Resumindo a fúria dos luandinistas militantes que deixaram comentários na nota ali embaixo, sobre a recusa do Prêmio Camões pelo grande escritor angolano: também não entenderam nada, coitados.
Não deviam se amofinar tanto. Ninguém entendeu.
Curioso é pensarem que o direito – cristalino, sem dúvida – que Luandino Vieira tem de esnobar um prêmio de prestígio anula o do resto da humanidade de achar que, sem uma explicação razoável, a extravagância fica com cheiro de desfeita, e só. Não digo que seja sua intenção, digo que parece.
Uma boa explicação seria, no mínimo, sinal de respeito a José Saramago, Jorge Amado, Pepetela, Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto e Sophia de Mello Breyner Andresen, entre outros autores que já ganharam – e aceitaram, onde já se viu – o principal prêmio da literatura em língua portuguesa.
Ah, sim: servia uma explicação “pessoal, íntima”, como a que Jean-Paul Sartre apresentou ao recusar o Nobel de Literatura de 1964: “Um escritor deve se recusar a ser transformado em instituição”.
20 Comentários
Você foi apresentado, nos comentários daquela nota, à exuberante opinião dos leitores. (Só para ficar claro: isso foi uma ironia).
Estou lendo seu livro.
É verdade, Escobar. Qual deles?
Isso, “seo” Sérgio, é pra largar a mão de ser besta e achar que se pode criticar quem você quiser por qualquer coisa. Mesmo que você não seja besta (ou metido à), não tenha exatamente criticado ninguem e recusar um prêmio importante não seja apenas “qualquer coisa”.
Ache a ironia aqui que ela existe.
Um grande abraço
PS. Se o livro do Sérgio não for o “What lingua is esta?”, recomendo que o coloque na pilha, Luis Antonio. E eu nem ganho nada com isso…
Estou lendo os contos e estou gostando, PB. Aliás, suas palavras também são exuberantes. Que gênio será que se esconde por trás deste pseudônimo?
Recuso-me a receber seus elogios, caro Escobar.
Os canapés estão ótimos, a bebida é que podia ser mais farta…. posso entrar na rodinha? Só um minutinho, não é minha intenção atrapalhar. É que outro dia perguntei ao Sérgio por seus livros, que a ignorante aqui não conhece, mas se reconhece como esforçada, e ele não me respondeu… agora vou buscar uma bebidinha…..
Ô Dona Shirley, “pópara” com essas coisas. Só digou quais livros do SR eu conheço se ele não te responder até amanhã. Senão fica parecendo coisa de boiola mesmo.
Obrigado pelo reclame, Peter.
Shirlei, a sua pergunta tinha me escapado. Vamos à autopromoção: “O homem que matou o escritor”, contos (Objetiva, 2000); “Manual do Mané”, com Arthur Dapieve e Gustavo Poli, humor (Planeta, 2003); “What língua is esta?”, crônicas (Ediouro, 2005). E um romance saindo este ano.
Abraços.
Hummmmm. Vamos ver se eu fico mais esperta agora. Ou menos ignorante.
Shirlei, isso eu não garanto, mas acho que você vai se divertir. Depois me conta.
Groucho Marx dizia mais ou menos assim: “Eu jamais freqüentaria um clube que me aceitasse como sócio”. Vai ver que o Luandino também pensa assim, em relação ao prêmio.
Deal.
O “resto da humanidade” que se foda se não compreende o que é óbvio. Desde quando se deve explicações a quem quer que seja por recusar um prêmio? O bispo quer explicações? O porteiro? O Marcola?
Pelo contrário, me parece que alguns escritores devem explicações por aceitarem certos prêmios…
Sérgio,
Veja o lado bom dos comentários. Na internet o que importa são as estatísticas. E suas notas estão produzindo o resultado que os negócios pedem, ou seja, acessos. Assim, ao final de um período, poderás descolar uma grana dos patrocinadores. E ao ser indicado para um prêmio tipo Ibest poderás esnobá-lo.
Tirando a broma de lado, e retomando um pouco da nota original, diria que se não queres o prestígio, os holofotes e o dinheiro, que não cobrasse pelos livros, vivesse de outra coisa. No mais me parece só estratégia de marketing. Cruel, né?
Olhando assim, emoldurada entre comentários, que notinha mal escrita a minha. Escrever na base da emoção dá nisso.
O que vocês consideram mais promocional — aceitar ou recusar um prêmio?
Para Eduardo Lansky: favor ler meu comentário em “Por que Luandino disse não ao Camões?”
Eduardo,
Nao aceitar o premio evidentemente, pois o comum é aceitar. Ao nao aceitar, (e mais nao expressar EXPLICITAMENTE o(s) motivo(s) gerara laudas e laudas de materia em jornais, revistas, sites e blogs. Alias, se Luandino estiver lendo estas notas esta se divertindo a bessa!
Gente, primeiro tem que ganhar. O resto é fácil.
CAro Sérgio,
recomendo a leitura do artigo “A coerência do autor que recusou o Camões”
O Estado de S. Paulo – 4/6/2006 – por Patrícia Villalba. Parece-me suficiente para justificar a atitude do autor. Em suma, sua trajetória político-literária por si a explica.