Minha biblioteca é constituída, meio a meio, por livros que lembro e por livros que esqueci. Agora que minha memória já não é tão precisa quanto costumava ser, as páginas se esvaem na mesma medida em que tento conjurá-las. Algumas se apagam por inteiro de minha experiência, esquecidas e invisíveis. Outras me assediam tentadoramente com um título ou uma imagem, ou umas poucas palavras fora de contexto. Qual romance começa com as palavras “Numa noite de primavera de 1890”? Onde li que o rei Salomão usou uma lente de aumento para saber se a rainha de Sabá tinha pernas peludas? Quem escreveu aquele livro singular, Flight into Darkness, do qual só recordo a descrição de um corredor sem janelas, tomado por pássaros esvoaçantes? Em qual história li a frase “no despejo de sua biblioteca”? Qual livro tinha uma vela acesa na capa e desenhos a lápis no papel creme? Em algum lugar de minha biblioteca encontram-se as respostas a estas questões – mas esqueci onde.
“A biblioteca à noite” (Companhia das Letras, tradução de Samuel Titan Jr., 304 páginas, R$ 45), lançado esta semana em São Paulo, é mais um exemplar inspirado daquele ensaísmo que, se não foi inventado, pode-se considerar aperfeiçoado pelo argentino (naturalizado canadense) Alberto Manguel: milhares de livros na cabeça e um jeito de recorrer a eles no correr da conversa, como quem não quer nada, sem jamais perder o foco do único assunto que lhe interessa – o próprio livro, a própria leitura.
Desta vez, o autor de “Uma história da leitura” e “No bosque do espelho”, que já morou em mais países do que qualquer cigano, toma como ponto de partida a montagem de sua biblioteca particular no interior da França, onde decidiu reunir seus 35 mil livros dispersos pelo mundo. Mero pretexto para o manguelismo de sempre, que nos consola da tragédia de tudo o que nunca vamos ler. Ou será que, pelo contrário, nos aguça a consciência dela? De uma forma ou de outra, é leitura das boas.
Para uma entrevista dada por Manguel a Antônio Gonçalves Filho, publicada esta semana no “Estadão”, clique aqui.
7 Comentários
um convite a um um livro que nos abre uma biblioteca, em convite. belo.
entre as muitas falhas minhas, a principal é a de não ser um leitor como gostaria.
talvez em função disso adio começar alguns romanes e contos e, prudentemente, tento esquecer uns poucos poemas que cometi na adolescência.
é nesse vazio que carrego minha maior tragédia
Eu acho que a grande maioria de nós não é um leitor como gostaria, ou seja, não lê tudo o que gostaria, na quantidade desejada e, talvez, com o entendimento pleno. Daí, uma grande parte da admiração por Borges e Manguel, entre outros, que parecem personificar a figura do sujeito que leu tudo e entendeu tudo. Mas, fiquemos cada qual no seu cada qual. Esbocemos aquele sorriso de canto de boca e citemos Mencken: “Depois de ler tantos livros, chegamos à conclusão de que poucos livros merecem ser lidos”. Claro, esse “poucos” aí agrupando quantos… quantos… quantos… não, não vou dizer cifras.
Gosto muito do jeito como o Manguel conversa com a gente, nunca assumindo uma posição de saber inabalável, sempre como se estivesse ao nosso lado e dissesse: “Escuta, eu já li muito, já vivi muito, mas eu tenho esse defeitinho aqui que vou lhe contar…”
Menos, Pérsia, menos! O escritor parece escrever num estilço (menos Koão Paulo, menos) da antiga Jeunesse doree,Bem..deixo estqa crítca para depoius!
-Cadê meu uísque pô?
-Você ja bebeu, miserável!
-Tá então tchauuu!
aInda vo iscreve um livru só compilá tudo que tem por aqui e tá pronto.
hoje é dia de omenajeá o presudente …
ahahaha vai fica pra que viaja com a aposentadoria que o povo ta dando pelo
dedu ahahahahahahahahahahahahahaha
que medu ahahahahahaha num tem muié pra mandá ahahahahahahahahasó boiolinha
ahahahaha pt é ponto na gíria do …nem vou isplicá não vai estudá ahahahahahaha
Adoro rir me faz muito bem de verdade .