Uma empresa de pesquisa de mercado chamada Flurry acaba de anunciar (em inglês) que, em setembro deste ano, os aplicativos de livros para iPhone tomaram pela primeira vez dos aplicativos de games a liderança em número de downloads.
A informação fica mais interessante quando degustada ao lado da reportagem (em inglês) que Joel Achenbach publicou na quinta-feira passada no “Washington Post”, sobre o futuro das narrativas longas na era digital:
Para entender a mágica da narrativa, é preciso refletir sobre o surgimento no Japão dos “romances de celular”. Trata-se de romances escritos num teclado de celular. O leitor o baixa tela por tela. Os japoneses, sempre tecnófilos, andam lendo seus telefones do modo como os ocidentais costumavam ler o jornal diário.
Há duas formas de encarar a situação. Uma é fazer da engenhoca eletrônica a estrela de uma história heróica chamada “A mídia cambiante”. Novos aparelhos podem fazer qualquer coisa! Não apenas põem você em contato com os amigos, mas também armazenam seu álbum de fotos, informam a latitude e a longitude e escrevem romances fabulosos. Mas outro modo de descrever a situação é dizer que não se pode abafar uma boa história. A história, não o aparelho, é que é irreprimível. Tão poderosa como forma de comunicação que brota até num celular.
Isso se daria, segundo Achenbach, porque “o amor pela história não é apenas cultural: é biológico. O cérebro humano evoluiu de forma a permitir a construção e a compreensão de narrativas”. E para reforçar seu argumento cita uma frase do escritor Jonathan Franzen:
Vivenciamos nossa vida em forma de narrativa. Se você não consegue organizar as coisas de modo narrativo, sua vida é uma tigela caótica de mingau.
13 Comentários
Acho ótimo, desde que amplie o universo de leitores e a qualidade (?!) dos textos.Afinal, a matéria prima é a imaginação e não a mídia, não é Sérgio ?
O professor Brian Boyd, com quem participei da mesa ‘Nabokov e Machado’ em setembro na ABL apresenta o conceito (semelhante) da evocrítica em seu último livro “On the origin stories” (Harvard, 2009). As narrativas são importantes para nossa própria sobrevivência. Enquanto existirmos, narraremos: ‘Narro, logo existo’.
Essa narrativa cada vez mais será um amálgama de memória, imaginação e software e redes sociais. Desde abril, desenvolvo um projeto de narrativa em rede social: o romance como texto, vídeo, música, wiki, stream no Twitter e Facebook etc (o link está aí acima no meu nome).
O ‘networked novel’ é acessado de celulares, televisão, kindles, dissecado em “queries”, integrado a mecanismos de buscas etc. Semana passada, falei sobre o tema em webpalestra para o mestrado em cognição e linguagem da UENF. Os vídeos estão em http://justin.tv/sd8thenovel.
Esta da “vida é uma tigela caótica de mingau”, foi perfeito! Nem vou comentar nada para me regozijar com a comparação. quá quá quá… “Vida uma tigela caótica de mingau…” Enquanto isso no Senado… tudo muito bem amarrado… e haja amarração… E se tiver quem”se venda”, tome nó…. Que pena que os celulares não entornam esta tigela…
Seria o cáos do cáos… Mas logo depois viria a ordem…
Quem aí gosta de desordem?
Falei que não ia comentar… Apago ou deixo?
Sobre esses romances de celular japoneses há uma reportagem ótima da New Yorker que saiu ano passado (http://www.newyorker.com/reporting/2008/12/22/081222fa_fact_goodyear?currentPage=all) contando sobre quem são os campeões de vendas e de onde surgiu tudo isso.
Fala Sérgio,
vamos participar também do Prêmio Diogo Mainardi de Redação? Quem sabe aprendemos algo com o mestre!
http://emplastrocubas.wordpress.com/2009/10/30/premio-diogo-mainardi-de-redacao/
abraço
iiii escrevi cáos certo. Eu deveria ter escrito a frase de forma que escrevesse caótico. Bem, mas aí… seri fraude… rsrsrs
seria… ( desculpa-me… errar tanto neste blog tão “nada caótico…”
Trouxe de presente um pouco do “Campo Harmônico dos Trigais” . Foi o título que me veio…
Deleitem-se…
A minha vida anda muito parecida com essa tigela caótica a que o escritor se refere…
Vou começar a treinar romances de twitter. Personagens profundos, histórias com subtramas elaboradas e leitura page turner de primeira qualidade. Será que os japoneses vão se interessar?
Tigela de mingau é uma boa definição para alguns textos que li recentemente. 🙂 Não me lembro se já disse, se disse eu digo de novo: bacana a cobertura que você vem fazendo sobre “e-books”, Sergio. Abss!
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