Nada de debates de ideias. Nada de perguntas difíceis de responder. Tradicionalmente leve, a mesa final da Flip reuniu alguns dos escritores do evento para a leitura de trechos de seus autores preferidos. Confira abaixo uma relação com alguns dos convidados da mesa, hegemonicamente estrangeira, seus livros favoritos e as justificativas de suas escolhas.
Beatriz Bracher
. Leitura: trecho do romance Angústia, de Graciliano Ramos
. Justificativa: “Foi o primeiro autor que me deu a noção clara de que escrever não tinha a ver apenas com aprender ou sentir, mas também com viver”.
Reinaldo Moraes
. Leitura: trecho de Memórias de um Sargento de Milícias
. Justificativa: uma dos principais obras da literatura brasileira, foi escrita por Manuel Antônio de Almeida quando tinha menos de 21 anos. “Um certo prodígio”, disse Moraes. “E é um romance sobre um malandro do século XIX, que se apaixona por uma garota pobre, se liga a cinganos, vai a festas de negros, ele é da pá virada.”
Lionel Shriver
. Leitura: trecho de A Era da Inocência, de Edith Wharton
. “Eu sei que parece inexplicável, mas eu sou admiradora de Edith, porque ela gosta de estilo e entende como convenções sociais podem levar a tragédias. A convenção social, no caso de A Era da Inocência, era o casamento. Já era legal se divorciar nos Estados Unidos, mas era também algo muito mal visto.”
A. B. Yehoshua
. Leitura: trecho de O Som e a Fúria, de William Faulkner
. Eu tenho certeza de que muitos escritores sul-americanos aprovariam a minha escolha. Muitos críticos disseram que o que Faulkner fez pela literatura moderna foi maior que o que Beethoven fez pela música. Faulkner escreveu sobre uma família, às vésperas de seu declínio, em terceira pessoa, a partir de monólogos internos. Isso me mostrou que ele não queria agradar o leitor, mas ao mesmo tempo ele aproximava o leitor de seu texto. Ele começa com um deficiente mental, que confunde passado e presente como uma criança de 3 anos, mas ele tem 33. Não há uma descrição sobre essa pessoa, que aparece chorando e berrando, até o quarto capítulo. Ele é negligenciado pela família, e fica nas mãos dos empregados da casa. Pela leitura, você começa a se identificar com o menino, que entra em você, por essa técnica de escrita, que é sofisticada e perfeita.”
Azar Nafisi
. Leitura: coletânea de poetas selecionados pela autora
. Justificativa: são poetas com que ela se indentifica por por ter a mesma que ela ou por terem vivido deslocados em países difíceis – Azar é iraniana e crítica ferrenha do regime islâmico de Mahmoud Ahmadinejad. “Eu quero ir para casa e ler as escolhas de todos aqui. Bem, ao escolher livros eu sou muito promíscua. São todos amantes maravilhosos. Como eu não posso ter um manual de sobreviência numa ilha deserta, vou criar um livro de poesias onde muitos deles estarão presentes”, disse. “Vou ler poemas de autores insulares, que viveram deslocados em países e tempos difíceis. O primeiro deles foi (o judeu húngaro) Miklós Radinóti, assassinado por fascistas. Seu corpo foi enterrado em uma cova comum.” Azar leu também versos do poeta épico iraniano Ferdosi, que trabalhou no século VII e foi resgatado no século XI, por interessados em relembrar a identididade do país. “Meu pai dizia, ‘Esse país já foi invavido tantas vezes que a única forma de manter sua identidade é pela língua e pela poesia’”.
Maria Carolina Maia
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