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Lanzmann ataca Spielberg e dá show de descortesia

08/07/2011

Foto de Walter Craveiro/Divulgação

Mal-humorado e repetidamente descortês com seu entrevistador, o cineasta francês Claude Lanzmann, 85 anos, autor do referencial documentário “Shoah”, disse na última mesa de hoje que Steven Spielberg brinca em “A lista de Schindler” com algo que não admite brincadeiras. “O que significa representar a morte de milhões de pessoas? É uma questão muito complicada. Não existe representação possível, alguma coisa proíbe, e não sou eu quem o faz: é Adolf Hitler. Tentar essa representação é cometer a mais grave das trangressões. Spielberg usou subterfúgios desonestos.”

“Shoah”, filme de nove horas e meia de duração lançado em 2005, custou a Lanzmann, judeu francês, doze anos de trabalho e, segundo ele, escapa dessa armadilha da representação por não ser “sobre a sobrevivência, mas sobre a morte, sobre a radicalidade da morte naquelas câmaras de gás dos campos de extermínio nazistas”. Afirmou ele: “Os homens que me deram seus depoimentos testemunharam a morte de seu povo. Nenhum deles deveria ter sobrevivido para contar: um número muito reduzido sobreviveu por uma conjugação de coragem, inventividade, sorte e milagre. Não contam como sobreviveram, não abrem o jogo, não revelam suas histórias pessoais. São porta-vozes dos mortos e assim queriam ser considerados”.

Além de falar de “Shoah”, obra de sua vida, Lanzmann deixou claro que não lhe interessava abordar em Paraty nenhum assunto que não fosse o livro cuja tradução está sendo lançada no Brasil, “A lebre da Patagônia” – um livro de memórias. As tentativas do mediador Márcio Seligmann-Silva foram repelidas com agressividade. Quando este lhe perguntou sobre uma das polêmicas em que se envolveu na imprensa francesa, respondeu: “O que você está tentando fazer? Mostrar que o Brasil também sabe o que acontece em Paris?” Era mais ou menos isso mesmo, mas Lanzmann prosseguiu: “Se você não quiser falar do livro, eu vou embora. Você está me tratando como um débil-mental.” A cada patada, Seligmann-Silva aplaudia, sorria e mudava de assunto.

O espetáculo de um mediador excessivamente elogioso e gentil diante de entrevistado intratável pareceu mais longo e penoso do que foi. A sessão terminou com aplausos frios.

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