A vitória da ficcionista e poeta alemã (de origem romena) Herta Müller significa que, por dois anos seguidos, o Nobel de Literatura é concedido a um escritor premiadíssimo, respeitadíssimo, mas de reduzida projeção internacional, daqueles que pouca gente leu. Ano passado, para quem não se lembra (e é mesmo fácil esquecer), o ganhador foi o francês J-M.G. Le Clézio.
Essa ignorância não é exclusiva de um Brasil periférico, onde apenas dois livros da autora são encontráveis: “O compromisso”, lançado recentemente pela Globo com tradução de Lya Luft, e o já remoto (de 1993) “O homem é um grande faisão sobre a Terra”, da editora portuguesa Cotovia. No site do Nobel, até este momento, uma enquete sobre quem já leu Herta Müller tem o resultado parcial de 92% x 8% a favor do não.
A repetição desse padrão por duas edições seguidas é uma novidade nos últimos anos. Doris Lessing (2007), Orhan Pamuk (2006), Harold Pinter (2005), Elfriede Jelinek (2004) e J.M. Coetzee (2003) compõem uma galeria com a qual o público, na maioria dos casos, pode se relacionar. Talvez o Nobel, depois de brigar explicitamente com a literatura americana no ano passado, não queira ser pop – o que pode até ser uma decisão sábia. Tomara que não se torne um prêmio da União Européia.
24 Comentários
Sérgio, welcome back! Não li Herta Müller, assim como não li Le Clézio. E sobre o Booker, algum comentário? Também não li Hilary Mantel. Bjs
Mais uma vez a Academia parece preterir a qualidade da prosa em favor de uma literatura “engajada” ou “multiculturalista”. Acho isso um contrasenso em um prêmio literário. Não acredito que seja papel principal de um escritor traçar análises políticas ou sociológicas, embora acabe o fazendo indiretamente.
Num romance, o essencial é escrever bem e contar uma boa história. Infelizmente não é assim que pensa a Academia Sueca. A cada ano que passa perco as esperanças de ver escritores do porte de Philip Roth, Don Delillo e Ian Mcewan receber o prêmio.
Meu preferido era Amós Oz. Gosto muito de Amós Oz, principalmente de A caixa Preta, Pantera no Porão e Meu Michel. Fiquei frustrado por ele não ter vencido.
Passei muitos anos torcendo para Philip Roth e Milan Kundera até perceber que eles jamais ganharão.
Pelo menos Herta Müller parece ser reconhecida, e isso fica mais ou menos explícito no comentário do Sérgio, menos pela sua personalidade e pelo seu engajamento que pela sua literatura.
Leiamos Herta Müller e tiremos nossas conclusões.
Tem o sobrenome de solteira da minha mãe. Será parente?
Sérgio, não acho sábio o prêmio não querer ser pop se o critério for esse anti-americanismo ( tem hífem ainda? ) besta. Já perderam a chance de dar para John Updike, vão perder a chance de dar para Philip Roth também? Sem contar que ao desmerecer americanos só por serem americanos, tiram o mérito de quem ganha o prêmio, como aconteceu com J-M.G. Le Clézio, de quem eu li apenas dois livros e gostei bastante. Bom, enfim… abraço grande.
Nobel de Literatura vai para a alemã Herta Müller « Acompanhe novidades de O Livreiro
Grande Sérgio
Li Herta Muller em alemão: um grande escritor não é medido pelo números de leitores. Como exemplo poderíamos citar Joyce. Quanto à literatura alemã, sabemos que esta é pouco lida e traduzida no Brasil. Discordo que Elfriede Jelinek seja muito conhecida, pelo menos aqui no Brasil, dela existe apenas um conto traduzido pelo ”gênio” Marcelo Backes, que alias também traduziu Herta Muller.
Sérgio, a tese é boa, mas a mim parece prejudicada com a inclusão de Jelinek como um autor que o público pode se relacionar. Ela estaria mais para os casos de Müller e de Le Clézio do que para os demais citados.
Caros Alexandre e Hefestus, concordo com vocês sobre Jelinek, claro. É por isso que minha frase tem aquela ressalva, “na maioria dos casos”.
este prêmio está me cheirando a valorização da sociologia em detrimento do valor literário da obra… se for assim, perde a literatura.
há tempos que o nobel vem sendo questionado, principalmente o de literatura, que tem levado em consideração aspectos outros que não os literários. herta müller? ilustre desconhecida!
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Fiquei satisfeito com o prémio . Herta Muller é uma grande escritora , os seus romances , pelo menos os traduzidos em português / europeu , não são análises politico – sociológicos , são romances , e são-no fortemente literários , como» a terra das ameixas verdes». Têm uma componente política , mas vão muito além disso . Merecido o prémio para a suábia !
__ cordialmente
JRMARTo
Eu gostaria de ler “O africano” do Le Clezio; em português custa mais de 40 reais. Já em francês, ed. de bolso, na faixa de vinte, mas não acho aqui. Li “Diário de um ano ruim” de J.M. Coetzee – genial!
E pensar que Jorge Luis Borges nunca ganhou esse premio ! Os motivos dado pelo presidente (vitalicio) da comissão do Nobel de Literatura, foi ridiculo para dizer o menos. Mais um(a) laureado(a) rumo ao esquecimento.
Não li.
Tibor,
não se iluda: “Müller” na Alemanha é que nem “da Silva” no Brasil. Se for assim, metade da Alemanha é parente da sua mãe! rsrsrsrs
Enquanto o Philip Roth não ganhar, esse prêmio não terá nenhuma credibilidade.
o Obama ganhou o nobel da paz! é mole? da pra ver que esse prêmio está com uma séria crise de identidade!!!!
O prêmio do Obama justifica-se plenamente, pois apesar da queda de sua popularidade e ao contrário dós últimos presidentes, ele não bombardeou nenhum país indefeso. 😉
Eu tbm não bombardiei nenhum país indefeso.
Nobel é pelas conquistas e realizações em determinada área, não um ‘Old Choice Awards’ (by Newsweek).
o obama ainda não teve foi tempo!!!!!
Gostei da notícia, esclarecedora, vou escrever um artigo sobre o prêmio nobel, possivelmente lhe citarei – a ser publicado em outro blog meu: http://franciscomigueldemoura.blogspot.com ou no http://abodegadocamelo.blogspot.com
Algumas obras premiadas devem ser boas. Mas acho que esse prêmio Nobel é político, e tem outra coisa por que será que os autores mais premiados são os menos conhecidos???