Essa moça aí ao lado é Edna O’Brien, escritora irlandesa que, salvo algum efeito Carlos Fuentes de última hora, estará na Flip. Mas não se trata do mais fiel retrato de divulgação que se pode encontrar: Edna está hoje com 78 anos e só veio parar aqui no blog, em foto de 1965, como porta de entrada para a divertida galeria de velhos anúncios publicitários de literatura disponível no site do “New York Times”, quase todos com a carinha do autor (uma Susan Sontag gatinha entre eles) e uma série de blurbs que, em sua previsibilidade e seus clichês, talvez sejam a única coisa que não tenha mudado absolutamente nada desde então.
Edna é pouco conhecida no Brasil. Tornou-se um ícone do feminismo nos anos 60 depois que teve seu livro de estréia, The country girls, proibido na Irlanda por conter descrições supostamente livres demais da vida sexual das personagens femininas. Por aqui, além da biografia de James Joyce lançada nos anos 90 pela Objetiva – e programada para relançamento em breve pela mesma editora – saíram a coletânea de contos “Uma mulher escandalosa”, pela Francisco Alves, no distante 1982, e o
o romance “Dezembros selvagens” pela Bertrand Brasil, em 2003.
Destes, só o último ainda pode ser encontrado em livrarias online. Para os dois primeiros é preciso recorrer à abençoada Estante Virtual. E quanto a The country girls, mesmo tão emblemático, ninguém parece ter se animado por enquanto. Quem sabe se animam quando virem o charme sessentoso – e, isso sim um escândalo nos dias que correm, fumante! – da autora?
17 Comentários
Não sei se alguém aqui já reparou, mas os retratos de escritores, em geral, mostram a imagem de alguém ensimesmado, observando o mundo de soslaio, com os olhos ligeiramente inclinados para o alto, como que encarando o futuro com desprezo. Uma visão que lembra o olhar vago dos caubóis, momentos antes do duelo, em direção ao sol poente, o maior dos clichês dos antigos filmes de faroeste.
Acredito que algum tomo antigo de psicologia deve ter uma explicação para esse curioso fenômeno pictográfico.
E também tem aqueles escritores que – entra ano, sai ano – não mudam as fotos de divulgação, a ponto de ficarem parecendo os avós de si próprios em noites de autógrafos.
Sérgio, já que é tão difícil arranjar um livro dela, me empresta? Talvez a FLIP, como nas ultimas edições, abra mercado para bons autores pouco conhecidos por aqui.
Por sinal, você acha que a FLIP já teve efeito contrário sobre algum autor? Alguem saiu da Festa queimado?
por fim um Merchandasing: Eu, o Bruno Machado, o Eric Novello e mais um pessoal estamos com um blog colaborativo novo e convidamos todos para visitar em http://arlequinal.novasvisoes.com.br/.
Os amantes da Literatura que queiram colaborar, falem comigo. Meu email de contato está em algum lugar por lá.
Oras… e o Eric não me fala nada…
Tibor, não entrega o Eric assim, na bandeja de prata. DÊ uma olhada lá o negócio está engatinhando ainda.
August is a wicked month… Que hipertexto maravilhoso, Sérgio, com o SD8!
Para outras fotos interessantes, incluindo as de autore[a]s, vale a pena acessar a NYPL Digital Library.
Fernando et al: nossos votos de boa sorte ao novo blog!
Abs.
Sérgio,
Nem uma palavrinha sobre a saída do Fonseca da Companhia das Letras?
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3746946-EI6581,00-Bolano+nao+motivou+saida+de+Fonseca+diz+editora.html
Rafael, Hemingway não fazia esse tipo de pose – suas fotos remetem inclusive ao tipo de literatura que fluía de sua personalidade. Não é à toa que todo mundo queria ser como ele…
Sérgio, o charme da O’Brien é sessentoso ou setentoso? Ela tem 78, não é?
Sérgio, não precisa responder ao meu excesso de otimismo. Abri na divertida galeria e só então entendi (embora a foto seja a mesma) que o charme sessentoso se refere à década de 1960, quando a autora estreou. Além de otimista, eu sou lenta mesmo.
É isso, Lya. A foto é de 1965. Só não entendi onde entra o seu otimismo nisso…
Excelente resgate. No mínimo um tesouro que emerge.
Sérgio, meu otimismo entra em ter pensado que o charme sessentoso se referia ao charme da mulher sexagenária que seria a O’Brien (na verdade, septuagenária) e não à década da foto. Beirando os 80, ela pode estar muito diferente. Mas, vamos mudar o rumo dessa prosa que o assunto que interessa é outro. E, mais uma vez obrigada por suas dicas sempre maravilhosas.
Fiquei curioso em conhecer a biografia do Joyce. É boa mesmo?
Essa Flip deve ser o máximo! Quem sabe um dia poderei visitá-la…
A Estante Virtual é mesmo abençoada!
Abraço,
W.M.Carvalho
Acabo de ler a seguinte manchete (sem tirar nem por como quero indicar também com as aspas), produzida pela própria FLIP, e penso no que seria a qualidade dos textos de divulgação se isso fosse um evento de outra especialidade. Quero dizer, ainda sou otário a ponto de supor que as pessoas envolvidas com jornalismo ou literatura necessariamente são alfabetizadas:
“Oficina de Poesia com Paulo Henriques Britto e Carlos Fuentes cancela vinda à Paraty”.
Off topic:
Acabo de ler a seguinte manchete (sem tirar nem por, como quis indicar também com as aspas), e penso no que seria a qualidade dos textos de divulgação se isso fosse um evento de outra especialidade. Quero dizer, sou otário ao ponto de supor que pessoas envolvidas com jornalismo ou literatura são necessariamente alfabetizadas:
“Oficina de Poesia com Paulo Henriques Britto e Carlos Fuentes cancela vinda à Paraty”.
Caro Sergio,
a ótima biografia de James Joyce, apesar de tida como esgotada, ainda pode ser adquirda no site do submarino, num preço ótimo.
http://recorte.org/flip2009/2009/05/21/livros-lancamentos-flip-2009/