Eu sei que livros (assim como filmes) sobre cachorros sempre tiveram um cantinho seguro no mercado, mas a lista de mais vendidos do “New York Times” (mediante cadastro gratuito) sugere que a cinofilia literária está atingindo uma espécie de apoteose.
Em primeiro lugar na lista de não-ficção está Marley & Me, do jornalista John Grogan, que conta a história da atribulada – mas no fim das contas inspiradora e terna, é claro – convivência de sua família com Marley, um labrador neurótico e hiperativo.
Na terceira posição da lista de auto(?)-ajuda surge Cesar’s way (“O jeito de Cesar”), em que o apresentador de um programa televisivo de sucesso chamado Dog whisperer (“Sussurrador canino”, aquele que sussurra com cachorros), Cesar Millan, dá lições sobre a psicologia dos totós.
Talvez não seja exagero imaginar que a tendência chegará ao ponto de invadir a ficção e nos brindar com novelinhas bitch lit estreladas por poodles cor-de-rosa. Eu seria leitor garantido de um romance policial ultraviolento sobre um serial killer da raça pitbull.
7 Comentários
Nada mais me espanta!
Sérgio, se a lista é de “auto”-ajuda, como é que o assunto do livro pode ser “psicologia dos totós”?
Criticar sem ler é muito chato. Em princípio, diria que a mediocridade não tem limites. No entanto, se me descrevessem A Metamorfose como um livro sobre um cara que vira barata…. eu não leria. Não mesmo.
Pois eu dei uma olhada em “Marley & Me” na Amazon e, pelas poucas páginas que me deixaram ler, parece aquelas leituras extremamente gostosas mas que te deixam no momento em que você fecha o livro.
Isso é só impressão, é claro. E nada contra o que eu descrevi, antes pelo contrário. É muito melhor escrito do que muita da prosa dita “séria”.
A propósito, Sérgio Rodrigues, talvez a inundação de cães em livros e na vida real, seja pq. o homem anda desiludido com o bicho homem. Os cães e os cavalos podem ajudar, e muito, o ser humano. As Clínicas Veterinárias proliferam nas grandes Capitais e conheço uma veterinária que conversa com os animais nas consultas. Para tratá-los, usa fitoterapia, acupuntura e massagens. Se pensar em agradá-la, é só dar-lhe um livro sobre animais. Parece que os animais viraram uma verdadeira febre.
Emocionou-me uma matéria na TV Cultura, em que cavalos eram usados para melhorar o humor dos portadores de cuidados especiais. Uma maravilhosa idéia.
Americanos são fissurados em Lincoln, em médicos e em cães. Conta uma velha anedota que faria milhões de dólares aquele que escrevesse o seguinte livro: Lincoln´s doctor´s dog.
Vilasboas, concordo com você, especialmente no que diz respeito a terapias para crianças especiais com cavalos. Mas fica esperto, que tem muita gente que não gosta exatamente de animais: muito mais odeiam seres humanos. Te cuida.