As conversas sobre o livro na era eletrônica, tema da reportagem que recomendei no post de ontem, têm muito a ganhar com esta nota do site nova-iorquino “Gawker” sobre o Kindle, a maior aposta – ao lado do Sony Reader – de quem acredita, discordando de Steve Jobs, que aparelhos eletrônicos dedicados à leitura vão revolucionar a indústria editorial em poucos anos:
Já houve dezenas de supostas aparições, mas você ou alguém que você conhece já viu realmente um Pé-Grande – ou uma pessoa de verdade usando o leitor eletrônico de 400 dólares da Amazon? Sim, o Citigroup informa que as vendas estão “melhores do que se esperava” e prevê que “a Amazon venderá até 380 mil Kindles em 2008, bem acima da previsão inicial de 190 mil”. Pensamento positivo? Papo de maluco? Nós exigimos provas fotográficas autênticas.
Sim, o “Gawker” tem um tom venenoso, bitchy, no limite da irresponsabilidade – essa é uma de suas atrações. Erra bastante. E acerta muito também.
(A propósito: de maluco ou não, e ao contrário do que sugeriu um leitor ontem, essa conversa toda me parece bem distante do seminário dedicado a discutir a “web literária”, blogs de escritores etc., que o site “Cronópios” está promovendo a partir de hoje em São Paulo.)
7 Comentários
Também li a matéria e fiz um post no meu blog (mencionado acima) dizendo que a matéria era boa e completa, porém não considera a diferença entre as artes e os seus suportes: o livro está na história da humanidade, os discos são apenas uma parte relativamente pequena dessa história. Se a indústria fonográfica sofre com o advento da internet, dificilmente o livro sofrerá, por diversas questões, incluindo a questão da tradição do livro impresso. Ao mesmo tempo, como a matéria comenta a frase de João Ubaldo Ribeiro, quem sabe o que vai acontecer daqui 10 anos? De qualquer maneira, acredito mais na integração livro impresso + web do que no fim do papel.
Grande abraço e parabéns pelo ótimo blog.
O que realmente tem funcionado, a meu ver, na integração web + livros, é a possibilidade de se encontrar comodamente aquele livro que se quer e até algumas novidades literárias que não são tão fáceis de se achar na livraria da esquina. Sou leitora voraz, e volta e meia leio um ou outro e-book em meu computador, em casa. Dá pro gasto. Já tentei lê-los em aparelhos MP5, mas não gostei. Nunca me interessei pelo kindle, mesmo já tendo passeado pela amazon diversas vezes. Não abro mão mesmo é de um bom livro em papel. Da mesma forma que eu, diversas pessoas que conheço preferem o livro impresso. Mas, daqui a alguns anos, quem sabe?
Eis porque Gates é Gates e Jobs, bem… Jobs, de vez em quando, vem com uns brinquedinhos até legais, concordo.
Gates no início de 2007 anunciou:
“So reading is going to go completely online. We believe that as we get the smaller form factor, the screen has gotten good enough. Why is reading online better? It’s up to date, you can navigate, you can follow links. […] Today for people who read newspapers and magazines, even the most avid PC user probably still does quite a bit of reading on print, but as the device moves down in size and simplicity, that will change, and so somewhere in the next five-year period we’ll hit that transition point, and things will be even more dramatic than they are today.
Confio mais no tio Bill.
Sobre o seminário cronopiano: boa sorte aos colegas Edson e Pipol (que publicaram na internet meu primeiro conto: “Om”).
Porém, pelo perfil dos conferencistas, tende a ser incompleto: discutir web literária (seja lá o que isso for), simplesmente pelo fato de se falar de web, deveria considerar também um ponto de vista técnico.
Aos escritores — além, claro, do idioma, da imaginação, criatividade, observação, síntese etc — bastava entender o funcionamento de lápis, papel e, talvez, uma máquina de escrever.
Hoje, é de bom tom, saber tratar um processador de textos por “você”, e não por “Vossa Excelência”.
A produção de textos na internet, requer alguns pré-requisitos a mais: é preciso entender da existência e funcionamento de coisas como XML, OWL, JavaScript, apenas para citar alguns.
Ainda assim, torcemos para que o debate cronopiano seja, ao menos, um bom primeiro “ensaio de armas”.
Acho que foi no Cronópios que li um artigo, não lembo de quem, dizendo que todo bom escritor já tem editora. E que como talento não nasce em árvore, demoraria um tempo rzoável para aparecer uma nova geração de bons escritores nacionais. Era um artigo que apoiava o movimento das editores de se fecharem para novos autores. Justificava o ciclo das editoras equiparando-o a esse tempo de renovação e, é claro, dava uma sacaneada em literatura internética.
Não sei o motivo, mas não me deu a mínima vontade de acompanhar esse seminário de ‘web literária’.
Livro não quebra nem precisa de bateria. É portanto uma tecnologia superior e que continuará firme e forte por longos anos. As máquinas de ler livros, parece-me, ocuparão nichos: como “estante virtual” para se levar diversos livros em viagens; como instrumento de leitura de textos em outro idioma, já que comportam dicionários e outros recursos interessantes a um clique de distância; como bloco de notas no trabalho, em palestras, estudos de campo etc. Em suma, falar em substituição de um por outro é bobagem.
Não há deslumbramentos nem passadismos nessa discussão. Há preferências. Preferências militantes da parte daqueles que estão atentos às novas mídias na convivência (ou substituição, mais raramente) entre elas e apego sentimental ou prático à tecnologia existente, que permanecerá por um longo tempo (o que é um longo tempo nessa quadra da história?)
Sobre a derrocada do CD, é bom observar a questão do preço. O CD substituiu o vinil sem nenhuma vantagem pecuniária para o consumidor. Em tempos normais (‘antes de ontem’), um CD novo seria vendido entre 40 e 50 reais. Por quanto seria vendido um LP na mesma situação?
Diante disso, a tecnologia que passou a existir (não havia tecnologia para piratear o vinil) se beneficiou com a possibiidade de colocar para o consumidor um produto bem mais barato, ainda que de qualidade duvidosa.
(Os chefões das gravadoras de disco jamais imaginaram que aquelas fitas K7 que gravávamos em casa, e que feriam pouco o seu faturamento, gerariam herdeiros tão catastróficos).
Encerro antes que saia mais ainda do tema.