Na Flip, o mexicano Mario Bellatin contou como, estudante de comunicação em Lima, lançou sua primeira obra: vendendo vale-livros (ricamente impressos) para amigos e conhecidos em nome de uma editora fictícia, a fim de financiar uma edição do autor. A parte surpreendente da história é o sucesso que a estratégia fez, botando Bellatin no mapa definitivamente.
Achei curioso voltar de Parati e descobrir que o blogueiro Alex Castro – que não conhecia a história de Bellatin até eu mencioná-la – está tramando em esquema semelhante de pré-venda o lançamento de seu primeiro romance de papel, “Mulher de um homem só”, que já andou disponível em pdf no site do autor. A editora, a independente Os Viralata, não é exatamente uma ficção, mas o resto bate.
Num tributo ao fetiche da celulose, que não dá o menor sinal de agonia em meio a toda a fanfarra virtual, os primeiros compradores terão seus nomes listados na edição.
Fica a dica para quem quiser se lançar no mercado neste momento em que o apetite das grandes editoras por novos nomes, após a voracidade do início do século, vai se aproximando da anorexia.
15 Comentários
A prática do “vale-livro” parece que é antiga. Em “Querido Poeta: Correspondência de Vinicius de Moraes”, o poeta em início de carreira relata como se valeu do método para lançar um de seus primeiros livros. Não lembro qual.
sim, o método é antiquíssimo. antes de existirem editoras (q sao basicamente financiadoras de livros) ou os autores pagavam suas edições do bolso ou faziam isso.
alias, a novidade eh justamente usar a internet pra turbinar o metodo mais antigo de publicacao do mundo! 🙂
Interessante é o panfleto satírico circulado pelo genial Swift, em que, a pretexto de colher subscrições para o lançamento de obra futura, faz desse panfleto a própria obra, fugindo à censura da época, aos custos, à exposição de seu nome, e mandando seu recado a título de “sinopse” da obra a ser lançada (artimanha de fato sensacional: por intermédio dela Swift expõe o gosto do povo pela “maravilha” e pela inverossimilhança em matéria política, expondo, mais uma vez, o ridículo da espécie humana).
Dizem que Camões pediu uma grana para o Rei. Ainda descolou uma aposentadoria.
Se você não é Camões, bem vindo à selva.
Assim era no tempo de Bellatin, hoje, são diversas as opções. Em tempos de internet (o que é um livro? ), publicação é ‘milestone’ ou processo? Em 2006, publquei (um milestone) o romance SD8 em papel. Hoje, realizo uma adaptação deste romance em redes sociais (um processo).
Dia desse, uma preocupada jornalista me perguntou se abrir gratuitamente a história na web não mataria a venda do livro. Respondi, mas é óbvio que não. Se pensar a maneira antiga, observaria que, quanto mais informado, o leitor tende a comprar mais (levando em consideração, claro, a segmentação de mercado). E isso realmente está acontecendo. Se pensar à maneira nova, temos que entender que um escritor escreve para ser lido, e, hoje, ele poderá ser lido no papel e na tela. Aí, as possibilidades são diversas, em termos de disposição do texto, acesso ao público leitor, integração de elementos midiáticos e até internacionalização do conteúdo.
Claro, vivemos tempos novos e os modelos ainda não estão estabelecidos. Na verdade, estamos ainda criando os modelos, ainda experimentamos. Mas, penso, que a integração do texto com o software trará um poder imenso aos escritores (e editores). O SD8, no Twitter, ao final de cada capítulo, é disponibilizado em vários idiomas através do Google Translate (inglês, francês, espanhol, alemão etc). Dirão os céticos: mas isso é um absurdo, a tradução destas ferramentas beiram o nonsense. Sim (alguém duvida que não vá melhorar?) , mas acreditem, um diálogo pode começar aí e, no meu caso, tem sido bem positivo, incluindo o interesse de editoras estrangeiras na publicação do romance. Mas, isso, definitivamente, não é o mais importante. O mais importante é entender que o escritor do nosso tempo (quando não terá sido assim?) escreve para ser lido, seja no papel, seja em redes sociais, e tudo isso estará integrado.
Vejam os blogs por exemplo: no caso dos escritores, penso, poderão ser vistos cada vez mais como um hub pessoal, interligando todos os recursos on-line desse escritor. O SD8, por exemplo, é livro (papel), widgets, rádio, citações, profiles no Twitter, videos no youtube, canção, etc.
A narrativa, necessariamente, torna-se transmidiática e a unidade de informação consumida muda. Esse talvez seja o problema maior que vivenciamos nesses tempos de transição. Se tomarmos como exemplo um jornal, é notório que nossa unidade de consumo é o artigo, do CD, migramos à faixa. Qual seria a unidade de consumo de um livro (ficção e não ficção)? Essa é a pergunta mais importante que certamente conseguiremos responder nos próximos anos.
Sou um autor novo “no pedaço”, ou seja, na selva. O livro foi publicado pela Editora Isis e se enontra à venda no “Submarino.com”, “Americanas.com”, Livrarias Saraiva, etc e tal. Mas, estou divulgando minha obra no Blog: “http://contraavontadededeus.blogspot.com”, para dar maior visibilidade do livro ao público leitor e, dessa forma, conseguir que se interessem pela obra, a comprem e, claro, leiam-na. É muito difícil ao autor iniciante, como eu, conseguir espaço na mídia. Portanto, creio ser importante encontrar um meio de fazer a obra chegar a um grande número de leitores, e o Blog é um desses meios, creio eu. O Blog pode ser uma versão do “vale-livro”. Será?
Nem vou importunar vocês com minha aborrecida literatura. Dêem-me dez reais que vou embora e não encho o saco.
Oi Sérgio
Eu também estava na Flip e também me surpreendi com a história do Bellatin.
Em 2007 eu e um grupo de novos autores aqui de Porto Alegre, reunimos nosso trabalho em uma antologia, organizada pelo escritor Charles Kiefer. Tudo muito bonito, mas tinha aquele velho porém: como viabilizar, economicamente, essa edição?
Fizemos um projeto de pré-venda: 10 cartões-postais alusivos aos contos, mais um vale-livro. Foi um sucesso, pagamos a gráfica e enchemos a livraria no dia do lançamento.
Tinhamos uma editora, com CNPJ-e-bla-bla-bla, que colocou seu selo no livro. Mas, obviamente, por sermos autores desconhecidos, emprestou seu selo e não seu dinheiro. hehehe
O projeto deu tão certo que lançamos o livro em Passo Fundo e, no ano passado, em São Paulo.
Mas, vale a pena dizer, que não adiante ter estratégia de marketing se entre as páginas o texto for vazio. É claro que o livro é um produto, e como produto precisa de estratégia para vender.
Porém, antes de chegar a ser “produto” ele é palavra. Literatura.
Prá quem quiser conhecer mais sobre o Inventário das delicadezas, seus autores:
http://www.inventariodasdelicadezas.wordpress.com
Muito além do cidadão… Ivanovitch!
Engraçado que mesmo sem ter conhecimento de tal processo, assim que terminei de escrever meu primeiro livro , tive a genial idéia de mandar um e-mail para todos os amigos e conhecidos, e também desconhecidos dos quais tinha o endereço de e-mail, pedindo uma contribuição simbólica de R$ 5,00, para que pudesse publicar meu livro, e coisa e tal, e que teriam o nome escrito nos agradecimentos do livro…
Claro que não funcionou. Apenas um amigo me deu a contribuição de R$ 5,00 (o q
Muito além do cidadão… Ivanovitch!
Engraçado que mesmo sem ter conhecimento de tal processo, assim que terminei de escrever meu primeiro livro , tive a genial idéia de mandar um e-mail para todos os amigos e conhecidos, e também desconhecidos dos quais tinha o endereço de e-mail, pedindo uma contribuição simbólica de R$ 5,00, para que pudesse publicar meu livro, e coisa e tal, e que teriam o nome escrito nos agradecimentos do livro…
Claro que não funcionou. Apenas um amigo me deu a contribuição de R$ 5,00 (o que torramos logo a sguir em cerveja!).
no entanto, na publicação para valer, quase desisti, pois o valor que tinha que custiar da minha parte na parceria junto a editora era muito alto. Mas, graças ao editor, que me acalmou e me falou para pensar bem, voltei de Osasco para minha cidade matutano, e acabei tendo a idéia de vener antecipadamente meu livro; o que me salvou.
Não consegui todo o dinheiro que tinha que investir. consegui quase a metade, o que me aliviou para juntar o restante no intervalo da edição da obra.
E agora, vejo essa minha idéia, que pensei na época ser bem original, de original não tinha nada.
Abraço a todos.
E desculpem se o comentário foi pela metade, em outro comentario, pois não sei o que fiz que foi enviado acidentalmente..
Taí, lendo esse post tive uma idéia: vou leiloar uma noite de amor comigo, pra financiar a publicação do meu livro de contos Dias estranhos!
Pensando bem, vou leiloar VÁRIAS noites de amor. Para ambos os sexos.
Lances a partir de 50 reais, por favor.
Quem dá mais?
Claro que não seria original a ideia, a fissura literária é antiga, mas de repente o seu solitário trabalho de escrita amadurece e, reconheçamos, o livro (ainda) é o filho que queremos ter…
Tanto é que, apesar de alguma coisa na internet (vejam http://livri.blogspot.com/), aconteceu comigo e foi bem agora, a menos de um mês.
Daí, estou fazendo de tudo um todo e já marquei o lançamento de Rio de Amores, contos, para 15 de Agosto, vejam em http://riodeamores.blogspot.com/.
O que só será possível graças à chamada publicação sob demanda e uma esforçada campanha de vendas antecipadas.
E aí descobri o Alex e outros fazendo (ou tendo feito) o mesmo. Estamos aí, “Nem tudo é lucro. Às vezes, é literatura.”
Guina Ramos
Uma seleção de bons posts « O Livreiro
estou publicando um livro de poesias pela editora Livre Expressão que sai agora em novembro. onde posso coloca-lo para vender