Baixada a poeira, já dá para dizer: Laura Miller, ex-jurada do prêmio Pulitzer, publicou na Salon.com a melhor reflexão (em inglês) que vi por aí sobre a polêmica ausência de um representante da literatura de ficção entre os laureados deste ano, algo que não ocorria desde 1977. Miller explica o frequente atrito entre as deliberações do júri, formado por gente da área de literatura, e o aval do conselho do Pulitzer, que tem interesses variados e costuma levar as decisões para um terreno próximo do gosto médio – daí, aliás, a costumeira eficácia do prêmio como propulsor de vendas. Os conselheiros se comprometem a ler os finalistas, claro, mas é só. Qualquer manobra fora desse terreno é limitada. Miller sustenta basicamente que, como hoje em dia ninguém fora do gueto literário tem tempo nem vontade de se manter em dia com os lançamentos, por melhores ou mais comentados que eles sejam, o consenso em situações desse tipo tende a ser cada vez mais difícil:
Segundo todos os relatos, o grupo (de conselheiros) não conseguiu construir uma maioria em torno de nenhum dos três títulos recomendados pelo júri. É certamente improvável que um número suficiente deles tenha lido ficção de forma ampla o bastante para concordar com uma escolha alternativa. Nisso eles são realmente representativos dos leitores americanos, e tal fato traz piores presságios para a literatura nacional do que um ano sem o ganhador do Pulitzer.
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Este artigo (em inglês) de Aditya Chakrabortty no “Guardian” aproveita o 150º aniversário do escritor bengali Rabindranath Tagore – o primeiro de origem asiática a ganhar o Nobel – para lamentar a ausência, no cenário da literatura atual, de uma figura que Tagore representava bem: a do “escritor político”. Chakrabortty se refere ao panorama anglo-americano, mas poderia abrir seu foco. No entanto, a questão é complicada demais para o calibre do texto, que fica entre o ingênuo e o malcriado ao chamar os escritores contemporâneos de gutless (“covardes”). Difícil decidir o que encolheu mais desde o tempo de Tagore, a literatura ou a política. Mesmo assim, vale a leitura: ouvir vozes que destoam do coro é sempre boa política.
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A revista literária inglesa Litro acaba de lançar uma edição temática só com poemas e contos de autores que nasceram ou vivem no Rio de Janeiro. Estou no segundo caso. Também estão lá Adriana Lisboa, Tatiana Salém Levy, João Paulo Cuenca, Ramon Mello e Angélica Freitas, entre outros. A revista é de papel, mas também pode ser lida digitalmente aqui.
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Quer muito ser rejeitado por um editor? Por que esperar, se você pode criar sua própria – e personalizada! – carta de recusa com este Gerador de Rejeição? Da editoria “Era só o que faltava”.
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Hoje à noite estarei na 9ª Feira do Livro de Joinville para conversar com o público sobre desafios e oportunidades para a literatura em nossos tempos de internet, blogs, redes sociais, e-books, apps… Todo mundo que estiver na área deve se sentir convidado.
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Você sabe por que os livros velhos cheiram como cheiram?
httpv://www.youtube.com/watch?v=aUaInTfrDnA
3 Comentários
Substantivo Plural » Blog Archive » O não-Pulitzer, a não-política – e outros sim-links
o que? perceberam grama na composição do cheiro de livro velho!?!? isso pode explicar muita coisa…! rs
abraço!
A crítica de Roberto Schwars perde valor diante do seu robusto filtro ideológico. É fácil perceber sua fixação por Marx: em sua obra, garimpar chavões comuns da dialética comunista é farefa de amador. Julga ser um justiceiro que está do lado dos anjos, mas só vê o comunismo como salvação desse injusto mundo. Qualquer outro modo de pensar é herético, pois contraria a verdade dos porcos de George Orwel. Sou mais o cultural tropicalismo e a Globo.