De vez em quando eu dou para os outros, vocês, o endereço informático e depois me arrependo. Um blog ainda contém certos resquícios gutenberguianos. Feito a revista que a gente assina, recebe em casa e não empresta para ninguém, nem deixa exposta em cima de coffee table na sala de visitas. Nós, ou ao menos este criado que vos fala, quer exclusividades. Não estou aqui também, sou franco, para dar hit e page impression para malandro nenhum. Podem me fazer de dado estatístico, mas minha alma informatizada, nem que seja apenas para as aparências, continua sendo minha, só minha.
Ivan Lessa encontra paralelos insuspeitados entre o papel e a tela do computador. Imaginei um conhecido meu, com seu português de legenda de filme, interpelando o homem: “Mas, senhor Lessa, a internet é sobre compartilhando!”
Mas fiquei bem curioso para saber: será que mais alguém aí tem ciúme e sentimentos de posse em relação a seus blogs favoritos?
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O problema do Ivan Lessa, que não chega a ser um escritor ruim, é todo esse esforço, geralmente de resultado insatisfatório, de enfiar uma piada no texto a cada três palavras. A repetição elimina a surpresa e, sem ela, o efeito cômico anula-se, com o tédio tomando seu lugar. Tudo isso, obviamente, resultado da educação moderna, demasiadamente protetora e extremamente condescendente, que insufla um nocivo excesso de autoconfiança que transforma o indivíduo, quando alcança a idade adulta, numa criatura desprovida de senso crítico e cega às próprias limitações.
O trágico é que as chineladas, outrora tão necessárias, não mais surtirão efeito.
Quantas vezes já tentei transcrever essas camadas mais superficiais da minha alma, pura especulação, a isso e a todas aquelas descrições intermináveis a despeito do ” eu+meu” , burlando a memória de que todos mamamos um dia, com exce”ss”ão dos muitos répteis facilmente declarados. Porém, há de se observar quem são os que se sentem ameaçados, ou engrossam o caldo do discurso reverso a tudo isso, cito por exemplo aqueles “donos dos LP’s “, não os apaixonados por essas midias, mas os tais que por dinheiro, influência, falcatrua, ou seja lá o que for, detinham uma espécie de cultura musical surpreendente, mas alguns foram subitamente transplantados diante da internet, o mesmo acontece com escritores e outras áreas. Vejo nisso tudo, no medo do visionário invertido, na sensação do antes era bom, do vamus parar aonde, questões de hábito. Compartilhamento de “objetos” preocupa principalmente o clã dos atravessadores. Compartilhamento de processamento incomoda políticos e tecnocratas. Compartilhamento de configurações não servem aos ditadores estéticos. É mais ou menos aquela história: Se vc não tivesse nascido, seria o que?
Não duvido que tenha gente que fique com “ciúme e sentimentos de posse” em relação aos seus blogs favoritos, e prefira que eles permaneçam desconhecidos.
Tem maluco pra tudo nesse mundo. Um dia desses vi uma discussão sobre a banda Beirut, e os fãs estavam reclamando porque entrou na trilha sonora da minissérie Capitu, e portanto se “popularizou”.
Síndrome de indie é uma das coisas mais patéticas que conheço.
O Ivan Lessa é um anacrônico que faz questão de não se adaptar ao mundo moderno. Não digo isso como uma crítica, mas apenas uma constatação. Escritores não precisam seguir tendências, e esse passadismo lhe dá um certo charme.
Uma pergunta para o Sr. Lessa: coméquié?
Depois que foi noticiado que o Presidente não lê jornais, não assiste os noticiários televisivos, é avesso a telefonia móvel informtiva, não perde um jogo do Corinthians e é fã do BBB9…as tendências devem ser reformuladas.
Os blogs também são estudados por seus efeitos terapêuticos. A escrita [incluindo relato de experiências pessoais] possui efeitos fisiológicos muito benéficos.
Eu ajo diferente: Divulgo meus Blogs favoritos. Acho isso um serviço de inutilidade, mas sempre divertido.
Eu me sinto como parte integrante do Blog do Gerald Thomas,
não consigo sair sair de lá. Tem outros que também não saem.
Tem alguns que, se falar do blog, brigam.
Um testo do Gerald chega a 600 comentários.
Trunca a tela, fica difícil de rolar. É um fenômeno de audiência.
Só as pessoas que realmente gostam de ler podem apreciar os bons blogs, com o perdão da onomatopéia.
Tento compartilhar livros, filmes, CDs e blogs que admiro com as outras pessoas. Mas o fato é que não adiante indicar pérolas aos porcos e vice-versa. É contraproducente. Para usar um tipo de metáfora cara ao presidente Lula, eu procuro apenas levantar a bola. Forneço indicações somente àqueles que possuem gostos similares aos meus. Já cansei de quebrar a cara.
Eu não. Vocês podem usar e abusar do meu Opiário, à vontade:
http://opiario.livejournal.com
Só não mandem insultos nem mensagens cristãs, por favor, que eu não mereço.
Blog bom é aquele cheio de figurinhas. Muito texto é uma droga. Ler é ruim.
“O problema do Ivan Lessa, que não chega a ser um escritor ruim, é todo esse esforço, geralmente de resultado insatisfatório, de enfiar uma piada no texto a cada três palavras.” [2]
Hein?
“Um ‘testo’ do Gerald Thomas”? Logo se vê o nível da audiência do gajo! Prefiro os comentaristas do Sérgio Rodrigues. Aqui é raro ver essas barbaridades… A gente samos pocos mas já conhecemos o Acordo Ortográficu!
Puxa, como tem leitor que se irrita com as brincadeiras do Lessa. Essa gente me lembra aqueles colegas, nos tempos do primário, que queriam partir pro pau quando eram chamados por apelidos.
O problema do Lessa é não ser um escritor. É ter talento de sobra e deixar pra lá.
Ultimamente, o homem anda cansado, nota-se, mas prefiro um Lessa cansado do que a energia dos “testos” do Gerald Thomas, por exemplo.
Divulgar sempre!
Ciúme já me basta o da real life 🙂
Abss!
Irritar-se com o Lessa? Pode ser, se o sentimento de tédio, mais ágil que a ira, não tomasse conta do meu espírito antes de começar a espumar-me. E aí deito fora o texto do Lessa, perdendo a oportunidade, que acredito ser imperdível, de odiá-lo. Como irritar-se com textos que nunca consegui terminar?
Mas fico feliz de saber que ele tem um talento tão grandioso, mas tão grandioso a ponto de não caber em nenhuma obra de arte. Decerto, as 26 letras do alfabeto são insuficientes para traduzir a riqueza do universo mental desse indivíduo e do seu inigualável talento. Diante dessa escassez de recursos, é compreensível que esse notável artista das palavras se sinta obrigado a optar pelo silêncio.
Disse que fico feliz? Minto! Estou, na verdade, reconfortado. Pois, agora, sei de antemão que não terei de ler a obra-prima que ele jamais escreverá, o que me poupará de incorrer no pecado da ira, coisa que, asseguram os Doutores da Igreja, redundaria na perdição da minha alma.
é o tipo de coisa estranha. Por exemplo, quando eu descobro um blog super legal, e serve pra música, mini-série, e outrem, geralmente divulgo pra todo mundo, como se fosse meu dever espalhar pelo mundo. Mas quando eu acho alguém que já lê o tal blog, me dá uma inveja danada de não ter sido eu a contar pro dito cujo…
Saint-Clair: Eu desconheço esse tal de acordo ortográfico. Continuarei desconhecendo enquanto eu viver.
Eric: Não vá correr com uma colher de sorvete daqueles que lêem os mesmos blogs que você (O Eric entendeu, desculpem pela piada interna).
Olha, Rafael, pelo teu tom você parece prestes a chamar o Lessa lá pra fora e resolver isso no braço, como homens. Tudo bem, pode ser só o jeito de falar. Mas há outro sinal inquietante: eu disse que o problema do Lessa era não ser escritor, era deixar pra lá, e você ficou clamando pelos livros dele. Se não é sangue quente, o que é? Leitura apressada? Se você jamais conseguiu terminar um texto do Lessa, das duas, uma: ou você não vai com a cara dele, ou é muito jovem, não deve ter pegado o Pasquim. No Pasquim há dezenas e dezenas de amostras do talento literário e humorístico do Lessa. Agora, se você não vai com a cara do homem, não há o que fazer. Parafraseando o Borges, nem todo escritor escreve para nós.
tudo isso é culpa única e exclusivamente de uma coisa: a macumba feita erradamente.
só isso.
Concordo com o Rrafael sobre o presente do Lessa em Londres, apesar de conhecer seu passado no Pasquim. Alias, a hidra que gerou Millor, Ruy Castro e Francis [ironia on] tambem gerou o Lessa.
Ainda bem que Lessa, o chato-old, escreve pouco…
Pelo contrário, acabei de sugerir o blog da Lucia Guimaraes para “as ultimas”.