Para quem, como eu, já está de malas prontas (não esquecer os tênis mágicos, de solado resistente ao calçamento mais absurdo do planeta) para ir a Parati, eis um aperitivo. Para quem não vai, uma ótima oportunidade de estragar um pouco o prazer alheio, usufruindo de graça daquilo que outros estão comprando caro.
Do ponto de vista estritamente literário, é inútil negar que a maior atração da Flip é o escritor sul-africano/australiano JM Coetzee, um sujeito com fama de recluso e esquisitão que já avisou: não admitirá perguntas do público, limitando-se a ler em primeiríssima mão trechos de seu próximo livro, Diary of a bad year (“Diário de um ano ruim”), que seria lançado em outubro mas, parece, está ficando para janeiro do ano que vem.
Fora a aura da presença grisalha do prêmio Nobel de 2003, portanto, o que Coetzee apresentará não é nada muito diferente do que pode ser usufruído aqui, neste trecho suculento antecipado pelo último número do “New York Review of Books” (em inglês, acesso livre).
O excerto revelado de Diary of a bad year alterna blocos de texto ensaístico produzido por um famoso escritor australiano de 72 anos – coisa cabeçuda, investigando o eterno e insolúvel conflito entre a legitimidade do Estado e a liberdade do indivíduo – com pequenas inserções pessoais em que o escritor fala de seu desejo por uma vizinha jovem e bonita que, cheio de segundas e terceiras intenções, convida para trabalhar como sua secretária enquanto tenta pôr de pé a ambiciosa obra.
Mais uma vez, o velho à beira da morte babando pela jovem cheia de vida. Quem achar que alguns dos maiores escritores dos últimos tempos têm batido insistentemente nesta tecla terá, na pior das hipóteses, uma boa tese para defender. E talvez não seja descabido usar nessa defesa, além da eternidade do tema, duas provas de aguda contemporaneidade, uma material, a outra circunstancial: o Viagra e o culto cada vez mais absolutista à juventude.
44 Comentários
Puxa vida, ninguém comenta nada?
Sergio,
Uma das boas coisas da continuidade do seu espaço é saber que vamos continuar tendo a cobertura da FLIP…
Bom, quanto ao nosso amigo Coetzee, seja bem vindo…
Agora esse negócio de velho babando por ninfeta é coisa bem contemporânea mesmo… acho que dá um posta lá para a Carla rodrigues também… Aguardemos janeiro então… Até porque ainda há tanta coisa para ler…
Sérgio, que bom poder ler seus textos por aqui! Pouco comento, mas gosto muito 🙂
Olha só! Não sabia que dava pra fazer “carinhas” !
Vi uma foto desse Cotzee no Prosa & Verso deste sábado e não fui com a cara dele.
Que coisa mais antipática: “Não aceito perguntas do público”. Então, carambe, por que ele se deu ao trabalho de vir a uma Feira Literária, se não foi pra interagir com o público?
Já não bastou a arrogância da Toni Morrison na última Flip? (Ou será que foi na penúltima?)
Bem observado. Considero essa geração de viagra writings (ou seja, livros temporãos de velhinhos babões tipo John Updike, Norman Mailer e GGMarquez que insistem em entendiar o mundo com histórias de frustrações e/ou obsessões sexuais) de uma chatice inenarrável.
Os clássicos sentiam-se aliviados pelo ocaso do apetite sexual; hoje em dia, não ocorre a esses escritores refletir sobre suas experiências de vida etc, e sim repetir livro após livro que eles (ou seus protagonistas) só querem saber da universitária, da vizinha, da prostituta e por aí vai. Culpa do Sr.Mann e aquele funesto “Morte em Veneza”, com a posterior cumplicidade do Nabokov e seu patético prof.Humbert Humbert.
Quanto ao FLIP, bem, é um acontecimento social, embora haja pessoas importantes lá, essas leituras públicas, por exemplo, são inúteis. Coetzee, ao que parece, mantém hábitos ascéticos, vejamos até que ponto o clima festivo de Paraty o anima.
Bemveja:
acho que você confundiu as pretensões do Nabokov com a do restante desses velhos babões literários: o que estes dizem a sério o HH do Nabokov diz de sacanagem (embora pareça a sério). Imagino o Nabokov escrevendo o Lolita: ele deve ter morrido de rir o tempo todo. Eu morreria de rir, se fosse o autor dessa obra magnífica!
Aliás, desconfio que o Nabokov foi um dos maiores sacanas literários da língua inglesa. Deve estar rindo da cara da gente até hoje, além do Além-túmulo. Querido tio… 🙂
Também acho que não faz sentido o cara vir lá de deus nos acuda pra ler um texto e não conversar com o público. Se fosse eu o organizador, dispensava-o imediatamente. Tá pendano o quê, rapá?
Bom ver todos por aqui. O visual da página ficou bem simples e bacana.
Bons vents!!
“Aliviados pelo ocaso do apetite sexual”? Veja bem: Alívio com o ocaso? Depende, depende muito…
E acho que nem H.H. nem Aschembach fossem exatamente machos no ocaso babando por ninfetas ou ninfetos. Talvez, mais do que fixados numa atração sexual pela juventude, buscassem um tempo perdido. Daí à perversão (H.H.) e à desgraça (Aschebach) pode ser um pulo. Mas também pode ser um pulo para a sublimação em grandes obras. Seja com a tragédia em Mann, seja com o sarcasmo em Nabokov.
E tem mais, quando ocorre entrevista com um gringo, há tradução para o público. Será que todos os bípedes nativos serão poliglotas para entender o idioma exógeno? Francamente…
Se é para não falar com o público, não precisa vir. Pode mandar um vídeo, ou até transmitir online da casa dele. Ou será que ele está vindo conhecer Paraty?
Sem dúvida Saint-Clair o Nabokov tinha um distanciamento irônico ante a obsessão tragicômica do HH que falta a esses escritores de hoje, que vivem cercados de adulação, inclusive do público feminino.
Além disso, a maioria desses autores são, em geral, um tanto pretensiosos e estão envelhecendo muito mal do ponto de vista artístico. Essa geração Mailer, Updike, Vidal e cia limitada se arroga uma importância excessiva quando na verdade são um bando de indulgentes cujo quociente signal to noise é baixo, ou seja, escreveram milhares de páginas das quais só uma fração é relevante. Coetzee, ainda que cultive hábitos de “auteur” distanciado do mundo real, também não me parece nada demais dentro do arcabouço da literatura ocidental.
Ah, eu não poderei estar lá. Mas tenho meus informantes… rs
Luiz Fernando, por clássicos, claro, entenda-se Platão, Cícero e por aí vai. Apesar do corrente vale-tudo que se apregoa por aí para as relações humanas, o fato é que a diferença de estágios na vida do ser humano é um tema recorrente da cultura clássica; foi a modernidade quem instaurou esse desvio da literatura de velhinhos tarados, que a Camille Paglia associa a um certo vampirismo geriátrico em relação às gerações mais jovens refletidos em livros de mérito literário muito duvidoso.
Eu acho que esse cabra veio para a Flip em segundas intencoes. Na verdade pretende assistir o Pan e conhecer uma guerra civil verde-amarela in loco. Assim terá mais subsídios para sua nova novela:“Diary of a bad Holidays”.
…Depois ao retornar ao seu refúgio anglo-africano com dezenas de fitas do carnaval do Rio se deliciará noites a fio assistindo aos requebros das mulatas das escolas de sambas.
………..
Realmente convidar um esquisitão (ou ermitão) é um desperdício. Penso que sería mais proveitoso convidar o Nareba e colocá-lo por videoconferência de lá de Bangu ou mesmo, modéstia a parte, este que vos fala. Faria uma conferência sobre “O Corvo na Janela do Palácio da Alvorada”; ou quiça sobre: “As Vacas Sagradas na Cultura Brasileira”.
em tempo, digo “Vacas Sagradas na Política Brasileira”.
Sérgio, você construiu uma comunidade de leitores extremamente atenta e interessante, gosto especialmente dos comentários do Saint-Clair, já visitei seu site, é bem legal. Parabéns pelo ótimo trabalho, Sérgio, estarei sempre por aqui. Um grande abraço,
Vera Queiroz
Bemveja: o tema, ao que eu me lembre, me parece estar associado aos mais recentes do Philip Roth e do Garcia Márquez. O do Roth, eu não li, mas acho outro dele, “A Marca Humana”, um grande romance, dos maiores dos últimos anos. O do Garcia Márquez não me pareceu tão interessante quanto disseram. O último do Updike, de quem vc parece não gostar muito, o “Terrorista” me caiu bem, achei muito bom.
E alguém ainda se espanta com a atitude do Coetzee? Ele odeia dar entrevistas e não dá muita bola pra papo-furado com seus leitores… quem quiser trocar umas idéias com ele que vire seu aluno lá nos EUA. Só não vão desmerecer os livros do cara porque ele não curte gastar dois dedos de prosa com a plebe. =P
Alguém esnobaria uma palestra do Salinger porque o cara é um recluso?
Da safra recente de histórias de velho babando por menininha, o Animal Agonizante, do Philip Roth, me parece o mais relevante. Não vi nada de decreptude ou decadência literária no livro, mas uma genial exposição crua e desconcertante da agonia de um homem que não quer envelhecer, ou viver como velho. A personagem de Roth, David Kepesh, desmonta a idéia de que viver uma paixão enlouquecedora por uma mulher muito mais nova faz com que o sujeito se sinta jovem. Na verdade, o contraste do seu corpo velho com o corpo novo, objeto do seu desejo, é gritante e não o deixa esquecer da sua finitude e da sua vulnerabilidade. Para o experiente Kepesh, o ganho desse tipo de relacionamento não é deixar de se sentir velho, mas poder ser velho de um modo novo. A geração do Viagra, diferentemente dos Humbert Humbert e Aschenbach, tem a possibilidade de permanecer no jogo, em vez de ser obrigado a assisti-lo de fora. Nesse caso, o jogo é o sexo. Não será, então, o sexo a prerrogativa da juventude que mais se cobiça, o hidromel da humanidade e, portanto, a verdadeira obsessão contemporânea?
joão gomes:
Isso se o Cotzee não for viado. Então, nesse caso, vai voltar com dezenas de dvds de garotões sarados e morenos trepando loucamente. O que é uma tremenda bobagem, se ele estiver saindo lá do buraco anglo-africano em que vive exclusivamente pra isso. Era só falar comigo que eu recomendava a ele o seguinte site:
http://www.homenscalientes.oi.com.br/home.html
Onde ele pode baixar CENTENAS de vídeos do gênero muito interessantes… E DE GRAÇA!
Bemveja, deve ser os ares do novo TodoProsa: pela primeira vez na vida eu concordo 100% com você! Você captou bem esse “distanciamento irônico” do Nabokov. Acho que é por aí mesmo!
Vera:
(brigadinho pela menção à minha pessoa…)
Um abraço!
Convenhamos, a relação amorosa de um homem velho com uma mulher nova não tem nada de moderno! Está na Bíblia, nas 1001 Noites e mais um punhado de clássicos, anônimos ou assinados. Atravessou a idade média e a Renascença, marcou vários pontos no Decameron, foi tema camoniano e shakespeariano. É universal e atemporal. Muito mais raro é o inverso.
Daniel, eu concordo. Por isso falei da “eternidade do tema”. Mas que ele anda freqüentando a literatura com uma insistência obsessiva, anda. Não tenho nada contra tema nenhum, nem acho que isso seja sintoma de decadência literária. Apenas me parece que diz muito sobre o nosso tempo.
O Coetzee está certo. O público de Paraty é de bovino para baixo. Para que perder tempo ouvindo suas perguntas tolas? O negócio é pôr o dinheiro dos otários no bolso, e torcer para que o incômodo seja o menor possível.
Não respeito escritor que não despreze o “público leitor” (muito diferentes dos leitores de verdade, que cagam e andam para FLIPs e outras palhaçadas do tipo). Gente que escreve coisas como “Os clássicos sentiam-se aliviados pelo ocaso do apetite sexual; hoje em dia, não ocorre a esses escritores refletir sobre suas experiências de vida etc, e sim repetir livro após livro que eles (ou seus protagonistas) só querem saber da universitária, da vizinha, da prostituta e por aí vai. Culpa do Sr.Mann e aquele funesto “Morte em Veneza”, com a posterior cumplicidade do Nabokov e seu patético prof.Humbert Humbert.”…
Pois é. Público leitor é isso aí. Paraty neles…
“Luiz Fernando, por clássicos, claro, entenda-se Platão, Cícero e por aí vai. Apesar do corrente vale-tudo que se apregoa por aí para as relações humanas, o fato é que a diferença de estágios na vida do ser humano é um tema recorrente da cultura clássica; foi a modernidade quem instaurou esse desvio da literatura de velhinhos tarados, que a Camille Paglia associa a um certo vampirismo geriátrico em relação às gerações mais jovens refletidos em livros de mérito literário muito duvidoso”
(Risos… Muitos.)
Luiz Fernando e Ana, Philip Roth sem dúvida, não li o livro nem vi o filme no caso do Human Stain, mas conheço o argumento básico da história. O “Memórias” etc do GGM é horrível, assim como “Do Amor e Outros Demônios” anteriormente.
Daniel, eu discordo inteiramente de que esse tema tenha sido tratado no primeiro plano da literatura clássica. Fazia parte da maneira mais acessória e periférica possível, jamais compunha o centro dramático do universo clássico, ainda que houvesse uma permissividade em geral muito maior para esse tipo de relacionamento. Você conhece algum exemplo, de Homero até a geração pré-romântica, em que esse tipo de relação seja o centro da obra?
O tema do velho vampirizando a/o jovem só se tornou um argumento literário merecedor de tratamento ostensivo na era moderna. Antes, havia um culto específico à juventude, mas não se dava importância ao relacionamento em si.
Os escritores mantinham essas relações on the side, não lhes era dada maior importância ou reflexo em suas obras.
P/ dar um exemplo de fora do mundo estritamente literário, Michelangelo teve uma série de amantes que o exploravam, mas na hora de escrever seus sonetos dirigia-se a uma matrona.
O Thomas Mann, ao que parece, inspirou-se numa pessoa real para compor o Tadzio. Li em algum lugar alguem dizer que viu uma foto ou retrato do cara que, ao que parece, era feio p/ caramba, e aí jaz outro problema dessa literatura geriátrica de obsessão: há uma perda de foco, por assim de dizer, de juízo. Todos esses livros, pelo menos os que conheço, idealizam o objeto de afeição e/ou de desejo de modo imperfeito, lêem incorretamente as intenções e motivações do/da jovem, enfim, padecem de miopia analítica, algo fatal para qualquer escritor. Ou seja, há quem goste, mas minha paciência para essa literatura do priapismo quimicamente induzido na terceira idade é zero.
Pois é Saint Clair, concordamos, mas o Nabokov tem essa característica, era um autor extremamente frio, a originalidade do Nabokov reside no olhar científico (no caso, do lepidopterologista) sobre a humanidade e a linguagem, e do estrangeiro/exilado (no caso, russo), sobre a sociedade.
Por fim, uma observação: JM não é nenhum JD. Se ele vai ao FLIP p/ não falar com ninguém, não vá, é mais honesto inclusive. Ele, da mesma forma que seus livros, parece mesmo um tanto “uptight” e retentivo.
Pois é Saint-Clair,
sei não. Andei fuçando umas fotos e a biografia dele e segundo “análise fisionômica as linhas gráficas apontam para uma tênue linha limítrofe entre a androginia e o homossexual”.[ahahahahaha!!] Quem for a Parati, pode ser nosso free-lancer e fazer um exame mais acurado sentando-se na fila do gargarejo e obtendo gravacoes de som e imagem mais próximas e peculiares afim de dirimir quaisquer dúvidas. …uma camareira de hotel pode obter informações mais quentes…
Mas falando sério um escritor é convidado para participar em uma feira literário, penso que deve estar pronto para a INTERATIVIDADE com o povo. Não digo para seu público leitor, mas para o povo que lá compareceu. Ora acredito que muitos vão até a Feira para conhecer essas celebridades que nos abre janelas para um universo amplo, para a utopia, para a fuga da nossa realidade, etc. Então, estes magos modernos nos administram doses homeopáticas de sonho e esperança. E, no dia em que os deuses descem do Olimpo, devem se misturar com o povao e com ele cear. Ser Companheiro, “com panis”, diz os eruditos vem de comer pao junto.
Assim Falava Trutaszara.
Sérgio já disse acima que a questão não é “o tema”. Penso que a questão é “como” uma realidade prosaica – ou mesmo desagradável – pode ser transformada em boa ficção. Qual é o “tema” de “Morte em Veneza”? Uma paixão homoerótica à distância – e irrealizada – do personagem Aschembach, que é um escritor como seu criador Thomas Mann? Pode permitir outros olhares e outras alituras mais… Ou seria o deslumbramento homoerótico (e incestuoso) do escritor Thomas Mann pelo físico de um de seus filhos (se não me engano, o Klaus), relatado em um diário, segundo foi noticiado nos anos 1980 sobre um trecho até então oculto dos diários de Mann? Não interessa, para a apreciação da obra, a matéria-prima e bruta que o ser humano que a escreveu estaria sublimando em sua criação: interessa o produto artísitico final de obras como “Morte em Veneza” – que pode ser tudo, menos priápica. Bem no final dos anos 1940, o psicanalista Heinz Kohut, um vienense emigrado para os EUA escreveu um ensaio sobre “Morte em Veneza” onde trabalhava sobre questões ligadas ao narcisismo frustrado e – de passagem – aventava uma inclinação homossexual latente para o conto ter sido escrito, mas por uma questão de respeito ético ao escritor manteve o texto na gaveta, só o publicando anos depois e em circulação restirta de revistas especializadas para posicanalistas. Hoje, a questão sexual de T.Mann pode parecer óbvia, e a leitura de seu conto ficou muito contaminada pela versão para o cinema (Visconti estendeu a questão para Mahler como tendo sido o inspirador do conto para Mann), mas no meio do século XX ainda não se falava nem se escrevia sobre a questão sexual homoerótica (ou pedófila) em “Morte em Veneza”, que era visto, basicamente, como uma nostalgia mórbida da juventude perdida por parte de alguém de idade mais avançada, não necessariamente um senil dos dias de hoje com Viagra à mão (êpa). Nada de “vampirização” nem muito menos de excitação priápica dizem respeito a “Morte em Veneza”. “Lolita” também sempre foi uma decepção para quem esperava encontrar estímulo sexual fácil: o livro é muito, mas muito mais do que isso, e assim como “Morte em Veneza” não merece ser enquadrado no tal “tema” de idosos vampirizando o erotismo jovem. O tema, e principalmente, seu desenvolvimento e realização resultam em algo muito maior, do ponto de vista literário, psicológico, artistico e humano. Acho que não são, definitivamente, bons exemplos para a crítica que está sendo feita acima. Perdoem por ter me estendido tanto, mas acho que está havendo mesmo um equívoco.
Erratas: 1) “Pode permitir outras alituras”, não: “outras leituras”, sim.
2) “circulação restirta de revistas especializadas para posicanalistas”, leia-se “restrita” e “psicanalistas”, é claro. Desculpem os erros de digitação.
Discordo dessa tentativa de absolver ambos os livros da acusação óbvia, ou seja, de que o tema principal de ambos é a atração física e ponto final. Sublimação não é um conceito motivacional nesse tipo de literatura. Os personagens fazem o que fazem, pensam o que pensam e direcionam seu olhar em direção a determinado objeto por um ato de vontade, e não para evitar algo; a motivação do Aschenbach e do Humbert Humbert é sempre afirmativa, não é a negação de algum objeto ou tema suspenso sobre a narrativa (seja a velhice, a mulher falecida ou o que for). Nenhum dos dois livros, obviamente, é pornográfico (ainda bem), mas os dois são mais do que claros sobre o que move os protagonistas, e no caso do prof.HH a motivação é consumada. Claro que os dois abordam vários temas, mas toda ficção tem um eixo principal, e nesses dois casos esse eixo é a atração física. No caso do Nabokov, conforme lembrou o Saint-Clair, as ironias de linguagem e as dezenas de trocadilhos sexuais são mais do que bastante para o bom entendedor; no caso do T.Mann, a biografia do autor coopera e muito, mas as repetidas alegorias do texto (simbologia fálica; travestismo etc) já seriam mais do que suficientes, para não falar na declaração de amor do idoso prof. no jardim (ou no hotel, sei lá). Sua explicação sobre Morte em Veneza, Luis Eduardo, relativiza desnecessariamente as coisas, e lembra um pouco as desculpas tortuosas de quem diz que compra a Playboy para ler as entrevistas. A essa altura, acho que o Thomas Mann não precisa disso, e o diário que ele deixou ( e que nunca li) ao que parece é mais do que eloquente sobre a mentalidade do autor. A premissa do texto, aliás, é um fato real, ocorreu em Veneza, o hotel existe, a família era polonesa etc etc, mas o Thomas Mann estava lá com a mulher.
Não vejo problema algum na decisão do Coetzee de não responder nada. Esse povo da Flip deve soltar cada pérola…
Eu teria feito uma “tentativa” de “absolver” estes livros de uma “acusação óbvia”??? Absolver??? De uma acusação “óbvia”??? Óbvia para quem?? Foi afirmado que o tema seria a “atração física e ponto final”??? A atração física é puramente física??? Não começa, na enorme maioria das vezes, com componente psíquico bem intenso do que se atribui ao objeto de desejo? E a assertiva ainda veio seguida de uma locução que diz: “ponto final” !!! Quer dizer fim de qualquer contra-argumentação, da discussão? A última palavra foi dita? Parece que se trata de um julgamento – já feito – e mais moral do que estético. E assim eu me preocupo mais ainda! “Sublimação não é um contexto motivacional neste tipo de literatura”??? Eu, que não tenho tantas certezas assim apenas acho, suponho, penso que sim, que sublimação é um processo importantíssimo na elaboração de grandes obras de ficção. Mas que “tipo” é este de literatura que está sendo conceituado? Li que se tentou colocar “Morte em Veneza” e “Lolita” como se fossem “literatura geriátrica” de “velhinhos tarados” com “vampirismo geriátrico”. “Morte em Veneza” já foi chamado de “funesto”; e se H.H. é um personagem de fato patético (acho que além disso, ele é um monstro, até porque no livro só temos o ponto de vista dele sobre os demais) – isso não faz de “Lolita” uma obra “patética” nem “monstruosa”. Não se confunda a obra, o personagem e o autor! E “Morte em Veneza” pode muito bem ser visto como um conto moral sobre a impossaibilidade de realização daquele desejo, apresentado de forma sublimada, sim, mais estética e platônica do que realizável físicamente. Se, ao meu ver, “Morte em Veneza” pode também ser visto como uma obra moral, os comentários acima me soam pobres exemplos de mero moralismo do pior tipo: bastante preconceituoso. Além do mais nem Aschembach nem H.H. munca me pareceram exatamente “idosos”, apenas madurões: um pode ter suas inclinações homoeróticas reveladas por seu olhar que percebe em Tadzio (belo ou nem tanto, pouco importa se concordaríamos com ele) uma visão epifânica a que ele atribuiu a categoria da beleza absoluta, metáfora até mesmo da profissão de artista em busca da beleza a qualquer preço (o papel do artista é um tema importante na obra de Mann desde “Budenbrooks” até “Doutor Fausto”, “Tonio Kroger”, “Morte em Veneza). O outro, H.H., é um pedófilo que quase (quase) nos faz sentir pena dele (especialmente nas versões para o cinema, na pele e expresões desesperadas de James Mason ou de Jeremy Irons). Portanto, minha opinião é que os equívocos ditos acima são muitos mesmo. A miopia está nessa leitura simplista de personagens, obras e autores que retratam o que não gostaríamos de reconhecer que pode existir no ser humano, no “demasiadamente humano”. Nada a ver com os enquadramnentos estereotipados grosseiros de “velhinhos tarados” ou coisas semelhantes.
Caro Sérgio,
muito bom o novo site. Parabéns.
Sérgio,
o site da Flip está com mutos erros nas bibliografias dos convidados, principalmente no que toca às datas de lançamentos dos livros. Se você conhecer alguém por lá dá a dica. Pega mal pra eles.
Luiz Fernando, mais uma vez, você relativiza, tegiversa e tal. É um direito seu, são pontos interessantes, mas é realmente muito simples do meu ponto de vista: o Leitmotif em ambos os livros é uma paixão delituosa– daí o termo acusação. Ambos os protagonistas seguem e perseguem voluntariamente seus respectivos objetos do desejo por força de uma atração objetiva, tangível e materializada de maneira verbal (por ambos) e física (pelo prof. Humbert Humbert). Penso que essa premissa (a atração) e o rol de ações efetuadas pelos protagonistas (permanecer em Veneza/pintar o cabelo; hospedar-se na casa/manter uma relação hipócrita com a mãe) são dados objetivos, o leitor é informado ostensivamente dessas iniciativas. O resto são interpretações; se você prefere rejuvenescê-los (ainda que estejam no limiar da terceira idade) ou indultá-los (ainda que pratiquem ou tentem praticar atos repugnantes), aí é um problema seu.
Quanto ao início da paixão, sou muito cético em relação a essas justificativas platônicas; por que ninguém se apaixona platonicamente pela Dercy Gonçalves e sim pela Juliana Paes? O que define essa tentativa de posse é o olhar (onde está seu olhar, aí está sua paixão, como se dizia na Idade Média).
B.V.: É verdade, seus pontos de vista são mesmo muito simples – como vc reconheceu – para continuar a trocar idéias. E se o “limiar da terceira idade” já é coisa de velho senil para você, percebo mais um preconceito, agora quanto à idade, até porque tal “limiar” pode ser mais ou menos amplo. Para mim, salvo engano, os personagens em pauta teriam seus 40 anos, por aí. Nada de velhos babões. Não tergiverso, nem relativizo, apenas acho (ao contrário do seu menosprezo quando escreveu “o resto são interpretações”) que se não ha´espaço para interpretações – desde que justificadas e argumentadas de modo razoável – teríamos o pensamento único e supostamente “A Verdade” em que você parece acreditar: é a sua verdade, com certezas absolutas sobre as obras e a sua opinião é a que dá o ponto final. Portanto, nada mais a acrescentar, exceto que acho tal pretensa objetividade de quem não estaria tergiversando – mas é quem está ao fazer uma discusão moralista e não estética neste espaço – muito reducionista e bem pobre. Seu “argumento” usando as imagens de Dercy ou J.Paes é sofismático, nem mereceria ser discutido, mas serve para pensar que ou você não entendeu ou não quer entender sobre o que aludi quando falei sobre as escolhas amorosas e sexuais. O investimento (afetivo, amoroso, afetuoso, sexual, todos juntos ou não) em um objeto eleito como de desejo passa comumente pela beleza física e juventude, sim (e por que não, algo contra a veleza e a beleza da juventude?), embora isto esteja absurdamente intensificado na atual cultura do narcisismo, do espetáculo e do culto ao corpo como vivemos na contemporaneidade, mas pode-se observar que as escolhas podem ser extremamente variáveis. Para ficar no espaço de exemplos públicos de ícones idolatrados nas telas de cinema, lembro que nem todos preferiam Marilyn Monroe ou Brigite Bardot com seus óbvios e quase caricatos recursos de “sex-appeal”: havia lugar para serem cultuadas desde Audrey Hepburn até Jeanne Moreau, extremos totalmente fora dos supostos “padrões” de atração. Mas acho que não vale a pena mesmo prosseguir argumenatando se você só tem certezas.
LuizFernando e Bemveja,
voce me proporcionaram a oportunidade de “assistir” um debate instigante sobre beleza, paixao e a efemeridade da vida. Aliás beleza e paixão são “artefactos” absolutamente efêmeros. Em nossa jornada pelos escombros de Matrix somos sempre ameaçados pelo canto destas sereias.
Ora, pensando bem, nao compararecer a Flip não será prejuízo algum. Isto considerando as trocas de idéias que ocorrem aqui neste espaço. Só sinto falta de alguns colegas como o Roberto Shultz e a Clarice. Por onde estarão???
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