“Das mais surpreendentes
é a vida de tal faca:
faca, ou qualquer metáfora,
pode ser cultivada.
E mais surpreendente
ainda é sua cultura:
medra não do que come
porém do que jejua.
Podes abandoná-la,
essa faca intestina:
jamais a encontrarás
melhor que Tramontina.”
***
“Aos 16 anos matei meu professor de lógica. Invocando a legítima defesa – e qual defesa seria mais legítima? – logrei ser absolvido por cinco votos contra dois, e fui morar sob uma ponte do Sena, embora nunca tenha estado em Paris. Mas um dia hei de ir – nas asas da Air France, ça va sans dire!”
***
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala. Ao pé deles, degustaram com delícia sua cota de Maxi Goiabinha.”
***
“Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio – belo seio! – da noite a caminho da Barbarella, ali na Viveiros de Castro.”
***
“E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja de Zippo enquanto dure.”
.
22 Comentários
Será que dessa vez também vão achar que se comia Maxi Goiabinha no sertão?
O Sérgio está nos despistando. Ficamos imaginando escritores famosos fazendo merchandising e não nos damos conta de que quem está fazendo merchandising é o próprio Sérgio Rodrigues, que esta hora deve estar olhando, admirado, para o extrato da conta bancária, onde constam os gordos depósitos realizados pela Tramontina, Air France, Bauducco (Maxi Goiabinha), Viveiros de Castro e Zippo.
”
Quadro é atacado a marteladas em galeria londrina.”
Um quadro de Joshua Reynolds (1723-1792), presente na National Portrait Gallery de Londres e avaliado em aproximadamente US$ 3,5 milhões, foi atacado ontem (8) com um martelo.
ALERTA
acho que o Nareba escapou…
A lua vem da Ásia voando Air France…
Pô, Rafael, você me desmascarou… Só um reparo: Viveiros de Castro é o nome da rua onde fica a boate Barbarella.
-Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que tranças!
-Que tem? acudiu a mãe, transbordando de benevolência . Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe pentear.
-O que, mamãe? Isto? redargüiu Capitu, desfazendo as tranças. Ora, mamãe! Ao menos tivessem sido feitas com teus maravilhosos pentes Flamengo!
Putzzzzz…putzzzz…..putz….. isso aqui virou o quê?
Da mesma forma que o texto do Laurentino, lembranças de Umberto Eco no “Diário Mínimo”. Não sei se funcionaria na vida real: eu não passei a gostar mais de Toblerone por causa do Infinite Jest, nem de Mahler por causa do Bukowski.
Companheiro sergio rodrigues
Eu, josef mario, devo dizer que o nome correto da rua e ministro viveiros de castro e, mais importante que a barbarella, foi nesta rua, na esquina com a prado junior, que existiu o inesquecivel beco da fome. Saudades do companheiro monsueto, expondo seus quadros na entrada do beco da fome – este rio não existe mais.
Muito obrigado.
“Eu, josef mario, drogado e prostituído no beco da fod…, ops., da forme”.
Que coisa cafona. Muito anos 70.
AVISO IMPORTANTE: acabo de apagar uma série de comentários que, além de homofóbicos, nada tinham a ver com o assunto desta nota. Qual é, moçada? Não faltam por aí espaços dedicados a esse tipo de zoeira. O Todoprosa tem outros propósitos. Conto com sua compreensão. Obrigado.
Já peguei muitos comerciais involuntários em livros… acho normal. De repente dizer a marca preferida de cigarro da personagem – sem politicamente correto, alguns seres fumam ainda (eu não), nada mais justo de terem direito a fazer isso nos livros…rs. – dá mais concretude ao ato do que só falar “cigarro”. Sem contar que hoje não é raro as pessoas se definirem pelas marcas que usam, pelo tipo de carro, pelo modelo mais antigo ou moderno de celular, pelos locais que vão, mais do que pela personalidade… mesmo sem fins lucrativos, não deixa de ter sua função citar.
Obs.: Lógico que entendi que os trechos citados foram criados de zoeira… antes que alguém pense que estou comentando falando deles.
Esse tópico por enquanto tem de tudo menos o óbvio, que é
“Veja, ilustre passageiro,
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
No entanto, acredite
Quase morreu de bronquite:
Salvou-o o Rhum Creosotado.”
(há controvérsias sobre a real autoria desses versos, que costumam ser atribuídos a Ernesto de Souza, ou a Bastos Tigre, ou ao próprio Olavo Bilac.)
Bastos Tigres escreveu o epigrama de poesia concreta avant la lettre
“Se é Bayer
é bom”
Monteiro Lobato escreveu sobre o Biotônico Fontoura. Ou seja, a realidade, mais uma vez, supera a ficção.
O que você cita é a velha publicidade, Bemveja. Feita por escritores, mas publicidade direta, reclame. Merchandising, esse nome “brasileiro” para o que em inglês se chama product placement, é outra coisa. De pouco tempo para cá, vem tentando se infiltrar na literatura, veja aqui.
Sergio, no caso do Monteiro Lobato, mais ou menos, já que foi uma história inteira do Jeca Tatu (who else?) com inserções comercias do Biotônico. Eu gostaria de ler esse texto, aliás.
ps: o link não está funcionando.
O caso do Lobato com o Biotônico Fontoura é bem mais interessante, sem dúvida, mas não pode ser considerado uma antecipação do merchandising. O panfleto que Lobato adaptou para promover o produto (fabricado por um grande amigo seu) já era proselitista antes disso, uma peça de propaganda destinada a incutir noções de higiene na população. O que caracteriza o merchandising – e o torna uma valorizada ferramenta de marketing – é o modo aparentemente fortuito, “natural”, insidioso com que o produto é encaixado numa história de ambições, em tese, puramente artísticas.
Veja o panfleto aqui.
ps: Consertei o link do meu comentário anterior.
Muito bom o texto do Monteiro Lobato, esse nunca escreveu uma linha que não fosse prazerosa e interessante com a maior simplicidade e despretensão. E não é só o Biotônico, tem o Detefon tb! Obrigado Sérgio.
Sobre o merchandising deliberado em livros etc, mencionado no primeiro link, eu não vejo nada de errado, embora um disclaimer seja necessário. Mas acho que não funcionaria.
Nos anos 80 a Bruna Lombardi resolveu escrever um “romance”. Segundo a crítica da época, bateu todos os recordes de citação de marcas, grifes e pedigrees até então… Não li de medo, reconheço.
Ué, Daniel Brazil, não leu por que? O romance da Bruna Lombardi foi elogiadíssimo pelo Rubem Fonseca…
Saint-Clair,
Bem lembrado…
O Zé Rubem (como dizem os “íntimos” do homem) elogiou mesmo o livro da Bruna…
Eu li aquilo, acredita? Lembro que vi numa biblioteca publica e peguei de empréstimo. Nem me lembro mais do que se trata. A Bruna tinha essa veleidade de ser escritora, intelectual, sei lá… querer ser reconhecida pleo intelcto e não pela beleza.
Ela sempre se achou “diferenciada”, né? com esse lance de ir pros EUA tomar aula de interpretação, conquistar Roliúde… que coisa, não?
Pois é, Odicleuso. Na minha modestíssima opinião, o melhor da Bruna Lombardi é o marido dela! rsrs
Que tal um do Saramago (em As intermitências da morte):
Se tivesse mandado a ti, com esse teu gosto pelos métodos expeditivos, a questão já estaria resolvida, mas os tempos mudaram muito utimamente, há que actualizar os meios e os sistemas, pôr-se a par das novas tecnologias, por exemplo, utilizar o correio eletrónico, tenho ouvido dizer que é o que há de mais higiénico, que não deixa cair borrões nem mancha os dedos, além disso é rápido, no memso instante em que a pessoa abre o OUTLOOK EXPRESS DA MICROSOFT já está filada.