Não sei se os leitores habituais do blog terão percebido, mas o acaso produziu um efeito interessante por aqui no fim da semana passada. O post de sexta-feira, a propósito de um episódio de Twilight Zone, falava de uma certa atmosfera pesada de antiintelectualismo que sobrevive no Brasil. E os comentários deixados por vários leitores no post de sábado – que não pretendia ter nada a ver com o peixe, limitando-se a examinar certas curiosidades vadias sobre a origem do adjetivo “crasso” – trataram de ilustrar o anterior.
A ira despertada em alguns leitores – em geral desavisados que caem aqui atraídos por uma chamada na capa do portal – pelas questões de língua e linguagem abordadas na seção “A palavra é…” é uma velha conhecida. “Inútil” costuma ser o qualificativo mais brando que esse tipo de texto lhes desperta. O que é compreensível, talvez: utilidade prática não é mesmo o forte da casa. Restaria esclarecer por que, a julgar pela virulência da reação, a croniqueta lingüística lhes parece mais “inútil” do que uma notícia sobre o pum que Miley Cyrus deu no táxi ou outras dessas informações que compõem 90% do show internético – mas deixa pra lá.
A novidade neste caso foi apenas a proximidade dos posts. A feliz coincidência me permitiu pôr lado a lado dois comentários curiosos. O primeiro, deixado por Roberto Almeida sob a nota de sexta, tentava relativizar a impressão – com a qual a maioria dos comentaristas concordava – de que o antiintelectualismo é tão forte no país:
Por um tempo fui free lancer na Faculdade de Educação da UFMG, e o que as pesquisas de lá mostravam com dados abundantes era que o hábito de leitura e a familiaridade com os livors são vistos como ouro, alvo de adimiração, mesmo por quem tem quase nada de familiaridade com o assunto. Mesmo sem ler, as pessoas querem que seu filhos leiam… e olham adimiradas — e tb com um certo estranhamento, é verdade — pra quem faz dos livros companheiros de sempre.
O segundo comentário, a propósito da “inutilidade” de sábado, veio de um leitor que se identificou como Everaldo e, certamente sem se dar conta disso, fazia o possível para provar que Roberto Almeida está errado. A fórmula que Everaldo encontrou é muito interessante:
Ainda bem que as pessoas mais importamtes para a nossa sobrevivência, não estão nem aí para estas questiúnculas, senão nós estávamos fudidos Já pensou se aquele operador de retroescavadeira, meter esta bosta na cabeça, e parar a máquina para responder esta questão ? Ainda bem que não dependemos dos intelectuais ( eu, em parte, no meio ) para sobreviver-mos.
Isso me deixou pensando: será que o “operador de retroescavadeira” não está na verdade no grupo apontado por Almeida, aquele que, sem acesso a uma formação educacional minimamente razoável, encara os estudos e a leitura com admiração e uma espécie de temor reverente? Caberia apenas à classe média – que até estudou, mas muito mal, e ainda escreve coisas como “sobreviver-mos” – ser um reservatório de rancor filistino?
68 Comentários
O operador de retroescavadeira | Miley Cyrus Fan Site
Excelente post, excelente questão. Espero que o Everaldo não dependa de ninguém como ele pra sobreviver. (Ou será que, no fundo, eu não torço pra que os Everaldos um dia finalmente sucumbam à lei da evolução?)
Se colocarmos como intelectuais àqueles que por ler muitos livros se sentem como sabedores de tudo e se colocam como deuses incontestáveis, temos até (uma pena mais é assim) que concordar com o Everaldo. Mas se entendermos como intelectuuais, pessoas que se instruem e se dedicam ao exercício de pensar e de juntar alhos com bugalhos num imenso caldeirão do bruxo, sintetizando os saberes temos que chorar por essa classe média idiota que somente conhece Miami e pensa que é viajada e conhecedora do mundo.
deve ser complicado um escritor analfabeto.
da uma olhada na chamada no site do ig:
O operador de retroescavadeira e o antitintelectualismo
é foda esse ig e suas pérolas!
Muita gente valoriza a leitura e o conhecimento. Esta coluna de palavras normalmente pouco usadas é muito útil, e se vc ainda não sabia, faz parte do assunto nas escolas, como um desafio entre as crianças.
Operadores de retroescavadeira, pedreiros e outros têm todo o direito (e muitos tb valorizam) cultura e informação.
Felizmente nem todo o país foi invadido pela “descultura”, nem diria “antiintelectualismo”.
…”Ainda bem que não dependemos dos intelectuais ( eu, em parte, no meio ) para sobreviver-mos”…
“em parte ” ou inteiro?
Alguns gostam de vociferar contra o atual governo em parte pelo fato de o presidente não ter cursado a assim chamda”universidade”.Ocorre que muitos dos que se julgam eleitos escrevem mal e muito mal inclusive muitos jornalistas.Essa gente no entanto adora dizer que o presidente é semi -analfabeto o que além de não ser verdadeiro demonstra um certo preconceito que vem dos anos 70, quando uma minoria ascendeu socialmente , outros se tornaram remediados e mal remediados e na época com apenas o diploma passavam a se julgar iniciados e merecedores de todas as benesses, o que não os impediu de votar no SR Jânio contra FHC seu atual ídolo!
Belo post, Sergio. Digo e repito que o que mais me incomoda no Brasil não é a violência, a pobreza ou a sofrível qualidade de vida. O que me preocupa em Terras Brazilis é o profundo e disseminado sentimento anti-intelectualista que grassa por essas bandas. Falo em preocupação porque, com essa disposição ideológica, fica impossível remendar ou consertar qualquer problema econômico, social ou político.
Não sei como vamos resolver isso.
“Um país se faz com homens e livros” – (Monteiro Lobato).
Gostei da discussão. Na minha opinião, que se baseia na minha experiência de vida, não tendo portanto maiores pretensões do que, quem sabe, engordar o debate, há razões perfeitamente compreensíveis para a postura tanto de Everaldo quanto dos personagens citados por Roberto.
Imagino que Everaldo, assim como os personagens dos casos de Roberto, conhece a pobreza (insisto, fundamento a idéia apenas na minha experiência, sem pretensões de propor um perfil “perfeito”). Mas Everaldo saiu dela sem necessidade de estudos, apenas com trabalho duro e algum conhecimento técnico talvez. Transmite aos estudos portanto o sentimento de rivalidade (ou talvez inveja) que tem pelas pessoas que estão onde ele chegou, mas que tem alguma formação, que os diferencia dele claramente e assim os define aos olhos de Everaldo. Everaldo no fundo nada tem contra a intelectualidade. Sem pensar muito, ele sozinho conseguirá com certeza concluir que sem intelectuais não temos retroescavadeiras e afins, tão decisivos segundo seus olhos.
Já os personagens dos casos de Roberto são, a meu ver, endossando 100% a bela conjectura do Sérgio Rodrigues, pessoas como o operador de retroescavadora. Essa gente olha para quem está por cima deles e vê uma minoria de Everaldos e uma grande maioria de gente que teve alguma preparação. E daí a admiração pela intelectualidade. Dentre todas as coisas que vêem como diferenciais nas classes média e alta, a única coisa em que podem investir é nos estudos. É dos estudos que sairá a sonhada ascenção social, quer sua, quer de seus descendentes.
Há que entender as pessoas, e não é fácil. Aprende-se pouco sobre isso nos livros e muito no viver. Poucos são tão ruins como parecem, como Everaldo por exemplo.
Quanto à pergunta final do Sérgio Rodrigues, gostaria de comentar duas coisas. Primeiramente, transmitiu a idéia de que classe média é classe de Everaldos. Não é verdade mesmo. Quem lota as universidades brasileiras é excencialmente a classe média. Segundo, acho que a classe média apanha demais. Vivem a sonhar com a ascenção aos degraus superiores da sociedade (possível porém quase sempre distante) mas sob o eterno medo da queda, sempre próxima, real e assustadora. Não é difícil portanto a ausência de nobreza…
Minha vó dizia com sabedoria: “a ignorância é atrevida”.
Atrevida e contenta-se com pouco. Basta encher-lhe a barriga e, de vez em quando, servir um cordeiro aos leões a título de diversão ou, melhor, distração. Pronto! Atrevimento dominado.
Pobre de mim, que procuro nos grandes a justificativa de minha incompetência. Pobre (mais ainda) de mim, que, apesar de minha incompetência, nivelado aos grandes (ou acima destes), ainda os vejo olhando pra mim de cima para baixo…
Serão eles ou eu? Não sei…. sou “olho” em terra de cego. Ou seria cego em terra de “olho”?….Putz….quem sou eu? Quer saber… vou pegar meu vale-pizza e dar um pulinho na arena, deve ter algo bom lá….
A intelectualidade está com um certo descrédito não apenas o Brasil. Não sou estudioso da história do seculo 20 mas me parece que a partir da desilusão com o socialismo e a ascenção do neoliberalismo, culminando com uma ordem mundial dependente dos mercados de ações globalizados sufocou as ideologias, terrenos férteis para grandes lideranças intelectuais.
1) Pois é, Sérgio. Caso Deus exista, talvez ele tenha dado um jeito de lembrar – por linhas tortas e mal-escritas, como convém – que o anti-intelectualiso pesado não está tão distante do lugar onde você se encontra hoje. Na verdade, ele está logo ali: à distância de um clique. Quanta pretensão a sua, meu caro, a de achar que podia falar de livros e etimologias sem enfrentar a patrulha ideológica! Ah, a soberba dos homens.
2) O fenômeno me intriga. A divisão socioeconômica sempre me pareceu clara – além de ser um convite para generalizações apressadas. Mas algo me diz que as causas desse ressentimento anti-intelectual não se deixam captar com tanta facilidade. Trabalho, evidentemente, para antropólogos, historiadores e pedagogos. Uma hipótese? Reação à nossa cultura bacharelesca seria muita condescendência?
Como eu não achei nenhuma frase para copiar a colar aqui, resolvi ler mais demoradamente o texto para opinar.
Estou azedo de ver pessoas saindo da “facu” (isso mesmo) e achando-se intelectuais, mas não conseguiria manter 5 minutos de discurso ou diálogo sem falar gíria, assassinar o português e recorrer a um tique qualquer para disfarçar nervosismo e pouca habilidade com as palavras, em fim, com a língua. Doutores em certas especialidades e absolutamente ignorantes em tudo, de um modo geral. Alguma coisa vai mal em relação ao ensino, porque as pessoas formadas evidenciam isso.
Intelectuais, como Olavo Bilac, Machado de Assis, Afrânio Coutinho e …Rui Barbosa, tenham sido políticos, escritores, juristas, ou sei lá o que mais, todos lidavam com as palavras como lida-se com o pensamento. Estes eram intelectuais, o que é raro hoje em dia.
Eu acho é que o coitado do Everaldo levou uma pazada de retroescavadeira na cabeça! Desde quando um operador de máquina é assim tão importante para a sobrevivência de alguém? Se pelo menos fosse motorista de ambulância… Vá lá… Por outro lado, seja qual for a obra onde o operador está escavando, deve ter um engenheiro civil tocando, e seja qual for a máquina, deve ter sido projetada e construida por algum engenheiro mecânico… Enfim, se não fosse por gente instruída, o coitado do operador de máquina que não sabe fazer mais nada na vida seria só mais um ignorante desempregado… Estamos aqui em plena era da informação, tendo acesso on-line, at home, para nos tornarmos mais qualificados e instruídos, e quem sabe até virarmos uns engenheiros, médicos, doutores… Tudo o que é mais importante para a nossa sobrevivência… E aparece um doidão reclamando que é tudo bobagem… Vai operar máquina Everaldo! E cuidado com o cabeção!
Eu acho que ele nem se dá conta de que sem o bando de intelectuais que pensam na logística toda, a comida não chegaria da roça dentro da geladeira dele… E o gás não chegaria do oceano dentro do fogão dele… Acha que ainda tem lenha pra todo mundo? Estaria morrendo de fome, brigando com os vizinhos na maior barbaridade… Morrendo numa briga por comida ou de uma doença boba qualquer antes de completar os 40 anos de idade…
Meu caro amigo: “Tô contigo e não abro…”
Abraços a todos!
Caro Victor Hugo,
Se você conhecesse o processo de trabalho dentro de todas esses projetos que mencionaste, saberia que se tivéssemos 20 engenheiros, e nenhuma mão de obra, continuaria sendo impossível praticá-lo. Lamentavelmente a ignorância é necessária sim. Faço parte dessa massa ignorante, e faço o possível para subir alguns degraus na escala da intelectualidade, para assim, poder abrir espaço, para que outro ignorante possa operar a minha retroescavadeira ( conheço uma de perto e sei da sua vital importância).
Caro Victor Hugo,tenho certeza de que vc ñ se da conta da importancia de um operador de maquinas seja ela qual for,é obvio que os tais intelectuais a que se refere são importantes por todos os motivos que ja foram citados mas ñ se esqueça que se ñ fosse por nós,os tais coitados,obras como saneamento basico ainda estariam no tempo da pa e do enchadão,portanto,temos a mesma importancia do tal motorista de ambulancia,se ñ fosse nós muito mais gente estaria doente por causa da merda que vc joga no esgoto,abandone esse preconceito intelectual e vamos caminhar em paz.
Renovar a mente , É TER A SABEDORIA DE DIZER EU NÃO SEI; QUERO APRENDER. E não só ter dilomas e mestrados em faculdades ou cursos ministrados na maioria das vezes por doutores sem Dr. .Basta analisar o que vemos , temos e lemos nos canais de comunicação em geral.
Nada contra estudar , ler e ler sempre, mas usar tudo isso para aprender e aprender sempre , pois quem acha a nível humano que tudo sabe, pode crê , nada sabe.
Gosto muito de algo dito pelo maior Pisicólogo que já existiu no mundo (Opinião própria); APRENDEI DE MIM , QUE SOU MANSO E HUMILDE……; O SÁBIO NA REALIDAE , NÃO DISCUTE A REGRA , ELE OUVE E ENSINA COMO FAZ , PORQUE ELE É SÁBIO.
o maior representante do povo, o Presidente, admite ter “azia” ao ler. quer mais o que? um povo ignorante é um povo manipulável.
Prezados, atravéz deste comentario quero dizer que a maioria destes “intelectualoides” que vomitam jargões de dificil deglutição para a maioria de nossos irmãos operadores de retroescavadeira não passam de filhinhos de papai que na dureza da ditadura militar, não passavam de vagabundos que na maioria das vezes, não estavam nem aí com a direção que o barco navegava, admiro-me hoje com a total falta de oportunidades , que esses senhores (muitos formados sabe-se lá como ) venham a opinar sobre a ciência que a leitura , o saber , enfim a busca de novos horizontes.
“Você não sente, nem vê,
Mas eunão posso deixar de dizer,
Meu amigo,
Que uma nova mudança
Em breve vai acontecer.
O que há algum tempo era jovem, novo,
Hoje é antigo.
E precisamos todos rejuvenescer”.
(BELCHIOR, em “Velha Roupa Colorida”)
Trocando em miúdos (não a músca do Francis Hime):
A humanidade (e o pensamento) mudam. Hoje é intelectual o que ontem não era, amanhã será o que hoje não é (mesmo que retornando ao que ontem era.
O que há de real é que não é possível julgar a mudança, se foi para melhor ou para pior, no momento em que ela acontece, isso é o tempo que dirá e mesmo esse julgamento não será pautado pela isenção pois um mesmo fato do passado sempre será “lido” de acordo com o pensamento – ou a ideologia – vigente no momento da leitura.
“Quem tiver ouvidos, ouça”
É tudo uma questão de ótica, gostar de ler pode não significar intelectualismo. E mais se tirarmos que a grande maioria de nossos políticos e mesmo um sem número de apaniguados tem até formação no ‘estrangeiro’. O Everaldo não está tão longe da verdade.
na visão everaldista , sim prevalece mais a ação – de que vale os intelectuais se são só para intelectuais . que olham para
os antiintel… com seus olhares 35°… ressaltando que a culpa
do antiintelect…é culpa de a e b – falta de comprometimento
de docentes, governo … blá, blá blá, blá blá….
Caro jaime krochik, não creio que o maior problema aqui seja o fato de nosso presidente não ter cursado uma Universidade. Conheço, sem procurar muito, dúzias de pessoas que são tão ou mais capazes de conduzir nosso país quanto nosso presidente, também sem terem completado sequer o Ensino Fundamental.
O que não é aceitável é que nosso presidente venha se vangloriar por ter “vencido” na vida e superado uma porção de “engravatados”, tal como se o tivesse feito sozinho e mostrando-se como exemplo a ser seguido.
Precisamos de pessoas extremamente preparadas… Até mesmo o operador de retroescavadeira precisa saber o que está fazendo e, quando possível, aprimorar. Afinal, não é qualquer motorista com carteira B que pode operar uma grande máquina. E o trabalho dele pode, sim, pôr a perder todo o trabalho de um ótimo engenheiro, ou mesmo anos de esforço político necessários para viabilizar uma obra.
Eu, em parte, no meio, de “revesgueio” com se diz aqui no sul, acho ótimo que o operador de retroescavadeira pare a sua máquina.
Aliás, é a possibilidade meio quixotesca de que a literatura venha a fazer os operadores pararem suas máquinas que me encanta.
É lógico que ela também entretem o leitor, educa, dá status, erudição e, eventualmente, vaidade, arrogância, e etc…Mas, parar as máquinas: eis uma boa inspiração…grande Everaldo!
posso fazer só umas perguntinhas rápidas???
(1)pra vcs, leitores deste blog, o que seria alguem INTELECTUAL?
(2)vc se considera INTELECTUAL?
dependendo das respostas dadas, eh mais facil entender o pq da revolta do operador com os intelectuais e o pq de vcs se doerem tanto por uma afirmacao q nao ataca NENHUM de vcs.
A melhor colocação de todos foi a do José Benedito, citando Belchior, parabéns. Os conceitos do que é ou não “intelectual” (não gosto desta palavra, porque me remete a outros séculos) está mudando, o conhecimento está mais acessível, e como coloquei os jovens e crianças (de todas as classes) estão muito mais abertas ao conhecimento.
Um operador de máquinas hoje, já precisa ter conhecimento e uma visão mais ampla de mundo, se quiser continuar a operá-las.
Quero mudar o tom do assunto em debate. Quero falar sobre a truculência da superficialidade que ronda a vida moderna. É sabido que as pessoas lêem cada vez menos livros, não blogs, sites e outros posts da internet. A conectividade permite cada vez maior contato virtual e menos aprofundamento de questões políticas e de análise da vida cotidiana. Hoje, as pessoas estão muito preocupadas com duas possibilidades ou sobreviver ao dia de hoje ou como manter meu estilo de vida, mesmo que para isso tenha que desviar ou roubar o pão e o leite da criança. De um lado temos um enorme contigente de pessoas não esclarecidas que não têm livros em casa e de outro pessoas que podia tê-los mas não os têm e ainda por cima despreza a leitura e a cultura. Tanto os primeiros quanto os segundos desvalorizam a leitura, o conhecimento intelectual e tem muitas vezes aversão àquilo que é relevante para o conhecimento. Por que isso ocorre? Simplesmente porque sempre tivemos uma elite ignorante, principalmente hoje que é chique ser ignorante, tapado, alienado e não saber nada. A televisão está cheia de personagens que imitam com fartura esse tipo de gente. Bem, a consequência disso é o desprezo do conhecimento. As pessoas de modo geral acreditam o que é importante é como ganhar mais rápido meu primeiro milhão e se esquece que todos estamos ainda na mesma espaçonave Terra, que não tem outra e ainda não tem plano B, que todos vivemos juntos mesmo que você more numa mansão aqui bem perto tem um monte de casebres e cada vez mais casebres e ele também querem um lugar ao sol, seja pelo trabalho escaldante ou seja por aquilo que sobra a força bruta. Ah Darwin, ah Marx?! Qual deles vai vencer o curso da história? Qual deles melhor interpretou a sociedade? Ah, agora me lembrei as pessoas que vão ler isso não estão interessadas nisso, não querem nem saber, odeiam pessoas que pensam nisso. Melhor desligar porque senão daqui a pouco vão achar que estou pertubando os leitores.
Talvez o nosso olhar crítico deva ser mais empático nesta questão. Veja bem, aquele que antes foi desoportunizado de acesso ao conhecimento valorizado pela elite do país, sendo esta carência fortalecida, inclusive, por políticas públicas que tratam desigualdades com programas compensatórios que incentivam a frequência às aulas, mas não o raciocínio, realmente engrossará a massa do país e é, para a elite, este seu “conveniente” lugar. Posto isto, cabe ressaltar que sempre existirá raciocínio, mesmo que sobre conhecimentos adquiridos do senso comum. E, ao contrário daqueles que fazem parte da elite dedicada ao pensamento erudito, os que raciocinam de acordo com o que vivem na vida prática, cotidiana, admiram sim o conhecimento e cultivam a esperança de que os intelectuais o usem para fins de promoção da igualdade de direitos, de acesso a este conhecimento, mesmo que seja no futuro, para seus descendentes.
Antiintelctualismo, assim como o outro lado da moeda, o academicismo pernóstico, no fundo, não passam de recalques.
Os concertos gratuitos no Ibirapuera certamente atraem muitos “operadores de escavadeira”, que provavelmente aproveitam a boa música como refresco das inquietações do cotidiano – que podem ser tanto o dinheiro do mês, o chefe chato, como questões existenciais e éticas, que ele encontra no seu dia-a-dia de operador de escavadeira.
Mas, talvez, para alguns, operador de escavadeira deva se ocupar apenas de buraco. Essas pessoas não conseguem enxergar o ser humano como ser multi-dimensional. É triste e idiota, ao mesmo tempo. Imagina um cara desses direcionando a política educacional de um país? Bom, pensando bem,… quem sabe não são justamente os amigos dele que cuidam da educação bovina que se oferece nesse país?
GRANDE DANIELA! encontrei uma pessoa lúcida por aqui! existem pessoas aqui que acreditam que a leitura de livros “constrói” um intelectual, separando ele assim do lamaçal humano dos “não letrados”! essas pessoas não entende que praticamente todo o conhencimento que possuímos hoje tem uma origem empírica, que depois foi embasada por meio de estudos!
as pessoas que condenam o operador da retroescavadeira não são pra mim diferente dos espanhóis que matavam os incas como a quem mata um cão, baseado na sua suposta superioridade.
renato tambem, grande comentário
É muito oportuno buscar os porquês da situação e até acho que a população em sua grande maioria entrou nessa, induzida por uma midia audio visual que despeja tudo mastigado na cabeça já preguiçosa e sem recursos da nossa população… Acontece que até pra ser operador de retro é preciso saber mais, pois com a eletrônica embarcada e a mecatrônica, as retroescavadeiras estão umas verdadeiras aeronaves a serem pilotadas. Não obstantes a isso, os desvisados operadores sempre encontram um gasoduto nos fundos de seus fossos e aí é tragédia pura se a sorte não lhes amparar a ignorância(*)…((*)ignorar a existência de um gasoduto mal projetado por gente bem mais estutada, com diploma e tudo o mais.. )
A sabedoria não está em nenhum modismo criado pelo homem, exatamente para tentar se diferenciar do seu semelhante. Como disse o presidente Lula em uma de suas campanhas; O brasil, desde de 1.500, sempre teve o poder nas mãos dos chamados intelectuais, e nem por isso os problemas sociais do povo foram solucionados ou quase nenhum. Não acredito que o Lula irá solucioná-los. Porém, acredito bem mais nas ações do que nas teorias de muitos estudiosos. E um grande exemplo disso são os economistas e administradores formados nas melhores universidades e nos cursos mais caros, que conduziram os mercados ao caos atual. Será que eles sabem como solucionar na prática os problemas que criaram com suas teorias?
Ignorar o poder da intelectualidade é regressar para a ignorância cavernal. Acontece que junto com a intelectualidade caminha a ganância e prepotência. Quando as três se encontram o caos está formado e os ignorantes (os não intelectualizados) sofrem as consequências. Porém quando a prepotência, a ganância e a ignorância se encontram ai sim a tragédia é completa pois a violência impera e o respeito desaparece….
É interessantíssimo acompanhar estes comentários.Eles nos levam à Cultura.Todos nós colaboramos..não é interessante?Mais ainda, quem mais colaborou para que adquiríssemos um pouquinho mais de cultura foi o próprio.Everaldo.É a metodologia construtiva(literal e figuradamente).
concordo com vc joão, mas adiciono q igual ignorância é acreditar q a intelectualidade só existe dentro do estudo acadêmico.
Talvez o idolo do piloto a retroescavadeira seja um torneiro mecanico.
A pior justificativa da ignorancia esta na vitoria dela mesma.
A responsabilidade do Saber será sempre arcar com a Ignorancia , mesmo ela sendo contra o mesmo.
Obrigada LOL, mas na verdade, acredito que a elite pensante não se preocupa com a massa que vive do conhecimento adquirido apenas ou em grande parte do vivido. A sociedade moderna, conduzida por esta elite, busca diplomas que a sirvam para fazer prosperar sua “dinastia”, não para disseminar o conhecimento ou promover melhoras na vida de “operadores de retroescavadeiras”. E este é o ponto. Um trabalhador que conhece uma rotina árdua de trabalho, contribuindo para a construção social, é menos valorizado do que alguém que obteve conhecimentos diversos e que, no entanto, usa-os para interesse próprio em desfavor dos outros, manipulando-os, explorando-os e, consequentemente, matando o desejo de muitos por outros saberes, haja vista que não floresce o orgulho por grande parte dos intelectuais que a mídia deixa expostos. Abençoados os “operadores de retroescavadeiras” que continuam a nutrir sonhos de ir além do que está posto para eles e os que respeitam o conhecimento desses cidadãos, ao mesmo tempo que utilizam o que sabem para a criação de oportunidades de acesso a outros conhecimentos.
Legal essa discusão! Eu aprendi com nossos senadores algo importante. Como eles são cidadões cultos , disciplinados e intelectuais, antes de mandar o colega para aquele lugar colocam a palavra excelencia antes do palavrão que é para o agredido não se sentir humilhado, isso sim que é ser intelectu!!!
Fantástica esta discussão.O Everaldo com o seu “operador de retroescavadeira”, o blogueiro ao explorar magnificamente o assunto, gerou comentários brilhantes.
Impressionante, como um possível antiintelectual, tenha nos levado ao verdadeiro exercíco da intelctualidade
concordo daniela…
Repito, as palavras de Brecht, me parecem adequadas.
Perguntas de um trabalhador que lê — Tradução de Paulo
Cesar Souza:
Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída –
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
A Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?
Tantas Histórias.
Tantas questões.
Subscrevo o texto em sua integralidade. Traria à baila somente a advertência dos Racionais MCs, tal qual o Senador Suplicy vez por outra faz:
“…ninguém é mais que ninguém, veja bem, veja bem, e eles são nossos irmãos também…” Capítulo 4, Versículo 3.
Dizem que o asno não sabe que a mão que lhe afaga e lhe dá a alfafa é a mesma que lhe abre fendas no lombo com a ponta aguçada do açoite.
O asno é feliz nos breves instantes de carinho e nos intervalos em que rumina o mato.
Na maior parte do tempo, no entanto, lá está ele sofrendo as chibatadas e carregando o peso incomensurável das cargas que o dono lhe põe nas costas.
Esta a vantagem da ignorância: ela faz a mais patética criatura da natureza sentir-se orgulhosa de si, satisfeita consigo mesma, apenas porque ganha alguns míseros afagos e um pouco de alfafa.
Lendo os comentários de muitos que aqui se manifestaram, percebo que aquilo que vale para o asno vale também para o homo sapiens.
estou surpreendido positivamente com o rumo que o debate está tomando nestes últimos comentários…
ps. tem e-mail daniela? sou seu fan!
Sérgio,
Como parece que ninguém se deu conta da sua tese, lá vou eu contestá-la. Eu estudo em escola pública, em cidades pequenas do interior de São Paulo, e convivi de perto com pessoas de origens humildes (filhos de empregadas, de peões de fazenda, etc.). E posso dizer, com base na minha experiência (sem pretensões de formular uma regra universal), que as pessoas de baixa instrução desprezam (mesmo!) a leitura e os livros. Raríssimos são aqueles que manifestam admiração e inveja pelos que têm gosto pela leitura.
A diferença entre essas pessoas e as da classe média, que têm algum lustro de instrução, reside mais na forma como manifestam seus preconceitos. Os humildes não alardeiam o ódio à leitura; porém, acham que papel salpicado de letras é pura perda de tempo. Já os garotos e garotas da classe média, que não alcançaram a ilustração por falta de taleto e por desinteresse (embora tivessem a oportunidade), são rancorosos e invejam o talento, a inteligência, o conhecimento.
O operador de retrosescavadeira que sonha à noite com os livros que nunca leu é um personagem tão idealizado quanto os índios do José de Alencar.
Na verdade os intelectuais são necessarios pra gerar informações que sem duvida vão promover o desenvolvimento, mais o que acontece é que a intelectualidade não é incentivada desde a pré escola onde o Prof é mau remunerado e com isso não consegue por si proprio atualizar. E com o passar dos anos a unica coisa que sobra aos alunos é trabalho com uso de força pois o acesso a universidade publica de qualidade esta cada vez mais dificil, principalmente para os filhos do operador de retroescavadeira que no fim das tantas nem a profissão do pai conseguirão ter.
O tópico rendeu…
LOL, Daniela e demais lançadores de confete,
É comovente essa preocupação em medrar as classes populares. É de um politicamente correto nauseante.
Eu só queria chamar a atenção para que o contrário de sermos politicamente correto nessa questão não é ser elitista, ou arrogante, ou intelectualóide (ou distribuir as chibatadas do Rafael), mas extrair dela o que ela tem de potente, ou seja, de que forma ela provoca o nosso conforto.
Everaldo mostrou um ressentimento que não está pedindo o bálsamo das oportunidades, e nem desse respeito eucumênico que pregas (eu respeito o que dizes, desde que o que dizes não me interessa em nada). Everaldo, demonstra que há uma tensão viva entre um mundo de idéias e abstrações estéticas e um mundo de operações (retroescavadeiras, cambiais, financeiras, comerciais, etc).
A discussão que me interessa é aquela que mostra o quanto esses mundo não são tão isolados, ou o quanto essas idéias podem servir para desconstruir tais operações, para demonstrar suas montagens artificiais e, portanto, também estéticas.
Vocês se preocupam como bom tom da elite, com a utilidade do intelectualismo, com o cada lugar de cada coisa. Que mundo seguro esse de vocês!
É bem longe desse humanismo que a questão fica realmente interessante, ardilosa, mas interessante. Qual é, de fato, a possibilidade de a literatura interromper as nossas vidas autômatas?
Esse Everaldo, deve ser quem deu “sicuta” ao Sócrates, salvando a humanidade de maiores desvarios.
Todos somos importantes, qualquer sábio entende isso.
O respeito porém entre cá e lá é o que falta na nossa cultura.
O mais pobre (mas nem tanto) acha o chefe fdp, o dono acha o funcionário lerdo e burro, tudo isso é errado.
O que vc faz não significa o que vc é.
Esta é a única verdade sobre o tema.
Respeito é fundamental, respeito ao outro e ao país.
Em Brasilia City isso é motivo de ‘azia” de alguns…
Como diz o antigo provérbio: Quando o jogo termina, voltamos todos para a mesma caixa.
Comparativamente meus comentários são tão simples. Vou começar a caprichar na verborragia. Mas sabe o que acho legal disso tudo? Antigamente o conhecimento era para poucos (em teoria) porque ninguém tinha acesso. Hoje em dia o conhecimento é para poucos (na prática) porque ninguém tem interesse! Dos interessados, uma boa parte quer só martelar sua própria opinião.
Devo ser meio louco mesmo, porque adoro me sentir ignorante. Adoro conversar com gente que me mostra o quanto ainda tenho para aprender.
Abss! Viva os comentários democráticos rs.
Vá lá que é um “phrase” pesada, mas funciona bem.
Fora dita por Eric Cartman, o gordo de Southpark.
É uma frase que diz mais ou menos assim: “O mundo necessita dos espertos e dos idiotas, você, você pertence ao grupo dos idiotas… tem lá sua importância”
Não deixa de ser verdade, afinal de contas, o que seria do patético sem o medíocre e do medíocre sem o burro e do inteligente sem o medíocre.
Quando ler se tornar uma obrigação e não umprazer, nesse dia eu paro de ler…
Saudades da época que o Todoprosa era do Nomínimo…
Caraca. Boa parte dessa discussão aí em cima parece um debate profundo e acirrado entre um bando de sujeitos entupidos de maconha consultando frases do “minutos de sabedoria”.
LOL (09:43)
“…dependendo das respostas dadas, eh mais facil entender o pq da revolta do operador com os intelectuais e o pq de vcs se doerem tanto por uma afirmacao q nao ataca NENHUM de vcs.”
LOL, sentiu-se “atacado”? Pelo visto sua resposta para a segunda pergunta seria “sim”.
Nenhum de “NÓS” ficaria melhor…. ou não?
As vezes me assusto com a lógica binária das pessoas. Será que é impossível a existência do intelectual e do operador de retroescavadeira ao mesmo tempo? Ou mesmo que o operador de retroescavadeira possa, depois de operar sua retroescavadeira durante o dia, se divertir lendo um livro à noite?
Penso que por trás das boas intenções de quem acha pouco importante falar sobre literatura ou “assuntos de intelectuais” está um enorme preconceito em supor que “pessoas mais importantes para a nossa sobrevivência” não possam ter um nível intelectual melhor ou mesmo se interessar por esses assuntos. Além disso, me parece um erro (não direi crasso para não parecer ironia) que achar que as “pessoas mais importantes para a nossa sobrevivência” são apenas os que executam trabalhos como operador de retroescavadeira. Pensar assim é o que gera o clima de antiintelectualismo que de fato existe no nosso país e que foi muito bem apontado pelo Sérgio rodrigues.
Ainda acho que o principal erro da questão está em dividir as pessoas em classes sociais.
Em vez de operadores de retroescavadeira versus molecotes de classe média que não dominam os sufixos de flexão verbal, que tal Cavaleiros que dizem ni vs. lilliputianos?
A verdade é que brasileiro, independentemente de classe social ou grau de instrução, é sempre merda. Nasce merda, vive merda, morre merda. Não há o que debater, não há o que ensinar, não há o que fazer. Merecem Sarney, Collor, Lula. E operadores de retroescavadeira.
O mundo é dos imbecis. Não há nem o que discutir. Sempre foi assim.
O problema do Brasil é que a ignorância é um valor (“não estudei e hoje tenho diploma de presidente” – Lula), e qualquer alusão a assuntos mais intelectuais, mesmo que seja a simples menção a um livro lido, soa aos ouvidos da nossa gloriosa classe média como “esnobismo” (“olha aí o cara querendo pagar de sabido”).
É nas classes realmente baixas que existe, sim, esse temor reverencial pelos livros. Não se sabe bem o que eles são, nem para que servem, mas os “dotores” certamente colheram neles sua sabedoria e seu poder. Essa parece ser a mentalidade dos semi-analfabetos que se reconhecem como tais (a nossa classe média, repito, não se reconhece como tal).
Triste: as pessoas simples erraram o diagnóstico (a riqueza, no Brasil, se faz mesmo é na base da enganação e não do estudo), e erraram também ao elevar às alturas o livro e a intelectualidade. Estes deveriam estar no plano do dia-a-dia para qualquer um, e não no Olimpo.
Peço a gentileze de se possivel me mandarem alguns endereço de empresas que dão o curso de operador de retroescavadeira em São Paulo para que eu posso verificar onde fica mais proximo.
oque eses caras tem contra
operador de retro
operar retro e muito legal
eu trabalho oito horas por dia com retro
e sou super feliz
talves mais que qualquer intelectual
ou pesoa bem estudada