Luis Fernando Verissimo costuma ser esnobado como romancista por nossa crítica literária (vai sem aspas mesmo, mas falta claramente uma expressão melhor), embora tenha produzido algumas pérolas numa área em que a cultura brasileira sempre foi carente: a dos livros “leves” que as pessoas realmente lêem e que dissimulam sua sofisticação por trás da linguagem cristalina.
Talvez porque essa operação seja oposta àquela que conta mais pontos em nosso meio intelectual – a dos livros “pesados” que ninguém lê e que dissimulam a falta do que dizer por trás de uma linguagem turva – Verissimo ainda aguarda uma vindicação que conceda um lugar menos marginal a, por exemplo, seu romance de estréia, o aliciante “O jardim do diabo”.
Esse nariz-de-cera vem a propósito do novo livro do homem, “Os espiões”, que acaba de sair pelo selo Alfaguara. É o primeiro romance de Verissimo que não lhe foi encomendado por um editor – o que é sem dúvida auspicioso. Ontem, sem tempo para ler, abri o magro volume e dei uma espiada na primeira frase: “Formei-me em Letras e na bebida busco esquecer”. Seria uma barbada de começo inesquecível, se esta seção ainda existisse aqui. Depois conto mais.
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Nota de esclarecimento aos leitores cariocas: diferentemente do que foi publicado no caderno “Prosa & Verso”, a mediação da conversa com o escritor alemão Ingo Schulze e seu tradutor Marcelo Backes, marcada para esta sexta-feira no Instituto Goethe, será feita por mim e não pelo cineasta Sérgio Rezende.
21 Comentários
Eu nunca fui fã dos romances de LFV. Mas acho que o ponto, Sérgio, está justamente no fato de serem livros escritos por encomenda. Sempre tive os dois pés atrás em relação a essas séries temáticas (nem sei se ainda existe alguma em curso, além da “Amores Expressos”) que viraram moda por causa, se não me engano, de uma boa sacada comercial da Objetiva. Não consigo me lembrar de nenhum livro dessas coleções que eu tenha gostado de ler. Quem sabe um Verissimo “independente” não surpreenda?
Aliás, por que os Começos Inesquecíveis se acabaram? É “Anna Karenina” e só, pronto, acabou? 🙂
Se o objetivo deste blog é estimular a leitura,com este “começo inesquecível,”voce assanhou todos os meus vermes de estimação. Por falar em Veríssimo, em qual de seus livros de contos,posso achar,”o Verão de ver o mar” ? Se posso aproveitar mais um pouco,o que significa Alfaguara?É mestiçagem de grego com tupi?
Cely, Alfaguara é uma editora espanhola do grupo Santillana. Fui checar e descobri que a palavra em espanhol quer dizer manancial, fonte abundante, e vem do árabe.
Sobre o texto do Verissimo, não sei. Provavelmente em mais de um livro, porque suas crônicas vêm sendo reempacotadas na Objetiva.
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Volte com os “começos inesquecíveis”.
Todos os seus leitores agradecem, tenho certeza.
SR, então, nesse caso, você gostou da ênclise.
Thiago, essa ênclise aí é obrigatória, ou ficaria seriamente comprometida a paródia de “Tornei-me um ébrio e na bebida etc.”
Uai, SR, sem ela é que seria paródico e celestial, eu acho.
Não posso concordar com isso, Thiago. Mas tem colocação pronominal para todos os gostos. A propósito: espero que você não me julgue alérgico à ênclise, que eu também uso. Só gosto de lembrar que às vezes uma boa próclise brasileira é a melhor coisa do mundo. Um abraço.
Um abraço pra você também, e parabéns pelo hexa (Detesto que vocês muriaeenses – e da Zona da Mata toda – sejam necessariamente acariocados, no futebol).
Thiago, obrigado pelo bom senso de reconhecer que o hexa vai ser hexa mesmo, mas é cedo. Até domingo não comemoro nada. Quanto à Zona da Mata, o que se há de fazer contra a geopolítica do futebol? Também torço pelo Cruzeiro, mas num distante segundo lugar.
No Sul de Minas é quase a mesma “sacanagem”: minha mãe, minha irmã e um dos irmãos são flamengo… : ) Quanto a 87, acho absurdo levar a discussão adiante, e assim é hexa mesmo.
Duas curiosidades, caso o Internacional seja o vice (no que acredito), ou o campeão com o Flamengo vice:
– Será a primeira vez desde 92 sem um paulista pelo menos em uma das duas primeiras posições (então foram Flamengo e Botafogo);
– Será apenas a segunda vez, desde 71, com repetição de clubes nas duas melhores posições (Flamengo e Inter decidiram em 87, depois de eliminar Cruzeiro e Patético; Internacional e Corinthians decidiram em 76 e 2005).
Um abraço a todos.
Errata: Pessoal, no par 81 / 2008 também aconteceu de os mesmos clubes serem os melhores do Nacional. Há 28 anos, deu Grêmio em primeiro e São Paulo em segundo, e, mais recentemente, o contrário. Desculpem-me.
“Começos inesquecíveis” terá um “fim inesquecível”?
Sobre os começos inesquecíveis, Isabel, Olney e Tibor, vamos ver. Depois de três anos e meio, a seção precisava pelo menos de umas longas férias. Abraços.
Hei!!! Sem aviso prévio?Como vou preencher minhas tardes de aposentada?
Acho que vou ficar compilando ” começos”, “meios ” e “fins”
e aperfeiçoar meu arsenal….
Acho um enorme bobagem esse parti pris em relação a trabalhos de encomenda. Seríamos muito mais pobres sem as encomendas. Exemplos? Que tal a capela cistina? Basta, ou devo prosseguir?
Eu simplesmente não suporto esse cara, nem nossa crítica literária, abs
e PS: Flamengo hexa, sim – tb não suporto essa reinvenção da história em que se dá o título de 87 ao Sport. Quem era vivo na época e gostava de fut sabe que o campeão foi o Fla. Teve até transmissão direta, ao vivo e já com o Galvão… hehe abs
no caso desse livro o começo inesquecivel não é apenas a primeira frase, o primeiro capitulo inteiro é espetacular. o restante do livro é bom, porem decepciona em virtude da qualidade do primeiro capitulo