Livros, instruções de uso: declarar em público que não se leu o “Ulisses” e muito menos “Em busca do tempo perdido” (isso, que antes era inconfessável, agora se faz muito porque fala às claras de alguém que, de tanto que leu, pode declarar tal ignorância sem ser tachado de burro). Jamais dizer nada de mal sobre “Uma confederação de estúpidos”, de John Kennedy Toole (a mesma regra é válida para qualquer título de Hunter Thompson, quando se está na companhia de jovens jornalistas). Evitar as seguintes discussões, por perigosas, com companheiros queridos ou amigos próximos: a favor ou contra “Psicopata americano”, de Bret Easton Ellis; a favor ou contra “As partículas elementares”, de Michel Houellebecq; a favor ou contra “As correções”, de Jonathan Franzen; a favor ou contra “As benevolentes”, de Jonathan Littell. Mencionar em qualquer encontro, pelo menos uma vez, Berger, Sebald, Pessoa. Dizer, sempre que surgir a ocasião, que Sándor Márai é chato. Dizer, com o olhar perdido no fundo de um copo, que Truman Capote era manipulador. Dizer, com um suspiro, que os romances de Cortázar envelheceram mal, mas em compensação, ah, seus contos.
É uma delícia de fino humor – e sob o mais banal dos pretextos, o das recomendações de presentes literários de fim de ano – o artigo “A linguagem muda”, de Leila Guerriero, na última edição do “Babelia” (em espanhol, acesso livre). O subtexto é claro: cuidado com o que você dá de presente, o terreno é movediço e as conotações, infinitas – a vítima pode ser você.
Ao mesmo tempo que joga luzes sobre essa linguagem de segundo grau em que livros e autores se tornam “bandeiras, declarações de princípios”, ciente de que é impossível escapar à sua malha, a autora sonda com sutileza o que pode haver de pose e impostura em tais redes de afinidades e rejeições da moda, apontando para um dos mais fugidios objetos que se pode imaginar: aquilo que nós, leitores, quanto mais lemos, vamos perdendo de puro deleite e generosidade diante dos livros.
Leila resume tudo numa pergunta tão bobinha quanto profunda: “Será ou não um preconceito pensar que não há exceções à regra segundo a qual nada de bom se pode esperar de quem responde ‘Fernão Capelo Gaivota’ à pergunta ‘Qual é o seu livro preferido?’.”
22 Comentários
É uma pena que pessoas levem o esnobismo e o preconceito tão longe, a ponto de julgar pessoas pelo que lê.Infelizmente não precisamos ir longe para ver destas coisas.Que bom seria se todos amassem LER.Desde Thoreau até almanaque e bula de remédio
Li, sim, Fernão Capelo Gaivota, e para a época, tinha 16 anos, achei o máximo. A propósito: legal a sua dica, Sérgio, para Machado. Gosto dele, mas, sinceramente, não o conheço a fundo, fora o clássico do Roberto Scharctz e algumas outras coisas. Também fico com os contos de Cortázar, são excelentes. Bom para lê-los num hotel decadente do centro de Buenos Aires, em plena noite do dia 25, soltando uma gargalhada sonora aos primeiros badalos dos sinos das igrejas, à meia-noite. Mais como uma superação para a nossa época, e um brado forte para a literatura e o seu grande poder de persuasão, do que propriamente por qualquer deboche de fim de ano.
A propósito…….Não era o Pato Donald que ficava brigando com os simpáticos(e malandros )esquilinhos?
Eu aceito livros de presente, doação de livros, livros usados, novos, lidos ou não… pode me dar um Ulisses de joyce que eu aceito na boa… Sério mesmo.
Vamos combinar…Eu mando pra voce de presente O Pêndulo De Focault ,voce lê e depois me explica?
Porque, Barrabás, não sei o quanto sou iletrada,mas não entendi nada!
Pêndulo de Focault? Hummm…Desculpe, mas este título só me reporta a um velho ditado popular: tudo que balança cai.
Feliz Natal!
Que pena que nas sugestões todas, acima, pouco se fale dos nacionais e contemporâneos… Preconceito por preconceito, esse é um. Quanto ao livro ser uma “bandeira”, qualquer presente o é: tb cd, roupas, etc. Há sempre que se cuidar em tentar agradar o presenteado, contemplar seus gostos, eis a regra principal. Com livros a mesma coisa. não vá se dar um Pessoa para quem se compraz com gibi. Nem um Pequeno Príncipe para quem deprecia Fernão Capello Gaivota… é falta de sensibilidade.
…é quase uma resposta àquele seu texto da ilha, não é…
Fui lá no original e, curiosamente, li tanto os livros “de meninas” que ela menciona como os “de meninos”. Falta de direção na vida é um problema…
Sobre mim (parece que a egolatria anda na moda, por isso é justo que fale de mim), digo que:
a) penso muito mal, mal mesmo, de quem declara que seu livro dileto é Fernão Capado e Boiola;
b) sou capaz de esmurrar quem ousar dizer que Sandór Marai é “aburrido”;
c) daria um pé na bunda da garota que, num primeiro encontro, me aparecesse com um livro debaixo do braço (a não ser, claro, se fosse uma gostosa de parar o trânsito);
d) sairia de perto, como se estivesse diante de um leproso, se alguém me abordasse com perguntas idiotas do tipo: qual livro você salvaria num naufrágio?
E que, como Jesus, perguntássemos:
– Entendes o que lês?
Já que está na moda, eu tentei ler Ulisses e não consegui…mas ainda não desisti, acho que na próxima vai.
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Na dúvida, Booklamp ( http://beta.booklamp.org/ ).
“BookLamp.org matches readers to books through an analysis of writing styles, similar to the way that Pandora.com matches music lovers to new music…”
concordo plenamente com você Cely,
LEITURA. o mundo precisa ler. ler, ler.
ler e amar.
Feliz Natal!!!!
Pra voce também Pedro! E um feliz Ano Novo! . Com muitos livros e muito amor……
Todos torcem o nariz para os livros do Paulo Coelho, e esquecem que ele é dos poucos autores que conseguem fazer com que um número enorme de pessoas leia. Adianta fazer alguém ler Joyce, Saramago, Eco, Neruda, se não entendem o conteúdo ? Melhor deixar ler desde gibi à bíblia, o tempo e o hábito formarão o leitor.
Acho que perdi tempo lendo a matéria, mas era curta, valeu a pena? Lí sim gaivota sonhadora e jamais leria alguns citados. É por isso que os autores nacionais não vendem livros, só aqueles que vendem ilusões, como bruxas, magos e outras coisas do gênero. Convido o autor e aos brasileiros a ler os nacionais, aqueles que ficam nos fundo das livrarias, que tal, Wilson Guanais, Cynthia Aguiar e o meu mesmo, O Paraíso para quem gosta de ficção. Ler é bom porque cria o senso crítico, mas chega de vampiros americanos, segredos para vencer na vida, etc, duvido que você não leu.
Acho que perdi tempo lendo a matéria, mas era curta, valeu a pena? Lí sim a gaivota sonhadora e jamais leria alguns citados. É por isso que os autores nacionais não vendem livros, só aqueles que vendem ilusões, como bruxas, magos e outras coisas do gênero. Convido o autor e aos brasileiros a ler os nacionais, aqueles que ficam nos fundos das livrarias, que tal, Wilson Guanais, Cynthia Aguiar e o meu mesmo, O Paraíso, para quem gosta de ficção. Ler é bom porque cria o senso crítico, mas chega de vampiros americanos, segredos para vencer na vida, etc, duvido que você não leu.
Não vá na conversa do cara que leu ou está lendo que vc pode cair do burro. Dê uma checada no autor e no enredo e mande bala. Se vc leu e vai ver o filme, ótimo. O contrário não dá muito certo. Ler é estar com o espírito preparado e vontade.
Cely,
manda mesmo? Eu aceito, sério…
mando sim….
mas pra onde????
e tem também aquela condição, voce tem que me explicar depois!
eu fui ler com tanta vontade achando que seria bom como “o Nome da Rosa” e não entendi bulhufas……..
Sérgio….qual a origem de bulhufas?
Livro de presente é tiro certo. Se não sair pela culatra | Todoprosa - VEJA.com