A entrevista que fiz com Millôr Fernandes para a “Bravo!” deste mês – e que pode ser lida no site da revista – deixou de incluir, por razões de espaço, algumas histórias impagáveis do genial humorista-escritor-desenhista-dramaturgo-e-o-escambau. Felizmente, os cinco minutos e pouco de conversa que estão disponíveis em arquivo sonoro no site incluem, entre outras delícias, uma veemente defesa milloriana do trocadilho da qual consta esta frase que o crítico literário Agrippino Grieco endereçou a seu desafeto Menotti del Picchia:
Menotti del Picchia, fecha a barguilha do teu nome!
49 Comentários
não é braguilha?
maioria dos brasileiros que mora no rio de janeiro, né. eu tava perguntando só pela dúvida mesmo, porque achei esquisito, e acho okay que seja uma forma usada no rio. Mas eu que sou do brasil continental nunca ouvi. Ai resolvi dar um googlada e a forma barguilha tem 2 mil e poucas entradas contra 40 mil e poucas da forma braguilha. Eu acho que a língua é móvel e pulsante e blá blá blá, mas essa mania de carioca de achar que só porque se usa no rio é a forma mais usada no Brasil é irritante, heim. abracinho.
Sérgio, o que é metátese?
Outra pergunta, você está em outro fuso-horário?
Sérgio, aqui em São Paulo é “braguilha” mesmo. Eu (nem os coleguinhas aqui em volta) nunca ouvi “barguilha”. Mas gostei. E aprendi mais uma com a metátese. Bjs
Juliana, barguilha é a forma usada por Millôr e pela maioria dos brasileiros. Trata-se de uma metátese, aliás já dicionarizada.
Acompanho a redatora Isabel, nunca ouvi falar em barguilha… e minha avó era mineira de Monsclaros, e já deve ter falado barguilha alguma vez na vida, sem que eu tenha percebido… bem, vivendo e aprendendo, viva o efeito Millôr…
No RGS é braguilha. Há mais de 30 anos vivo no Rio e nunca ouvi barguilha.
Sou do subúrbio do Rio, como o Harpia, e também nunca ouvi barguilha. Só braguilha. Aliás, as pessoas ao meu redor quase não usam nem uma nem outra. Usam fecho-ecler. Abrs!
Juliana, não tenho dados estatísticos em mãos e posso realmente estar enganado sobre a “maioria”, mas você se engana também na sua acusação de “rio-centrismo”: a forma barguilha não é usada só aqui. Eu sou de Minas (quer mais continental que isso?) e nunca ouvi de outro jeito, a não ser na boca de pessoas hipercorretas e empertigadas. Você é de onde? Seria interessante que leitores de outros Estados dessem seu depoimento sobre a braguilha/barguilha. Teríamos um levantamento talvez inédito.
Quanto à vitória esmagadora de “braguilha” no Google, não se pode descartar um fenômeno singelo: mesmo quem fala barguilha, na hora de escrever, trai sua língua para não irritar o dicionarista e o professor de português. É meio triste, mas acontece o tempo todo.
Seja como for, cada um deve falar – e escrever – como lhe parece mais natural. Eu jamais assumiria o papel de polícia de língua, viu.
André: metátese é o nome que se dá à troca de lugar de fonemas ou sílabas dentro de uma palavra. Aquilo que faz quem sofre de desvARIO ser desvAIRADO (e só minoritariamente desvARIADO, a menos, talvez, que eu esteja falando apenas do Rio). E pois é, rapaz, deu algum tilt no fuso. Obrigado por avisar.
Abraços.
Sérgio, aqui em São Paulo é “braguilha” mesmo. Eu (nem os coleguinhas aqui em volta) nunca ouvi falar em “barguilha”. Mas gostei. E aprendi mais uma com a metátese. Bjs
Obrigado pelo informe paulista, Isabel. (Você também estava fora do fuso, hein? O que estará havendo? Consertei aqui.)
Algum gaúcho na área? Sergipano? Baiano? Amazonense?
Bom, para efeito estatístico, este carioca & suburbano aqui nunca ouviu outra coisa na vida que não “braguilha”, e olha que fui criado em um ambiente em que a maioria das pessoas não era empertigada e muito menos hipercorreta.
Sérgio, no Rio Grande do Sul se diz braguilha. Nunca ouvi a outra forma por aqui.
Harpia, que depoimento fantástico, num golpe só derrubou o argumento da Juliana e o meu: existe braguilha no Rio! A língua é uma coisa fantástica.
Zimmermann, valeu. Eis que a braguilha dispara na frente.
Santa Catarina, sul do estado, é braguilha. Mas verdade,verdadeira, quando pequeno só ouvia a palavra “reco” que é o mesmo zíper.
Reco?
Sou do Rio, mais especificamente de Copacabana, e nunca tinha ouvido falar em “barguilha”. Nunca.
Bom, diante desse massacre, só posso concluir uma coisa: a barguilha não é geográfica, é geracional! Além de mim e do Millôr, tem por aí outra pessoa com mais de oitenta que possa confirmar minha tese?
O Gilberto Gil! Baiano, mais de 80 e fala barguilha na letra de “Ladeira da Preguiça” (http://www.gilbertogil.com.br/sec_discografia_obra.php?id=111) — eu usei o Google de um jeito mais produtivo que a Juliana 🙂
(Eu não via meus posts subirem e nem me liguei no fuso horário! Agora tá explicado!)
Sempre falei barguilha… braguilha pra mim é coisa de marciano…rs
Você também tem mais de oitenta, Tibor? É um imperialista lingüístico da Gávea ou de Ipanema? Se não se encaixa em nenhuma dessas categorias, não me venha bagunçar a pesquisa, pô!
Essa história da barguila, ou seria braguilha?, rendeu.
Eu gostei muito mais da frase: “Não trabalho por dinheiro, mas sem dinheiro eu não trabalho”.
Em Brasília, barguilha e braguilha.
Concordo, Adair, ótima frase. Tanto que entrou na edição escrita.
Xará, bom vê-lo por aqui.
Reco? Este imperialista linguístico carioca suburbano só ouviu esta palavra para designar o corte de cabelo tipicamente militar, e, em casos mais raros, o próprio militar.
E depois de todo esta discussão, decidi que de agora em diante eu só direi barriguilha.
Joinville, SC, também nunca ouvi barguilha. Mas zíper também é forte. Reco eu já ouvi também, mas nunca usei.
No Ceará sempre dissemos BARguilha, mesmo no meio dos hipercorretos. Dos empertigados, não sei. Sempre fugi deles. Mas, olha, sabe como dizíamos fecho ecler? Ri-ri. E não é de risadinha, não. Lembrei assim, de ouvido, e fui procurar riri no Houaiss. Não achei: faltava o hífen. Só que o Houaiss registra como regionalismo no Maranhão e na Paraíba, mas eu juro que eu chorava quando, no Ceará, o ri-ri do meu vestido não fechava.
Salvador, BA, atualmente soteropaulistano. Cheguei a ouvir, na infância (anos 60), a forma primitiva “barriguilha”, que origina as derivações.
E não se referia a ziper, mas simplesmente à abertura da calça. Podia ser abotoada, sem problemas.
Elvia, obrigado pelo excelente ri-ri. O engraçado é que o Houaiss diz que a origem é onomatopaica. É verdade que no Ceará o zíper faz ri-ri?
Daniel, segundo o mesmo Houaiss, barriguilha é que é variante, e braguilha e barguilha, diminutivos de braga, calção, ceroula. Você tem razão quanto aos botões – embora venham se esforçando para aposentar a barguilha, é claro que o zíper, o fecho-ecler, o reco e o ri-ri não dão conta de substituir a que é fechada com botões.
Acho que Agrippino Grieco ficaria feliz com essa discussão erudita sobre a bragueta, alçapão, carcela, portinhola, vista.
Abraços a todos.
Uma e outra forma [sou carioca e já escutei as duas].
Agora, um fenômeno curioso acontece aqui e requer uma reflexão: muitos usaram o Google para tirar suas dúvidas.
Por ser de utilidade pública, vcs não acham que já era hora de se ter na internet, com acesso livre e gratuito, um dicionário brasileiro da língua portuguesa?
Na falta de um, sempre que necessário, recorro ao INFOPEDIA.PT.
Vejam o caso dos dicionários da língua inglesa: praticamente todos podem ser consultados on-line.
A continuar assim, daqui a poucos anos, entre braguilha ou barguilha [ou até breguilha], ficaremos mesmo é com o seu correspondente em inglês.
Forte abraço!
Sérgio, compartilho com o TP essa que acabamos de atualizar no nosso twitter.com/pontolit: “Penguin 2.0: incorporando aos livros os elementos de customização e remixagem encontrados na Web” – http://tinyurl.com/6adad3
O R da questão, rs.
Sou de 78, tijucano e tenho olhos escuros e só conhecia braguilha.
Até fui espiar o dicionário quando li.
Mas minha memória remete aos meus pais (br) e avós burdugueses falando. Entre amigos e molecadas só ouvi zíper mesmo. Abs!
Sou pernambucano, sempre ouvi BRAguilha. Mas vai saber…
Sou pernambucano, sempre ouvi Barguilha. Mas vai saber…
Decerto não foi esta a primeira vez que Menotti Del Picchia foi vítima de um trocadilho. Conta-se que Oswald de Andrade, certa feita, fez, diante do próprio, uma veemente defesa da criação de um Juizado de Menottis…
Sérgio,
sou seu conterrâneo de Muriaé (!!!) e também sempre falei e escutei barguilha!
Sou gaúcha e nunquinha na vida ouvi barguilha! Sempre BRAguilha e reco é o velho fecho ecler, que quando trancava na calcinha, ai Meu Deus!!
abs
Claudio, pelo UOL há acesso gratuito ao Houaiss e ao Michaelis. Não a todas as funcionalidades do Houaiss, por exemplo, mas às acepções, sim. É só usar a barra principal de busca, claro, habilitando a busca em ‘dicionários’.
Oi Thiago, estou sabendo, mas sendo esse acesso apenas para clientes UOL, não o podemos considerar “livre” e “grátis”, concorda? Abs.
Claudio, não sou cliente e acesso. Será que é um bug? Vou verificar. Você não consegue, por exemplo? Um abraço.
Claudio e demais participantes, consigo o acesso aos dicionários referidos, no UOL (com as restrições que citei), tanto em casa quanto no trabalho, sem ser cliente.
Abaixo segue o resultado para o verbete ‘prosa’. Bom proveito e um abração.
Dicionário de Português
Definições encontradas para prosa
Houaiss
prosa
• substantivo feminino
expressão natural da linguagem escrita ou falada, sem metrificação intencional e não sujeita a ritmos regulares
Obs.: p.opos. a verso e a poesia
Derivação: por extensão de sentido.
aquilo que é material, cotidiano, sem poesia
Ex.: a p. da realidade
conversa informal
Ex.: tive dois dedos de p. com o compadre
Regionalismo: Norte do Brasil. Uso: informal.
ato de namorar
Rubrica: música.
forma da música religiosa antiga proveniente da seqüência e que consistia numa adição de palavras e música a uma melodia conhecida
• adjetivo e substantivo de dois gêneros
que ou aquele que se gaba ou aparenta gabar-se, com ou sem fundamento, de merecimentos próprios ou dotes pessoais; vaidoso, convencido, fanfarrão
Ex.: esse andar de moça p.
que ou aquele que é dado a falar ou a conversar demais; conversador
Michaelis
prosa
• sf (lat prosa)
Forma de dizer ou de escrever sem sujeição a medida certa ou acentuação determinada.
O que se diz ou escreve sem métrica; o que se diz ou escreve sem ser em verso.
Facilidade em falar.
Conversa, palestra.
pop Lábia.
Reg (Norte) Namoro.
Bazófia, empáfia, pretensão.
Mús Peça de cantochão, também chamada seqüência, muito usada antigamente. adj Diz-se da pessoa fanfarrona, paroleira, loquaz, vaidosa, cheia de si. s m+f Essa pessoa. Cantar em prosa e verso: elogiar por todos os meios. Ser uma boa prosa: ter conversa agradável.
Thiago, qual a URL que vc usa? Eu tento acessar http://houaiss.uol.com.br/ e sou redirecionado para uma área restrita para assinantes.
Claudio, basta ir à raiz do portal (www.uol.com.br). Acima da barra de busca, no mesmo frame, você tem de habilitar a busca em dicionários (espere a página carregar totalmente, pra isso). Aí é só digitar o verbete, claro, mantendo a opção padrão que é ‘português’ nesse caso. Um abração.
Assim funcionou, Thiago. Obrigado. Entretanto, senti a falta de um recurso utilíssimo [que tem no infopédia]: a sugestão de palavras já durante a digitação das letras. Assim, qq dúvida a respeito da grafia correta, por exemplo, já é resolvida, antes do enter e de uma desnecessária consulta ao banco de dados.
Não tem de quê. Um abraço a todos.
Caro Sérgio,
Saindo da braguilha (ops!) e entrando atrasado no terreno pétreo dos tão apedrejados trocadilhos: sabe onde posso encontrar, se é que é possível, o livro “Como Aprendi o Português e Outras Aventuras”, do Paulo Rónai, em que consta o texto “Defesa e Ilustração dos Trocadilhos” – citado por você numa crônica de há muito? Esgotaram com ele em tudo quanto é canto…
Preciso de argumentos de dois eruditos (um, o do Millôr, já tenho, graças a você) para convencer meus delambidos pares do que penso sobre essa forma de manejar as palavras – que é um recurso como outro qualquer, podendo ser sublime, bom, passável ou reles, dependendo do modo que se o elabora.
Aproveito para repudiar esse intrometido e ubíquo “infame”, adjetivo que grudou na palavra “trocadilho” e dela não solta nem que a vaca tussa, e que só serve para seguir diminuindo o valor da pobre.
Abraços.
P.S.: Entrando na braguilha novamente: mesmo a Bravo grafou “braguilha”, por mais que o Millôr e você tenham usando – na entrevista e, imagino, em sua transcrição – a forma “barguilha”. Rapara lá. E devo dizer que eu escolheria a mesma opção que a revista, respeitando, claro, a abertura de suas barguilhas.
Rogério, o livro do Rónai é excelente, e não só por esse artigo. Na Estante Virtual tem, a preços razoáveis:
http://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/busca.cgi?pchave=como+aprendi+o+portugu%EAs&tipo=simples&estante=%28todas+estantes%29&alvo=autor+ou+titulo
Sim, a Bravo foi na forma mais tradicional, a que os dicionários declaram ser preferível. Se eu fosse o editor faria o mesmo, preocupado em limar idiossincrasias. (É por essas e outras que acho ótimo não ser mais editor, mas isso não vem ao caso.)
Boa sorte na defesa do trocadilho. Tem em mim um aliado.
Um abraço.
Tou indo lá agora mesmo.
Obrigado.