Recebo o seguinte texto “inspirador”, que circula como corrente na internet:
A palavra SINCERO foi inventada pelos romanos. Eles fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes.
Em alguns casos, chegava-se a se distinguir um objeto – um colar, uma pulseira ou um dado –, que estivesse colocado no interior do vaso.
Para o vaso assim, fino e límpido, dizia o romano vaidoso:
– Como é lindo!!! Parece até que não tem cera!!!
“Sine cera” queria dizer “sem cera”, uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes e da antiga cerâmica romana. O vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado. Sincero é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações.
O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras os verdadeiros sentimentos de seu coração.
Estilo açucarado à parte, essa história de vaso fino tem lá sua beleza, não tem? Infelizmente, tudo indica ser uma daquelas lendas muito comuns na etimologia, baseadas em semelhanças fortuitas de som e sentido. Muitas vezes (embora não seja o caso aqui), os mal-entendidos se incorporam à história da palavra e mudam seu curso – dá-se ao fênomeno o nome de etimologia popular. “Floresta”, por exemplo, veio do francês antigo forest (hoje forêt) e só não virou “foresta” porque o pessoal achava que a palavra tinha alguma coisa a ver com “flor”. Não tinha. Agora tem.
A verdadeira origem de “sincero”? Provavelmente, a junção dos elementos latinos sim (um só) + cerus (que cresce, se desenvolve): aquilo que tem desenvolvimento único, sem bifurcações, sem surpresas; reto, íntegro.
Tem muito menos graça, pois é.
Texto publicado no NoMínimo em 21/1/2005.
5 Comentários
Caro Sérgio, por vezes, a vida precisa de um pouco de poesia… Mesmo que essa venha de alguma galhofa.
Um abraço e bons ventos na vida.
Ricardo Casaca
Eis tudo: o falso étimo quase sempre tem mais charme. Por isso prospera.
Como os vigaristas, talvez (uma idéia rodrigueana, embora ele falasse de canalhas fascinantes, mas creio que seja o mesmo)…
Vasos de cera?? Os romanos eram um povo, antes de tudo, prático. Um vaso de cera- e segundo o texto, finíssimo-não serviria para guardar absolutamente nada, pois um líquido ou um sólido o deformariam. e nem como decoração, pois o calor o deformaria ou derreteria.Tão ridículo quanto o laptop grátis da Nokia ou o cheque do Bill Gates.
lembrei do humberto gessinger, que cunhou aquela letra que começava com “prá ser sincero não espero de você mais do que educação…” não que ele tenha algo a ver com cera ou spam, mas ele era melífluo de um jeito que a adolescência merece.
Caro Sergio,
E a historia da origem do nome Montevideo (Monte VI de Este a Oeste), será que é verdade? Ou é lenda?
Abraço