Diversão de feriado: uma curiosa lista de dez musas da literatura em todos os tempos, feita pelo blog coletivo “Mais 1 Livro”. Espera aí, Mayra Dias Gomes está dentro e a jovem Lygia Fagundes Telles (foto), fora?! Será que estamos nos entendendo sobre o significado da palavra “musa” – ou, por falar nisso, da palavra “literatura”? Pois é. Como ocorre com todas as listas do gênero, a melhor parte da diversão é discordar.
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Três anos após se suicidar, no dia 12 de setembro de 2008, o escritor americano David Foster Wallace ainda dá trabalho à posteridade, que não consegue se decidir sobre o seu tamanho real. A última voz de peso a dizer que ele não é tão grande assim – ecoada por Maude Newton no “New York Times” – foi a do inglês Geoff Dyer, que, como DFW, transita entre a ficção e o ensaio jornalístico. Dyer mirou justamente nos ensaios de Wallace, afirmando que “tem surtos de alergia mental” quando é obrigado a lê-los: “Não é que eu não goste da extravagância, do excesso, do barroco de colegial, da incrível verborragia. Eles simplesmente me deixam todo empolado”.
Da minha parte, acho que Dyer devia tomar um Fenergan. Quem quiser julgar por si mesmo pode ler minha tradução do longo trecho que compõe a espinha dorsal do ensaio E unibus pluram, sobre a ironia televisiva, em três partes, aqui, ali e acolá.
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Se a revolução digital parece apontar inevitavelmente para um futuro de livros gratuitos ou algo perto disso, que “valor agregado” pode levar o leitor a pagar pelo sustento de um escritor? Que tal um ombro amigo, uma palavra ao pé do ouvido? É nisso que parece apostar a ferramenta @author, lançada pela Amazon (ainda em versão Beta), que permite a um leitor do Kindle passar, em um único clique, a conversar online com o autor. Naturalmente, só vale para escritores que toparem previamente participar do jogo.
Sonho ou pesadelo? Depende do ponto de vista. Levar café na cama para o leitor tem tudo para ser o próximo passo.
5 Comentários
Bem, longe de mim querer comparar, mas a KBR já faz isso há tempos, com todos os nossos autores disponíveis no Facebook e interagindo com seus leitores, ah, eu sei, nenhum deles é tão chique que queira se isolar, tudo bem, mas tem funcionado bem… afinal de contas, (quase) todo mundo hj em dia quer estar na rede social, e por trás da tela dói menos, eu, ex-tímida rejeitadinha, posso garantir. Ah… e como diz aquela velha piada… “eu também sou escritora!” (no original: “eu também sou arquiteta”, vcs sabem)
Conheço fetichistas do livro físico em número suficiente para mantê-lo bem vivo por pelo menos mais três gerações (iniciando filhos, netos e bisnetos no culto a Gutenberg). Essa gente não duvida da possibilidade de encerrar a Biblioteca de Babel num aparelho de 300 gramas, só acha que muito do encanto se perde nesse processo, que, para eles, é como meter Leviatã numa lata de sardinha.
E a Lygia, hein? Um pitel! Pegava fácil…rs
Aí, Sérgio, sem querer poluir o tópico, a grafia correta é pitéu.
Bom, já que tou aqui, listarei algumas omissões da seleção do blog. Pensem sempre na fase balzaquiana, para as que foram muito além dela:
Rebecca West
Angela Carter
Flanery O’Connor
Elfriede Jelinek (Essa aqui, nhannmmmhmmmm…)
Virginia Woolf (Ah, a napa era o charme dela, vai, do mesmo modo que as orelhas do Kenzaburo Oe.)
Rachel de Queiroz
E, vá lá, Thalita Rebouças, embora neste caso a linha amarela do gráfico quase se sobreponha ao eixo das abscissas.
Oi Sergio, a propósito de musas literárias, se possível diga, p.f., ao Felipe Holloway que “O Livro dos Ciúmes” (Ed.Record, 1999)foi ditado ao autor deste comentário pela “Musa dos Ciúmes”. Abs. CT