“Lá fora espocam foguetes que choram lágrimas incandescentes”, ele escreveu. “Mas não choram mais que Maria Flor.”
Assim terminava a redação de 1975 que nunca lhe saiu da memória. Tinha treze anos e sua presunção, como toda presunção, era feita metade de coisas sabidas – lágrimas metafóricas! o verbo espocar! – e metade de coisas rotundamente ignoradas. O atraso cósmico, por exemplo.
Transformar a tarefa escolar num esboço de conto regionalista dos anos 30 sobre um coitado, o marido de Maria Flor, que os capangas de um coronel provavelmente nordestino matavam por vagas disputas fundiárias em pleno curso dos festejos juninos era para sempre embaraçoso. Talvez desculpável também. Quem sabe nessa idade o que é clichê ou, mais difícil ainda, purple prose?
A professora de português, que devia saber tudo isso, adorou. Leu a redação em voz alta para a turma e apressou a chegada do arrependimento que ia se agravar com os anos, a ponto de levá-lo a passar a vida inteira, livro após livro – não que tivesse consciência disso, era algo que percebia agora, no leito da UTI – renegando no tutano de cada frase que escrevia a própria possibilidade de foguetes derramarem lágrimas incandescentes e serem suplantados no chororô por aquela ridícula Maria Flor.
Quando enfim foi se juntar ao marido dela, era madrugada e não havia fogos lá fora, só o duro silêncio urbano cortado aqui e ali por buzinas, freadas, palavrões. Houve quem chorasse um choro sem metáfora.
Um comentário
ESTÁ ESCRITO, OU ESCREVINHADO?
Entre um porre e outro, tanto Edgar Alan Poe, quanto Scott Fitzgerald escreviam uma obra prima. Há também as estrelas russas, como Anton Tchecov e Leon Tolstói e as francesas, como Víctor Hugo, as de língua inglesa, como Hemingway, as lusófonas, como Machado dr Assis.
Conduza seus filhos para essa trilha luminosa e ascendente. Porém se, um dia, ele fizer malcriacão, aplique o que há de mais avançado em psicologia infanto-juvenil. Retire dele, aquela, como diriam os críticos literários Sérgio Rodrigues ou Harold Bloom, literatura “Acima das nuvens” e faça-o ler um autor religioso. Veja essa, por exemplo:
O conhecido pastor Silas Malafaia apregoa aos quatro cantos que sendo a maioria da população de religiosos, estes devem conduzir nossos destinos. “E democracia, é Estado de Direito” diz ele , iludido de que poderá derrotar, um dia, os intelectuais brasileiros. Doce ilusão.
Vejam: Não existe uma comunidade de “gênios”, portanto, governo de maioria será sempre controverso. Religioso desconhece o “Conhecerás a Verdade e a Verdade, vos libertará” de Jesus. Sobre maioria: Jesus de Nazaré contava com apenas doze apóstolos, e algumas mulheres, contra todas as religiões, da época dele, e todo o império romano. Fizeram a votação que o Malafaia quer e deu Barrabás.
Os religiosos se apoiam em Bíblias diversificadas entre si e diferentes dos textos gregos e hebraicos e são Jerônimo já dizia: ” A verdade não pode existir em coisas que divergem.”
No universo, há apenas uma Verdade e a essência dessa Verdade é sempre igual a si mesma. Por isso pergunta-se: Por que não existe apenas uma versão bíblica? Por que exitem tantas seitas e religiões? Por que países que recusam essas Igrejas são os mais felizes do Planeta? Com índices de violência, baixíssimo, com índices de transmissão de doenças sexuais, baixíssimos, duvida? Olhe aí no seu Tablet, ou smartphone, assim você não vai mais se espantar quando um pastor, como o Marcos Pereira for preso. Saiba que ele também merece perdão e liberdade, na próxima encarnação.