Normalmente, o Todoprosa não gosta muito de aniversários e outras efemérides, preferindo pretextos jornalísticos menos – por definição – previsíveis. Isso é o normal, mas convenhamos que a palavra “normal” não combina com o colombiano Gabriel García Márquez, que ontem virou oitentão. E vem mais por aí: este ano comemoram-se ainda os 40 anos de “Cem anos de solidão” e os 25 anos de seu prêmio Nobel.
Três datas, três links:
Aqui, uma simpática galeria do jornal espanhol “El País” mistura fotos antigas e recentes para contar um pouco da vida do escritor.
Em inglês, o pungente relato de Simon Romero, correspondente do “New York Times”, sobre as comemorações de ontem na pequena Aracataca, a decadente cidade natal de Gabo e modelo de sua Macondo mítica. A cidadezinha organizou uma parada militar (!), uma missa e uma queima de fogos à espera do homem, que, dizia-se, apareceria a qualquer momento. Apareceu nada: comemorou o aniversário em casa, na Cidade do México.
Finalmente, em espanhol, este artigo do escritor argentino Marcelo Figueras, do blog Boomeran(g), tenta relativizar a distância irônica que mantêm do legado gigantesco de García Márquez as novas gerações de autores latino-americanos de língua espanhola.
50 Comentários
O velho Gabo…
Um escritor magnífico. Lembro-me quando o li pela primeira, adolescente, com “Funerais da mamãe grande”, fiquei fascinado. “A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada” me “chapou”… e tantos outros (na verdade, todos, simplemente todos). Li “Cem anos…” em estado de graça.
Mas a verdade é que de uns 10 anos pra cá há uma certa má-vontade com GGM. Sua adesão inconteste ao ditador Fidel empana o brilho humano do homem e isso acaba refletindo na avaliação do escritor.
Agora, até mesmo escritores colombianos, que em tese deveriam render preito de gratidão ao homem (até por evidenciar a Colômbia no mapa literário), renegam-no, como é o caso do jovem Efraim Medina Reyes.
Mas a obra continua como sempre foi. Os grandes livros serão sempre grandes livros. Mesmo que esse lance de realismo fantástico (uma coisa meio indefinivel, pois que o fantástico existe na literatura desde sempre) tenha caído em desgraça, embora ainda esteja presente no trabalho de autores mais novos, como o americano Paul Auster e o japonês Haruki Murakami, por exemplo, que o usam com mais comedimento.
Feliz aniversáriao ao velho Gabo, mais um reaça de esquerda…
Vasculhando a internet ontem, por ocasião do aniversário de GGM, encontrei esse site com e-books (em português), diversos (incluindo vários livros de Gabo: http://esnips.com/web/revisados-g . Para ler e depois deletar 🙂
O García Márquez é fantástico quando você começa e lê-lo. Depois de cinco livros, fica difícil continuar se entusiasmando. Se repete demais.
Meus favoritos, em ordem: Ninguém Escreve ao Coronel, O Outono do Patriarca, Crônica de uma Morte Anunciada, Cem Anos de Solidão e O Enterro do Diabo, que, ok, é um pouco chupado demais de Enquanto Agonizo e ainda tem uma imaturidade de primeiro livro, mas tem belos momentos.
Para escrever “O amor nos tempos do cólera” é preciso ser García Márquez.
80 anos? Longevo esse brilhante escritor. Suas Putas devem estar alegres.
Jonas, concordo contigo. García Márquez é legal no início, depois começa a encher o saco. Hoje, não me entusiasma nem um pouco. E “Ninguém escreve ao coronel” também é meu preferido, pela simplicidade que não conseguimos encontrar nos demais livros dele, que são verborrágicos e megalomaníacos.
Os contos renovam o romancista.
claudio,
isso não é pirataria?
Sérgio, você gosta do Gabo? Eu particularmente não gosto muito não. Cronica de uma morte… e Cem anos… são os únicos que gostei. Ah, e os Doce cuentos…tbm. Acho ele meio pastichento, uma espécie de Jorge Amado colombiano (te gente que vai achar isso um elogio). Abraço
Pô, ninguém leu “Viver para contar”?
40 anos de Cem Anos de Solidão? Seriam então Cento e Quarenta Anos de Solidão?
GGM é um ótimo autor para quem quer se iniciar na alta literatura. Muito melhor que Paulo Coelho ou J.K. Rowling.
Depois de tanto que foi discutido, não acredito que ainda tenham pessoas que associam livros como “A Camara Secreta” com “Cem Anos de Solidão”. Quem quer se inicar na alta literatura, pega uma escada e vai buscar o livro lá em cima na prateleira. Quem quer se iniciar com boa literatura, dependendo da faixa etária, pode muito bem começar com J.K.Rowling. Paulo Coelho a gente deixa fora desse contexto, porque até hoje não conseguiram determinar a que tipo de literatura ele está ligado.
Pelamordedeus – comparar GGM com Paulo Coelho é o fim!
Quem é Paulo Coelho????
É isso aí… Mata o Coelho e mostra o Paulo…
Também não conheço esse tal de Paulo.
Gabriel Garcia Marquez narra estórias, e até mesmo relatos jornalísticos, de modo magnífico! Ele consegue o que poucos escritores conseguem(de mim):ser totalmente transportada e ficar completamente encantada pelo seu texto, esquecendo completamente quem sou e que mundo é o meu. Com um livro de Garcia Marquez aberto, o meu mundo é sempre o dele, e nada mais.
Aaahhh… que fofa…
O que disse é que dentre os autores muito populares entre adolescentes, García Márquez é um dos melhores. Citei Paulo Coelho e J. K. Rowling por motivos óbvios: tb fazem sucesso entre os mais jovens – mas não apenas entre eles – e tb escrevem histórias fantasiosas.
GGC é popular entre adolescentes? Cara, essa eu não sabia… hahaha.
E aí Clarice, vai dizer se foi bom ou não?
Tibor,
Eu li há anos “O Outono do Patriarca”. Foi no tempo de faculdade. Gostei muito e reli. Eu me hipnotizei tanto que um dia cheguei na faculdade e estavam falando sobre o livro e uma amiga falou sobre a falta de parágrafos ou pontuação.
Eu não tinha reparado. rsrsrsrs
E é um escândalo mesmo.
Depois li o Relato de um Náufrago. Gostei.
Quando fui para o “Cento e quanrenta Anos de Solidão” foi como alguém disse aí em cima. Li e perdi o encanto.
Agora quanto a isto aí que você está perguntando: Muito bom! Para lá de bom!
Adorei!
A Clara é fofa demais Tibor!
E ela escreve “estória”… acho mais fofo ainda.
É porque continuo boa aluna até hoje…
Clarice…
“Eu li há anos “O Outono do Patriarca”. Foi no tempo de faculdade. Gostei muito e reli.”
Ué, não foi vc que falou, há alguns dias, que não perdia tempo com releituras?
O que a Clarice diz, não se escreve…
Ou melhor…
O que a Clarice escreve, não se lê…
Ou ainda…
O que a Clarice lê, não se relê…
Ou, finalmente…
O que a Clarice relê, não se diz…
Clarice, Clarice…
Que feiúra…
Pega com a boca na botija…
Cezar,
Isto foi ironia com alguém que tinha dito que reler era bobagem. Fosse assim para quer termos biblioteca? rsrsrs
Borges dizia que num determinado momento de sua vida ele só relia.
Eu já escrevi antes que gostava muito de reler.
Dito,
obrigada, pode elogiar que eu fico muito envaidecida.
Ah, bom…
“As pessoas têm sido inexplicavelmente boas comigo. Não tenho inimigos e, se algumas pessoas se mascaram disso, têm sido demasiado bondosas para chegarem a me atormentar. Todas as vezes que leio algo escrito contra mim, não apenas participo do sentimento, mas sinto que poderia fazer a coisa muito melhor eu mesmo. Talvez eu devesse aconselhar meus possíveis inimigos a me enviarem suas queixas de antemão, com plena certeza de que receberão toda a minha ajuda e apoio. Secretamente cheguei a ansiar por escrever, sob pseudônimo, uma diatribe impiedosa contra mim mesmo.”
JL Borges
Clarice, Clarice?
Que belezura?
E desculpa esse Edmundo que só sabe marretar as teclas do teclado em completa falta de senso e de juízo?
E você estava certa o tempo todo antes…
Eu gosto do Garcia Márquez, mas com o tempo fui me cansando do estilo dele. Já li os contos, “Cem anos de solidão” e “O amor nos tempos do cólera” (que vai virar filme com, entre outros, nossa queridíssima Fernanda Montenegro). Li também um cujo título não me lembro, mas que começa falando que o personagem principal vai morrer naquele dia, algo assim. Muito bom. Ainda acho que Márquez é autor indispensável, mas só pra se ler um livro dele por ano – se tanto.
Vc se refere a “Crônica de uma morte anunciada”, né, Saint-Clair?
Ah, e um GGM por ano é muito! Que canseira!
Amigos comentaristas, hoje, 7 de março de 2007 completou um mês da morte do menino João Hélio…
Quero desejar aos pais do pequeno garoto muita força de vontade, amor e fé, seja essa fé qual for… será difícil caminhar sem o filho perdido tão cedo e de forma tão trágica, mas a caminhada dos que ficam permanece e só o tempo irá amenizar a dor que os corações desses pais estão sentindo agora e que todos sabem, é esmagadora…
Paz, amor e força para vocês que perderam o filho e procuram justiça e uma forma de não deixar que essa perda tão cruel seja só mais uma vítima da violência sem sentido que destroi a vida de todos nós…
Que Deus abençoe a todos nós.
Sim, é esse livro mesmo Tamara.
Ah, e concordo com você: às vezes um por ano já é bem cansativo… 😉
Paulo: Se é pirataria eu não sei (só perguntando ao responsavel pelo sítio – não o conheço). Se for, a editora/autor deve tomar as devidas providências (melhor ainda: pensar diferente).
Já que entramos nesse assunto, torço, sinceramente, para que um dia tenhamos a disposição na internet , licenciados apropriadamente claro (por Creative Commons, GNU, etc.), qq livro lançado no modelo antigo (em papel).
Inclusive (aqui tvz entramos em uma outra polêmica) é possível que assim se disseminasse a venda de e-books no Brasil. Mais baratos, ecologicamente mais corretos, etc e tal.
Segundo a revista Exame o mercado de venda de livros sofreu uma redução de 20% nos últimos 5 anos (só por causa da internet? duvido). A Exame informou tb que o brasileiro lê (em média) 1 livro por ano (americanos, ingleses e franceses lêem 5x mais).
Internet é sinônimo de serviço diferenciado e valor agregado. Com e-books disponíveis a um preço justo e valores agregados (a esses e-books), sites – como esse que disponibiliza as obras “gratuitamente” – perdem um pouco a razão de ser.
Por exemplo, dúvido que alguém aqui se negasse a comprar um e-book do GGM que, além do livro, permitisse o acesso a uma área reservada no site da editora com informações extras e diferenciadas. Internet é isso. Tem que trabalhar para se estabelecer. É mudança de paradigma, inclusive para o mercado editorial (que nesse quesito, como em outros mais já discutidos por aqui, encontra-se “deitado em berço explêndido”).
Mas, voltando a pergunta inicial, Paulo, se é pirataria não sei (pelo que observei, não é cobrado um centavo sequer pelos e-books), o fato é que os livros estão lá, legíveis, e, principalmente, forçando todos a pensar (seriamente e profundamente), sobre as escolhas que devem ser feitas pelo mercado editorial (e pelo de música tb, já que dúvido que metade dos mp3 que rodam nos iPods por aí tenham sido efetivamente comprados).
É isso. Como dizem, por aí, a fila anda.
Feliz dia das mulheres a todas as mulheres…
Cláudio,
Resumindo: é pirataria, sim. Há um punhado de sites como este. Todos permitem o download de livros sobre os quais ainda incide direito autoral. Simples assim.
Você compara a pirataria de livros com à de músicas. É covardia. O cantor ganha a maior parte do seu dinheiro com shows. A pirataria, no final das contas, acaba prejudicando apenas a indústria fonográfica. Entrevistei alguns cantores e compositores que se disseram favoráveis à pirataria. É uma eficiente forma de divulgação, dizem.
Eu só realmente não sei como a pirataria, no caso dos livros, pode ser benéfica para o autor. Para a indústria editorial é um pesadelo, você sabe. Acho que tanto este site que você cita quanto outros que eu conheço só não entraram ainda na contabilidade das editoras porque a demanda por livros, no Brasil, é muito pequena. Mesmo por livros de graça. (Corre, lá, Saint-Clair).
Escrevi este tanto mas não sei se a discussão vale a pena. E tampouco sei se há solução a longo prazo.
abs
Paulo:
É sempre importante discutir esse assunto sim. Estamos vivendo um mundo de mudanças onde as respostas ainda não existem para várias questões. Uma delas é exatamente essa da pirataria (o que é efetivamente pirataria? Quem são os corsários?). E ainda existe uma segunda face dessa moeda: (lembrando outros mercados) ninguém pode negar que a Microsoft é o que é hoje exatamente por causa da “distribuição facilitada” de seu software (do contrário, estariamos usando hoje em nossos computadores não o Windows, mas o OS/2 da IBM, que diga-se de passagem, era bem melhor e estável).
Em relação aos escritores, autores e assemelhados, ora, da venda de um livro, o que vem para a gente é a menor parte do bolo (confirmem aí os demais escritores que aparecem aqui no blog?). A (muito) maior parte, no final das contas, fica é com o ponto de venda e editora.
Escritor (proporcionalmente falando) vai ganhar mesmo é colaborando com jornais, dando palestras (qnd ganha alguma coisa), etc… A maioria, no entanto, é obrigado a ter outra atividade profissional para se sustentar (é ou não é?)
Por isso a internet é uma alternativa, uma possibilidade de mudar esse comodismo arraigado. Alguma coisa vai ter que sair daí. O escritor, como sempre, vai continuar escrevendo. Mas, publicadores e comerciantes de livros vão ter que repensar seus conceitos. E como vão…
Mas cadê o post novo?
Mas está difícil saber quais são as verdadeiras questões quanto mais as respostas.
A resposta é o de menos. O importante é saber formular a pergunta exata.
Agora vou tomar um Ritalin por que estou com hiperatividade.
Sergio, em homenagem ao dia internacional da mulher segue uma colaboração para o Todoprosa: uma entrevista de 1977 com Clarice Lispector (http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok)
Trecho da entrevista de Clarice em http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok :
Pergunta: Clarice, quando você decidiu assumir a carreira de escritora?
Resposta: Eu nunca assumi. Eu não sou uma profissional. Eu só escrevo quando eu quero.
Dele apenas li ‘O Outono do Patriarca’ há muito tempo. Como a Clarice, eu gostei muito e fiquei impressionado. Sempre que aparece um novo caudilho na América Latina (de direita ou de esquerda), eu lembro do livro.
Claudio Soares, valeu o link para a(s) entrevista(s) da Clarice Lispector. Muito, muito interessantes!
Fiquei impressinada com o tom depressivo dela, e a afirmação:”Neste momento estou falando ddo meu túmulo”.
Outra coisa que me chamou a atenção – nunca tinha visto uma entrevista de Clarice Lispector – foi o uso da palavra hebraica “mitzvah” com a maior naturalidade, falando a respeito da personagem, que ela não quis revelar o nome na entrevista, mas que sabemos agora chamar-se Macabea.
Clara: achei a entrevista inquietante. Sensacional, mas inquietante. Interessante tb o comentário que ela faz sobre o seu conto “O ovo e a galinha” que para ela na época (8 meses e 8 dias antes de sua morte) ainda era um mistério. Clarice era um mistério para si mesma.
Sim, é verdade, Claudio. A entrevista, apesar de seu tom depressivo, é muito inquietante. Talvez inquietante seja a palavra que melhor descreva a entrevista.