Livro do ano é pouco, vamos falar do livro da década! A sanha das listas de fim de ano levou o programa “Espaço Aberto Literatura”, da Globonews, a promover em seu site uma interessante enquete com a intenção de fechar uma lista dos melhores títulos literários nacionais e estrangeiros (predominantemente de ficção e poesia, embora apareçam algumas obras de outros gêneros) nesses primeiros dez anos do século 21.
Tem graça? Claro que tem. Listas são bobagens, mas isso não as condena à inutilidade. Tentar recapitular uma década inteira é ainda melhor – porque envolve uma luta mais difícil com a memória fugidia – do que escolher os destaques de um único ano. Naturalmente, o grau de risco da tarefa também é maior.
O “Espaço Aberto” tomou como ponto de partida para sua enquete as listas pessoais de dez profissionais ligados de formas variadas à literatura: André Seffrin, Claufe Rodrigues, Edney Silvestre, Flávio Carneiro, Heloisa Buarque de Hollanda, Humberto Werneck, Livia Garcia-Roza, Lucia Riff, Luciana Savaget e Ricardo Costa. No site, é possível consultar os dez títulos de cada um, embora, de forma meio confusa, apenas três de cada relação tenham se classificado para a votação final, que fica a cargo do público.
Na pior das hipóteses, um passeio por lá funciona como uma poderosa ilustração da frase de André Maurois: “Na literatura, como no amor, nós nos espantamos com as escolhas que os outros fazem”. Há inclusões realmente assombrosas, cuja identificação deixo a cargo de cada um. É mais saudável citar aqui as lembranças bem-vindas – “O filho eterno”, “O voo da madrugada” e “Reparação”, por exemplo – e as tantas omissões lamentáveis: “Bartleby e companhia”, “As correções”, “As benevolentes” etc.
Esse etc. é um convite a quem quiser entrar na brincadeira. Sei que sou tão sujeito quanto qualquer um ao espanto do próximo diante das minhas escolhas “na literatura, como no amor”. Mas não é justamente essa a graça da coisa?
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A propósito, lembro que a enquete do Todoprosa sobre os livros de 2010 continua rolando aqui. Parece difícil que Roberto Bolaño deixe a vitória escapar em sua categoria, mas, em compensação, a memorável disputa nacional entre Elvira Vigna e João Paulo Cuenca promete se decidir no último minuto. Se você ainda não votou, tem até esta sexta-feira para ajudar a eleger os melhores títulos de ficção do ano.
7 Comentários
Contabilizei que li 18 livros publicados (no original e pela primeira vez) de 2001 para cá. Voto em Jerusalém, de Gonçalo Tavares, como o que mais gostei. Ah, e voto em Diário do farol, de João Ubaldo Ribeiro, como “O livro de que mais gostei, e gostei absolutamente, dentre aqueles dos quais ninguém gostou.” : )
Um abração a todos.
Vamos lá. Duas listas, uma para ficção estrangeira, outra pra ficção nacional.
Às Cegas – Claudio Magris
Os Anéis de Saturno – W.G. Sebald
Austerlitz – W.G. Sebald
As Benevolentes – Jonathan Littell
Breves Entrevistas com Homens Hediondos – David F. Wallace
Os Detetives Selvagens – Roberto Bolaño
A Marca Humana – Philip Roth
Meu Nome é Legião – António Lobo Antunes
Nem Santos Nem Anjos – Ivan Klíma
A Perda da Imagem – Peter Handke
Amar-te a ti nem sei se com carícias – Wilson Bueno
Barco a Seco – Rubens Figueiredo
A Gaiola de Faraday – Bernardo Ajzenberg
Galiléia – Ronaldo Correia de Brito
História Natural da Ditadura – Teixeira Coelho
Investigação Sobre Ariel – Sílvio Fiorani
Minha Mãe se Matou Sem Dizer Adeus – Evandro Affonso Ferreira
Não Falei – Beatriz Bracher
Nove Noites – Bernardo Carvalho
Voo da Madrugada – Sérgio Sant’Anna
Votei no Reparação como livro da década na GloboNews. Gosto muito dos livros que o Sérgio e o Guilherme citaram. Dos não citados, ainda vejo espaço para Não Me Abandone Jamais (Kazuo Ishiguro), A Elegância do Ouriço (Muriel Barbery), Sobre Meninos e Lobos (Dennis Lehane), Dois Irmãos (Milton Hatoum), Complô Contra a América (Philip Roth), Amphitryon (Ignacio Padilla), Arthur & George (Julian Barnes), Tudo Está Iluminado (Jonathan Safran Foer), Soldados de Salamina (Javier Cercas), A Fugitiva (Alice Munro), As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay (Michael Chabon), Vida Vadia (Richard Price), O Passado (Alan Pauls) e Jardins de Kensington (Rodrigo Fresán).
Caro Rogerio, peço desculpa pelo preciosismo, estou viciado nessas buscas inclusive desde que SR alertou sobre “A passagem tensa dos corpos” ser de 2009 e não desse ano, e informo que o muito bom livro “Amphitryon”, de Ignacio Padilla, é de 2000. Mas considero que serve muito bem, vicariamente, o “Espiral de artilharia”, de 2003.
Um abraço.
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=1396407&sid=00128811012118777918058532&k5=19FB97E4&uid=
Sérgio, abre a brincadeira aqui pra nós. Uma semana para os leitores fazerem sua lista. Que tal? Aquela lá tá braba!
O livro da década | Autores e Livros
Realmente lamentável as ausências de “As correções” e “As Benevolentes” na lista da Globo news. Esse pessoal não deve ter lido os livros. Só pode ser isso.