…a minha impressão sugere que Raduan é um caso atípico de Bartleby. Seu silêncio literário aparentemente não se origina das tensões internas da modernidade literária, não veio de um drama autoral frente ao um desafio extremo, Raduan apenas se encaminhou para fora. A estranheza vem do nosso olhar, acostumados que estamos a descrições de “literatura como destino”, “relação orgânica texto-autor” e a escritores que lançam livros a cada dois ou três anos sem ter nada a mostrar. O ‘caso Raduan’ é um problema para nós, não para o próprio.
Em seu blog, Marco Polli comenta com perspicácia o “caso Raduan Nasssar” à luz de “Bartleby e companhia”, do espanhol Enrique Vila-Matas – um estudo literário sobre escritores que, a exemplo do escriturário de Herman Melville, em algum momento se recusam a contribuir para o excesso de letrinhas no mundo e avisam: “Prefiro não fazer”.
A nota me fez pensar numa razão para que o “silêncio dos escritores”, que não foi inventado ontem e pode obedecer a um milhão de razões particulares, nos pareça, neste início de século, um tema cultural cada vez mais relevante e desafiador. Deve ser porque vivemos – e não apenas na literatura – dentro de uma evidente pandemia, a do escrever por escrever, falar por falar, apenas para ocupar espaços e exprimir alguma individualidade na qual ninguém está realmente interessado.
Para essa doença, o “prefiro não fazer” pode parecer mesmo o único remédio. Mas que há algo de profundamente desolador na escolha entre o blablablá e a mudez, há.
53 Comentários
as palavras de raduam fazem falta, mesmo. mas têm tantos outros que poderiam se calar…
Olha, tem caixa de comentário que é cheia desse escrever por escrever, né mesmo Sérgio?
O cara insiste em comentar por comentar, para dizer eu li isso, eu li aquilo, eu leio em aramaico, eu leio o original japonês, eu filosofo em alemão… só para escrever algumas linhas bem mal redigídias pelo simples “costume” de escrever, como se “escrever” fosse sua maldição e ele um escriba atormentato pelas malditas palavras que insistem em sair pelos seus dedinho marotos…
Muitos “jovens escritores” poderiam nos poupar das suas reinvenções de roda literária, ou ainda de suas infinitas redescobetas da pólvora escrita em livros… e, também poderiam nos poupar de seu “brilhantismo…
Ótimo post Sérgio… precisava ler algo assim hoje…
Esse dilema é simples de se resolver: para a incontinência oral, eis os blogues. Acho que só devia ser escritor quem realmente se sentisse dotado para tal. Lamento dizer que grande parte dos soi-disant escritores na verdade não passa de punheteiros orais.
Outro dia pensei numa boa medida para se publicar livros: se o autor acredita que o que tem a falar vale o abate de centenas de árvores, então que vá em frente. Se hesita, não publique!
Agora, há uma coisa estranha nessa atitude do Raduan Nassar: ele não mais escreve, mas não recusa um convite para participar de eventos literários & quetais. Isso não é incongruente? Se é pra se afastar, que seja de vez. Essa coisa nem barro nem tijolo não me parece coerente…
A ausência também é uma forma, ainda que por oposição, de ser objeto de assunto. Isso embora não creia ser o caso do Raduan (gênio da raça)
Comentarei mais tarde, mas antes uma previsão: esse tópico vai ficar parecendo uma charge que vi há muito tempo, acho que feita pelo Fabio Zimbres para a saudosa revista Animal: um cara chega e fala “o inferno são os outros!”, aí chega outro e fala a mesma coisa, depois outro, e assim por diante, até que no final há uma multidão de pessoas gritando que o inferno, ou seja, o problema, são as outras! Todo mundo vai reclamar do excesso de textos e opiniões ao mesmo tempo em que contribui para este excesso!
Outra coisa: até o final desse tópico, alguém citará, sem muita originalidade, a famosa frase do Wittgenstein.
Sérgio, o que achou dos indicados ao Jabuti? Alguma novidade?
Abs!
Acho nobre da parte desses autores um dia abandonarem o ofício por acharem que não têm mais nada a escrever. Seu silêncio é contundente. Agora, se você escreveu um livro (ou dois, como o Raduam), mesmo que vá criar galinhas, você será sempre um escritor. Assim, não me parece nada incongruente sua disposição de participar de eventos literários. O cara parou de escrever, isso não quer dizer que parou de ler e pensar na literatura como algo importante na sua vida.
Areias: mas, então, pode-se ser um escritor-pós? Vivendo de glórias pretéritas? Acho pouco, muito pouco. Um escritor escreve, mesmo que não publique (como, segundo reza a lenda, o J. D. Salinger faz). Será que o Raduan escreve (embora não publique)? Eu só aceitaria se fosse assim.
Não concebo um pasteleiro que não faça pastéis nem um sapateiro que não conserte sapatos. Por que aceitaria um escritor que não escreve?
Bemveja: você é uma figurinha fascinante. Não sabia que ser Cassandra era um dos seus dotes…
Gabriel, sobre o Jabuti, vou de Bartleby.
Muito bom, Sérgio! rs
Oi, Saint-Claire, tudo bem?
Eu conhecia o pessoal do Unicamp que trouxe ele para o seminário e digo a você que foi bem difícil convencê-lo a ir. Pelo que eu senti, ele aceita um fração bem pequena dos convites que recebe, pois todo mundo quer falar com ele.
Pelo que entendi, você acharia mais coerente ele aceitar nenhum. Você pode até estar certo, mas espero que ele não pense assim, pois acho interessante ouvir o Raduan. Até.
Uma digressão sobre a conhecida formulação de Sartre que foi mencionada acima, “o Inferno são os outros”. A idéia original foi e é quase sempre mal-entendida, como se tivesse uma conotação negativa em relação à convivência – e este equívoco irritava Sartre. Para ele, sua proposta era que o inferno seria nosso aprisionamento à imagem cristalizada que os outros fazem de nós, o que retiraria a liberdade de transformação do ser fixado num “espelho” alheio a si próprio Quando aceitamos e incorporamos a idéia que os outros estabeleceram a nosso respeito, passaríamos a viver uma impossibilidade de mudança, tal como no caso dos personagens (que já estão mortos) de Entre Quatro Paredes (Huis-Clos), expressão teatral que Sartre deu a seu pensamento filosófico.
Falou e disse. Há livros demais, bobagens demais. Todo mundo tem o direito de escrever, o que não quer dizer que deva fazê-lo. O silêncio dos lúcidos na algaravia dos bobalhões egocêntricos não me parece nada digno de surpresa.
Sérgio,
Acho que você acertou no ponto. Eu li o livro de Vila-Matas quase com um paradoxo: centrado sobre o silêncio literário numa época de excesso textual com a nossa. (Excesso para o qual eu não deixo de contribuir). Mas é justamente desse contraste que o livro ganha a sua forma. Abraço.
…mas as editoras, dizem os agentes literários e os merchands, não dão sossego aos escritores. Sempre querem mais! Sempre querem saber sua opinião sobre a invasao do Turqjmestão; sobre o aborto; a eutanásia; a economia e o governo Lula, etc. E assim o mercado — o grande circo universal é alimentado por doses maciças de entretenimento.
Aviso aos navegantes!
Estou cultivando o silêncio.
Luiz Fernando, é a mesma coisa, porque a imagem que fazem de você só se materializa num contexto social; é compreensível que o Sartre não gostasse da redução da frase a uma defesa da misantropia, mas no fim das contas, é uma revolta contra as pressões da peer pressure.
Quanto ao tópico: preguntaram ao Michael Dirda, o entusiasmado (por oposição a rabugento) crítico literário do Washington Post sobre quais livros escritos nos últimos 50 anos passariam à posteridade: com realismo surpreeendente, ele respondeu “nenhum”. Esse é, a meu ver, o desafio que potenciais escritores devem enfrentar antes de escrever uma linha sequer. Vale a pena? Ou é melhor, conforme disse o Saint-Clair, fazer um blog? O problema é que hoje os blogs estão virando livros, ou seja, o congestionamento literário só piora.
No caso brasileiro, isso é mais grave porque a literatura contemporânea é feita pelos que acreditam na inspiração e, no que é pior, na relevância dos dramas de consciência de uma classe média espiritualmente vazia e emocionalmente alienada.
Existe uma dificuldade no Brasil de externalizar a atenção: o escritor é sempre um sujeito meio arredio que se julga incompreendido, e que acredita ingenuamente que o mundo se interessa por suas angústias juvenis que são, de modo repetitivo e mal-disfarçado, imputadas a personagens que nada representam além de alter egos de seus atormentados criadores. É o reflexo extremo da cultura de celebridades: a pessoa se julga mais interessante do que é, considera seus dramas pessoais mais raros do que são, e superestima o interesse e a data de validade da literatura confessional no século XXI, depois de Clarice Lispector, Pedro Nava et al.
Quanto ao Raduan Nassar, breves observações:
-é superestimado; não é descartável, mas foi objeto de atenções excessivas da intelligentsia paulistana (desde a época da Brasiliense, nos anos 80);
-não é nenhum João Gilberto; não se trata de um inovador; e
-não representa nada de especial no que tange ao dever flaubertiano do escritor de ser exigente consigo; somente no Brasil, onde a indulgência corre solta e ninguém fala mal de ninguém é que um autor com um mínimo de autocrítica vira objeto de culto deslumbrado nos círculos literários. Eu pessoalmente, prefiro comer uma galinha assada egressa da granja nassariana do que me arriscar a provar um novo e requentado texto sobre tensões conjugais, solidão, pressões familiares ou seja lá o que for.
Lá pelos anos 70, perguntaram a Ivan Lessa sobre um determinado livro de Jorge Amado. Ele respondeu: “já li – há muito, muito tempo.”
Se Nassar é um exemplo meio precário de um escritor que deveria ter escrito mais, Jorge Amado talvez seja o de um que poderia ter parado bem antes.
Mas, além do seu prazer em escrever, havia a pressão da editora. Seus livros eram pule de dez, o grande fator de faturamento da Record e isso não é pouco, já que literatura também é grana e mercado.
Além disso, com a vendagem dos seus livros a editora tinha como arriscar nos novos. Tipo Roberto Carlos na antiga CBS.
Correção: Raduan cria coelhos, não galinhas. E também acho que tem escritor que faria melhor se ficasse quietinho na sua, embora não culpe quem escreva e ache meio exagerada a grita contra o “blábláblá” na literatura. Convenhamos: sempre houve “livros demais”. A máxima de Bartleby, no fim das contas, também pode se aplicar à leitura. Diante da possibilidade de ler um livro medíocre, um “prefiro não fazer” é mais do que suficiente.
escritor não é super-herói. e afirmar que este ou aquele deveria escrever mais ou menos, nos dias de hoje (tempo de multicast, unicast, anycast) me soa puro anacronismo. os meios de publicação (blogs, como esse, inclusive) se multiplicaram. escreve quem quer. lê quem desejar (McCarthy: read it if you want to). Se não quiser escrever, que não escreva. Agora, se deseja e não age, como já o lemos em Blake, engendra a peste. A sua própria. particularmente, não consigo compreender um escritor que não escreve. mas, pensando bem, quem afinal de contas consegue entender um escritor?
Bemveja, a auto-indulgência é uma característica humana, provavelmente resultado da seleção natural. Já a benevolência para com o próximo, concordo com você, é coisa bem brasileira. Os literatos nacionais, então, meu deus, só perdem pros políticos. Já repararam como os críticos de literatura são bonzinhos? Comparem as resenhas literárias, especialmente as publicadas nos grandes jornais, com as críticas devotadas a outras artes. Até os críticos de novelas de TV são mais exigentes. Até os experts da arte culinária são mais ácidos. Reparem.
já que estamos em um blog, nao sei se vcs sabem, mas recentemente, Gates apresentou sua visão sobre futuro da leitura: reading is going to go completely online. leremos tudo on line e essa leitura deverá ser completa. em todos os sentidos e direções. e na minha modesta opinião, essa experiência será multidirecional, do escritor para o leitor, do leitor para o escritor, do escritor para outros e do leitor para outros tb. a leitura será, cada vez mais, uma experiência social (no sentido das social networks), interativa e colaborativa. um passo a mais em direção a esta visão foi dado anteontem pela Adobe Systems Incorporated com o lançamento do Adobe® Digital Editions 1.0. com a licença do Sergio, aviso que escrevi alguma coisa sobre o produto em http://pontolit.blogspot.com. read it if you want to.
Claudio,
O que voce pensa sobre as novelas virtuais como a que está desenvolvolvendo-se no Portal IG?
Claudio,
O que voce pensa sobre as novelas virtuais como a que está desenvolvolvendo-se no Portal IG?
Claudio Soares, esse formato poderia ser usado também para montar edições anotadas online; por exemplo, uma versão dos Sertões que incorporasse a “Lexicografia dos Sertões” publicada há um tempo, bem como imagens de cada pedra, solo e planta etc que Euclides da Cunha menciona e mesmo comentários que nem esses de blogs etc.
Roberto, essa dos coelhos do Raduan eu não sabia. Imagino que haja diversas piadinhas de mau gosto do tipo “deve ser por isso que os livros dele acabam tão rápido” etc etc.
João Marcos, há uma espécie de “sociedade dos poetas vivos” no Brasil, talvez influenciada pelo corporativismo malsão da ABL, que resiste fortemente a uma avaliação crítica da produção contemporânea, e aí o que vale para a vida vale muito mais para a obra: livros não-examinados não valem a pena ser lidos– nem escritos.
O que são os conceitos de fundo e forma que de vez em quando aparecem por aqui??
O que são os conceitos de fundo e forma que de vez em quando aparecem por aqui??
Joao: novelas (virtuais tb) são um exemplo dessa evolução da interatividade que comentei. em geral, uma telenovela tem sua trama influenciada pela opinião pública (e pelo ibope). nao conhecia a novela do ig, mas me pareceu ainda muito no formato televisivo. apesar de sugerir alguma (não muita) interatividade (um outro problema: deu erro no meu firefox). um dos pontos que gostei no que assisti foi (algo que considero uma das tendências) a inclusão de avatares (cap 5). é algo que bate com o que li recentemente de Philip Rosedale (CEO e fundador do Linden Lab que criou o Second Life): os ambientes virtuais (como o SL) são formas de self-expression, uma forma de arte, logo, em essência, a tecnologia não muda o ser humano, aprimora (ou não, dependendo do ponto de vista). porém, acrescente-se isso tudo o poder da rede. da integração através da rede. as web quests do lançamento do código da vinci, por exemplo, já apontavam essa tendência. o leitor quer participar da trama. misturar ficção e realidade é cada vez mais comum. não importa em que mundo se esteja, real ou virtual, o real é o que existe em nossa mente. seja a partir dos livros (o leitor reescreve a história que lê) seja a partir dos bits. penso que em breve, existirão artefatos que poderão misturar tudo, por exemplo, agregar certos “metadados” (não tenho um termo melhor) a um texto literário o que possibilitará a criação por software especialista de cenários e personagens (virtuais). ou seja, bastará ter uma idéia e um “computador” na mão. isso poderá expandir (uns podem ver nisso um limitador, fazer o quê?) o poder de criação de um escritor. em resumo, não podemos esquecer o passado, mas devemos seguir em frente. a literatura, em sua essência, continuará cumprindo o mesmo papel de sempre. a questão é entendermos o que efetivamente é (ou será) a literatura.
Bemveja: é exatamente por aí que penso que vamos caminhar. O livro não será algo fechado em si (em verdade, nunca o foi). em formato digital, por que não conter “extras”, “making offs”, etc… No livro de “átomos” o escritor não dispunha de muito espaço. limitava sua comunicação com o leitor. o que vai para o livro é 30% do que ele pesquisou, leu, etc… e não é segredo para ninguém que mesmo os livros de papel já continham esse conceito de versão 1.0, 2.0, etc… o autor retirava e incluia trechos entre versões, na medida do possível. um livro continuaria (acho que até Borges concordaria) se não houvessem prazos a serem cumpridos em relação ao meio físico em que é distribuído (editoração, gráfica, distribuição, etc…). Em um livro de bits, e “networked”, essa limitação acaba.
“não representa nada de especial no que tange ao dever flaubertiano do escritor de ser exigente consigo”
Ei, tiozinho, cê já tomou lá hoje?
Hahahahahahahahaha!
Claudio, baixei o programa que você falou. Por enquanto, além da aparência bonitinha, não vi grandes diferenças em relação ao Adobe Acrobat Reader… Mas vou testar com mais calma…
Claudio: definitivamente, não gosto de programas criados com o flash: esse programa da Adobe é que nem o Pikasa. É lento (embora lindo), esquisito, irritante. Mas adorei o fundo preto. Me parece que repousa os olhinhos… Continuo testando.
Claudio, enfim descobri algo interessante: eles criaram a ferramenta “bookmark”. Eu sentia uma puta falta de algo assim no Acrobat Reader. Que nem um marcador de página de papel. Estou caminhando pra conseguir ler meu primeiro romance em e-book e, toda vez, tenho de anotar onde parei. Agora, com esse programinha, não preciso. Ele faz isso pra mim 🙂
Saint: ele guarda automaticamente o ponto onde vc interrompe a leitura.
Além da criação de bookmarks (selecione um trecho e clique no ícone de bookmark) o Digital Editions permite que vc sublinhe e acrescente suas próprias notas ao texto.
Como vc bem observa é muito melhor a leitura (em tela) sobre um fundo mais escuro (no Word isso pode ser obtido através da opção Tools/Options/General/Blue background, white text).
Mas muita coisa ainda deverá ser integrada ao software e a revolução está na comercialização dos livros.
As editoras brasileiras tb deveriam experimentar. e se atualizarem.
Veja só o nível do que andam discutindo nos EUA: http://conferences.oreillynet.com/pub/w/57/sessions.html
Será que no Rumos (do Itaú Cultural) alguma coisa nesse nível foi lembrada? Espero que sim.
Não deixe de acompanhar tb o que anda acontecendo lá pelos lados de Mountain View… http://books.google.com/googlebooks/library.html
em Redmond… http://www.microsoft.com/surface/
e, um pouco mais em termos corporativos, à solução Lotus Connections da IBM: http://www-142.ibm.com/software/sw-lotus/products/product3.nsf/wdocs/connectionshome
Esse negócio de um livro continuar en train de se faire como um eterno work in progress me deixa desconfortável: 1.001 e mais noites? Mil históras sem fim? Uma mesma história sendo eternamente mexida e remexida? “Em abismo”? Sem fundo nem fim? Prefiro que haja uma obra “acabada” para se ter uma base com o que se relacionar. Nada impede que haja, como nos DVDs as cenas deletadas. Que alguma coisa possa ser uma edição revista e aumentada e/ou modificada. mas há que ter uma base, um torso básico, essencial e fundamental com o que se relacionar. Há um tempo para começar e um tempo para acabar. De tanto o autor mexer e remexer, a obra pode simpelsmente…acabar.
Alguém lembrou que auto-crítica pode ser um dos motivos do silêncio de um escritor?
Se o sujeito escreve algo intensamente aplaudido, elogiado por seus pares, e tem uma real preocupação literária, não movida apenas por cifrões, vai buscar mais. E, às vezes, não vai encontrar, ou vai ficar insatisfeito com os resultados.
Pode ser um tipo de vaidade. “Parei no auge, ninguém assistirá a minha decadência”.
Estou lendo o Canetti, autor de um único romance. Elogiado por Thomas Mann, entre outros, confessa que deu seu projeto literário ficcional encerrado com o Auto-de-fé. Rigor crítico (e auto-crítico). É preciso outro motivo?
Deu por encerrado…
Tem razão, Daniel, às vezes uma obra basta. Cláudio, obrigado pela dica da tela azul para descansar meus olhos exaustos. E, Saint, quanto, aos escritores-pós, é claro que eu falava daqueles que continuam a escrever mas perderam o tesão de publicar. Quem pode dizer que Raduan não continue escrevendo? Porra, vou sentir a maior falta desse espaço.
Sou a favor da profissionalização do escritor, mas livros estão relacionados com o desejo, e acontece do desejo morrer. Simplesmente acaba. Há pessoas que têm dez livros em si; outras têm três; algumas apenas um. E o interessante na literatura é que ela é uma continuação da vida. Escrever sem tesão é chato, mecânico. E se a literatura torna-se, de repente, menos intensa que a vida, vamos atrás da vida. Ler; cinema; coçar; plantar quiabo. Os escritores se esforçam muito para serem inteligentes e brilhantes e produzirem livros sofisticados. Mas a literatura, como tudo na vida, acontece. Não dá para provocar um romance. Ou ele está para acontecer ou não está. Fico espantado quando escuto um colega falar: ‘tenho que escrever um romance. Dá vontade de dizer: escreve o que está na sua vida para ser escrito. Depois deixa a editora classificar. Novela, romance, relato: não importa. Escreve o que está para ser escrito, o que só você pode escrever, e que os outros classifiquem e vendam e empacotem do jeito que bem entenderem. Esse é um problema dos livros do universo de expressão inglesa. Lê-se 450 páginas e penso: em 100 páginas dava para solucionar isso. O autor coloca uma porção de coisas, pensamentos, estórias paralelas, só para agradar o agente literário e a editora. Qual jovem autor não cruzou com a frase: seus relatos são ótimos, mas quando vem o romance? Que pergunta estranha. Penso: como assim ‘vem o romance’? Talvez aí esteja o problema: fazer o talento migrar para uma forma pré-estabelecida necessária para o funcionamento da máquina editorial. Se cada um se ocupasse de escrever o que está na sua própria vida para ser escrito, a qualidade dos livros seria superior. E alcançada essa satisfação, não é razoável buscar outra coisa para se fazer se o desejo fenece e se consome?
Será que alguém cobrava de Borges um romance?
Com certeza, Daniel. Com certeza. Nas duas biografias sobre Borges que li a questão dele nunca ter escrito um romance surge. Borges conhecia a natureza do seu talento e nunca entrou na roubada de querer ser algo diferente do que poderia ser.
Puxa… a grita maior aqui, quase unânime, é contra o excesso de livros… e ao mesmo tempo, uma parte defende a idéia de que se continue escrevendo/reescrevendo os livros que já existem.
Quer dizer, afogam-se os 6,5 bilhões de pessoas em mares de dígitos em todas as formas possíveis e imagináveis.
Quem tem competência para escrever sabe quando o que queria dizer chegou a um bom resultado, ou pelo menos a um ponto em que continuar a escrever “desanda” a receita. Não existe isso de work in progress ad infinitum. Autor que achar isso do próprio trabalho está incorrendo em uma pretensão que raia a imbecilidade. Um exemplo é “Os Detetives selvagens”, do Bolaño, um texto cuja estrutura permite que continuasse a ser escrito durante toda a vida, já que não há “amarração no enredo”. Por isso que é um cartapácio de mais de 600 páginas, quando poderia ter sido resolvido com metade disso. Chega-se a um ponto em que aquela prosa enche o saco, aquele vai e vem perde o sentido, fica-se num nhém-nhém-nhém vazio.
Ao contrário de que alguns pensam, como o próprio Sérgio já manifestou aqui, dizendo que “Os Detetives” não tem uma palavra a mais do que o necessário… questão de gosto…
Repito, é o típico exemplo do excesso literário. E olha que sou fã do Bolaño. Acho “Noturno do Chile” uma obra-prima.
Quanto ao Raduan, o mínimo que se pode dizer é que escreveu dois livros sensacionais, mesmo que muita gente não goste até por não ter apreço pelos temas dessas duas obras.
Alguém ai em cima disse, que “prefere comer uma galinha assada do que arriscar a provar um novo e requentado texto sobre tensões conjugais, solidão, pressões familiares ou seja lá o que for.”
Ou seja, esse cara prefere comer galinha a ler sobre os temas que motivam, por baixo, 90% da literatura em todo o mundo em todos os tempos.
Mesmo por que o tema não importa, pode ser o mais batido (aliás, existem temas mais batidos do que morte e amor?), o que importa é a habilidade de quem escreve sobre eles…
gostei do teu texto ou melhor dos teus texto, não me faço de crtíco porque não o sou, só sei do prazer da re-leitura
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eu acho que as novelas hoje nao tem mais literatura tem mais vinganca o sr roberto irineu marinho nao quis me assumir como filha agora fica colocando policia atras de mim e vinga de mim em novelas