Reportagem de ontem do jornal “Valor Econômico”, assinada por Tainá Bispo, fala do alarme geral provocado pela apresentação de Fábio Godinho, diretor da Larousse do Brasil, no 34o Encontro de Editores e Livreiros, em Fortaleza. Tentando entender por que o mercado de livros no Brasil encolheu, segundo seus números, 26% nos últimos dez anos, com venda de 270 milhões de exemplares e receita de R$ 2,5 bilhões em 2005, Godinho apontou, além da desorganização do setor, razões econômicas. Destacou o fato de o preço do livro ter subido acima da inflação nesse período, o que faz sentido. Por outro lado, comemorou “a universalização do ensino médio”. Aí, acho que já não faz tanto.
Que ensino é esse? O Brasil jamais terá um mercado leitor saudável enquanto insistir na sua educação de mentirinha. Considerando que qualquer medida nessa área só surtirá efeito a longo prazo, e que não se vê nenhuma medida decente no horizonte, não será surpresa para este blog se o mercado continuar murchando. Apertem os cintos.
18 Comentários
Sérgio, vc leu a bizarra matéria da Folha (edição de sábado) sobre literatura feminina?
Li por alto, Marcelo. Me pareceu um balaio de gatos, não?
Totalmente. Relações frágeis e longe do bom senso. Acho que não tinha nenhum repórter na palestra da Adélia…
Já que vocês comentaram, eu também li, e a matéria só confirmou o que eu havia escrito sobre a Adélia Prado. Mesmo sabendo e respeitando quem pense diferente, o pequeno artigo evidenciou claramente que eu não estava só em meu anseio.
E também sobre o mercado da literatura feminina, seja ela chick lit ou a de mulheres mais maduras-e na maioria, mais talentosas.
Acho uma grande besteira essa baboseira de olhar feminino, literatura masculina, estética-guei etc. Essa rotulagem deveria ficar restrita ao departamento de marketing das editoras onde teve origem. A sensibilidade do artista independe de gêneros, orientações sexuais e ideologias. Como nos tempos atuais tudo se justifica pelo comércio, essa síndrome de supermercado contaminou tudo. Das artes plásticas à literatura é tudo forçado a se arranjar em sua gôndola específica ou ser jogado na bacia das almas do saldão underground.
Desculpa ter fugido ao assunto do post, comentado sobre essa cultura de nichos, Sérgio. Vc apontou bem no cerne da coisa, é uma questão mesmo de educação, mais do que de falta de recursos (celular qualquer subempregado tem, mesmo não havendo necessidade real pra utilizá-lo). Num país de analfabetos funcionais não existe solução que dê conta de um algum tipo de espetáculo de crescimento nessa área, a não ser que também de mentirinha.
É mesmo, também fugi do âmago da questão levantada pelo Sérgio, e com a qual concordo inteiramente.
A cada dia que passa ( não sei se fico indignado ou não suporto mais nada disto tudo)vemos, assistimos, falamos, pegamos enfim tudo que é possivem a quem gosta de (Cultura ou mesmo de se aculturar) passa po ersta situações ridiculas, um pais carente de tudo inclusive de informação continua a mercê de meia duzia de empresários de dominam as estruturas da cultura, fazendo com que tod@s os produtos produzidos sejam absurdamente caros, não se consegue de maneira alguma reduzir os custos dos papeis, das escritas, dos escritores das editoras, enfim a quem de fato poderia adquirr informações e mais informações ficam novamente a mercê de meia duzia de expeculadores de toda uma demanda de milhares e milhares de trabalhos que ficam encostados em preteleiras e gavetas sem jamais serem publicadas.
Não gostaria de simplesmente ser um critico dos problemas Sociais mais sim participar de uma construção digna com todos os direitos, estou tendo uma dificuldade muito grande e pesso a quem possa me ajudar, tenho um blog de imagens e comentários para quem possa e goste a pagina é putkeepawill.blogspot.com e tambem contato com editoras para que possa mestrar meus trabalhos, gratos a tod@s, um abraço!
A mim parece que a indústria livreira tem o mesmo defeito da fonográfica: insiste em apontar seus custos, muito altos, como razão para o alto preço final.
Tenho longa experiência na indústria gráfica e, apesar de estar afastado desse ramo, me deparo com preços cada vez mais acessíveis quando recorro a esses serviços, mesmo considerando que moro em Brasília – onde tudo é superlativo, em termos de preços.
Agora, existe a deterioração cultural do brasileiro, que hoje adotou a Internet como fonte de conhecimento.
13,18% é o imposto pago para o governo na compra de um livro.
Na comprar de um livro por R$ 100,00 o governo fica com R$ 13,18
É bom pensarmos nisso.
Deveríamos considerar três coisas no mercado livreiro: o custo da produção é alto, não já políticas públicas de incentivo à leitura, o governo não faz sua parte, investindo no setor, desonerando tributos…
josé aparecido fiori – curitiba – pr
Estão precisando de lentes corretivas. Livros fazem parte, agora, na atual cultura de massa, de mais um artefato da indústria cultural. Deixou de ser, há muito, um instrumentos de aprendizado e cultura. Virou produto mercantilizado e fruto da idolatria de auto-ajuda, literatura fantástica, clube da terapia, válvula de escape para qualquer um falar o que pensa e dizer nada… Os livreiros e o monopólio das editoras querem somente aumentar os lucros – se vende menos, o livro custa mais – regras do mercado. Já, quanto à Educação, bem… Todo mundo fala da boca para fora, porém, se algum dia a educação realmente se transformar, tornar-se emancipadora, quero ver quem é que vai ter empregada doméstica em casa, puta na esquina, pobre para ajudar, mordomo para humilhar, lixeiro para catar os restos que sobraram do banquete… Todos serão “doutores”, e nínguém vai se sujeitar ao jugo dos bacanas… Todos querem uma educação melhor para que as pessoas sejam mais “dóceis”, “adestradas”, “comportadas” e “obedientes”… Ninguém realmente quer uma educação revolucionária, que liberte o ser humano de sua submissão ao consumo, à subserviência… Estamos numa encruzilhada. Se Hannah Arendt “construi” a identidade do sujeito em “A condição humana”, os nossos dias já nos conduzem à “obsolescência humana”, já não mais nos distingüimos das outras espécies do planeta, somos apenas mais uma, e caminhamos rumo a uma extinção rápida.
Uma equação simples que muitos editores e livreiros vêm repetindo é de que o preço dos livros é alto porque há um mercado pequeno para adquirí-los. Concordam com isso?
o grande motivo pelo inexistente mercado de livros no país (tirem as compras governamentais. o que sobra? nada) é o alto preço do livro. Grande literatura nunca será consumida por muitas pessoas (qual foi o último grande best seller da humanidade que valha a pena ser estudado? As flores do Mal, acho). Mas os sebos andam sempre cheios e a Lp&m cresce a taxas “chinesas” (esse virou o novo adjetivo pra algo superlativo, né?). Ela consegue isso porque vende livros (bons) em bancas de jornal a preços razoáveis. Edições rebuscadas, com Capa dura e outros frufus deviam ser a exceção no mercado, não a regra.
Conquista do mercado ícone-fetiche, o livro é mais um produto a ser marketado e vendido, gerando maximização das margens de lucro. Seu caráter de indutor do aprendizado e fator de enriquecimento pessoal? Bom, isso é efeito colateral.
Se o governo abrir mão desse imposto aí em cima. duvido que o preço caia. Teríamos um substancial reforço na margem de lucro e uma maior possibilidade de capitalização para fazer frente às oscilações de um mercado vocacionalmente instável.
Falta de hábito, não de grana ou tempo.
Falta de hábito é decorrente de falta de educação; se a escola não ensina, a família não estimula e a sociedade não cobra, mas diz exigir qualificação quando na verdade alimenta o mercado informal.
Aos arautos do imposto sobre o produto, lembro que sobre o preço industrial (custos e margem) há muita carga tributária em efeito cascata: sobre o preço do produto incidem impostos que são aplicados sobre este preço, no qual estão embutidos indistintamente mão-de-obra e material. Dessa forma, aplica-se mais alíquotas e o preço sobe. Reduzir impostos significa rever todo o código tributário, promover fiscalização e espelhar-se nos métodos de Países mais desenvolvidos..
Quem sabe se sobre o preço de custo incidisse apenas alíquota razoável, os preços poderiam ser reduzidos. Porém, como o Estado fica com a parte do leão, não há interesse em reduzir impostos.
“Educação de mentirinha” explica não apenas a queda do mercado de livros, mas todo o Brasil. Não há um único político que seja responsável quando se fala em educação. Segue-se a tradição costumeira de dar um pouco de escola, porque ela não nega fogo: elege muita gente. Mas uma educação verdadeira, que dê ao brasileiro formação de sua cidadania e estrutura para ele mesmo cuidar de sua vida, sem ficar na dependência das “bolsas-famílias” da vida, isso não interessa, porque o maior medo dos políticos é um povo consciente. Acredito que isso seja mesmo deliberado. A mentalidade colonial é o próprio ar que o político respira. Formar uma nação seria asfixiá-lo.