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Mais pancada: Scliar bate no Freyre ficcionista

05/08/2010

Personagem central da 8.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), o pernambucano Gilberto Freyre voltou a receber críticas no evento, durante a primeira mesa de discussão, que contou com os professores universitários Edson Nery da Fonseca e Ricardo Benzaquen e o escritor Moacyr Scliar, hoje de manhã. As palmadas iniciais vieram do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que na conferência de abertura da festa, como sempre fez, não poupou adversativas ao antropólogo.

“Eu não fico entusiasmado com o romance de Freyre”, disse Scliar, se referindo a “Dona Sinhá e o filho padre”. “A grande contribuição dele está em outra área, em livros como ‘Casa grande & senzala’.” O escritor afirmou, no entanto, que o estilo do pensador pernambucano tem sotaque literário. “Seu texto está muito mais para a literatura do que para a ciência.”

O também pernambucano Edson Nery concordou com Scliar. Freyre, disse ele, evitava ao máximo usar termos científicos em seus textos, e preferia até palavras chulas a eles. “Ele dizia que havia contextos em que a palavra chula como que se impunha..”

Reconhecidamente um admirador de Freyre, o professor da Universidade de Brasília (UnB) lembrou que “Dona Sinhá” foi bem recebido pela crítica nos Estados Unidos e que teve pelo menos um grande fã no Brasil, o mineiro João Guimarães Rosa. Outro fã do Freyre escritor, segundo Nery, foi mais um nome de peso na literatura brasileira: Manuel Bandeira. O poema “Bahia de Todos os Santos e de Quase Todos os Pecados” teria causado inveja ao poeta. “Freyre lhe mandou uma cópia, ao que Bandeira respondeu dizendo que aquele poema seria sua ‘eterna dor de corno’.”

Nery ainda destacou a escrita literária de Freyre, composta de enumeração caótica (técnica aprendida pelo pernambucano a partir do contato com poetas ingleses), o imagismo (ou a plasticidade de Freyre, sua riqueza de imagens) e o expressionismo (que se poderia traduzir nas passagens mais viscerais do antropólogo).

Personagem controverso, Freyre vai pautar pelo menos outras três discussões em Paraty. Novas emoções estão por vir.

Por Maria Carolina Maia.

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