“O único final feliz para uma história de amor é um acidente”, de João Paulo Cuenca, na ficção nacional, e “2666”, de Roberto Bolaño, na ficção estrangeira, foram escolhidos os livros de 2010 pelos leitores do Todoprosa, numa disputa que mobilizou 1326 votos (veja abaixo).
Logo após o início da votação, no último dia 8, o tijolão de Bolaño disparou na frente e deixou claro que “Solar”, de Ian McEwan, o segundo colocado, teria poucas chances de alcançá-lo. Chegou ao fim com 41% dos votos, contra 20% do principal concorrente.
A disputa nacional foi mais animada. Evidentemente turbinados por campanhas de caça ao voto na internet, João Paulo Cuenca e Elvira Vigna, de “Nada a dizer”, monopolizaram a competição até o fim, deixando Cristovão Tezza, Dalton Trevisan e Adriana Lisboa – esta, minha favorita pessoal com o belo e maduro “Azul-corvo”, seu melhor livro – com uma magra votação de coadjuvantes. A arrancada de Cuenca nas últimas 24 horas de votação lhe deu a vitória com 40% dos votos, contra 34% de Elvira.
Pode-se discutir, claro, a validade de uma eleição que deixa em pé de desigualdade tão flagrante livros que contam com fãs interneticamente ativos e livros que apenas estão lá, dirigindo seu apelo ao leitor avulso e tratando o meio digital como se fosse a velha imprensa de papel. Mas será uma discussão vã. A brincadeira é essa mesmo – com ênfase na brincadeira, por favor.
Bolaño e Cuenca são campeões dignos. Como já disse aqui, o ambicioso “2666” me decepcionou, embora tenha suficientes bons momentos em meio às páginas de prosa desleixada para sugerir que, se não estivesse correndo para terminá-lo antes de morrer, o escritor chileno teria provavelmente se dedicado a uma revisão profunda que o deixaria no mesmo plano estético de “Os detetives selvagens”, um romance superior em que o estilo prismático e deliberadamente difuso de Bolaño nunca descamba para a dispersão e os toquinhos para o lado. Mesmo assim, é um trabalho de fôlego que fechou a carreira de um escritor brilhante – e o hype advindo daí fez o resto.
O livro de Cuenca foi comentado extensamente aqui no blog, em dois posts longos, o que basta para atestar a importância que atribuo a essa novela pop que tira sua força – e também sua fraqueza – do fato de ser mais leve que o ar. Ao lado de um romance como “Areia nos dentes”, o faroeste com zumbis de Antonio Xerxenesky, “O único final feliz…” representa uma corrente da nova ficção nacional que parece interessada em captar um certo “instinto de internacionalidade”, valorizar a arte narrativa e ao mesmo tempo transcender o realismo.
E que venha 2011.
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12 Comentários
Só li duas crônicas do Cuenca em toda a minha vida e ouvi comentários tolos dele na Globo News. Ferramentas suficientes para atestar que esse cara nada mais é que uma falácia. E que se dê por satisfeito.
Que venha 2011, por favor.
Não li o livro de Bolaño, mas o do Cuenca é ótimo – mesmo! 🙂
Dois livrinhos dispensáveis…
Dalton Trevisan era meu favorito. Gostei do seu livro e confesso que Um
Erro Universal estou acabando de ler. Ganhei-o de presente de um medico amigo meu. Penso adquirir o Solar, de I.McEwan, auto-regalo. Enfim, gostei das premiaçoes e sempre torço que as pessoas leem sempre!
Vou entrar com um recurso contra essa decisão. O livro do Pynchon foi descaradamente prejudicado já que recém lançado. Pouca gente teve tempo de ler, até porque ainda não se encopntra facilmente por aí. Garanto que se tivesse sido lançado em março o livro (meu voto)garantiria o terceiro lugar. Abraço
Votei no Bolaño, no entanto, a nível de aprendizado, gostaria de ver expostos de maneira mais esmiuçada seus problemas, assim como foi feito com o livro do Cuenca.
Esse Roberto Bolaño é a cara do Azevedo.
É, de fato a diferença é gritante entre o primeiro colocado e a última. Ainda mais quando se sabe que Adriana Lisboa é uma ficcionista brilhante.
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