Assis recusado, também considerei o fato de que a linguagem evolui e com ela a literatura. Hoje qualquer avaliador não passaria da primeira página antes de recusar o original. Para isso, vou usar um termo que só conheci com Kundera quando li “A Insustentável Leveza do Ser” ainda aos 25 anos de idade. Kitsh. Machado de Assis hoje – como original que pretende ser contemporâneo – é Kitsh.

  • Noga Lubicz Sklar 06/03/2007em11:41

    Bem. Isso complica bastante as coisas. Será que, digamos, um Van Gogh… seria recusado também? Eu entendo essa questão da contemporaneidade, mas sempre fui treinada para pensar que arte é o que transcende o tempo, e sabem o que mais? Acredito nisso. O resto é marketing. Quanto à literatura, esta atitude das editoras nos deixa num beco sem saída. O Marcelo não é o primeiro escritor que afirma que originais não são sequer lidos, então pergunto: o que fazer? E vc, Sérgio? Como editor de NoMinimo, não quer abrir um serviço de recomendação de novos escritores? Sou candidata: http://www.noga.notlong.com.

  • Cláudio Soares 06/03/2007em11:50

    Se nos ativéssmos, especificamente, ao erro, concluiríamos: ora, é claro que eles acontecem (é clássico o caso de Gide/Proust, Joyce, Hemingway, Nabokov, Tolkien, outros tantos já foram rejeitados por editoras). Mas, o “caso brasileiro” me parece muito mais grave. É o caso do “deixa como está, que está tudo bem”. Ora, eu pergunto, para quem?

  • Tibor Moricz 06/03/2007em11:56

    Não sou partidário das Editoras, de jeito nenhum, mas devemos levar em consideração que elas recebem centenas, senão milhares de originais pra analisarem todos os meses. Fica extremamente difícil realizar essa penosa tarefa sem um departamento especialmente criado para isso… E isso custa dinheiro. Atualmente essa tarefa é dada a alguns estagiários, que não têm competência para esse trabalho. Assim, a picotadora acaba sendo a funcionária mais ativa nesse departamento não criado.

  • Tibor Moricz 06/03/2007em12:01

    E com relação ao que disse a Noga, não acredito que a pintura viesse a sofrer as mesmas reticências. Van Gogh passaria, tenho mais medo por Degas.

  • Rafael 06/03/2007em12:03

    Nunca escrevi nenhum livro, nunca remeti nenhum livro para editoras. Abstenho-me, portanto, de falar sobre os critérios por elas empregados na seleção das obras que serão publicadas.

    Concordo, no geral, com o Sérgio, mas devo fazer uma ressalva que se me afigura importantíssima. Os grandes escritores, aqueles que imprimem sua marca na história da literatura, geralmente se alimentam do passado literário, que lhes serve de norte para as inovações que irão introduzir na técnica literária. Não sei de nenhum grande escritor que ignorasse completamente o passado e que circunscrevesse o seu interesse apenas nos livros produzidos pelos contemporâneos.

    O caso de Machado de Assis é exemplar. Muitos não se supreendem com sua “modernidade”, vendo nele um antecipador de certas atitudes estéticas que seriam repetidas “ad nauseam” pelos escritores do século seguinte? Comparado com seus contemporâneos, Machado não parece um experimentador irrequieto e irreverente? Já li muitos críticos que gostavam de chamar a atenção a esse aspecto de Machado de Assis, a sua modernidade. Mas voltemos um pouco no tempo. Machado de Assis foi um leitor incansável de clássicos de quem sofreu profunda influência. Muito da sua “modernidade” (como detesto essa palavra, tão corrompida que foi) foi, na realidade, pasmem, um conservadorismo literário: em vez de se entregar ao “áspero estudo da Realidade humana” (Eça de Queirós), Machado escrevia como um moralista inglês do século XVIII, usando de técnicas que os autores do século XIX haviam desprezado com indignas dos tempos modernos. A técnica da digressão e da metalinguagem de Sterne, o pastiche e a sátira violenta de Swift, a fábula moralista de Voltaire, a auto-ironia de Cervantes e até o fatalismo do Eclesiástico.

    A história da literatura é um constante movimento de recuperação do passado perdido.

    Obviamente, Machado foi um homem do seu tempo e usou também da técnica realista, que aprendera lendo Balzac, Stendhal e Dickens. Mas não se pode esquecer que Machado também absorveu muito dos clássicos portugueses, que estudara meticulosamente: Camões, Pe. Vieira, Fernão Mendes Pinto, Almeida Garret, Castilho, Camilo Castelo Branco foram leituras profícuas, sem as quais ele jamais poderia ser um mestre da prosa em língua portuguesa.

  • Cláudio Soares 06/03/2007em12:03

    Que não fique a (falsa) impressão de que não gosto (ainda) de ler Machado (como já disse, o nosso maior escritor do séc XIX). Aviso que, nesta terça-feira (6/3), às 17h30, estarei no Salão Nobre do Petit Trianon, onde Nélida Piñon apresentará sua visão sobre a vida e a obra de Machado de Assis. Quem estiver aqui no Rio apareça!

  • Jonas 06/03/2007em12:04

    Sérgio, concordo com você. Seria patético tentar escrever hoje como se escrevia no século 19.

    Agora, para mim, o mais grave não é as editoras terem recusado os contos, e sim não notarem de quem era. É óbvio que ninguém tem a obrigação de conhecer TODOS os contos do Machado, mas boa parte deles é “hit”, por assim dizer.

    Não lembro se a Folha chegou a dizer qual era o conto.

  • Sérgio Rodrigues 06/03/2007em12:20

    Jonas: também não me lembro; não consegui recuperar a matéria da época.

    Rafael: por que você imagina que alguém possa ter lido em minha ode à história essa asneira de que só a contemporaneidade importa e que conhecer a história não é importante para um escritor?

  • Rafael 06/03/2007em12:28

    Sérgio, por favor, não me entenda mal. Como disse, concordo com você, porque sua análise, no meu modesto ponto-de-vista, foi correta. Quis antes realçar que a inovação de hoje é, muitas vezes, um resgate do passado, coisa que passa despercebido para muita gente. Vivemos numa época tão orgulhosa consigo mesmo que ela não raro recusa valor ao passado ou o vê com olhos condescendentes. Não o quis ementar porque nada havia para ser ementado; minha intenção foi complementar seu comentário.

  • Cláudio Soares 06/03/2007em12:42

    Rafael: “muitas vezes, um resgate do passado” não, “sempre um resgate do passado”. Quem está fazendo alguma coisa realmente inovadora hoje em dia?

  • João Marcos Cantarino 06/03/2007em12:54

    “Era uma tarde de agosto. Caía o sol, e soprava um vento fresco e brando, como para compensar o dia, que estivera extremamente calmoso. A noite prometia ser excelente.” Eis Machado de Assis, em ‘Uma águia sem asas’, conto de 1872. Se o texto recusado foi esse, fizeram muito bem os editores. Isso é muito ruim – ontem e hoje. Em seus muitos grandes momentos, porém, Machado é gênio – e desconfio que será sempre. Se a arte, ao contrário de outras manifestações humanas, como a ciência, é resistente ao tempo, a arte genial é completamente imune a ele.

  • ombudsman 06/03/2007em13:04

    A reportagem da Folha de S.Paulo enviou, pelo correio, a seis editoras uma novela de Machado de Assis, pouco conhecida, intitulada Casa Velha. Como autor, constava um nome desconhecido. Os originais, impressos em computador, estavam encadernados com espirais, o endereço do autor era um hotmail do correio eletrônico, criado especificamente para isso. Seis meses depois, a Companhia das Letras, a Objetiva e a Rocco responderam dizendo que não tinham interesse no livro. A Record, a L&PM e a Ediouro não responderam nem acusaram recebimento. Nenhuma delas reconheceu que se tratava de um texto de Machado de Assis.

    A Editora Objetiva recebeu 547 originais em 1998. Isa Pessoa, responsável pela seleção de textos, disse que pelos menos vinte páginas de cada livro são lidas para avaliação. Além de duas pessoas que se dedicam a esse trabalho, na editora, também são usados colaboradores de fora.

    Vivian Wyler, gerente editorial da Rocco, disse que recebe quarenta originais por mês, havendo períodos em que esse número chega a oitenta. Três funcionários fazem a primeira leitura. Quando o livro interessa, é submetido a uma segunda e a uma terceira opiniões de leitores que têm, no mínimo, mestrado em literatura.

    A Companhia das Letras recebe por mês cem originais em português, que são avaliados por sete pessoas e, eventualmente, submetidos a pareceristas especializados.

    Na opinião da gerente editorial da Objetiva, “estilos também envelhecem. Uma coisa é o autor dentro de seu contexto literário e político. Outra, é ele hoje. (Casa Velha)… não cativa, não está dentro do que estamos buscando, não tem empatia com o leitor brasileiro de 1999”.

    Vivian Wyler, da Rocco, afirmou que “o problema é de mercado mesmo. A pessoa que avaliou o livro disse que, de cara, pesou o fato de parecer uma novela histórica, gênero que teve um boom há alguns anos. Só para 99 já contratamos três livros assim, sendo que dois são exatamente desse período. Julgamos que o autor imitava um estilo antigo, o que é complicado para o leitor de hoje, às vezes, um empecilho. A linguagem é um pouco rebuscada”.

    Ruth Lanna, da Companhia das Letras, informou: “Fui procurar os registros e encontrei a entrada desses originais e também a saída, mas não a avaliação. Não sei dizer os motivos. Mas afirmo que o texto enviado foi analisado. Se você recebeu uma carta de recusa, é por que ele passou nas mãos de um leitor aqui dentro”.

    Como informa a reportagem da Folha, Casa Velha foi publicado pela primeira vez entre 1885 e 1886, dividido em 25 episódios, na revista para senhoras A Estação: “O romance é ambientado no Rio de Janeiro, em 1839. A dona de uma casa oligárquica quer impedir que seu filho se case com uma de suas protegidas. Para ajudá-la, chama um padre, que mais tarde narrará esses eventos ao leitor”.

    Lúcia Miguel Pereira foi a responsável pela publicação de Casa Velha em livro, pela primeira vez em 1944. Machado de Assis, ao contrário do que fez com a maioria dos seus outros trabalhos escritos para jornais e revistas, não reuniu os episódios para editá-los num volume. Isso não quer dizer, porém, que se trate de obra menor, insignificante, de Machado. Nem, tampouco, que seja uma obra-prima, simplesmente por ter sido escrita por ele. Quem estiver interessado em conhecer essa novela de Machado poderá encontrá-la no volume II das suas obras completas editadas pela Nova Aguilar.

    Tempos atrás, num concurso de contos, no Rio, Sagarana, de Guimarães Rosa, perdeu para uma coletânea de histórias curtas assinada por Luís Jardim. Na comissão julgadora, voto decisivo, estava mestre Graciliano Ramos. Na França, André Gide mandou devolver os originais de Em busca do tempo perdido, de Proust, por considerá-los ilegíveis.

    Em 1959, Umberto Eco escreveu uma bem-humorada coluna mensal de paródias para um jornal literário italiano. Essas paródias foram reunidas em livro em 1960, em dois volumes. Um dos capítulos foi intitulado “Infelizmente, estamos devolvendo o seu…”. Reunia textos imaginários de avaliadores de originais sobre textos oferecidos aos editores por seus autores ou agentes:

    * A BÍBLIA, anônimo – As primeiras centenas de páginas deste manuscrito realmente me fisgaram. Cheias de ação, elas têm tudo o que os leitores de hoje querem numa boa história. Sexo (aos montes, incluindo adultério, sodomia, incesto), assassinatos, guerras, massacres e por aí vai. O capítulo de Sodoma e Gomorra, com os travestis dando forma aos anjos, é digno de Rabelais; as histórias de Noé são puro Júlio Verne; a fuga do Egito merece uma grande produção cinematográfica. Em outras palavras, uma verdadeira bomba, bem estruturada, cheia de ginga, plena de invenção. Mas, à medida que continuei lendo, entendi que o manuscrito é na verdade uma antologia, envolvendo diversos escritores, com muitas, muitas mesmo, passagens de poesia, outras partes enjoativas e tediosas, e lamúrias que não fazem sentido. O resultado final é uma antologia monstruosa. Parece ter um pouco de todo mundo, mas termina apelando para ninguém. E adquirir os direitos de todos esses diferentes autores vai significar grandes dores de cabeça, a menos que o editor cuide disso ele mesmo. O nome do editor, a propósito, não aparece em nenhum lugar do manuscrito. Há alguma razão para manter sua identidade em segredo? Eu sugeriria comprar os direitos apenas dos primeiros cinco capítulos. Neles estamos pisando firme. Também se poderia pensar num título melhor. Que tal Os desesperados do Mar Vermelho?

    * A ODISSÉIA, de Homero – Pessoalmente, gosto deste livro. Uma boa trama, excitante, embrulhada em aventura. Grandes momentos dramáticos, um gigante de um olho só, canibais, até algumas drogas – mas nada ilegal, porque até onde sei o lótus não está na lista do Departamento de Narcóticos. A cena final segue a melhor tradição do western, com algumas lutas pesadas, e a história com o arco é um golpe de mestre de suspense. O tom é calmo e ponderado, sem ser pesado. E a montagem, o uso de flashbacks, as histórias dentro de histórias… Em poucas palavras, este Homero é a coisa certa. Inteligente demais, talvez, comparado ao seu primeiro livro. Eu imagino se é realmente dele este trabalho. Sei, é claro, que um autor pode se aperfeiçoar com a experiência, mas o que me causa um certo desconforto – e, finalmente, me leva a dar um voto negativo – é a confusão que a questão dos direitos vai causar. Em primeiro lugar, o autor não é encontrado em lugar algum. As pessoas que o conhecem dizem que sempre foi difícil discutir qualquer mudança a ser feita no texto, porque ele era tão cego quanto um morcego, não conseguia encontrar o próprio manuscrito, e até dava a impressão de que não estava completamente familiarizado com ele. Será que realmente escreveu o livro ou apenas o assinou?

    * A DIVINA COMÉDIA, de Dante Alighieri – Alighieri é um típico escritor de domingo. Seu trabalho mostra um inegável domínio da técnica e um considerável faro narrativo. O livro, no dialeto florentino, consiste de cerca de uma centena de capítulos rimados, e muito de seu conteúdo é interessante e de boa leitura. Eu particularmente gostei das descrições de astronomia e de certas noções teológicas concisas e provocativas. A terceira parte do livro é a melhor e terá o maior apelo; envolve assuntos de interesse geral, concernentes ao leitor comum – salvação, a visão beatífica, adoradores da Virgem. Mas a primeira parte é obscura e auto-indulgente, com passagens de erotismo barato, violência e crueza absoluta. Mas o grande inconveniente é a opção do autor por seu dialeto (inspirado sem dúvida por alguma idéia de vanguarda).

    * EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO, de Marcel Proust – Este é um trabalho indubitavelmente sério, talvez longo demais. Poderia vender como uma série, mas não deveria ser publicado como está. Precisa de um trabalho editorial sério. Por exemplo, a pontuação deve ser refeita. As sentenças são muito elaboradas; alguma tomam uma página inteira. Bem trabalhado, reduzindo cada sentença para um máximo de duas ou três linhas, quebrando os parágrafos, o livro seria aceito. Se o autor não concordar, então esqueça. Como está, o livro é muito – qual é a palavra? – asmático.

    * CRÍTICA DA RAZÃO PRÁTICA, de Immanuel Kant – É um pequeno e razoável livro sobre moralidade, que poderia se adaptar perfeitamente às nossas séries filosóficas, e poderia até ser adotado por algumas universidades. Mas o editor alemão diz que, se nós o comprarmos, teremos que nos comprometer não apenas com o livro anterior do autor, que é uma coisa imensa em no mínimo dois volumes, mas também com aquele no qual está trabalhando agora, sobre arte ou sobre julgamento, não tenho certeza. Todos os três livros têm mais ou menos o mesmo título, logo teriam que ser vendidos num pacote (e a um preço que nenhum leitor poderia recusar); de outra maneira, os ratos de livrarias poderiam confundir um com o outro e pensar “já li isso antes”.

    * O PROCESSO, de Franz Kafka – Um pequeno e agradável livro. Um thriller com alguns toques de Hitchcock. O assassinato final, por exemplo. Poderia ter algum público. Mas aparentemente o autor escreveu sobre um regime de censura pesada. Se não, por que todas essas vagas referências, esse truque de não dar nome a pessoas ou lugares? E por que o protagonista é colocado em xeque? Se esclarecermos esses pontos, o suspense ficará garantido. Escritores genuínos devem ter em mente as cinco questões básicas dos velhos jornalistas: quem? o quê? quando? onde? como? por quê? Se pudermos ter mão livre na edição, eu diria: compre-o. Se não, não.

    * FINNEGANS WAKE, de James Joyce – Por favor, diga ao editor para ser mais cuidadoso ao distribuir livros aos analistas de textos. Eu sou leitor de língua inglesa, e vocês me mandaram um livro escrito em alguma outra língua remota. Estou devolvendo-o em pasta separada.

    De toda essa história polêmica, fica a constatação de que três editoras das mais importantes do país sequer acusaram recebimento de originais recebidos. Essa prática é comum. E deixa alucinados os autores, que entram muitas vezes em paranóia escrevendo cartas, enviando faxes e e-mails e telefonando às editoras, no esforço inútil de tentar saber o que foi feito dos seus livros e se eles serão publicados ou não. Raramente recebem respostas. Nem mesmo a gentileza de um telefonema. Os gerentes editoriais, com raras exceções, tornam-se inacessíveis. Sonhando talvez com o dia em que haverá livros sem autores.

  • Humberto 06/03/2007em13:05

    Tempo, literatura, inovação, originalidade… e se alguém escrevesse hoje como Cervantes? Lembrei-me do conto “Pierre Menard, autor do Quixote”, de J. L. Borges.

  • ombudsman 06/03/2007em13:06

    o texto acima é assinado por Esdras do Nascimento, publicado no Observatorio da Imprensa em http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/ol200599.htm

  • Rafael 06/03/2007em13:10

    Quem for assinante da Folha de S. Paulo ou do UOL poderá ler o comentário de Bernardo de Carvalho sobre o engodo que o jornal tentou impingir às editores. Bernardo de Carvalho, com palavras diferentes, desenvolve o mesmo argumento de Sérgio. Eis um trecho:

    “Por mais que, ao contrário da ciência, se atribua à literatura um valor absoluto, este ainda é, e sempre será, um valor histórico. Você pode achar “O Inferno” de Dante superior a grande parte da poesia de hoje, mas não poderia haver a poesia de hoje se Dante não tivesse escrito a sua “Divina Comédia”.

    A presença de Dante num certo momento da história da literatura ocidental determina não apenas o seu lugar nessa história, mas toda a história literária que lhe é posterior. Escrever como Dante hoje é ridículo antes de tudo porque significa ignorar que tenha existido um poeta chamado Dante.

    Você também pode achar que, em relação ao autor de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, a literatura brasileira atual é decadente. Mas não se escreveria dessa forma na literatura brasileira hoje se não tivesse havido Machado de Assis. Escrever hoje um texto (à maneira) de Machado de Assis ou Guimarães Rosa não é apenas “démodé” (a despeito das qualidades absolutas do original), nem simples pastiche, mas um absurdo tão grande quanto negar a própria existência do escritor e da história.”

    Os assinantes podem ler o texto completo neste endereço: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq01059919.htm

  • Sérgio Rodrigues 06/03/2007em14:20

    Isso mesmo, ombudsman, foi a “Casa velha”. Uma boa novela sobre o tema da pobre agregada educada como se fosse burguesa, tão caro a Machado (por que será, hein?). A novela – atenção – permanece muito boa. Estar inserido na história não significa que um trabalho só possa ser lido naquele momento; isto seria negar a arte. Significa apenas que só poderia ter sido escrito naquele momento.

  • Cláudio Soares 06/03/2007em14:38

    Sérgio: creio que o escritor não deixa de falar do seu tempo mesmo qnd tem como temas o passado ou um futuro sugerido. Mais: o escritor escreve a si mesmo.

  • Cláudio Soares 06/03/2007em15:17

    Palestra sobre obra de Machado de Assis, hoje (6/3), na ABL, será transmitida ao vivo pela Internet.

    Principalmente para os que não estiverem no Rio: A palestra de Nélida Piñon hoje (6/3) na ABL será transmitida ao vivo pela internet. Desde o ano passado, a ABL transmite seus eventos pela “grande rede”. Basta apontar seus browsers para a URL: http://www.academia.org.br

  • Cláudio Soares 06/03/2007em15:23

    A palestra começa às 17h30.

  • Noga Lubicz Sklar 06/03/2007em15:47

    Não posso negar que com todo o mau humor que esse post me provocou, dei boas risadas com o coment do ombudsman, obrigada. O que não dá mesmo pra entender é como esse alto padrão de exigência, que nega ao postulante escritor o livre fruir do seu pensamento e criação (caso pretenda de alguma forma ser comercializado) acaba resultando na enorme mediocridade das prateleiras, num alto percentual de rejeição pelo leitor entediado das raras obras-primas aceitas por seletíssimos editores que não falam com ninguém, encastelados em seus altos cargos provavelmente mal-remunerados. É um caso perverso de malversação de uma profissão que deveria ser prazerosa e instigante, mas acaba transformada num celeiro inevitável de frustração constante: uma doença.

  • Areias 06/03/2007em15:48

    Na minha opinião, o que ocorre hoje na literatura brasileira pode ser explicado pela equação oferta versus demanda. Há de fato uma grande quantidade de escritores talentosos, o que falta é um leitorado. As editoras ditas grandes, depois do final dos anos 90, “descobriram” uma penca de autores inéditos ou quase, produzindo uma literatura vigorosa e resolveram publicar alguns. A maioria encalhou. Não há leitores suficientes para tantos autores. Acaba prevalecendo o contato pessoal que o autor pretendente tem com o meio editorial (amigos na imprensa escrita e televisiva também ajudam). Aconselho os candidatos a escritores a deixarem passar essa fase de fartura na oferta, antes de se submeterem às editoras, que de fato não têm como enfrentar essa avalanche de novos escribas. Continuem escrevendo e lendo e escrevendo, é essa a essência da literatura. Não deixem a falta de editora ou leitor massacrar seus egos. No nosso país, há mais editoras do que livrarias e, atualmente, muito mais escritores do que leitores.
    PS: Tibor, acho que você comeu um s na palavra kitsch.

  • Tibor Moricz 06/03/2007em15:58

    Ok… na verdade comi um C na palavra Kitsch. Acredito que era fome.
    Existem editoras que fazem parceria na publicação. Dessa maneira, publicar fica bem mais fácil… Claro, pra quem tem tutu para desenbolsar.

  • mausóleu 06/03/2007em16:02

    “na verdade comi um C (…)”

    Uau, a revelação de momentos íntimos. Todos se abrem na internet.

  • Pasquale 06/03/2007em16:33

    Comeu um “M” também, na palavra desembolsar – que ganhou um “N” liiiiiiindo que só.

  • Tibor Moricz 06/03/2007em16:38

    Vocês enchem o saco, hem?

  • Paulo 06/03/2007em16:45

    Sérgio, só uma pergunta que me ocorre agora: você acha de alguma forma relevante o fato de a mais prestigiada editora do Brasil não aceitar mais originais de autores desconhecidos? Sei que a Gallimard também não recebe. E nos EUA há muito tempo existe o filtro dos agentes. Mas, enfim, é uma pergunta. Você responde se quiser.

    Abs.

  • Sérgio Rodrigues 06/03/2007em18:03

    Não acho grave, Paulo. Se eu tivesse uma editora, acho que não fecharia o canal, por mais complicado que seja na prática processar essa oferta, com um time de pareceristas confiáveis e tal. Mas convenhamos que hoje, com a internet e a facilidade inédita que ela cria de fazer as informações circularem, há formas bem melhores de chegar a uma editora do que mandando um pacote anônimo pelo correio.

  • Mais do mesmo 06/03/2007em18:05

    Ahh, isso que eles nem passam o olho nos textos, todo mundo já sabia. Assim como todo mundo sabe também que os crítcos agem em bloco. A primeira crítica serve de padrão para as outras. Hoje ouvi na CBN o Jabor criticando o filme Borat, que a imprensa brasileira recebeu com elogios. Caso raro.
    Se eles lançam uma escritora p.uta, é porque não se interessam por um p.uta escritor.

  • armando 06/03/2007em18:42

    O caso do Jabor é que ele quer ser diferente… nadar contra a corrente, mas agarrado a um tucano-marinho…

  • Areias 06/03/2007em18:48

    E talvez finalizando o papo, hé também uma novela do Antônio Frenando Borges (acho que é esse o nome do cara) que escreveu uma, como direi, um apêndice literário da obra e no estilo machadianos e foi publicado pela CIA (das letras). Li e achei bacana, uma bela homenagem. Quincas e cia., se não me engano chamava-se o opúsculo. Acho que isso pega. Sinal de que, sei lá o quê…

  • Clarice 06/03/2007em19:17

    “Nada paira, certo, Karl?”
    Sérgio, desconheço esta referência. Ih! Se for muito óbvia tô perdida.
    Só pode ser o Karl… Marx mas não sei esta história de “pairar” não. Agora por favor quem responder não venha com aquele tom:
    “Clarice, a citação remonta ao livro X quando o ilustre pensador descreve o blábla´blá… setencia etc. etc, desnuda o processo yyy remetento ao denso….quando ele se debruça sobre o…. e faz convergir a hitoriografia……do materialismo histórico ……. importante fundamento de sua…….”
    se possível: “É quando ele explica ………………………. . Assim como se eu tivesse 6 anos de idade.

    Ombudsman,
    Gostei da parte do artigo quando o Umberto Eco fez os pareceres.
    Adorei o da “Bíblia”, “Em Busca do Tempo Perdido” do “Finnegans Wake”, (aliás , Ulisses foi primeiramente publicado em Paris para quem não lembra. Nenhum editor compatriota quis se arriscar a publicar Ulisses. Foi Pound, que além de ter ajudado com algumas modificações nos originais, quem apresentou Joyce à Sylvia Beach dona de uma livraria de livros ingleses em Paris. Ulisses foi impresso em… Dijon e Joyce recebeu o primeiro exemplar no dia de seu aniversário 2 de fevereiro de 1922 – o aniversário de Joyce é três dias antes desta bluestocking que vos escreve e agora só ano que vem vocês vão poder me mandar um presente. sniff.)

  • Clarice 06/03/2007em19:30

    Quanto ao assunto do post:
    Eu queria ser uma mosquinha para saber que critérios eles usam para catar dos autores que não têm QI.
    Então é assim: o candidato a escritor gasta uma grana imprimindo seu filhote e manda para as editoras, que avisam logo que não devolvem original – preferem picotálo -, e nem uma carta daquelas prontas e com assinatura xerografadas o pobre aspirante recebe. Ficam lá no silÊncio glacial.
    Bacana e educado.
    O jeito é mandar o original com uma marca d’água RSVP.
    Poderiam dizer “Não lemos por que não temos pessoal suficiente e não temos interesse em perder dinheiro com gente que não vai ter retorno$. A gente gosta mesmo é de autor estrangeiro que já foi traduzido para vários países e têm público certo. Tá pensando o quê? A vida é dura, meu filho, e o mundo é dos espertos. Vá arrumar um padrinho. A não ser que você seja filho. Por favor envie-nos novamente se seu pai ou mãe forem escritores famosos. Gratos”

  • Clarice 06/03/2007em19:31

    Jabor numa hora desta?rsrsrsrs

  • Lucas Murtinho 06/03/2007em19:38

    Correçao ao comentario do Paulo: a Gallimard aceita manuuscritos nao solicitados sim. Aqui na França é impensavel acabar com os serviços de manuscritos das grandes editoras – até porque eles sao uma das melhores desculpas para os editores franceses continuarem se opondo ao trabalho dos agentes literarios no pais.

    E aproveito a tênue deixa para fazer um pouco de propaganda: estou fazendo um estagio na Métailié, que publica muita coisa brasileira, novos (Ruffato, Bernardo Carvalho) e velhos (Machado, Euclides da Cunha, Adolfo Caminha). Se alguém publicou ou conhece alguém que publicou um bom livro com potencial de exportaçao, meu email e blog estao ai.

  • Moisés 06/03/2007em19:41

    Historicismo demais. O que é bom, é bom sempre. Os padrões podem variar, mas o que vale pena é mais universal. Recusar grandes obras porque não são mdernas é simplesmente burrice.

  • andre lopes 06/03/2007em19:43

    Borges tratou antes e melhor do assunto, com o “Dom Quixote” de Pierre Menard.

  • Pedro David 06/03/2007em19:49

    Quando fiz vestibular a primeira vez, um pouco consciente, um pouco inscocientemente, escrevi a redação usando termos e sintaxe machadianos. Naquela época, passava o dia inteiro com uma edição das obras completas do autor nas mãos. Resultado: tirei 3 de 10.

    Acho que o texto do Sérgio suscita, secudariamente, uma questão interessante: uma das maiores dificuldades em escrever é tentar se livrar desse passado literário, ao mesmo tempo tendo um conhecimento mínimo dele para que se possa traçar um diálogo com o mesmo, e ou subvertê-lo.

    Entretanto, acredito que quando se tenta fazer isso de maneira propositada e obstinada, arrisca-se a se ter um pastiche ou uma invencionice desnecessária.
    A pergunta que fica então é: qual o caminho?
    Mas acho que já sei a resposta. Não existe caminho.

  • Victor Grinbaum 06/03/2007em20:03

    Nunca escrevi nenhum livro, nunca remeti nenhum livro para editoras. Abstenho-me, portanto, de falar sobre os critérios por elas empregados na seleção das obras que serão publicadas
    (…)
    Comentário de Rafael — 6/03/2007 @ 12:03 pm ”

    Nesse caso, Rafael, por uma questão de honestidade você deveria CALAR-SE e não emitir NENHUM COMENTÁRIO.
    Anauê!

  • Paulo 06/03/2007em20:51

    Lucas,

    li em algum lugar que a Gallimard só publicava autores novos se indicados previamente por autores da casa. O mesmo procedimento adotado pela Cia. das Letras.

    Ah, e não se esqueça do Rui.

  • maria emília 06/03/2007em21:46

    paulo: onde você leu que a companhia das letras só publica autores apadrinhados?

  • Mr. Ghost(WRITER) 06/03/2007em21:47

    Vou ser óbvio e chover muito forte no que está alagado… se dependesse de ´das editoras atuais para temos um Machado de Assis publicando hoje, estaríamos ferrados…
    Ainda bem que ele é de seu tempo e que sua obra atravessou o tempo que veio depois dele até chegar a nós, porque se não, estaríamos ferrados e sem Machado de Assis…

  • Cláudio Soares 06/03/2007em22:57

    Mas “o Brasil” ainda precisa que um Harold Bloom (nada contra o professor e crítico literário) “reconheça” Machado de Assis como grande escritor. Isso é ruim até para a crítica nacional.

    Outra: espero que vcs tenham tido a oportunidade de assistir à (ótima) palestra da Nélida Piñon pela internet ou ao vivo na ABL (eu estive lá). Mesmo na Academia novas abordagens em relação à obra de Machado estão aparecendo. Isso é bom. Em breve o site http://www.machadodeassis.org.br/ será reformulado (ano que vem 100 anos da morte de Machado).

    Outra: Dia 19/04 começa a exposição em homenagem a Manuel Bandeira.

  • Cláudio Soares 06/03/2007em22:57

    Sérgio: sou o seu correspondente direto da ABL 🙂

  • Paulo 06/03/2007em23:05

    Maria Emília, não seja maldosa. Existe uma diferença entre apadrinhados e recomendados.

    Se não me engano, o próprio LS falou isso durante uma aula na FGV.

    Só quero deixar que não acho ruim esta postura da editora.

  • Roberto R. 07/03/2007em03:04

    Sobre o post do ombudsman, tenho em casa um exemplar do “Diário Mínimo” do Umberto Eco que tem esses pareceres – mas eles são um pouco diferentes dos que ele postou. Talvez o Eco tenha refeito os textos para a edição em livro, ou a Folha tenha editado os textos para a reportagem. Enfim. Também queria registrar que essa choradeira de gente como Marcelo Moutinho é mais antiga que andar pra frente. Quem dera o problema da literatura brasileira estivesse no descaso ou na incompetência das editoras. O buraco, infelizmente, é bem mais embaixo…

  • Porto 07/03/2007em05:47

    Olá amigos,leiam e divulguem

    Precisamos impedir um desastre. Imaginem um lugar onde se pode ler, gratuitamente, as obras de Machado de Assis, ou A Divina Comédia, ou ter acesso às melhores historinhas infantis de todos os tempos. Um lugar que lhe mostrasse as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci. Onde voce pudesse escutar musicas em MP3 de alta qualidade. Pois esse lugar existe! O Ministerio da Educação disponibiliza tudo isso, basta acessar o site:

    http://www.dominiopublico.gov.br.

    Só de literatura portuguesa são 732 obras! Estamos em vias de perder tudo isso, pois vão desativar o projeto por desuso, já que o número de acesso é muito pequeno. Vamos tentar reverter esta desgraça, divulgando e incentivando amigos, parentes e conhecidos, a utilizarem essa fantástica ferramenta de disseminação da cultura e do gosto pela leitura. Divulgue para o máximo de pessoas! Estação História Cultura e Patrimonio.

  • Rafael 07/03/2007em07:45

    Victor, será que você não percebeu que eu só me propus a abster-me de dar opiniões “sobre os critérios por elas [as editoras] empregados na seleção das obras que serão publicadas”?

    Como eu fui fiel ao meu propósito, pois nada disse sobre os critérios das editoras, você por HONESTIDADE deveria ter ficado quieto. Ou será que você não sabe ler?

  • Mais do mesmo 07/03/2007em08:11

    Defendo que todo critério de análise que ultrapasse o conteúdo da escrita deve ser banido. O país está uma fidalguice total, em todas as áreas. A última coisa que é analisada é o conteúdo. É só acompanhar os jornais que está tudo lá… da Maria Rita ao filho do Pelé, todos galgaram suas boquinhas, mesmo que tenham a mesma qualidade de outros quinhentos sem pai nem mãe para dar o ISO 9000…
    não sei se vocês já viram uma família de macacos bugios se protegendo: eles agarram uns aos outros pelas costas, fomando uma fila. Será que chegamos a este ponto ?

  • Saint-Clair Stockler 07/03/2007em08:55

    Então quer dizer que se eu mandar o meu “Dias estranhos” pra Cia. das Letras, sem uma recomendação, é bem capaz de ninguém ler o manuscrito? Entendo que “recomendação” é muito diferente de “apadrinhamento”, mas mesmo assim eu ainda acho que um livro merece falar por si mesmo, sem recomendação ou apadrinhamento (estou sendo ingênuo, utópico, romântico?). Então, se alguém não falar por mim, mesmo que só nesse momento inicial, serei que nem João Batista, clamando no deserto? Esquisito isso, hein? Apesar de conhecer autores da Cia. das Letras (e de outras editoras, também), eu não tenho a menor coragem de pedir uma recomendação. Juro por deus. Aceitei uma ou duas recomendações na minha vidinha literária, mas foram sempre as pessoas que se ofereceram pra recomendar, eu nunca pedi. Nem é orgulho besta, não. É sem-jeito mesmo.

  • Cezar Santos 07/03/2007em09:25

    Deixe eu meter minha colherzinha nesse angu…
    O Machadão é o maior escritor brasileiro, na minha modesta opinião, mas nem tudo o que ele escreveu é tão bom quanto as obras da fase realista.
    Ele tem uns textinhos bem fraquinhos sim.
    Quanto às editoras, bem… elas são empresas, e empresas montadas para dar lucro. Portanto, seus donos/dirigentes têm seus critérios (discutíveis) e arcam com as consequências de suas escolhas ou não-escolhas. Publicam coisas que não vendem e se ferram. Não publicam coisas que venderiam bem e deixam de ganhar uma baba. Não teve uma ai que recusou o Dan Brown? Pois é, acho que foi a Record… os caras devem chorar cada vez que vêem um exemplar do Código da Vinci na frente…rssss…
    Quanto à matéria da Folha…olha, acho que nem precisa ser jornalista para saber que jornal precisa levantar polêmica de vez em quando. E a matéria balançou o mundinho das letras, não balançou? Então, que os jornais façam mais reportagens polêmicas abordando a literatura, mesmo que sejam meio mandrakes (como é o caso) servirão pra colocar a literatura em evidência.
    E cá pra nós, esse lance de gosto é muito estranho. Eu acho incrível que tenha gente que goste dos romances do Luís Fernando Veríssimo… acho umas rematadas bombas, no entanto o cara é best-seller. Não que o LFV não saiba escrever, considero-o um cronista sensacional. Mas para engendrar romances o cara é uma lástima (que diferença do pai, né?). Por ai se vê, fosse eu um analista de texto de alguma editora, e se considerasse apenas o aspecto leiterário, o LFV não seria publicado de jeito e maneira…e a minha editora perderia um dos autores que mais vendem no Brasil.
    É isso… a coisa toda tem altíssimo grau de subjetividade, de política, de amizades, de má ou boa voantade….enfim…

  • Clarice 07/03/2007em09:50

    Cezar,
    Você tem razão mas eu já vi filho que não tem lá muito talento.
    Vai que nestes 80 que a editora recebe e picota tem um talento?
    Muito complicado isto tudo.
    Na década de 80 algumas editoras se arvoraram em editar poesia como a Massao Ohno que editou Alba Orides Fontela (prefácio de Antonio Candido), Roberto Piva e outros ótimos.
    Não deu certo.
    Ué? A Record dormiu no ponto com o Dan Brown?
    Inacreditável. Logo a Record que fareja best-sellers como ninguém?

  • Clarice 07/03/2007em09:53

    O jeito é encomendar um software para Bill Gates.
    Ele é bom em fazer dinheiro. Se possível um pouquinho de qualidade seria bom.

  • Cezar Santos 07/03/2007em10:02

    Clarice,
    Não tenho certeza se foi a Record. Não me lembro, li a reportagem há mais de ano e não posso ser categórico, ok?
    Mas vou pesquisar para ter certeza.
    Agora, quanto ao autor que tenha convicção de seu trabalho, acho que ele deve batalhar das formas possíveis e que ele considere ética no sentido de ser publicado.
    Vale até mesmo bancar ele próprio – com a grana do pai, de rifa, de amigos, sei lá… – a publicação de seu livro. Tivesse eu um texto que julgasse meritório, eu iria à luta. Mandaria pras editoras, correria rifa, jogaria meu décimo terceiro, enfim..
    Só uma coisa eu não faria, pedir dinheiro público para isso. Acho que livro, filme, shows… não devem ser bancados pela grana do povão. É um absurdo, por exemplo, patrocínio oficial para show de Ivete Sangalo… bem, estou digressionando.

  • Cezar Santos 07/03/2007em10:09

    Clarice,
    Quanto às editoras, repito que elas são empresas privadas. Como tais, assumem o risco de seu negócio – cultura é negócio também, não se esqueça. Uma pena que iniciativas como a da Massao Ohno, que vc citou (bem lembrado) não deram certo. Mas e se tivesse dado? Ela teria faturado uma grana boa, não é?
    Só nos resta, como leitores, consumir o que é bom, até para dar uma força pras editoras que apostam na qualidade. Mas tá complicado. Dia desses citei aqui o lance da Cosac, que edita bons livros (está reeditando vários títulos com novas e ótimas traduções), belas capas, mas põe o preço nas alturas. Simplesmemnte não consigo comprar livros tão caros. Então fico aguardando quando um ou outro chega nas bibliotecas públicas, onde poderei lê-los, depois de um ou dois anos de lançados.

  • O Clone 07/03/2007em10:13

    Taí o Jorge Vercilo, vulgo “O Clone”, para negar essa teoria toda do Kundera, do SR e etc e tal…

    O Bebeto também (vulgo “O Xerox”)…

    O Machado de Assis foi bombado mesmo e ponto final.

    P.S. Jorge Vercilo, cantor milionário, graças à clonagem descarada do estilo Djavan…Sucesso de vendas do verão passado…A mulherada compradora de CD que o diga…

    Bebeto, clonagem do Jorge Ben(jor)…Outro que foi um fenômeno editorial…Mesmo sendo um Jorge Benjor cuspido e escarrado…

  • Cezar Santos 07/03/2007em10:41

    Clarice,
    recuperei a história da pretensa recusa do Dan Brown. Na verdade, foi a própria Editora Sextante que quase perdeu o cara. O dono da editora, Geraldo Pereira, teve acesso ao livro de Dan Brown em 2003, antes de seu lançamento nos Estados Unidos. Mas os sócios (filhos do Geraldo) não queriam publicar o livro. Foi preciso o Geraldo forçar a barra e o resultado todos sabem, um dos maiores sucesso editorias do Brasil (e do mundo todo, né). O livro foi comprado com um adiantamento de 12 mil dólares, um pouco mais do que tinha oferecido um gigante editorial brasileiro. Uma pechincha diante das vendas depois, não é?
    Façamos justiça, a Record não comeu mosca nessa…

  • Caio 07/03/2007em10:49

    Eu devo ser muito ignorante realmente e estou gostando disso, o que é pior. Pois, qualquer criança sabe que hoje em dia é sucesso aquilo que decidem que deve ser sucesso. Os manuscritos sequer foram lidos e a música de Beethoven sequer seria ouvida ou se o fosse, a monstruosidade seria construída a partir da imbecilidade embasante.

  • Daniel Brazil 07/03/2007em13:52

    Certa vez escrevi uma carta ameaçando o júri de um concurso de contos, e fui premiado. Quem sabe escrever uma boa ameaça aos leitores de editoras dá certo?
    Fica a sugestão aos escritores e aspirantes!

  • Tibor Moricz 07/03/2007em14:04

    Isso. Escreva uma carta ameaçando as editoras. Depois mude para o Kurdistão ou outra região inóspita qualquer se ainda tem alguma aspiração como escritor.

  • Tibor Moricz 07/03/2007em14:15

    Lá em baixo temos o socialista Antônio Augusto, aqui temos o terrorista Daniel Brazil.

  • Cezar Santos 07/03/2007em16:00

    Taí, uma fórmula para ser premiado em concursos ligterários…ameaçar os jurados…
    Cara, vivendo e vendo cada coisa….

  • Clarice 08/03/2007em11:00

    rsrsrsrsrs
    Prezado Editor,
    Enviei meu livro há três semanas e ainda não obtive resposta.
    Caso não obtenha nenhuma resposta positiva por parte de V. Sa. notifico-o que o Tonhão vai cuidar deste desafeto.
    Atenciosamente,
    Eduardo Passarinho

    Cezar,
    Raposa velha ensinando os filhos. 12.000,00? Nossa! Isto é que é ter faro.

  • Daniel Brazil 09/03/2007em11:11

    Esqueci de avisar que para ganhar um prêmio literário com uma carta ameaçadora é preciso ter um certo estilo. E senso de humor, também.
    O júri percebeu. Por aqui, nem todos.

  • Tibor Moricz 09/03/2007em11:27

    Certo estilo? Uma calibre 12 cano cerrado?

  • Daniel Brazil 09/03/2007em13:12

    Não creio que alguém ganhe prêmios literários com isso, Tibor. Tente outra vez!

  • Tibor Moricz 09/03/2007em13:38

    Parece que ninguém aqui entendeu o seu estilo nem perceberam o seu humor, Daniel. Acho que não é por deficiência de observação. Eles é que não existem mesmo.

  • Daniel Brazil 09/03/2007em21:27

    Você foi o único que não entendeu, Tibor. Basta ver os comentários do Cezar e da Clarice, mais bem humorados. 2 X 1, aritmética elementar. Você acha que fala pela maioria silenciosa?
    Em todo caso, escreva “cano serrado”, é mais condizente!

  • mausoléu 12/03/2007em11:23

    O Mano aí de cima só pode ser Corinthiano. Certo, mano?