A associação de palavras é um jogo curioso. De repente, surfando a onda dos debates exasperados sobre “judiar” e “denegrir”, são muitos os leitores que me perguntam ao mesmo tempo sobre “coitado”. Não chego a entender bem por que isso acontece, o fato é que a palavra se impõe. Querem saber se é verdade que vem de coito, cópula, e significa em sua origem “submetido a coito, fodido”.
Não, não é verdade. Não encontrei em autor algum essa ligação, que tudo indica ser mais uma das lendas etimológicas que vicejam por aí. Reconheça-se que é uma das mais tinhosas: parece fazer o maior sentido, mas só parece.
Coito vem de uma forma nominal do verbo latino coire – ir com, engajar-se em sexo com – que encontra eco numa expressão ainda popular como “ela vai com qualquer um”. Coitado, por seu turno, é só o particípio do verbo coitar (fazer sofrer, atormentar), hoje em desuso, descendente do latim vulgar coctare e inteiramente desvinculado de coito. É o que juram os sábios.
Às vezes me sinto meio estraga-prazeres.
Publicado no “NoMínimo” em 28/11/2005.
6 Comentários
E sobre judiar?
O que se tinha é que judiar estava implícito no agente ativo da ação. Portanto, o judeu judiava.
Entretanto, os judeus se defendem quanto a semântica e dizem que a etimologia do verbo judiar vem da história dos flagelos sofridos pelos judeus semitas; daí serem os judeus unicamente os agentes passivos da ação, por terem sofrido judiarias.
Há nisso interpretações díspares sem nenhuma conclusão definitiva?
E “acoitar”? É esconder, não é? Coitado não seria então “fugido”, “enjeitado”, por sinonímia? Ou é muita viagem?
De fato Sérgio, esse post foi um estraga-prazeres…
Carlos Magno: as interpretações não me parecem díspares. O verbo judiar surgiu com o sentido de “converter-se ao judaísmo ou adotar práticas judaicas”. Mas na acepção – que é a mais difundida – de “maltratar”, nasceu com o sentido revoltante de “tratar como se trata um judeu”.
Impressiona a associação que fazem entre coito e estupro. Afinal, coito não precisa ser forçado, ora pois!
O Diário de Pernambuco também tem a mesma opinião do Sérgio Rodrigues. Veja: http://www.diariodepernambuco.com.br/2009/05/20/viver3_0.asp#