“‘Isto é de tal período e só dele’, dizemo-nos ao ler [certas obras] fora de sua época, e, com a inapelável e sempre crescente aceleração do mundo, ‘fora de sua época’ significa às vezes, hoje em dia, apenas uma década depois de sua vinda à luz. Algo desse tipo sentimos até com as narrativas dos maiores autores contemporâneos: com Kafka, com Faulkner, às vezes com Borges, com Joyce quase sempre. De tão inovadores, de tão arriscados, de tão voluntaristas, de tão diferentes ou de tão ambiciosos, podem resultar, vez por outra, levemente antiquados, ou, se se prefere, simplesmente ‘datados’.” Javier Marías fazendo o elogio do não-datado “O Leopardo”, de Lampedusa, no Babelia.
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“Creio que a literatura argentina é a mais forte do continente.” Milton Hatoum em entrevista à revista do jornal (argentino) “Clarín”. Será que tem alguém aí disposto a discordar? (Ah, mas que Pelé foi maior que Maradona, foi!)
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“Toda pessoa sadia tem ambições, objetivos, iniciativas, metas. A meta desse garoto em particular era ser capaz de pressionar seus lábios sobre cada polegada quadrada de seu próprio corpo.” Começo (inesquecível?) do conto Backbone (Espinha dorsal), de David Foster Wallace, publicado na “New Yorker”.
8 Comentários
Que bom que eles disseram que os outros também podem dizer…
Rodrigues, cá entre nós, o jornalismo literário e cultural é um pouco responsável pela anacronização veloz de autores e livros, pois as malditas listas de melhores (do dia, da semana, do mês, do ano, da década, etc.) fazem com que uma geração seja confundida com uma década, quando as mudanças culturais são (apesar das aparências) bem mais lentas. Ainda estamos sob o influxoi do século XIX, queiramos ou não.
Concordo com o Hatoum, concordo em partes com Javier Marías, o conto do DFW é muito bom. Muito mesmo.
Ô Sérgio – Thomas Pynchon, Don Delillo, D.F.Wallace e outros desse mesmo “time”, o que você acha desses escritores? Quem não os conhece muito, está perdendo muita coisa boa?
A vantagem dos argentinos não fica só na literatura. O cinema deles também é melhor que o nosso. Sem falar no vinho e na carne. Nos resta o consolo do futebol e da música popular.
Lampedusa não dá. É indefensável.
Quanto ao Foster Wallace, esse texto é um possível trecho a ser incluído no The Pale King. Existe uma tradução integral para o português, do Prof. Caetano Waldrigues Galindo, feita muito antes dessa publicação, a partir da transcrição das leituras que o DFW fez na Lannan Foundation, em 2000 (esse texto foi lido por ele naquela ocasião), que pode ser acessada aqui: http://sites.google.com/site/thepaleking/home/traducoes
Obrigado pelo link, Rodrigo. Excelente.