Depois da banda Pussy Riot, Vladimir Nabokov (foto) é a nova vítima da ruidosa onda de ultraconservadorismo – nacionalista, populista, autoritário, religioso, anti-ocidental – que varre a Rússia de seu xará Vladimir Putin.
Michael Idov conta no blog de livros da “New Yorker” (aqui, em inglês) como uma adaptação teatral de “Lolita” que estreou no início do ano em São Petersburgo tem despertado em parte da população um furor censório que incluiu o espancamento do produtor, Anton Suslov, tachado de “pedófilo”.
A notícia parece ainda mais preocupante quando se considera que, segundo informa Idov, a mesma peça entrou e saiu de cartaz na cidade várias vezes durante décadas, sem provocar a menor marola. Até a censura soviética a liberou.
“Lolita” é só parte da campanha contra Nabokov. Os fogosos militantes reivindicam ainda o fechamento do museu dedicado ao escritor, também em São Petersburgo, e o banimento de todos os seus livros.
Talvez não vençam todas essas batalhas. Infelizmente, com Putin, têm vencido a maioria.
*
Gostei desse breve “ensaio filosófico” de Saulo Dourado sobre o ótimo romance “Barba ensopada de sangue”, de Daniel Galera. É restaurador ver uma obra de literatura contemporânea ser abordada por um prisma não exclusivamente literário, técnico ou clubístico.
Sim, é claro que romances já tiveram maior relevância cultural. Mas o fato de viver no gueto não deveria impedir ninguém de trocar figurinhas com os guetos vizinhos.
*
Isso é literatura? Não, não é. Mas é letra. E que coisa linda.
10 Comentários
Toda censura autoritária acaba como um fim em si mesma. Não acrescenta nada. A auto censura sim. E essa é liberdade inteira. Trocar figurinhas entre guetos parece ser bem mais libertador para todos.Que pena que os agressivos anti isso e aquilos não se dão conta de que todo autoritarismo termina mal. Quanto a banda Pussy, ela não trocou figurinha ele invadiu o álbum. E quanto a Barba ensopada de sangue, vi algo no Rascunho a um tempo atrás, mas vou rever para ver que figurinha é.
Isso
é lindo. Mesmo.Letratura.
Você não usou exclamação no “E que coisa linda.” Mas como foi convincente.
Não consegui achar Barba isso tudo não. Ainda não consegui entender esse encantamento geral.
Gente, agora, na segunda leitura que vi isso- “Espero que haja, ao final, a vontade de se buscar a leitura, trocá-la com pares e se ver na literatura também uma oportunidade para o debate de ideias.”
E agora que caiu a ficha do título- “A literatura brasileira é um terreno baldio”. É isso mesmo. E por que só a brasileira… Por que não a Literatura Universal… ( estou usando os três pontinhos no lugar da interrogação).
O ensaio filosófico é realmente bom, embora pareça fazer conexões muito melhores do que as intenções do autor do livro. Acho curioso esse livro, tão badalado, ser apenas comentado pelas beiradas aqui no blog. Do tanto já dito, não há o que acrescentar ou é alguma outra coisa que impede a tarefa?
É muito simples, Delair. Há mais de um ano o Todoprosa não faz resenha de ficção brasileira, embora eu a continue lendo e não possa me impedir de julgar, claro. Pensei muito nisso e resolvi me considerar impedido, sendo parte envolvida no jogo. Quanto às “conexões” do ensaio irem além das intenções do autor, não concordo, mas não haveria demérito nisso. “Ir além das intenções do autor” é quase um pré-requisito da arte que merece esse nome. Um abraço.
Taí, gostei da questão do pré-requisito da arte.
Estava aqui pensando, dependendo do governante e do tipo do governo, cada um faz o que quer e ainda força o governo a fazer.
Caro Sergio, agradeço a menção e o elogio ao ensaio sobre o livro de Daniel Galera. Acredito que faça sentido a máxima de Antonio Machado, ensinada por gente nossa como Benedito Nunes: “Há homens que vão da poética à Filosofia; outros que vão da Filosofia à poética. O inevitável é ir de um ao outro, nisto como em tudo”.
Fiz resenha de outro livro que me obrigou à travessia, caso queira dar uma olhada: http://www.ibahia.com/a/blogs/literatura/2013/05/06/memoria-da-pedra-resenha/
abraço