Como sabe quem costuma aparecer por aqui, elas são um fetiche assumido do Todoprosa: aí vai uma inusitada coleção de fotos eróticas de priscas eras (mais inocentes que a novela das nove, mas vale o alerta) que juntam mulheres e… máquinas de escrever!
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É um belo trabalho jornalístico esta entrevista de Rinaldo Gama, Ubiratan Brasil e Maria Fernanda Rodrigues com o editor Sérgio Machado, da Record, que saiu no último Sabático. O chefão da megaempresa aparece de corpo inteiro, mais interessado no “negócio livro” do que no conteúdo dos livros, o claro junto com o escuro, o que explica muita coisa. Só acho injusto que se demonize o homem por contar o episódio – de resto já sabido – da falsa tradução de Nelson Rodrigues para Harold Robbins. Deixa-se de levar em conta que tal tipo de trapaça com o leitor era visto como benigno e foi característico de certo estágio condescendente da indústria cultural do século 20 – veja-se o horóscopo falso, por exemplo, inventado do início ao fim por leigos absolutos, que muitas publicações de respeito cultivaram. É evidente que não cabe mais esse tipo de coisa, o mundo mudou, a ética ficou menos elástica. Mas convém manter alguma perspectiva histórica.
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A Receita Federal está no seu encalço? Faça boa arte. Seu gato explodiu? Faça boa arte. Alguém na internet acha que o que você faz é estúpido, ou maligno, ou já foi feito antes? Faça boa arte.
O paraninfo Neil Gaiman dá bons conselhos (vídeo e sumário no ótimo blog de Maria Popova) a uma turma de formandos da Filadélfia.
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Não é uma questão de quantos o leem, mas de quem o lê. Há certos romancistas que nos fazem pensar naquela velha história sobre o Velvet Underground: quase ninguém os viu tocar ao vivo, mas todos os que viram formaram uma banda. Nos anos 30 e 40, Fitzgerald vivia na obscuridade crítica, mas assombrava as margens, aparecendo depois como um fantasma ‘samizdat’ nas obras daqueles que importavam, do ‘Doctor Sax’ de Kerouac ao ‘Apanhador no campo de centeio’ e a ‘O longo adeus’ de Raymond Chandler. O que mantém vivo um livro é os livros do futuro falarem dele…”
No blog de livros da “New Yorker”, Tom Valderbilt desfia reflexões interessantes sobre o mais nebuloso dos temas, o das engrenagens secretas da glória literária e sua mania de transformar sucesso presente em obscuridade futura e vice-versa – mas não necessariamente, claro, senão seria fácil.
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Uma vez escrevi aqui, a propósito da triste história de uma escritora inglesa que se lançou no fogo da internet e saiu carbonizada: “Quando sentir o impulso de responder a uma resenha negativa – e você vai sentir, pode apostar um milhão nisso – acorrente-se ao pé da mesa e atire bem longe a chave do cadeado”. Agora, o ponto de vista oposto é defendido enfaticamente pela escritora Elle Lothlorien (em inglês, aqui): “Por que os escritores devem SEMPRE responder às resenhas negativas”. Não me convenceu, não. Em todo caso, viva o atrito.
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Post atualizado às 17h40. Os créditos da entrevista com Sérgio Machado estavam errados.
7 Comentários
Legal as máquinas eróticas!!!!!
Quanto aos críticos, se um dia for agraciado com a opinião de algum deles, acho que é o tipo da coisa que faz parte do
negócio. Quem sai na chuva é pra se molhar, não é, não?!
Só se a chuva for de pedra, aí minha cabeça é mais dura, não tem jeito! (acho que no fundo a gente sempre ganha com a opinião dos outros, é uma questão de postura profissional, a não ser que o crítico seja muito obtuso, aí só chorando!)
Prezado Sérgio,
no Brasil, quase não existem editoras. Existem, em grande parte, livreiros que também fazem livros, mas só pensam na vendagem. Falta visão de modo geral e apostas concretas, não no que sabemos já ser vendável, mas de novos talentos. Dá nisso. Apesar de ser um grande mercado, falta visão. Tanto que, quando ouvimos um editor falar, quase não se ouve quase falar de literatura, porque esta há muito tempo deixou de ser uma conversa atrativa. Só se fala no que mais vendeu, no mais deixou de vender, no autor que esteve em mais flips ou que viajou para o exterior etc. Ou seja, um tédio total.
muito cool esse site, gostei, merci :))
Sou eu que agradeço, Clara. Apareça.
Opa, fui eu quem apertou tua mão no ônibus, tá lembrado ? Deve ser detestável fazer isso, mas eu já estou fazendo: quando der, dá uma olhada -> http://andthenbutso.blogspot.com.br/
e no mais, você que é colecionador, onde encontrar belas máquinas de escrever pas cher nesta cidade (Rio) ? É que acabo de chegar. Prazer,
Caro João, claro que me lembro do encontro. Desejo-lhe boa sorte com o blog. Quanto a ser colecionador de máquinas de escrever, bom, só tomando a palavra num sentido bem amplo. Tenho apenas três, e duas delas já eram de casa antes de virarem “antiguidades”. Estou por fora, portanto, mas imagino que se possa achar algo numa feira de antiguidades como a da Praça XV ou numa lojinha da rua do Lavradio. Um abraço.
Me parece romântica a idéia de que o editor deva se deixar levar por devaneios culturais. Ao contrário. Deve se ocupar em manter um fluxo de caixa saudável (para o que precisará de títulos vendedores) e, se possível, angariar algum prestígio (para o que precisa de títulos invendáveis). A boa editora é a que sabe temperar esses dois componentes.