O escritor peruano Mario Vargas Llosa, anunciado agora há pouco pela Academia Sueca como vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2010, é um dos nomes mais incontestáveis a receber a honraria em muitos anos. Um dos mais destacados representantes da geração do chamado “boom latino-americano” dos anos 1960-70, Vargas Llosa, 74 anos, nascido em Arequipa, mora hoje em Nova York e leciona na Universidade de Princeton, em Nova Jersey. É autor de diversos romances que combinam sucesso de público com o respeito da crítica, como “A cidade e os cachorros”, “Conversa na catedral”, “A guerra do fim do mundo” (sobre Canudos), “Tia Julia e o escrevinhador”, “Pantaleão e as visitadoras” e “Travessuras da menina má”. Seu próximo romance, “O sonho do celta”, será lançado em breve. A obra de Vargas Llosa vem sendo relançada no Brasil pela Alfaguara e uma coletânea de artigos e ensaios, “Sabres e utopias”, acaba de sair por aqui aqui pela editora Objetiva, do mesmo grupo.
Nos ensaios literários deste livro, Vargas Llosa enfoca nomes como Jorge Luis Borges, Cabrera Infante e Jorge Amado, classificado por ele como o único escritor a merecer ir para o céu. Sua militância latino-americanista fica evidente, mas a literatura ocupa espaço subalterno no volume diante da atenção dispensada às memórias e reflexões sobre sua visão de mundo e carreira política: entusiasta de primeira hora da Revolução Cubana, Vargas Llosa caminhou nos anos 1980 para o liberalismo – o que contribuiu para indispô-lo de forma definitiva com um grande amigo de juventude e também escritor premiado com o Nobel, o colombiano Gabriel García Márquez. Em 1990, disputou a presidência do Peru e foi derrotado por Alberto Fujimori, o que o levou a abandonar a política partidária.
No texto em que fundamenta a escolha de Vargas Llosa, a Academia Sueca destacou “sua cartografia das estruturas de poder e suas vigorosas imagens de resistência, revolta e derrota do indivíduo”. Isso não quer dizer muita coisa, mas o que veio em seguida sim: “Ele é um contador de histórias divinamente dotado”. De todo modo, se pode haver algum potencial de polêmica no anúncio, ele é apenas político. Não faltarão especulações sobre que tipo de sinal a Academia Sueca – que parece nunca deixar de levar tais aspectos em consideração, é verdade – quer enviar ao mundo. Do ponto de vista estritamente literário, ganhou um dos grandes escritores vivos. Sua vitória é tão boa para ele quanto para o prestígio do próprio Nobel, quebrando uma sequência de seis anos em que haviam sido premiados cinco europeus – além de um turco, Orhan Pamuk. Desde a vitória de García Márquez, em 1982, um escritor sul-americano não levava o prêmio de 1,5 milhão de dólares.
Em declarações ao site do jornal espanhol “El País”, o escritor peruano disse que, a princípio, quando recebeu a notícia, julgou tratar-se de um trote. “Acreditava ter sido inteiramente esquecido pela Academia, nem mesmo sabia que o prêmio seria anunciado este mês”, disse. Declarando-se “muito comovido e entusiasmado”, acrescentou que o prêmio é um “reconhecimento à língua espanhola”.
Como nota curiosa, registre-se que as casas de aposta londrinas, que este ano nem previram o nome de Vargas Llosa, são mais uma vez as grandes derrotadas.
Confira os outros vencedores dos anos 2000:
2009 – Herta Müller
2008 – Jean-Marie Gustave Le Clézio
2007 – Doris Lessing
2006 – Orhan Pamuk
2005 – Harold Pinter
2004 – Elfriede Jelinek
2003 – J.M. Coetzee
2002 – Imre Kertész
2001 – V.S. Naipaul
2000 – Gao Xingjian
(Atualizado às 11h18.)
20 Comentários
Sérgio, foi com imensa alegria que recebi essa notícia hoje. Acho que um prêmio como o Nobel precisa ter relevância mundial. É estranho ter vencedores que são conhecidos num círculo restrito.
A indicação de Mario Vargas Llosa é a premiação da narrativa, a premiação de um maravilhoso “contador de histórias”, como eles reconheceram.
Estou feliz pelo prêmio ter sido dado a ele, por ter sido dado a um autor da América Latina, por ter sido dado a um escritor que encanta e nos dá prazer em seus textos.
Bjs
Leitor de Euclides da Cunha, Llosa recontou a história de Canudos em A Guerra do Fim do Mundo. O escritor peruano mereceu ganhar o prêmio Nobel hoje. E tem em seus escritos uma página da história brasileira.
Está na hora da Academia Sueca pôr um brasileiro lá. Sugiro Guimarães Rosa!!!!!!!!!!!!
Que boa notíci!a! Sou grande fã do Vargas LLosa.
Jorge Amado é o único escritor que merece ir para o céu, diz ganhador do Prêmio Nobel de Literatura 2010 « Centenário de Jorge Amado
Sergio, você não sabe como estou feliz com a notícia. Não só por ser peruano, mas também porque Vargas Llosa é um dos meus autores favoritos. Estou terminando de ler o magistral Conversa na catedral. O prêmio é merecidíssimo!
Parabéns ao Llosa, mas ainda quero ver o Philip Roth premiado.
Que maravilha! Fiquei extasiado com essa notícia hoje. A escrita de Vargas LLosa é deliciosamente vasta e infalível. Poucos são os que escrevem tanto e tão bem. É uma pessoa que nos ensina a ler de novo, sempre… Agora nos resta esperar pelo discruso oficial, que sempre é publicado pela Academia, e não raro trata-se de uma boa obra.
Parabéns ao Llosa – pela literatura e pela visão política (que o filho retrata com ainda mais clareza). Prêmio mais do que merecido, tanto pelo escritor quanto pela Academia.
E o Brasil? Quando receberá tal honraria? voto no Diogo Mainardi – alguém me acompanha?
Não há dúvidas que Llosa é o grande merecedor desta edição do Nobel 2010, sua escrita é rica e cheia de nuances como um campo em plena primavera. Contudo, o título que foi dado à matéria parece delinear uma opinião cuja escolha feita pela academia sueca teria como propósito ir além do campo da literária, mas o de ampliar ou reposicionar estrategicamente sua abrangência de mercado, no caso a América Latina.
Sérgio, não esquecer Octavio Paz, em 1990!
Não esqueci, Marcelo. Por isso escrevi “sul-americano”. O Octavio Paz é do México.
Achei a escolha tão boa, que, quando li, pensei alto: “de novo?”.
Tinha certeza que o sujeito já era Nobel há tempos.
SABE, GENTE QUEM ESTAR COM INVEJA DO ESCRITOR PERUANO DEVE SER O SARNEY ERA UMA DE SUA ASPIRAÇÕES.JÁ QUE A ACDEMIA DE LETRAS DO BRASIL LHE DEU UM ASSENTO FORMA GRATUITA.PODE-SE CONFIAR NUMA ACDEMIA DESSA? QUE TEM O SARNEY COMO ACADEMICO.NÃO TEM UM LIVRO QUE PRESTE, NÃO SERVE NEM PARA LIMPAR AQUILO.
AQUILO.
Na pressa, entendi latino-americano, desculpe.
muitos parabéns a meu compatriota,mario vargas llosa,agora falta guimaraes rosa,
Neil e Ernani, Guimarães Rosa deixou de ser elegível quando morreu. Abs.
Olá!
Legal que o prêmio tenha saído para o escritor peruano. Nunca li seus livros, mas sei que suas obras sao de grande valor literário – palavras de Marcel Reich Ranicki – grande crítico literário alemao. No momento estou lendo “O Museu da Inocência” de Orhan Pamuk. Estou gostando, embora Ranicki nao tenha tido interesse em conhecer o trabalho do escritor turco. Coisas do grande mestre. Abs.
Nossa estou surpreso pensei que o premio iria para o Tomas, estou at´um pouco decepicionada tava torçendo pra ele.
Como dito no artigo acima, realmente a Academia tem um viés muito político na escolha, nem sempre reverenciando a boa literatura. Embora, o caso de Llosa e alguns outros sejas merecidos. Em língua portuguesa, não reconheceram gênios como Machado de Assis (ainda que póstumo) e João Guimarães Rosa (que ainda era vivo, quando da criação do prêmio).