Eis um aspecto até certo ponto inesperado da discussão que abriu a semana aqui no Todoprosa, sobre o futuro do livro na era digital. “A palavra falada é o grande sucesso do mercado de livros digitais até o momento, graças ao fenômeno do iPod”, anuncia hoje uma reportagem do jornal inglês “The Guardian” (acesso gratuito aqui, em inglês):
Peter Bowron, diretor da Random House, editora de ‘O código da Vinci’, diz que chegará o momento em que livros serão contratados com base em seu apelo de áudio, em vez de seu potencial nas prateleiras. ‘Veio o iPod e, de repente, o mercado de download de arquivos de áudio ficou muito maior… É uma das primeiras áreas do mundo digital em que, em vez de ficar apenas falando dela, estamos realmente ganhando dinheiro’.
Depois disso, entende-se melhor a reportagem de ontem do “New York Times” (cadastro gratuito) sobre escritores que estão cuidando pessoalmente das gravações de seus audiolivros, convocando amigos e negociando horas em estúdio na base da camaradagem. Faz sentido. O que encarecia o produto, até pouco tempo atrás uma exclusividade de grandes vendedores, era toda aquela traquitana da vida real: suportes físicos, distribuição, estocagem nos pontos de venda. Quando tudo passa a ser virtual, um audiolivro que venda, digamos, mil exemplares vira um ótimo negócio.
Aqui no meu canto, acho espantoso que tanta gente esteja disposta a ouvir livros. Soa um pouco como tatear música, ou ler cinema. Mas, macaco velho, apenas observo, registro, e vamos em frente.
16 Comentários
Já comprei um audio livro. Podia ser instalado apenas em um computador e para ouvir apenas no Windows Media Player. Como usuário – também – do Linux, fiquei meu nervoso com isso. Pois bem.. instalei o Advanced MP3/WMA Recorder, abri..ops..liguei (ah, sei lá como dizer) o tal livro e o Advanced copiou ele em MP3. Sem travas. Agora posso ouvir o livro até no Palm..
abrs,
Uma invenção destinada a cegos e deficientes visuais (e analfabetos, suponho) acaba sendo estendida a todos.
Me ocorre uma sinistra analogia: Com a introdução das maquininhas de somar (mecânicas ou eletrônicas), muita gente “desaprendeu” a efetuar operações aritméticas. Quem sabe extrair uma raiz quadrada, hoje, se um simples toque de botão faz isso?
Estaremos destinados a se tornar analfabetos funcionais, ao adotar as facilidades do livro falado? No futuro placas de aviso falarão, jornais serão apenas audiovisuais, automóveis recitarão o manual para você, o falescreve orwelliano se concretizará. Livros sobreviverão apenas como artesanato, feito e consumido por alguns saudosistas.
No dia em que não puder segurar um livro na mão (ou se faltar luz, seja de que forma for) prefiro a solução de Borges…
Que solução de Borges, Sirio? Contratar a Maria Kodama para ler pra você?
Brasileiro tem memória fraca mesmo… vcs não se lembram, nos anos 70/80, dos audiolivros em fita K7?
Eu jamais abandonarei essa coisa ultrapassada, que é o livro impresso. Mesmo porque o suporte físico sempre será necessário para a fixação de uma idéia.
…com suporte físico, quis dizer, texto impresso…
Sérgio, a Kodama não, por favor!
Nem Kodama nem mamãe ao pé da cama. Afinal das contas, para alguma coisa deve ter servido minha alfabetização e a grana que invisto no oculista … rssss
Sérgio, acho que nem era para se dar ao trabalho de comentar este assunto.
Tem coisas mais importantes. Com todo o respeito.
Um forte abraço
uh! claro! coisas muito mais importantes e pertinentes o aguardam, Sérgio! essa significatica e importante tendência de fato não o é: é um qualquer-coisa, nem vale a pena comentar, um modismo sem futuro, gadget pra analfas, outro pikachu.
…NÉ NÃO?? RS RS
Eu lembro das fitas K7. Tenho até hoje o Manuel Bandeira
recitando seus poemas. Também já ouvi em vinil Carlos Drummond de
Andrade. Há prazer em ouvir um autor que você gosta recitando o própio
poema.
Ainda assim prefiro o livro em papel no qual basta virar uma página
para que possamos reler o texto, não precisa de energia elétrica para
funcionar, não quebra, etc.
Os audio livros não irão muito longe. Mas também não desaparecerão.
Tem lá suas qualidades. Terão seu espaço.
abrs,
Já ia esquecendo: para deficientes visuais é uma alternativa/complemento ao sistema Braile. Algumas bibliotecas possuem acervos digitais para atender estes leitores.
abrs,
Como a Fundação Dorina Nowill, que aceita voluntários para gravar. E como os deficientes visuais também se interessam pelas revistas semanais, o trabalho nunca acaba.
O Brasil vai melhorar um dia? Vai.
Mas para isso acontecer, a primeira coisa é acabarmos com o voto obrigatório. Ai melhoramos a qualidade dos políticos que nos governam.
Se alguém quiser formar um movimento começando aqui pelo Rio, RJ, já somos 2.
henri@rio.com.br
O AUDIOLIVRO não veio para tomar o lugar do livro impresso, mas sim para complementar este.
Se antes nós liamos por exemplo, 3 livros por mês, passaremos a ler 6, 3 impressos e 3 em áudio. Você irá aproveitar o seu tempo no trânsito para ler, uma viajem (não se esqueçam que faz mal a retina dos olhos, ler em movimento), deitado na cama quando o companheiro ou a companheira quer dormir e nós queremos ler, não precisaremos ficar com a luz ligada. Podemos ler enquanto estamos fazendo algum trabalho manual que precisa do uso das mãos, ou seja, o audiolivro é bom para muitas coisas, somando-se ao fato de que, pessoas que possuem preguiça poderão também ler, e as pessoas que não possuem tempo, poderão também ler, imagine escutar seu livro favorito enquanto faz academia, ou enquanto se está cozinhando, existem milhares de momentos em que podemos usufruir desta tecnologia, mais momentos do que temos para ler um bom livro impresso.
Não é pq não estamos lendo um livro e sim escutando, que iremos desaprender como ler, isso não existe, lemos milhares de coisas todos os dias, não iremos desaprender nunca, é como andar de bicicleta, já esta em nosso subconciênte.
Vamos abrir a mente, e provar um pouco do AUDIOLIVRO.
Eu não conhecia até o ano passado, mas depois que conheci, aumentei em muito o meu acervo.
Abraços.
Dica: http://www.audiolivro.com.br
http://www.audible.com
Concordo que o AUDIOLIVRO seja mais um meio de se adquirir cultura, tão condizente com a realidade apresentada: muitas atividades a serem feitas e pouco tempo para se dedicar exclusivamente à leitura (os dois principais motivos para não se ler, conforme pesquisas já realizadas).