A notícia de que o tradicional jornal econômico americano “The Wall Street Journal” vai lançar dentro de poucas semanas um suplemento literário, publicada ontem no “New York Times” (acesso livre aqui, mediante cadastro), pode ser lida como a exceção meio bizarra que confirma uma regra ou, quem sabe, como um indício de que o apocalipse do jornalismo tradicional de literatura foi apregoado com alguma precipitação.
Se considerarmos que um movimento semelhante foi feito em março deste ano no âmbito doméstico pelo “Estado de S. Paulo” ao lançar o caderno Sabático, a segunda opção parece ganhar força. Mas convém não esquecer que, pelo menos desde o início de 2007, o alarme vem sendo disparado por escritores e editores no mercado dos EUA, sempre com excelentes razões: um jornal após o outro passou a extinguir seus cadernos de resenhas, a ponto de hoje, segundo o NYT, só restarem ele próprio e o “San Francisco Chronicle” como jornalões que ainda resistem a fundir a crítica literária à geleia geral da cobertura de assuntos culturais.
Por aqui, uma perda recentíssima é a do tradicional Ideias do “Jornal do Brasil”, com a diferença de que não houve nesse caso uma decisão editorial: o caderno afundou junto com o jornal inteiro.
Para dar força à tese de que houve precipitação nas previsões de apocalipse, a notícia acrescenta que o caderno do NYT terá neste fim de semana 36 páginas, bem acima da média do ano, de 28, que por sua vez já superava a do ano passado, que ficou em torno de 24. Isso significa apenas o seguinte: mais anúncios. O que é uma boa notícia, sem dúvida, mas de difícil tradução para o mercado brasileiro, em que editoras e livrarias investem menos em publicidade do que o quitandeiro da esquina.
Como o debate mais amplo sobre o futuro da imprensa na era digital, este dos suplementos literários é uma floresta de interrogações. Precisaremos mesmo deles no ambiente de descentralização da crítica e da informação que vem sendo construído pela blogosfera? Seria essa descentralização um retrocesso ao nível da conversa de botequim? Ou uma libertação do jugo de autoridades críticas autoproclamadas, mas pouco representativas?
De resto, como o publisher do mesmo NYT admitiu esta semana que o jornal deixará de ser publicado em papel num futuro indeterminado, todo esse papo pode acabar datado antes do que se imagina.
Mas que eu vou procurar ler o suplemento do “Wall Street Journal”, vou. De preferência na internet.
6 Comentários
Suplemento literário é sempre o melhor de qualquer jornal( quando tem…). O Jornalismo tradicional de literatura não pode acabar. Pode acabar o jornal, mas o jornalismo de literura vai sobreviver. Tenho certeza disso porque o Apocalipse vindo muita coisa será registrada e nada como o jornalismo de literatura para mostrar os abraços de ontem. Continue não só lendo as resenhas, hein? Mas, também, resenhando.
Espero MUITO que seja a segunda opção. Não custa acreditar…
Caro Sérgio, a criação (importante) de um suplemento literário pelo WSJ tem menos a ver com o jornal de papel do que com as possibilidades de mercado para os livros eletrônicos. Um exemplo: esta semana, como e-publisher da Singular Digital (Grupo Ediouro), entreguei o e-book “1822”, de Laurentino Gomes, que inaugura as “ebookstores” de Ponto Frio e Extra. Forte abraço!
Como se sentem os colaboradores da Veja lendo os comentários sobre a revista. Principalmente no Twitter (Trending:Brazil) ?
Então aguardo seus comentários, pois o meu inglês não anda bem!
Abraços
Vinícius Antunes
http://cronicasdumasviagens.wordpress.com
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