– A literatura brasileira contemporânea é uma imensa montanha de cocô. Não produz nada que chegue aos calcanhares da potência de Machado, Rosa ou Clarice.
– Pra que ir tão longe? Vamos combinar que também não chega aos pés de Raduan ou do Rubem Fonseca dos bons tempos.
– Exato. A literatura virou um espetáculo cheio de som e fúria, mas sem sentido. A tal vida literária tem mais importância do que a arte literária propriamente dita (e impropriamente exercida). Esse circo de festivais, feiras, prêmios, traduções, viagens, oficinas, blogs, networking e o diabo cria uma ilusão de movimento e um verniz de profissionalismo, entre aspas, que encobrem a irrelevância fundamental do ofício.
– Eu diria mais: que mascaram um tédio de cemitério. Por que será assim?
– Porque tudo já foi dito, ora. Como esperar algo revolucionário ou pelo menos renovador num cenário em que os escritores são robôs teleguiados pelo mercado, aprendem meia dúzia de truques, dominam uma técnica mas não comovem ninguém, não arriscam o pescoço, não incomodam, não acessam o novo? Não têm, em suma, nada a dizer? Não admira que o público ignore esses farsantes.
– É o que eu sempre digo. A literatura brasileira contemporânea é pouco lida? Não, a literatura brasileira contemporânea é lida até demais, considerando-se sua ruindade.
– Sabe uma coisa que eu não entendo? Por que esse pessoal não para de escrever e vai fazer algo útil da vida. Por que insistem esses escritores (e todo dia surge mais um lote, meu Deus!) em ignorar meu juízo magnífico, como se eu mesmo fosse tão irrelevante quanto eles.
– E o meu também, o meu também! Ignoram completamente.
– Como isso me irrita, viu? Será que os caras esperam que eu e meus colegas, quer dizer, os dois ou três que não são bestas quadradas… hum, isso inclui você, tá?
– Obrigado.
– Será que esperam realmente que eu me dedique a ler as pilhas de livros que eles produzem, ou antes que se reproduzem feito células cancerosas em plena metástase, para buscar nesse megatumor chamado literatura brasileira as improváveis células sadias que poderiam apontar um futuro menos apocalíptico para as letras pátrias? Hahahaha!
– Hehehe. Só rindo mesmo da pretensão dos coitados. Mas essa frase aí ficou danada de bonita.
– Tomar cada livro em seus próprios termos, dizem. Eu não preciso ler nada, imbecis! Não é que eu não precise ler sem preconceitos, com olhos livres, como recomendava aquele bom samaritano do John Updike. Não é que eu não precise compreender o que cada um está dizendo em sua exasperante especificidade, cada um com suas qualidades e limitações peculiares, para só depois, evitando generalizações grosseiras e sempre provisoriamente, arriscar algumas conclusões sobre um momento de efervescência ímpar na história da literatura brasileira. Não! Tenho pena dos nossos colegas, cada vez mais numerosos, que caem nessa esparrela. Eu não caio: não preciso ler, ponto!
– Apoiado. Não precisamos ler.
– Não preciso ler pra saber o que vocês estão fazendo, seus idiotas: estão sendo previsivelmente idiotas. E ainda por cima ignorando a minha crítica.
– E a minha, e a minha!
– Sou eu que amo de verdade a Literatura, eu que me casei com essa dama ilustre (e agora estou viúvo, que dor), enquanto vocês não passam de cafetões de uma prostituta vagamente parecida com minha amada inesquecível, entenderam?
– Eu também me casei!
– Como? O que você está dizendo, cara?
– Hã, que concordo com você, ué. Estamos juntos nessa revolta.
– Juntos, um cazzo! Quem se casou com a Literatura fui eu, paspalhão. Recolha-se à sua irrelevância, seu resenhista patético de três parágrafos!
27 Comentários
Conheço uma grande quantidade de gente assim que escreve principalmente em blogs, é claro que não estou falando de você Sérgio, eu creio que deva ser a velha e boa inveja do “sucesso” que alguns escritores contemporâneos brasileiros tem.
Olá. Vou criticar o teu texto. Que a literatura brasileira atual (só atual?) é ruim isso todo mundo sabe. Mas sugiro criticar de forma mais fluida. Contei 16 pontos de interrogação no pequeno texto. Um blog supostamente quer informar, não fazer uma pesquisa. Abraço.
Freddy, quem sabe melhora se você tentar pegar o espírito da coisa. Ler o comentário do Tiago pode ser um começo.
Acho tão ruim que não leio nada de escritores nacionais há muito tempo. O texto de brasileiros, hoje, representa a vacuidade nacional. Entramos no ocaso da literatura brasileira, talvez reflexo do construtivismo na escola, na era da mediocridade de Lula na política, enfim da inescapável sensacão que o brasileiro não tem vida intelectual profunda, não pensa, sem sensibilidade, sem leitura, enfim, um medíocre. Pena. Reconhecendo o problema, quem sabe daqui a uns 30 anos este quadro mude.
DESCONCERTANTE
Os atuais escritores brasileiros são uns desdenhosos: não obstante serem rasos, ligeiros e estreitos, e sem especial ou quase nenhuma vocação para o universal e cosmopolita, se mostram muito anchos – cheios de si e pouco afeitos a larguras éticas, estéticas e morais, e mesmo intelectuais. Facilmente apelam ao insulto, a definições rasteiras e falsas e aos palavrões – “Fascista! Nazista!”, como se tais posturas lhes conferissem o que lhes falta: talento genuíno. Evitam o palavrão “comunista!”, irmão siamês do Nazismo, porque supostamente o socialismo utópico não corresponderia ao sanguinário socialismo real, que matou milhões, muitos dos quais foram mortos porque “relutavam em perder liberdades: direito a propriedade e a livre manifestação de pensamento e crítica”. E ao atribuírem suas falhas de formação às suas origens – às hereditárias de família e as histórias da alma nacional –, ao meio, a cultura e até mesmo ao idioma, e a mediocridade de suas obras ao mercado e à velocidade do mundo, não são convincentes. Muito exibidos; pouco exigentes. Vítimas sim, mas da própria arrogância, empáfia e falta de apuro. Os escritores brasileiros atuais se dedicam mais a ostentação do que a literatura: não são notáveis pelos valores inerentes de suas obras, se são notados por rasgos de soberba – e ideologia.
Não bastasse se põem todos à esquerda – são muitos sociais.
E entre eles, uns se dizem a favor da democracia. Pela liberdade, portanto. Mas as ideias que defendem, pelas omissões e por determinados silêncios se valem da democracia para, sobretudo, mascararem o que de fato lhes é caro: o apelo latino-americano ao social e ao populismo. São mais doutrinados que críticos. E os que se querem profundos se mostram tão-só uns enfatuados.
Os nossos jovens escritores são velhos como nossos escritores velhos, que também já eram velhos quando jovens, porque a literatura que fazem nasce contaminada por reducionismos, entre outros os sociológicos – e ideológicos.
E o pensamento de nossos autores, expresso em artigos, então nos jornais e agora na internet, nos últimos cento e 15 anos se não versam diretamente, tem viés de ideologia social, quer tratem de cultura, política, antropologia, economia, poesia e literatura, futebol ou metalinguagem. Esclareço que o pensamento a que me refiro não se restringe aos artigos e nem excluem os folhetins que depois deram em livros, tampouco as postagens feitas nos blogs que acabam publicadas como e-books.
Como resposta a pergunta: para que acumular tanto conhecimento no cérebro se na memória virtual cabe mais informações que qualquer homem consiga arquivar em toda sua vida?, João Ubaldo Ribeiro aludiu à erudição como algo sem sentido face à internet. Ora, todo e qualquer conhecimento e toda e qualquer informação é inútil se não serve à inteligência – e à emoção; se não serve, portanto, a algum propósito: nem que seja o de recombinar tudo e dali gerar um conhecimento novo ou renovado, uma informação nova ou renovada – inove: se processe um banco de dados, se rememore um momento que nos tenha marcado a existência. Eis o problema da intelectualidade literária brasileira: mexe, recombina, mas não produz um pensamento novo – e inédito, ou inovador. Ao invés disso, se repete – e envelhece.
É surda e também não se faz ouvir. E as razões dessa incomunicabilidade não são as alegadas: não vivemos mais os tempos de Leon Tolstói – dos romances abrangentes; estes tempos de agora são, metonímicos, metaforizam, os dos fragmentos e, rápidos, exigem o sucinto, o breve e atômico. A verdade é que os autores atuais, os brasileiros notadamente, não conseguem abarcar duas grandezas e complexidades que são indissociáveis: a continental do país e a incomensurável da língua – e ego, isola, não faz ponte, não liga o continente ao mundo. Ademais, grandeza não tem tamanho, o apuro a determina. O apuro é que importa – e comporta: uma página pode equivaler a muito além de um livro inteiro e a mais que bibliotecas. A carta de Pero Vaz de Caminha é anterior aos Lusíadas, aos Os Sertões e os abrange e, ponte, liga estas duas e mais todas as grandezas entre Portugal e Brasil, entre a Europa e a América.
A bazófia, em que se conjuga empáfia e, em tons de todo o espectro do arco-íris, nacionalismo é não somente um traço comum aos nossos literatos – e políticos – mas o que também senão nos inibe, gera antipatias: o mundo não reconhece nossas letras e os nossos intelectuais não formulam nada que provoque algum deslumbramento, ao passo que os deslumbra qualquer “pensamento” que aluda a “multuculturalismo”, “justiça social”, “grupos de resistência armada ou mesmo terroristas – Farcs, Hamas, Boko Haram, Estado Islâmico e quaisquer outros em que se junte e se misture a utopia do bom selvagem, da igualdade e do “fim da pobreza”. Sendo que – e desde que –, paradoxalmente, o “fim da pobreza” não signifique o enriquecimento e emancipação individual. Não entendem que onde o capitalismo foi substituído pelo dirigismo político autoritário e o centralismo econômico, não houve, como prometido o fim, mas a socialização da miséria: os ricos ficaram pobres e os pobres não enriqueceram. Viram-se ainda mais miseráveis, vez que até pensar lhes foi proibido – e só se permite escrever engajamentos. E, onde ainda o comunismo vigora, abre-se ao capitalismo. Suprema ironia: a China comunista pratica o capitalismo que o comunista Karl Marx criticou – o selvagem; e a Coréia do Norte segue sendo um atestado do que é o comunismo: tirania e miséria. As heterodoxias econômicas – a planificada comunista e a falência desenvolvimentista brasileira – também atraem os nossos dirigentes e anima a falácia intelectual de letrados – e de poetas e escritores. Tenha-se, por exemplo, que superestimam a ditadura militar/civil e seus efeitos para fazerem o elogio do “fim da pobreza”, promovida, segundo eles, por aqueles que “lutaram” contra “os anos de chumbo”, mesmo que a verdade brasileira, então e agora, era e seja outra. Há conexões entre o Estado de Getúlio Vargas e o golpe militar de 64: ambos se opuseram ao comunismo, embora, por certos vieses aquele primeiro o tenha tangenciado. Sendo que o comunismo sindicalista que ensejou o golpe meia/quatro é cria tardia – e retardada – do trabalhismo de Vargas. Lula também é cria retardatária e metamorfoseada desta esquerda, embora uma esquerda pós Thatcher – os ingleses promoveram a revolução industrial, o liberalismo, foram colonizadores de meio mundo e deram origem a maior Democracia e Império de todos os tempos que é a América e, não bastasse deram, involuntariamente, matéria para originar a mais influente e nefasta ideologia dos tempos modernos, a barbárie que iram combater: a comunista de formulação marxista, anti-capitalista. O trabalhismo britânico foi enquadrado pela liberal – e democrata – Margaret Thatcher. Mas a inspiração brasileira continua sendo os irmãos siameses latino-americanos do atraso: o caudilhismo e o populismo que incorporou e se encorpou com “os trabalhadores”. O ícone brasileiro destes, Lula, não se projetou se opondo propriamente a ditadura, mas se aproveitando de seus estertores. Opositor, Lula sempre foi e tem sido da democracia e do país – atrasa este e trava aquela. Desdenhou da constituição democrática de 88: ele, deputado constituinte e seu partido não a homologaram,a consideram “de direita”, embora prenha das desovas dos “ideais” de seu partido e seu, então futuro, governo; opositor do plano real, das privatizações das teles, do saneamento do sistema financeiro e da reinserção do Brasil na rota do capital financeiro mundial e, por fim, opositor das reformas. A não defesa da privatização da Petrobrás, bem exemplifica os feitos desta mentalidade cultivada por ele e os seus e sua herdeira direta, Dilma: corrupção, inflação e os desarranjos provocados pela heterodoxia petista – e populista – na economia. Ele, e eles e ela, ainda clama pelo fim de um dos pilares das sociedades livres – a imprensa. Ou seja, em certa medida, em tudo se assemelham ao que, de fato, nunca se opuseram: o autoritarismo – ao qual hoje estende as mãos e se conhece como Bolivarianismo, o socialismo do XXI. Antes de dar termo a essas digressões deste extenso parágrafo, um último exemplo do ideário nefasto de esquerda que trava a democracia e atrasa o país: a não realização, entre outras, da reforma trabalhista implica em criminalizar o mercado e punir trabalhador, as peças chaves em que engendram o Capitalismo. Como? É “política social”(populista/eleitoral) o governo “dá”, através do Bolsa Família, 300 reais mensais ao “cidadão”, mas assinar carteira de trabalho pagando salário de 300 reais é crime – talvez isso explique que ao invés de acontecer um natural distribuição, haja, a longo prazo, concentração de renda. Isto desde que Getúlio Vargas, inspirado na Itália de Mussolini, instituiu os direitos trabalhistas, com forte apelo ao estadismo – e populismo – e o forçoso engessamento da iniciativa privada e do mercado, que com tantas obrigações gera diversas distorções: encarece o custo de produção e aumenta o preço das mercadorias e, excludente, gera a informalidade bem como alimenta, pela elevação do desemprego, a pobreza…tudo porque o Estado dita o mercado, onde o mercado deveria, por suas próprias engrenagens estabelecer valores, como por exemplo, dos salários – os máximos e os mínimos: os dos CEOs e os dos térreos.
Essas voltas circulares e obtusas da esquerda foram exaltadas pelo “poeta engajado – da causa, portanto –” Ferreira Gullar. Criticando a ditadura militar/civil brasileira, que o perseguia, lamentou: “Embora o pão seja caro. E a liberdade pequena”. E ao mesmo tempo elogiava a ditadura que almejava para o mundo e o seu Brasil – a comunista: “Olha,/ você é tão bonita quanto o Rio de Janeiro/ em maio/e quase tão bonita/ quanto a Revolução Cubana”. E a contradição do versejador é apenas e tão-somente aparente. Na verdade, não há. O que há é não só, e somente, por parte do poeta e de incontáveis deslumbrados, convicção: a ditadura brasileira representava o que repugnavam por direita – e ainda hoje hostilizam por neoliberalismo, burguesia e capitalismo – enquanto a “Revolução Cubana” correspondia ao ideal que lhes era mais caro, o socialista. Então, como agora, não entendiam que a ditadura militar/civil brasileira e o comunismo eram a negação mais que a da democracia – e do indivíduo. A negação da liberdade em particular e da independência individual, no geral. Para essa gente a democracia era e é “quase tão bonita quanto” a tirania. Só tarde descobrem que a liberdade é o patinho feio e que a realidade sem utopia não tem nada de bela – a beleza não está na perfeição.
Nessa mesma linha o mais recentemente equivoco rufou em Frankfurt: para fazer o elogio da esquerda, contemporizar com suas falácias e se auto-elogiar: o escritor Luiz Rufato borrou um painel em que à crítica “de conveniência e, talvez, gratidão pela bolsa literatura” quis tanto quanto denunciar para o mundo, revogar a história do país, desde a descoberta, a colonização, os horrores da escravidão, a bendita ditadura/civil militar até o momento em que Lula ascende ao poder e o Brasil começa, enfim e segundo entende, a corrigir “as injustiças iniciais e de formação do Brasil”. E dizendo está só: apontou os seus companheiros de utopia, entre os quais estão todos que o aplaudiram e são da mesma corrente, há anos dominante. O discurso de Rufato, na Alemanha, soou como uma peça de propaganda, a um só tempo, míope e maniqueísta: apontou negativamente a História do Brasil para salientar os feitos positivos e saneadores (segundo o que deixa transparecer) do governo que lhe bancou a ida a Alemanha.
O que, portanto, os perturba – e conturba –, aos nossos dirigentes e aos nossos literatos, é o que nos permite, quanto aos primeiros, contrariá-los e, aos segundos, antipatizá-los: mesmo nas democracias a independência intelectual incomoda.
Mas, como assinalado, a maioria é adesista. Intenta corrigir “injustiças históricas” promovendo distorções. E nomeia seus equívocos de “Bolsa Família”, assistencialista programa de manipulação eleitoral; de “Cotas Para Negros”, programa de duplo efeito: discriminatório, “aponta a inferioridade intelectual dos filhos da escravidão” e, anti-democrático, exime o Estado de promover condições que permita a todos, independente de cor e condições econômicas e sociais, o acesso, da creche ao ensino superior, à educação que de fato emancipa – a da meritocracia. Não bastasse, empedernidos sensíveis, intencionam deter o monopólio das virtudes, atolados – com os porcos de A Revolução dos Bichos – em vícios e vicissitudes, e mamando, (os literatos recebem a “bolsa tradução”, de outro modo não há, dizem, interesse do mundo por suas obras), nas – permitam-me a redundância metonímica – leiteiras tetas do governo, a vaca engasgada de tanto tossir.
E por que insisto em relacionar história, política e literatura? É que esta última reflete, flerta com e até repete as duas primeiras. E mais grave: às vezes visa legitimar política – o que é muito corriqueiro também entre jornalistas, mui particularmente entre os opinativos. E bater bola é sim reforçar o estereótipo da pátria de chuteiras – disso, aliás, nem Lula se furta: populista dribla tudo e a todos com a bola na ponta língua.
Claro, a grande literatura tanto como a crítica exercita a ambiguidade – e é exigente.
Não é feita para agradar, ou angariar simpatias – não se maquia nem usa photoshop. Talvez para que o individuo livre de ideologias e de doutrinas – e de literatos – respire.
© by Rogerlando
Muito interessante e corajoso o comentário do Sergio. Seu livro o Drible, por exemplo, em que pese a engenhos idade do enredo e o tema – o futebol-, tem excesso de comentários desnesserarios do autor implícito.
ironia.S.f 1. Modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem.
Não posso me juntar ao gordo e ao magro porque simplesmente não li nada publicado depois de “A hora da Estrela”. Não posso dizer,então, se, a meu ver, a nossa ou qualquer outra literatura contemporânea presta ou não presta.Suspeito que preste.Mas isto é pouco para despertar meu interesse.
Quero muito mais do que isso embora não saiba dizer o quê.
O Brasil é um país de gente de QI muito baixo (escola não muda biologia), então é natural que poucos sejam leitores. Mas sempre vejo pessoas lendo gringos no metrô. A literatura nacional é panfletária e ideológica, muito chata, é igual aos filmes nacionais, parecem cópias estragadas, falta história, falta personagem e sobra “atitude” e pretensão.
Quanto mais olho para o Brasil mais vejo a África.
Embora a crítica literária seja um pé no saco tenho que concordar com ela quando afirma que tudo já foi escrito.Isso acontece também na música e no cinema.Não há como fugir dos “clichês”.
Prezado:
Entendo a sua revolta contra a qualidade da literatura nacional. A questão, todavia, é que precisamos de ver a coisa como um todo. Hoje é fácil para qualquer um escrever, tal como foi mostrado no texto, sendo o resultado disso uma grande quantidade de lixo, especialmente se levarmos em consideração a PÉSSIMA qualidade do ensino fundamental e médio (o superior não é muito melhor). A literatura Brasileira, hoje, precisa de ser dividida em erudita e popular, alias como é de se esperar. As coisas são dinâmicas e Machado de Assis (ou qualquer outro que represente essa época) é um grande escritor, mas quem gosta realmente dele nas escolas hoje em dia? Um em cada dez mil? Atualmente há muito lixo, sim, mas também há mais leitores do que antes. Há que se adaptar aos tempos modernos e às preferências. Hoje livros falam em internet, celulares, redes sociais como sendo parte do cootidiano e isso não existe na literatura do passado, o que torna as histórias sem muito interesse para os jovens de hoje, como olhar para uma fotografia em preto e branco (que eu amo muito) contra uma repleta de cores, brilho. O senhor comparou a Literatura com uma mulher com quem se casou… sinto dizer, mas a mulher evolui com o tempo e a mulher de 1900 não é a mesma de 2000. Embora seja incorreta a analogia que vou usar a seguir, atrevo-me a dizer que a sua esposa está velha, acabada.
Retire do grande grupo de livros nacionais contemporâneos o lixo (afinal nem todas as mulheres são belas, mas todas são mulheres) e vai encontrar muita coisa bonita e bacana, desde que mantenha a sua mente aberta. E lembre-se: fazem muito lixo porque leem muito lixo, mas o pior que eu já vi é material de qualidade ser rejeitado por editoras grandes em detrimento de porcarias repletas de erros gramaticais e ortográficos. Isso sim, é imperdoável.
Saudações e felicidades,
Nuno Figueiredo (escritor iniciante)
Caro, sugiro-lhe reler o texto levando em conta o distanciamento irônico (machadiano, se quiser) do autor em relação aos personagens que travam esse diálogo. Não sinto revolta alguma contra a “qualidade da literatura nacional”, que a meu ver passa por um momento interessantíssimo. Um abraço.
Ironia finíssima! Adorei o ponto de vista! Um abraço
Ironia fina. Para variar, mais um texto ótimo do Sérgio. E por ser ironia, é óbvio que ele pensa o o posto do que está explícito.
Mas apesar de admirá-lo e a seu texto, não concordo com a mensagem implícita. Acho a literatura brasileira rasa, maçante e no máximo, agradável. Como bem colocou nos comentário so leitor Nahilson “Quero muito mais do que isso embora não saiba dizer o quê.” Falta ousadia? Ou isso é o máximo que temos no momento? Há quanto tempo não surge algo nas letras nacionais que comove realmente, uma obra que com o passar do tempo ganhe o adjeitvo “clássico”? Me veio à cabeça o “Quase Memória” do Cony (e olha que ele não estaria nem entre os 50 mais da nossa lietratura). Será que é isso mesmo? Quando seremos surpreendidos?
Impressionante a quantidade de malucos nessa área de comentários, com todo o respeito. Seus doidos, vocês não entenderam nada.
Que interessantes esses comentários.
Este é o blog mais interessante de Veja. Mas não posso crer: alguns estão criticando a literatura brasileira aproveitando para criticar o governo Lula e a educação. O que uma coisa tem haver com outra? Um texto literário se consolida em décadas e não no mandato de um governante. Aliás, a literatura brasileira atual nem é tão “política”. Penso na heterogeneidade de autores como Marçal Aquino, Cristóvão Tezza, Bernardo Carvalho, Isaías Pessotti, João Gilberto Noll…
Gostei mais dos comentários que da critica.
Rogerlando e Nuno Figueredo – de forma diferente mas interrelacionada.Conseguiram elaborar um texto coerente sobre a realidade nacional.
Eu acrescentaria o dinamismo do mundo moderno e sua mudança.Particularmente eu preferiria alguém que falasse a mim como individuo dentro do meu contexto social– Uma aventura no lixão de Niterói, ou algo sobre o transito seria bem legal.Até mesmo os críticos, falta critico de literatura focado em estilos ou em escritores.Toda essa globalização sobrecarrega os críticos que acham tudo uma grande “Bosta” porque tentam agarrar esse novo mundo literário.A verdade é que não valorizam a raridade, tudo inclusive a arte, parecem vindos de uma linha de produção asiática.Tudo muito seco, sem vida, sem significado emocional.
Gostei em parte do seu texto quando diz:
“– Não preciso ler pra saber o que vocês estão fazendo, seus idiotas: estão sendo previsivelmente idiotas. E ainda por cima ignorando a minha crítica. ”
É disso que estou falando, ignoram porque você não tem identidade com eles.É de uma outra tribo, de outra esfera.É como um desconhecido opinativo.Você está agarrado ao passado, a época que bons e maus escritores poderiam ser lidos em um turno de 40 horas de trabalho.
Agradeço a todos pelos comentários. É bom ver um debate ou coisa parecida sobre esse tema. Só lamento que, mesmo com a foto do Gordo e do Magro ilustrando o post, tenha escapado a tantos o distanciamento irônico que mantenho dos personagens que travam esse diálogo. Não acredito ter sido tão sutil assim na exposição de seu ridículo e estupidez, provavelmente menos do que Machado no diálogo de “Teoria do Medalhão”, por exemplo. Talvez o peso excessivo de um juízo prévio inapelável (“a literatura brasileira atual é horrível, todo mundo sabe disso”) explique a leitura deficiente. De qualquer forma, o mal-entendido me deixa preocupado porque, sem uma massa crítica de leitores capazes de ler além da superfície – de ouvir a blue note do texto, digamos – nenhum ambiente literário tem como se sustentar. É nessa sintonia fina que mora toda a literatura. Fico pensando se será isso, afinal, o que falta principalmente à boa literatura brasileira que se escreve hoje: encontrar mais gente que não apenas queira lê-la, mas também que saiba ler. Abraços a todos.
Prezado Sérgio
Adorei o diálogo. Só um quase analfabeto não consegue perceber a deliciosa ironia com que você o escreveu. Bons textos como esse mostram o muito de ridículo que nós todos carregamos.
Para não ficar sempre acusando os outros, é bom olhar-se de vez em quando no espelho. Por isso, preciso confessar que vejo nesses personagens um pouco de mim mesmo. Admito que, sim, ler literatura contemporânea, especialmente a brasileira, dá preguiça. Dá preguiça porque o trabalho crítico do leitor é mais difícil. Os livros novos nos chegam sem o verniz dos clássicos, sem a chancela do tempo. À preguiça se junta o medo de perder tempo com obras ruins.
Falei mal da literatura brasileira contemporânea durante muitos anos, e conversando com meus botões fazia críticas parecidas à do diálogo acima. Eu não precisava ler para saber que aqueles livros eram ruins, ralos, desinteressantes, mal escritos.
Eis que tento uma, duas, três obras: opa, no meio das três, uma é excelente: Chove sobre minha infância, de Miguel Sanches Neto. Uma obra-prima, a meu ver. E ela me leva a outros livros, alguns bons, outros ruins. Comecei a ler com mais regularidade a literatura dos nossos contemporâneos. E descobri muita gente boa. Eu não hesitaria em incluir Cristovão Tezza, Milton Hatoum, Rubens Figueiredo e um certo S. Rodrigues entre nossos novos clássicos. Outros, que são incensados por certa crítica, já não me apetecem tanto, como Chico Buarque e Luiz Ruffato.
Quer dizer, parei de desprezar uma parte da literatura simplesmente por ser ela brasileira e, ainda mais, contemporânea. Há coisa muito boa por aí. Aquela atitude “não li e não gostei” pode ser chique e sedutora para muitos, mas é, ao final, meio boba e infantil.
Caro Henrique, obrigado pelas palavras gentis. O que você diz é verdade, o contemporâneo dá mais trabalho, induz mais ao erro. Fico muito contente de saber que você resolveu encarar o tumulto e que tem se sentido recompensado por isso. Um abraço.
Prezado Henrique.
Agradeço o puxão de orelhas,
tomei nota das sugestões,
prometo me emendar.
Neste momento fico com Octavio Paz…
A última frase de texto me fez lembrar de um livro de polêmica literária (e que polêmica!), escrito pelo Afrânio Coutinho: No Hospital das Letras. Quem nunca leu, leia. O autor usa de alguns dos argumentos que estão aqui — mas da época dele–, não ironicamente, mas como coisa prática e exemplificativa. Parece uma luta de críticos literários num ringue, com chute nas partes baixas e dedo no olho. No posfácio, revela-se o ‘rival no ringue’, o crítico oposto a ele e para o qual “muitas das análises e alusões contidas nas páginas anteriores” foram escritas.
Acho que a maioria dos comentadores não percebeu que o texto é uma ironia porque muito do que o texto tenta ironizar é simplesmente verdadeiro. Hoje vive-se o paradoxo de ser possível viver da profissão de escritor, mas não da venda de livros. Não se precisa de leitores, precisa-se de uma plateia. E é assim que chega-se ao ponto em que Fernanda Torres é considerada uma grande romancista, num jogo constrangedor, como diz o crítico João Cezar de Castro, em que predomina a “ação entre amigos” e a “reiteração de velhas práticas”.
Num ambiente assim, em que críticos se omitem de criticar, o que se pode esperar da literatura brasileira?
http://rascunho.gazetadopovo.com.br/os-produtores-de-texto-e-a-escrita-expressa-2/
Brilhante texto. Fina ironia.
Qualquer crítica construtiva é bem vinda. Mas tenho que discordar, a literatura brasileira sempre foi e sempre vai ser genial, eu tenho muito orgulho!
É…Eu tenho esperança de mudar esse quadro, quando os meus romances “Longe do mundo” (já disponível para venda on-line)e “SENSAÇÕES ALHEIAS” (em fase final) conseguirem a atenção do grande público e dos críticos…
Gostei demais de tudo, inclusive dos comentários!
Abraços