Um bom indicador de como anda confuso o mundo dos livros é o título de um artigo publicado ontem no “Guardian” por Patrick Kingsley (o rapaz da foto ao lado): “Será este novo livro o matador de Kindle?”
Primeiro fator de estranhamento: esse epíteto forçado, “matador de Kindle”, não era reservado até outro dia mesmo ao iPad? Era. Aparentemente, a despeito de todo o seu sucesso comercial, o aparelho da Apple não fez jus a ele.
O segundo susto vem ao se constatar que o poderoso objeto para o qual se tenta transferir agora tamanha esperança assassina é só um livrinho de papel – este mesmo que aparece na foto, nas mãos de Kingsley.
Chamado flipback book e apresentado como “uma sensação na Holanda, onde já vendeu um milhão de cópias”, o livrinho chegará em breve a outros países europeus. Como o nome diz, “abre para trás”, como certos tipos de caderneta de anotações. Além disso, tudo o que o torna diferente tem a ver com portabilidade e manuseio: é menor que um livro de bolso, tem miolo de papel-bíblia e uma encadernação que facilita a leitura sem o uso das mãos: aberto em determinado ponto, o livro permanece assim até que o leitor decida virar a página.
Tudo isso parece razoavelmente interessante. Não duvido que haja um mercado de nicho para essas edições de papel minimalistas, assim como há para edições de papel no sentido oposto, o da exuberância gráfica. Mas vamos falar sério: como o próprio Kingsley acaba por admitir, a novidade “obviamente” não é páreo para o Kindle, pela razão ululante de que cada volume comporta um livro só, e não 1.500.
Sendo assim, por que o título do artigo, hein? Será que, depois de tantas palavras gastas com os sobressaltos tecnológicos dos últimos anos, estamos finalmente ficando sem assunto?
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Enquanto isso, o Kindle propriamente dito anuncia uma bem-vinda novidade: numeração de páginas igual à das edições impressas, uma vantagem e tanto sobre aquela contagem percentual de hoje. Infelizmente, disponível apenas para modelos recentes do aparelho, o que exclui o meu.
7 Comentários
Nem atualizando? Atualizei o meu pela conexão wifi e já estou apto a receber os livros com o número de páginas e não com porcentagem.Abraço
É o que diz a notícia, Clelio. Mas ainda não tentei.
Como marketing valeu, cá estamos nós falando do tal flip.
Agora sem nenhum medo de errar, acabei de ler “A costureira e o cangaceiro” (Frances de Pontes Peebles).
É exelente
Obrigado pela dica, Hildebrando. Você não é a primeira pessoa que me elogia esse livro. Aumenta minha curiosidade. Um abraço.
Livros, livros, melhor não “tê-los”. Mas se não “lê-los”, como “sabê-los”?
Leitores digitais, download de livros em pdf…
E eu continuo procurando espaço em meu apartamento minísculo de fundos, para guardas tantos livros, filmes e discos. E sabe, cada dia eu gosto mais da companhia deles. Preciso muito do impresso e o mundo digital não me assusta em nada… Caso o livro fosse acabar um dia, os meus não acabariam. Eu acabo antes deles e ainda deixo um belo presente para algum outro apaixonado por livros como eu… (Quem sabe um dos meus alunos, que em meio aos milhares superficiais do ´conheço de tudo, mas não conheço nada bem´, aparece dizendo ´po professor, já estou quase sem espaço no meu quarto, preciso comprar um estante maior.´ Enfim, o amor pelo objeto livro (além do conteúdo) é para poucos, e eu gosto disso.
Clelio, Sérgio, infelizmente não dá pra atualizar os modelos mais antigos (o meu também é da “primeira geração”, e nem wi-fi tem). Eu acabei me acostumando com a porcentagem…